Dezembro de 2009

É festa de Natal na casa dos irmãos Shay, que convidaram todos os seus amigos mais próximos para a ceia; estavam lá, além dos dois irmãos, Freddie e Marissa, Gibby, seu irmão menor Guppy e sua mãe. Sam estava um pouco atrasada.

Ela finalmente chega, abrindo a porta com sua habitual educação e jogando seu agasalho no chão, ao lado da porta.

“Beleza, galera, agora a festa tá completa, a Mamãe chegou! Cadê o peru?”

Todos sorriram e se juntaram para saborear a ceia na grande mesa armada no meio da sala do apartamento.

A comida estava excelente (a ceia fora preparada em conjunto por Spencer, Marissa e a mãe do Gibby), todos estavam muito satisfeitos e cada qual se juntava a um par ou mais pessoas para conversarem sobre banalidades.

Surpreendentemente, Freddie e Sam estavam conversando sob o arco que divide o espaço entre a cozinha e sala.

“E aquele papo que precisamos de um estagiário, você aceita?”

“Sim, eu preciso de ajuda com o equipamento, assim posso ter mais tempo para bolar idéias com vocês.”

“Ah, acho que podemos marcar umas entrevistas no meio de janeiro, o que acha?”

“Ia ser show, Sam.”

Carly se aproxima dos dois jovens lentamente.

“Arrã...” ela finge um pigarro, “Não sei se os dois perceberam, mas dêem uma olhada pra cima.”

Eles olham para cima e reparam que há um enfeite de visco bem acima deles.

“Mas nem morta eu beijo o Clarkpira!”

“Menos ainda que eu vou te beijar, Puckett!”

Carly abre um sorriso.

“Mas vocês sabem, é a nossa lei... vocês têm que se beijar...”

Relutantemente, a loira levanta o foco do seu olhar do chão para os olhos castanhos claros de Freddie.

“Eu só vou fazer isso... porque senão vou ter azar no ano que vem.”, Sam mente para seus amigos e para si mesma.

“Mas...”

“Mas nada, Freddie. Vai lá e beija ela.”

Sam e Freddie fecham seus olhos e juntam seus lábios em um pequeno selinho que dura apenas alguns décimos de segundo. Eles se separam e fazem careta.

Carly junta suas mãos e sorri simpaticamente.

“Awn... que bonitinho! Seddie acontecendo na minha frente! Você nunca pensaram em namorar não? Ia ser muito fofo...”

Os dois nada respondem, e evitam fazer contato, porém, cada um deles reflete sobre o singelo beijo. Para Sam, tal gesto significa a percepção definitiva de uma mudança enorme no jeito em que ela vê seu amigo. Já Freddie cai em si sobre uma coisa: faz algumas semanas que ele não sente mais desconforto perto da Sam. Com sua visão de raios-x, ele olha para a região perto da clavícula da garota, e repara que ela não mais ostenta o colar com a pedra verde.

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Na festa de Ano Novo, eles resolvem repetir o local da comemoração de Natal.

Quando ocorre a virada, a primeira pessoa a quem Freddie cumprimenta é Sam.

“Feliz Ano Novo, amiga.”

“Pra você também, nerd. Sabe, eu estava pensando uma coisa... já estamos quase com 16, daqui a pouco podemos dirigir... acho que esse teatrinho de inimigos já deu, né? Nós podemos começar a agir como... amigos, não acha? É o que somos, não é?”

“Claro, e eu concordo.”

“Temos um trato, então, Benson? Só quero continuar te chamando pelos meus apelidos...”

Freddie abraça sua amiga.

“Trato feito, Samantha.”

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Janeiro de 2010

Freddie está entediado, sentado a uma mesa montada no estúdio, ao lado de suas duas amigas. Eles estão escolhendo o estagiário que o auxiliará com a parte técnica do programa, e, até este momento, só candidatos fracos apareceram.

Aparece um rapaz de cabelo castanho chamado Brad, trazendo brigadeiros em um tupperware. Eles conversam por alguns minutos e Freddie percebe que esse rapaz entende bem da área tecnológica.

“Olha, parabéns, você tem tudo para ser nosso estagiário. Nós vamos analisar seus atributos e entramos em contato, OK?”

“OK, pessoal. Muito obrigado pela oportunidade.”

Depois que ele sai, Freddie olha para suas duas amigas e propõe:

“Olha, acho que a gente não precisa mais entrevistar ninguém, né?”

“Ah, ainda tem mais um... Cort... vamos pelo menos ouvi-lo, vai.”

Adentra pelo estúdio um rapaz bastante bonito e malhado, fazendo as garotas suspirarem por ele. Freddie faz a entrevista padrão e percebe que este rapaz tem muito pouco conhecimento que poderia ser útil ao programa.

“Olha, Cort... agradecemos o interesse, mas...”

“VOCÊ ESTÁ CONTRATADO!!!”, gritam as duas garotas em uníssono.

“Como?!?”

“Nerd, são duas contra um, o Cort vai ser nosso novo estagiário.”

Ao garoto, não resta outra alternativa senão acatar o que foi decidido pela maioria.

Na primeira vez que o novo estagiário começa a trabalhar, ele queima o caríssimo notebook de Freddie, derramando suco em cima dele.

Na segunda vez, ele quase bota fogo no carrinho de equipamentos.

Na terceira vez, ele consegue acabar com a luz de todo o prédio, interrompendo a transmissão do programa. E a paciência de Freddie vai para o espaço.

O garoto não aguentava mais a presença de Cort no estúdio, ainda mais que ele polarizava toda a atenção das duas amigas. Em um dia, depois de Cort fazer mais uma burrada, e de ter seu pedido para demissão do estagiário negado mais uma vez, Freddie decide fazer algo não muito heróico.

Cort havia derrubado catchup em sua própria camiseta, e fora ao banheiro para limpá-la, voltando totalmente descamisado, para delírio de Sam e Carly (essa cena se repetia mais vezes do que o kryptoniano gostaria de presenciar). Freddie aciona sua visão de calor (em uma intensidade bem baixa) na região do abdome do estagiário, que instantaneamente põe a mão por cima da barriga.

“Ai... acho que tá me dando dor de barriga...”

E ele sai correndo para o banheiro, deixando as duas adolescentes atônitas. E assim as ‘dores de barriga’ vão se repetindo, até o dia em que o musculoso garoto desiste de trabalhar no iCarly.

“Olha, gente... eu gosto de vocês, mas sempre passo mal quando chego aqui... acho melhor parar de vir e ir pra casa me cuidar.”

“Eu te levo pra casa e cuido de você!!”, prontifica-se Carly a ajudar o estagiário, que parece bem feliz com a oferta da garota.

Talvez o tiro de Freddie tenha saído pela culatra.

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Fevereiro de 2010

O tiro realmente havia saído pela culatra, poucos dias depois Cort e Carly engataram um namoro, para desgosto de Freddie.

O novo casal acaba por minar o tempo entre os antigamente inseparáveis amigos, deixando Sam e Freddie sozinhos.

Nesse meio tempo, eles acabam por contratar Brad, o garoto dos brigadeiros, que rapidamente se torna um dos melhores amigos de Freddie, saindo bastante com ele, e também com Sam, que tem se dado muito melhor com o moreno, tal qual ambos haviam resolvido na virada do ano.

Em certa tarde, depois de transmitirem o programa, Freddie chega em Brad e comenta sobre o trabalho que eles teriam de fazer para a Virada na Ridgeway. Sam escuta e resolve se juntar aos garotos.

“Eu estava ouvindo vocês falarem do trabalho pra Virada... será que eu podia entrar no grupo de vocês?”

“Você? Fazendo voluntariamente um trabalho? Tá com febre?”, ele diz, colocando a mão sobre a testa da garota.

“Não, nerd... mas o projeto de vocês parece bem legal, é um leitor de emoções, né? E além do mais, preciso de nota...”

De lado, Carly observa com estranheza a atitude da amiga.

“Bem, tudo bem, pode participar...”

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Freddie está fazendo os ajustes finais do seu tablet, que irá ler as feições das pessoas para repassar a emoção que ela sentindo no momento, Brad está terminando os ajustes na câmera que gravará a experiência, quando Sam chega com um pote de guacamole, um pacote de batatas, e mais alguns equipamentos pedidos por Freddie.

“Ei, aqui estão as coisas que você pediu, nerd. E trouxe um lanchinho também.”

“Oba!”

Brad se apressou em pegar uma batata e mergulhá-la na guaca, o garoto adorava comida mexicana, contudo, antes que pudesse saborear o petisco, Freddie rapidamente deu um tapa na mão do rapaz, que ficou assustando com a atitude.

“Não faça isso! Me diz, Sam... você colocou sonífero nisso, não? Vai esperar alguém comer, dormir e zoar com a pessoa, né?”

“Não.”

“Experimenta uma, então...”, ele diz em tom de desafio à garota, mergulhando uma batata na guaca e oferecendo a ela.

Ela pega a batata e a come.

“Satisfeito?”

“Isso é novidade. Sem enganação?”

“Sem enganação, Freddie. Vamos fazer o teste do aplicativo?”

A loira diz isso olhando diretamente nos olhos castanhos de Freddie, que sente sinceridade em suas palavras. Ele assente com a cabeça, e a loira se senta na frente do tablet, para o primeiro teste do aplicativo leitor de emoções.

Brad começa a gravar, e Freddie tira uma foto da loira, foto esta que é analisada pelo aplicativo, tendo como base diversas expressões de pessoas, com valores definidos para cada um dos sentimentos experimentados pelos humanos. Toda a base de dados foi conseguida por Freddie, que viajou por todo o mundo para conseguir essas amostras. Foi uma boa maneira de passar o tempo.

Alguns segundos se passam, e Freddie fica visivelmente transtornado com o que aparece na tela do notebook.

“Apaixonada?”

Ele rapidamente revisa todos os ajustes do aplicativo, chegando à conclusão que não há erro algum, Samantha Lang Puckett está mesmo apaixonada.

“E aí, o que deu?”

“Er... inconclusivo.”

“Sério? Mas estava funcionando direitinho hoje de manhã!”

“É... eu vou tirar uma foto da Carly pra fazer um teste nela, OK? Já volto.”

Freddie fecha o notebook, coloca-o sob o braço esquerdo e sai à procura de Carly, a única pessoa à qual ele confiaria tal segredo. Sam olha para Brad, confusa:

“Hã... ele não devia levar o tablet pra tirar a foto dela?”

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Freddie vai a outra sala, onde Carly, em conjunto com Gibby, está realizando uma dolorosa pesquisa de reações humanas frente a diversas adversidades tendo como cobaia seu irmão Spencer, que está aprisionado em uma caixa com vidro espelhado. Freddie procura ignorar a cena.

“Carly, eu tenho a maior novidade!”

“E o que seria?”

“A Sam! Está apaixonada!”

“A nossa Sam? É ruim, hein...”

Freddie abre seu notebook e mostra a foto da loira, com os dizeres ‘Apaixonada’ logo abaixo.

“Oh, meu Deus! Isso é gigantesco! A leitura está correta?”

“Refiz a rotina umas cinco vezes,não tem erro.”

“Caramba... agora, pensando bem, isso faz todo o sentido do mundo, Freddie. Eu percebi que a Sam tem agido estranho ultimamente, e, sinceramente, não me lembro de tê-la visto assim antes.”

“Bem, a única coisa que mudou... é que comecei a sair mais com o Brad, desde então ela começou a sair com a gente.”

“É... ela começou a mudar depois que chamamos o Brad para trabalhar no iCarly.”

“Então... só pode ser pelo Brad!”

“Nós temos que fazer alguma coisa pra juntar esses dois, Freddie! A Sam merece isso, ela só consegue ficar com trastes!”

“Beleza. A gente pensa em alguma coisa depois, vou voltar pro trabalho.”

“Não, depois, não. Agora. Vem aqui que eu vou lhe explicar, eu tenho um plano em mente.”

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Sam e Brad estão trocando conversas, enquanto verificam outros itens do projeto; na sala, há vários outros alunos, cada qual trabalhando em seus projetos particulares, que seriam expostos na semana seguinte.

“Então, Brad, quem te ensinou a fazer esses brigadeiros?”

“Ah, foi a minha bisavó.”

Sam acena.

“Ela foi uma boa mulher, Brad.”

“Ela ainda está viva!”

“Hã... melhor ainda, Brad. Melhor ainda.”

Ela mal termina a frase, e seus dois melhores amigos adentram a sala de forma entusiasmada, ambos com expressões que demonstram haver uma grande novidade.

“Gente, gente, vocês não sabem o que eu vi lá fora! Um sapo de duas cabeças!”

Todos olham para o garoto, incrédulos, e na verdade, bem pouco entusiasmados com o que ele acaba de dizer. Carly percebe e intervém.

“Gente, vocês não entenderam?!? Um sapo de duas cabeças! Vão lá ver com o Freddie!”

Relutantes, os outros jovens saem atrás de Freddie, ficando Brad e Sam para trás, porque a morena intercedeu antes que os dois pudessem ir também.

“Hã... um momento... talvez o Freddie tenha exagerado no número de cabeças.”, Carly morde seu lábio inferior. “Eu vou indo, tá? Sabem o que fazer, né?”

Ela então desliga a luz da sala, deixando o casal sozinho. Um olha para o outro, em um momento constrangedor.

“É... um sapo de uma cabeça.”

“Hã... bem menos... interessante.”

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Sam entra de forma rude na sala onde Carly está terminando seu projeto, e vai em sua direção de forma ameaçadora.

“Carly Shay, o que foi aquilo que você e o nerd aprontaram?”

“Eu só tentei te ajudar, amiga... eu sei que você está apaixonada.”

“E-eu... não tô não!”

“Claro que está, você é minha melhor amiga, eu te conheço e sei que você está diferente ultimamente, tá até saindo com o Freddie, e isso tudo começou depois que o Brad começou a trabalhar com a gente. Fala a verdade, você está gostando dele, não está?”

“Não gosto do Brad, Carly.”

“Amiga, você não pode continuar fechando o seu coração, imagina, eu, o Cort, você, o Brad... ia ser tão legal. Se você gosta de alguém, vai fundo, não perca a oportunidade. Eu só quero o melhor pra você.”

Sam a olha de forma séria, olha para o chão, mas logo em seguida suspira, levanta seu olhar e diz.

“Então, me assa uma torta.”

E ela dá as costas à amiga.

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Sam está no pátio da escola, com uma garrafa de água na mão, pensando nas coisas que tem feito nos últimos dias.

Alguns minutos depois, Freddie sai da escola, indo em direção da loira, que o olha de volta.

“A Carly me contou da discussãozinha que vocês tiveram.”

“E ela te mandou vir falar comigo, né?”

“Não. Eu vim por conta própria.”, diz ele, ao mesmo tempo se aproximando dela. “Sabe, eu vi que você tá a fim do Brad, você devia ir falar com ele...”

“Eu não gosto do Brad! Quantas vezes vou ter de dizer isso?”

“Ah, fala sério. Você sai comigo e com o Brad todas as vezes.”

“Olha, sai daqui senão eu vou fazer a dança dos punhos na sua cara!”

Sam o ameaça, largando a garrafa, levantando-se e indo bruscamente na direção do garoto.

“Você sabe que não tenho mais medo de você há muito tempo. Somos amigos, lembra?”

A loira fica com uma expressão indecifrável, apenas encarando seu amigo.

“Sabe, eu sei que é duro se declarar pra alguém, porque nós nunca sabemos o que essa outra pessoa pensa... mas, se você nunca tomar uma atitude, aí sim nunca vai descobrir... pois você sabe, é melhor...”

“Socorro! Socorro!”

“Quieta, vadia!”

Freddie interrompe o que estava falando e presta atenção no pedido de socorro, que deve ter vindo de uns cinco quilômetros de distância. Sam se aproxima dele, determinada a beijá-lo, fazendo justamente o que ele a havia aconselhado.

Contudo, Freddie, totalmente alheio ao que estava acontecendo, se vira, deixando a garota em uma situação constrangedora.

“Eu preciso ir ao banheiro. Com licença, Sam.”

E ele parte para ajudar a mulher em apuros, deixando para trás uma Samantha Puckett desanimada, que volta ao lugar onde estava sentada, pegando novamente sua garrafa de água e soltando um profundo suspiro. Ela procura se conformar, aparentemente, seu interesse não é correspondido.