Fevereiro de 2016

Josevaldo, com seu chapéu na mão, espera nervoso por alguma palavra do avaliador Floriano, que está com a pedra verde que ele havia achado em um balcão, verificando-o com uma lente.

“Ei, Josevaldo, não sei que tipo de pedra é essa, não... nunca vi nada na minha vida igual a isso.”

“Mas você tem alguma proposta, Floriano?”

“Hã... sei lá, dou R$ 100,00, tá bom?”

“Ah, tá, vai... eu aceito.”

Floriano, intrigado com aquela pedra, se pergunta se aquilo seria radioativo ou não, pois jamais vira uma pedra brilhar sozinha antes. Ele bate com a mão na testa e se lembra do desastre ocorrido em Goiás com Césio, no qual várias pessoas morreram. Ele se lembra de ter um contador geiger, o homem sai correndo pela casa e pega o aparelho, testando na pedra. Nada.

Menos preocupado com as consequências, ele pega sua agenda. Um conhecido seu, um americano de Seattle, cataloga minérios que o brasileiro não conhece, atribuindo-lhes valor.

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Março de 2016

Richard, um jovem avaliador de joias que possui uma conhecida joalheria em Seattle – King’s Jewelry, está neste momento analisando uma rocha verde enviada por um de seus contatos no exterior, o brasileiro Floriano. Intrigado, ele não consegue entender a razão pela qual a pedra emite uma luz por razão própria, sem irradiar partículas nocivas aos seres humanos.

Para ter certeza, Richard terá de consultar uma amiga sua, Kitty, que trabalha nos Laboratórios STAR. O homem considera temerário manter essa rocha desprotegida, então, a coloca dentro de uma caixa revestida com chumbo, guardando a caixa em um cofre, no qual deixa suas joias mais preciosas.

O joalheiro olha para seu relógio de pulso e começa a desligar computadores e luzes do estabelecimento, fechando-o a seguir. Era o fim do expediente para ele.

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Dennis Carradine, um gatuno especializado em furto de joias preciosas, gaba-se de nunca ter sido preso, mesmo depois de Superman abalar as estruturas do submundo criminoso. O ladino sempre escolhe o momento certo para atacar, e sua incrível habilidade em evitar alarmes o mantém na ativa há muito tempo, tempo bastante para acumular uma pequena fortuna proveniente da venda de seus furtos.

Nesta noite, seu alvo é a joalheria King's, no centro de Seattle.

Às 02:30, já não há quase ninguém circulando pelas ruas de Seattle. Dennis, vestido com roupas escuras, calmamente se dirige à frente da joalheria, saca de seu kit de acessórios um alicate e chave especializados, em pouquíssimo tempo abrindo facilmente a grade e a porta do estabelecimento, sem acionar o alarme. O gatuno havia estudado detalhadamente o local, planejando cada passo a ser dado; o que ele não sabia é que dois dias antes Richard havia instalado uma câmera sensível a movimentos e que grava no escuro.

Ele se concentra no cofre, que provavelmente guarda os itens mais valiosos daquela loja; ele retira do seu kit um objeto retangular com alguns botões na frente, colocando-o na porta do cofre. Dennis aciona o dispositivo, que abre automaticamente a porta.

Ele sorri ao perceber que o cofre de mais ou menos 1,5 m de altura está cheio.

Dennis coloca sua mochila em frente ao cofre, abrindo-a e preenchendo-a com diamantes, esmeraldas, jades, tudo o que ele considera de valor.

Ele pega uma caixa de chumbo e fica curioso. Ao abri-la, o tom verde reluzente lhe chama a atenção pela beleza.

“Uau... isto vale a pena de levar só pela beleza...”

A caixa é fechada e colocada dentro da mochila, já cheia. Era o bastante para aquele trabalho. Dennis levanta um pouco sua mochila e a sacode de leve, acondicionando os furtos dentro dela.

“Cara, se vai roubar uma joalheria, você não devia se vestir de ladrão!”

Assustado, Dennis se vira para ver quem havia falado aquilo, e seu sangue gela ao se deparar com o próprio Superman à sua frente.

“É só uma dica de moda do seu amigão da vizinhança... opa, quero dizer, uma dica minha, seu alienígena preferido. Posso ser processado pela Disney por usar uma frase do Homem-Aranha... aliás, você já viu o último trailer do filme dele? Parece que vai ser muito bom!” - diz o Homem de Aço, com uma expressão irônica.

“Su-su-superman?!?”

“Não, a Rainha da Inglaterra...” ele dá alguns passos em direção ao bandido, pegando-o pelo colarinho “Você já sabe que vai pra cadeia, né?”

Dennis solta sua mochila, que cai ao chão. A caixa com a rocha sai rolando e se abre, deixando a pedra exposta a uma distância de cinco metros do herói.

Instantaneamente, o kryptoniano tem a sensação de fraqueza e dor que começa no peito e vai se espalhando por cada parte de seu corpo já conhecida, multiplicada em muitas vezes. Era o resultado da exposição à pedra verde, do mesmo tipo que aquela que fazia parte da corrente que Sam costumava usar, mas num tamanho centenas de vezes maior.

“Unnnnhhh...” ele geme, caindo de quatro no chão, sem forças.

Dennis, surpreso com a repentina queda do herói, arma a corrida para fugir do seu alcance, mas Superman, mesmo debilitado pela pedra, levanta sua mão, aplicando uma rasteira no ladrão, que se espatifa no chão. Ele bate a cabeça no balcão e desmaia.

Superman, abalado pela fraqueza, praticamente se arrasta para fora da joalheria, sentando-se encostado à parede frontal do estabelecimento, finalmente se sentindo um pouco melhor. Sentindo um pouco da sua força retornar, ele se apoia na parede. O herói ouve ao longe o som de sirenes de carros da polícia vindo na direção da joalheria.

Ele visualiza a condição geral do homem inconsciente, assegurando-se que ele continuará dormindo por um bom tempo.

Então, ainda com dores, ele resolve voar para longe daquele local, planejando recuperar-se e voltar àquele local com cautela para verificar o que lhe causou tanto sofrimento.

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Um sonolento Nevel Papperman apanha o telefone de seu criado mudo, mal-humorado por ter sido acordado no meio de seu sono.

“Espero que seja importante, detesto ser acordado.”

“Sr. Papperman, é Tommy, gerente noturno do serviço de vigilância. Desculpe, mas é que o senhor pediu para que avisássemos caso houvesse algum vídeo do Superman... em uma das câmeras do serviço de vigilância da NevelCorp, presenciamos ele impedindo um assalto.”

“E qual é a novidade nisso, imbecil? Aquele pulha já impediu milhares de assaltos!”

“Senhor, esse vídeo é diferente, alguma coisa parece ter feito ele passar mal, ele até cai no chão...”

Nevel desperta na hora em que ouve isso.

“Mande para mim esse vídeo agora! E delete-o do sistema. Esta informação é privada, caso eu a ouça de outrem, é você quem sofrerá as consequências, Tommy.”

Ansioso, Nevel verbalmente faz uma ordem e um complexo sistema computadorizado desdobra uma avançada e gigantesca tela de cristal líquido à sua frente, acessando imediatamente sua conta pessoal. Ele verifica sua caixa de mensagens, que já está com o arquivo do vídeo.

Quando ele vê Superman caindo ao chão, ele não consegue segurar uma risada alta, ao finalmente vislumbrar o sofrimento do herói pela primeira vez em muito tempo.

O jovem bilionário repassa o vídeo mais uma vez, e repara que o kryptoniano tem a reação tão logo uma caixa escura cai ao chão, revelando um objeto pequeno e reluzente. Com um comando feito por suas mãos, Nevel amplia a imagem do objeto, percebendo tratar-se de uma pedra.

“Só pode ser aquilo...” ele fala para si próprio.

“Contato com a Srta. Croft!”

Uma janela se abre na tela, revelando em alguns segundos a imagem de Lara Croft com os cabelos ainda bagunçados, demonstrando claramente que ela havia sido desperta pela chamada.

“O que foi, Nevel?”

“Onde você está?”

“Acampada no Vale Cherokee, procurando aquela câmara dos deuses.”

“Eu preciso urgente das suas habilidades furtivas. Vou encaminhar um helicóptero agora para apanhá-la. Depois você virá para cá com meu jato particular.”

“Você sabe que vou cobrar muito bem por esse serviço, não é? E vou cobrar ainda mais se for algo ilegal.”

“Perfeitamente, Srta. Croft.”

“OK.”

Nevel desliga e faz contato com seu piloto particular, ordenando-o para que fosse apanhar Lara e trazê-la o mais rápido possível. Cada minuto contava para que seu plano desse certo.

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O relapso policial Bennett está quase cochilando em seu posto de serviço, não à toa, um dos menos importantes da Polícia de Seattle, como vigia responsável pelo setor que contém as provas captadas nos locais de crimes.

O desleixado homem da lei é retirado de seu torpor pela estrondosa visão de uma mulher loira, de óculos, seios fartos, destacados por meio de um generoso decote proporcionado pelo uniforme policial que ela ostentava. O uniforme aparentemente era de Wichita.

“Bom dia, policial... Bennett. Sou a policial Mendes, de Wichita. Tenho ordens para averiguar as provas colhidas do caso W3852Y ocorrido ontem à noite. O suspeito é um procurado nosso.”

“Bem, policial Mendes” ele diz gaguejando, não conseguindo tirar os olhos do decote da policial “infelizmente, eu precisaria de um ofício do seu escritório...”

Ela solta um botão da farda e se apoia no guichê, evidenciando ainda mais seus belos seios, fazendo o policial até puxar com o dedo sua gola, para aliviá-lo do calor repentino.

“Puxa...” ela diz, colocando o dedo indicador esquerdo no canto da boca com lábios carnudos “É que estou cuidando desse caso... você sabe, há muito tempo... queria muito pegar esse pilantra.”

“Hãããã... pensando bem, posso fazer uma cortesia a uma colega que veio de tão longe, né?”

Bennett abre o compartimento, permitindo à policial entrar no depósito. Em agradecimento, ela passa sua mão sensualmente pelo rosto dele, que faz uma cara abobada com o gesto.

Uma vez sozinha no depósito, ela procura a caixa com a pedra verde. Tão logo a acha, habilmente a coloca entre seus seios, deixando a caixa de chumbo vazia no saco plástico que contém as provas.

Rapidamente, ela sai do depósito, indo em direção a Bennett.

“Gracinha, muito obrigada pela ajuda, aquele cara está perdido na minha mão.”

Ela dá um selinho nele e vai embora.

Calmamente ela atravessa a delegacia e sai pela porta da frente, entrando em um carro poucos minutos depois, que está estacionado em um local deserto. Uma vez lá dentro, ela tira a peruca loira, os óculos e a camisa que faz parte do uniforme policial. Era Lara Croft disfarçada.

Ela coloca sua mini blusa preta e pega a pedra, para observá-la de perto.

“Fácil demais.”

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Freddie está tirando fotos da frente da Joalheria King’s, para ilustrar a reportagem que ele assinará para o Planeta Diário. Ele entra no estabelecimento e encontra seu dono, Richard, conversando com uma dupla de policiais.

Assim que a conversa termina, com os policiais indo embora, Freddie dirige a palavra ao homem:

“Bom dia, Freddward Benson, Planeta Diário. O que houve aqui?”

“Ah... de noite, entrou um ladrão aqui, mas... o estranho é que os policiais o encontraram desmaiado no chão. Acho que, ao sair, ele escorregou e bateu a cabeça no balcão.”

“E ele estava sozinho? Levaram algo?”

“Não, não... a polícia levou as joias que estavam espalhadas pelo chão como prova. Pelo que entendi, eles vão me devolver ainda hoje.”

“Hmmm... OK. Agradeço pela entrevista, senhor.”

À noite, conforme prometera à sua namorada, Freddie bate à porta dela. A bela mulher o atende, cumprimentando-o com um beijo e um abraço.

Depois de jantar, o casal se senta no sofá da sala para namorar um pouco.

Após alguns amassos, eles conversam sobre o dia um do outro.

“Como foi seu dia, bebê?”

“Ah, sem novidades... cobri um assalto numa joalheria. Parece que o panaca do ladrão escorregou e se auto nocauteou.”

“Ah! Ouvi falar desse caso lá no quartel! Deu uma baita treta!”

“Hã?”

“Então, perderam um item que ia servir de prova, uma pedra verde... o dono ficou puto da vida.”

“Pedra... verde?”

“Sim, sim... até mandaram embora o panaca que tomava conta do depósito, um tal de Bennett. Ele fez a academia comigo, era um banana.”

“Hã... Sammy, agora que eu lembrei... preciso ir pra entregar uma matéria...”

“Mas já? A gente nem namorou direito...”

“Putz, desculpa, mas eu preciso mesmo ir...”

“Ah...” ela faz uma cara desapontada.

Freddie dá um selinho na sua namorada e sai apressadamente para a rua, entrando em um beco deserto, olhando para os lados e pressionando o comando de seu cinto, que substitui suas roupas pelo uniforme azul e vermelho do Superman e modifica seu rosto.

Ele voa pela noite, com o deslocamento de ar mexendo os fios de seu cabelo, e em poucos segundos está flutuando em frente à joalheria King’s. Nenhuma sensação de dor permeia seu corpo, sinal que realmente a pedra verde não estava lá.

O herói varre o local com sua visão de raios-x, mas nada da pedra. Num segundo momento, ele procura por câmeras de segurança ou alarmes, mas nada localiza.

“Vai ver, foi só coincidência...” ele murmura para si próprio, tentando esquecer do assunto.

Sua audição apurada capta uma transmissão de rádio, dando conta de uma enchente que acabou de ocorrer na Índia, com pessoas em perigo.

Limpando sua mente, ele alça voo em direção ao país asiático.

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Lara Croft dá as costas para Nevel, na intenção de voltar à sua expedição na Carolina do Sul.

“Você já sabe onde depositar o dinheiro, Nevel.”

“Claro, Lara... ótimo trabalho.”

Nevel pega o interfone de seu escritório e faz uma chamada.

“Tommy? Nevel falando. A retirada do equipamento da King’s Jewelry foi feita logo pela manhã, conforme pedi?”

“Sim, senhor. O dono ficou até feliz ao saber que o ressarciríamos pelos prejuízos, além da instalação de um kit superior gratuito pelos próximos cinco anos. Informamos a ele que ocorreu um problema no sistema.”

“Ótimo! Bom trabalho, Tommy.” Nevel desliga o telefone.

Ele pega a pequena pedra entre seus dedos, colocando à frente de seu rosto, com um sorriso maquiavélico estampado em seus lábios.

Pela centésima vez, ele passa o vídeo onde o Superman fica próximo da pedra; sua parte preferida é aquela na qual o herói cai de quatro e se arrasta para fora quase sem forças. Isso porque a pedra estava a mais de cinco metros de distância dele, o que aconteceria se ela estivesse a poucos centímetros?

“Finalmente, alienígena maldito... chegou o momento em que você lastimará sua existência... você lastimará!”