Superfreddie

Ameaças Dormentes


O complexo científico da NevelCorp, localizado na cidade de Seattle, é um conjunto gigantesco de prédios onde estão localizados laboratórios, centros de pesquisa, escritórios e outras unidades da megacorporação comandanda pelo genial e igualmente irritante empresário Nevel Papperman.

Na ala de tecnologia, em um corredor onde estão localizadas algumas salas de engenheiros, há ao lado uma pequena sala de almoxarifado. Do corredor, se ouvem gemidos abafados pelas paredes.

Alguns minutos depois que tais sons cessam, de forma discreta, uma mulher asiática de mais ou menos 25 anos, bastante atraente, sai da pequena sala, com o cabelo liso e comprido bagunçado, maquiagem borrada e com o rosto corado. Sem graça, ela olha para os lados e volta para a recepção do andar, puxando para baixo e ajeitando a saia que fica colada ao seu corpo.

Instantes depois, um homem de aproximadamente 30 anos, de cabelos negros e ostentando um cavanhaque que lhe dava um ar distinto que atraía bastante as mulheres, corpo malhado e olhos azuis, também sai da sala, arrumando sua gravata de seda no colarinho e colocando para dentro das calças sua camisa importada branca. Seu nome, Anthony Stark, um dos engenheiros mecânicos e físicos mais respeitados do mundo.

Com um sorriso maroto, ele anda pelos corredores do complexo, parando na frente de uma porta, onde há um cartazete pendurado com os dizeres: “Projeto Homem de Ferro”. Ele olha para o lado e vê um homem alguns anos mais velho, de aproximadamente 40, de cabelos castanhos lambidos, baixo, franzino, com um ar extremamente frágil e que andava arqueado. Seu nome é Robert Bruce Banner, mundialmente famoso geneticista.

Stark vai em direção do cientista.

“Ei, Bruce! E aí?”

O outro homem, sem olhar no rosto de Stark, responde:

“O-o-oi, T-Tony.”

“Pensou direito sobre aquele convite pra irmos naquela boate, amigão?”

“E-eu não sei... s-sabe, a Betty...”

Stark põe o braço por cima do ombro de Banner.

“Caramba, homem, esquece essa mulher! Ela já te deixou há séculos, é hora de aproveitar a vida! Carpe Diem, lembra? Eu pago a mulher que você escolher!”

“A-hem.” interrompe um pigarro, vindo de quem os dois cientistas menos queriam ver no momento, o dono do complexo que os paga, Nevel Alexander Papperman. “Doutores... boa tarde. Que ótima coincidência encontrá-los aqui! Os senhores sabem... que temos certa urgência nos projetos que estão encabeçando, e pelos quais estão sendo muito bem pagos... então, gostaria de saber em que pé estão seus trabalhos.”

“Eu continuo na mesma, Nevel. A armadura está pronta, o software de navegação também, mas ainda não achamos uma fonte de energia poderosa o bastante para alimentar todo o sistema da armadura. Tentamos Paládio, mas não foi forte o bastante. Ainda estamos pesquisando.”

Nevel fica vermelho e pinça a base do seu nariz, procurando se acalmar.

“Sr. Stark, acho que seria mais produtivo o senhor procurar a solução adequadamente, em vez de ficar saracoteando pelos corredores, não acha?”

“Não se apressa um gênio, Nevel. Eu vou achar algo alguma hora.”

De forma arrogante, Tony Stark deixa para trás os dois homens e vai ao seu laboratório.

“Esse homem me irrita demais... não fosse ele tão bom no que faz...”

Nevel volta sua atenção para o outro cientista, que não tinha nem uma fração da auto-confiança de Tony Stark.

“E o senhor, Dr. Banner? Já aprimorou o soro do supersoldado?”

Bruce Banner começa a tremer, claramente nervoso com a presença do dono da NevelCorp à sua frente; o pequeno rapaz, ainda que muito mais novo do que ele e ainda mais baixo, causava até pesadelos ao frágil cientista.

“S-s-s-senhor N-N-N-Nevel... e-estamos em fase final de t-testes em c-cobaias...”

“Como vocês ainda não desenvolveram o soro para testes em humanos???”

“S-senhor, é-é preciso testar...” o medo de Banner é tão grande que ele quase urina em suas calças.

“Chega! Vá trabalhar numa solução, Banner!”

Bruce Banner, sem pestanejar, vai correndo até seu laboratório para continuar o desenvolvimento do soro do supersoldado.

Acenando negativamente com a cabeça, Nevel desce pelo elevador até a recepção, onde ordena que um carrinho de golfe o apanhe e o leve até o prédio administrativo do complexo, onde ele vai até a sala de Chloe Sullivan.

A garota loira está falando ao telefone, e Nevel se senta na cadeira à frente dela, aguardando que finalize a chamada.

Chloe suspira e coloca o fone no gancho.

“Esse caso do Homem-Hídrico quase respingou na gente... mas acho que consegui dobrar a imprensa. E ainda bem que a terceirizada concordou em alterar o registro do local onde aquele Morris Bench havia trabalhado naquele dia, pro Laboratório STAR, tirando da gente a responsabilidade. A seu preço, claro...”

“Bom. Pelo que pude conversar com a Valerie, o Morris também não vai nos prejudicar.”

“Como você sabe? Aquele cara venderia a própria mãe pra conseguir algum dinheiro...”

“A solução foi, digamos... definitiva.”

“Não me conte mais nada! Eu não quero saber!”

“Tudo bem, Chloe. Obrigado, você continua muito competente.”

Dizendo isso, Nevel se retira à sua sala. Chloe se vira para seu computador e entra em um site de moda, procurando esvaziar sua mente dos problemas recentes; desde que começara na NevelCorp, havia visto tanta sujeira que ela própria sentia-se suja. Mas seu salário era incomparável e ela não podia se dar ao luxo de largá-lo. Ela olha um vestido que lhe interessa e anota mentalmente onde poderá comprá-lo.

Pelo menos assim ela ocupa sua mente e esquece, pelo menos por um tempo, do peso na consciência que a atormenta ultimamente.

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No Brasil, o garimpeiro Josevaldo está no fim de sua jornada. O dia foi fraco, ele não achou quase nada. Insistindo um pouco mais, ele continua com a peneira na mão, à procura de joias preciosas.

Josevaldo remexe em um punhado de pedras, e de repente um brilho verde lhe chama a atenção, em meio à água lamacenta do rio. Ele estica seu braço e puxa para cima uma pedra, de 15 cm de comprimento, pouco mais pesada do que uma lata de atum.

O sofrido homem olha para a pedra, que parece brilhar por conta própria. Jamais tinha visto algo como aquilo, era muito bonita, sua superfície era perfeita, mesmo estando em seu estado bruto, sem ser trabalhada. Feliz com a descoberta, ele ensaca a pedra, já pensando em quanto será pago por ela.

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No espaço sideral, muito longe do planeta Terra, uma nave cujo comprimento é de aproximadamente 50 metros singra pelo frio vácuo espacial.

Dentro dela, há equipamentos eletrônicos milhares de anos à frente da tecnologia terrestre. Em um terminal, aparecem inscrições kryptonianas, que, traduzidas, significam:

“Tecnologia kryptoniana detectada. Alterando rota para interceptação.”

Não há piloto na cabine de comando, apenas um avançado software de inteligência artificial comanda a nave. Os únicos três tripulantes encontram-se em outro compartimento, mantidos em animação suspensa há vários anos, sendo poupados do desgaste decorrente da quase interminável viagem que resultou da fuga de última hora do seu moribundo planeta.

“Novo destino: setor 2814. Planeta Terra.”

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Em uma terra desconhecida, uma jovem de aproximadamente 20 anos, morena de cabelos negros e ondulados, vestida com uma simples túnica branca e sandálias, observa, da praia, as ondas do mar. A água é cristalina, o céu está pintado em um belo tom azul quase sem nuvens, e o sol é agradável.

Ela olha para o lado, há uma grande rocha, de aproximadamente 2,5m de diâmetro. Ela abraça a rocha e a levanta, mantendo seus braços esticados para cima, e a rocha apoiada em suas palmas. A jovem sustenta a rocha com apenas uma mão, arqueia seu corpo, e a atira a cem metros à sua frente, caindo no mar com uma grande movimentação de água.

Ela sorri.

De repente, sente uma mão em seu ombro direito.

“Quantas vezes eu preciso lhe falar para não atormentar o reino de Poseidon, filha?”

“Desculpe, mãe... quer que eu vá buscar a pedra?”

A mulher mais velha, em trajes parecidos com a mais jovem, acena positivamente com a cabeça.

A jovem sorri e alça voo por conta própria, mergulhando no mar em busca da rocha recém-lançada, que é apanhada e deixada no exato lugar onde estava há poucos instantes.

A jovem se senta na praia e torce seu cabelo fazendo um tipo de rabo de cavalo, tentando secá-lo da melhor maneira possível.

Sua vida é perfeita, e ela não poderia ser mais feliz.

Mal ela sabia que algo iria arruinar esse estado de espírito...

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Em outra dimensão, há um pequeno planeta cuja natureza fora praticamente exterminada, dando lugar a uma paisagem artificial e degradante. Poços de lava abundam sua superfície, e estranhas máquinas com chaminés gigantescas soltam uma fumaça tóxica que infesta o ar nauseabundo desse detestável lugar.

A população é miserável, e implora às autoridades impiedosas a mínima porção da ração diária à qual tem direito. Pobres miseráveis mais frágeis são impiedosamente açoitados pelas truculentas figuras, que ostentam a marca do reino em seu peito. Pode-se visualizar cadáveres em decomposição nas ruas.

No centro do reino, está localizada uma instalação luxuosa para os padrões do planeta, onde reside o poderoso tirano que mantém a todos sob seu jugo. Neste momento, ele está em sua sala real, ligeiramente entediado.

“Desaad! Venha aqui imediatamente!”

“S-sim, majestade.”

“Estou entediado. Traga para cá todas as minhas escravas.”

Alguns momentos depois da ordem, Desaad, junto com uma dúzia de soldados com aparência animalesca, guia por correntes cerca de cinquenta mulheres, todas belas, altas e atléticas, com pele alaranjada e cabelos longos marrons. Seus olhos não têm pupilas e são da cor verde. Elas estão nuas, assustadas e com medo.

Uma única mulher não demonstra medo. Ela tem cabelos longos e está à frente de todas. Sua expressão é austera. Seu nome é Koryander.

“Minhas queridas tamarianas... tive muita diversão com todas vocês. Mas é chegado o momento de renovar meu harém.”

Koryander se ergue e brada:

“Maldito seja! Algum dia alguém honrado, um herói, irá acabar com você, e finalmente cessar suas atrocidades!”

O tirano apenas ri e seus olhos ganham um tom avermelhado, liberando feixes perfeitamente simétricos, que, em uma rota direta, atingem todo o grupo de mulheres tamarianas. Assustadores gritos de terror são ouvidos por breves instantes, e, em poucos segundos, nada resta onde elas estavam. Elas haviam sido desintegradas pelo inimaginável poder do tirano.

O tirano calmamente se senta em seu trono e dirige a palavra ao seu vassalo Desaad.

“Procure outra raça de mulheres poderosas para meu novo harém. E que tenham forma humanóide, como você bem sabe. Rápido.”

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No planeta Terra, próximo do cume do monte K2, localizado no Baltistão, uma solitária e bela jovem, paramentada com vestimentas adequadas para encarar o clima extremo da região, escala o temido monte de forma confiante e até certo ponto irresponsável. Assim era o estilo de vida de Lara Croft.

Um grampo de suporte se solta, e a britânica começa a deslizar para uma queda mortal. Rapidamente, ela apanha seu gancho de metal e o finca na neve, detendo sua queda quando estava a poucos centímetros da beira do precipício. Sob a máscara, Lara sorri.

Horas depois, ela está no ponto onde os satélites da NevelCorp registraram a queda de um meteorito. Com um pequeno aparelho que emite uma forte onda térmica, ela derrete uma porção da neve acumulada e localiza uma pedra vermelha semi-transparente, de mais ou menos 40 cm de diâmetro, pesando aproximadamente 1 kg.

Lara analisa detalhadamente a pedra. Jamais havia visto algo assim, ela parecia reluzir, era de fato um minério (ou o que quer que fosse) muito belo.

Satisfeita com o achado, ela coloca a pedra em sua mochila e inicia a penosa descida do monte K2, o mais perigoso do planeta.

Seu próximo destino não será em um ambiente tão inóspito. Seus informantes lhe passaram boatos sobre uma antiga lenda da extinta tribo Keyauwee da Carolina do Sul, dando conta de uma câmara dos deuses, vinda do céu há centenas de anos atrás. Talvez seja alguma nave extraterrestre, uma verdadeira obsessão para a britânica.

“Ainda sou paga – e muito bem – pra fazer isso. Que vida boa eu tenho...”

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Em Seattle, em seu apartamento, a respeitada repórter Carly Lane Shane recebe seus dois melhores amigos, Freddie e Sam, que recentemente engataram um relacionamento. Depois de um animado jantar e um par de horas de conversas, eles estão se despedindo dela.

Carly abraça os dois ao mesmo tempo.

“Oh, meu Deus! Como eu estou feliz de ver os dois juntos! Eu sabia que por trás dessas brigas existia um amor!”

“Calma lá, Carls. Eu ainda tô conhecendo esse lado do nerd. Se eu não matá-lo, pode ser que dê certo...” diz Sam, livrando-se do abraço.

Freddie olha docemente para ela e lhe dá um beijo na testa.

O casal se despede e parte para a casa da loira em silêncio pelas ruas da cidade norte-americana, ele a a braçando pela cintura.

Alguns minutos depois, Sam resolve quebrar o silêncio.

“Que foi, você tá quieto demais... aquela parada de te matar era só brincadeira, Freddie...”

“Eu sei, Sam...” diz ele sorrindo. “Eu só... tive algumas sensações ruins. Mas deve ser só impressão.”

Sua namorada detém seus passos, obrigando-o a parar também. Ela o abraça pela cintura e o encara diretamente em seus olhos castanhos.

“Freddie... aconteça o que acontecer, você não precisa se preocupar com nada, eu vou estar sempre ao seu lado pra encarar qualquer coisa.”

“E eu vou estar do seu...”

Ele sorri e se aproxima do rosto dela.

O casal se beija no meio da rua, ignorando tudo o que estava ao seu redor. Para ambos, o que importava naquele momento era estarem juntos um do outro, totalmente alheios às grandes ameaças que pairam sobre ambos.

E que talvez nem o Superman seja capaz de enfrentar.