Superfreddie

A Super-Carly


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Janeiro de 2018 - Seattle

Um rapaz suado e ofegante corre pelo parque Discovery. Ele está vestindo uma blusa moletom com capuz e shorts. Volta e meia, ele é cumprimentado por alguém que o reconhece de um programa que ele fazia muitos anos atrás.

“Freddie! Como você está? Ficou com a Carly ou com a Sam?”

“Com a Sam!” - ele responde orgulhoso.

“Legal! Sempre fui seddiana!”

Ele sorri e se despede da moça, continuando seu cooper. Era um hábito que Freddie tinha tomado depois de desenvolver a kryptonita roxa, o rapaz gostava de sentir seu corpo fazer um esforço anormal para ele. Para isso bastava pedir o pingente da namorada emprestado.

Além do mais, praticar exercícios como um humano parecia deixá-lo mais forte quando provido de seus poderes. Ou ao menos era o que parecia ao rapaz.

Freddie olha para um relógio do parque. 12:37, ele estava se exercitando há mais de uma hora e meia.

Era hora do kryptoniano voltar.

Ele embrulha o pingente em um papel de chumbo e sente seus quase imensuráveis poderes retornarem. Sons de vários quilômetros chegam aos seus ouvidos, cheiros que nem um cachorro conseguiria distinguir...

Freddie continua a correr, só que cada vez mais rápido, até virar um mero borrão que começa a ganhar altura e tons de uma mistura azul e vermelha... até o Superman emergir nos céus de Seattle.

A centenas de metros acima do chão, o herói flutua e observa com seus sentidos aguçados a cidade escolhida para sua proteção. Nada estava errado. De certa forma, os índices de criminalidade tinham baixado muito depois que Superman surgiu, não só em Seattle, como em diversos pontos do mundo. Freddie parecia estar conseguindo alcançar o que tinha em mente quando havia decidido combater o mal.

Uma rápida olhada para o QG da Polícia mostrava que Samantha Lang Puckett estava preparando um sanduíche de presunto, que seria consumido no intervalo dela. O herói sorri. O metabolismo da namorada continuava tão rápido quanto quando ela tinha 12 anos.

Superman olha para cima. Muitos quilômetros acima da superfície, um brilho peculiar lhe rouba a atenção.

Intrigado, o herói voa rapidamente em direção à singularidade.

Observa-a curioso. Não sabia avaliar se aquele brilho era perigoso ou não. Então, resolve acionar seus sensores a fim de melhor analisar aquele fenômeno.

Ele mal ativa os sensores e é envolto pelo fenômeno, que o deixa cego.

E, tão repentinamente como havia aparecido, a singularidade se vai.

Freddie coça a cabeça, curioso.

O que foi isso?

Entretanto, sem que pudesse fazer qualquer coisa, ele se resigna. Pela posição do Sol, eram 13:00, tinha combinado de almoçar com a sua mãe em uma lanchonete próxima do hospital onde ela trabalhava, e já estava atrasado.

Na descida à cidade, sua audição capta transmissões de rádio sobre um assalto a um banco localizado no centro da cidade.

Nossa, não vejo um assalto a banco em Seattle há pelo menos um ano... deve ser um cara novo...

Freddie mergulha a 800 km/h e logo está dentro do banco assaltado.

Todos os presentes olham com surpresa para aquele homem voador com um uniforme collant azul e capa vermelha.

Três homens fortemente armadas assaltavam o principal banco do centro da cidade. Um deles, parecendo o líder, berra para os outros, após se recuperar da surpresa de ver o super-herói no banco:

“Atirem nele! Encham esse puto de chumbo!”

Sons de balas zunindo pelo ar invadem o ambiente, quando o herói vestido de azul é alvejado impiedosamente pelos bandidos.

Tiros? Quem no mundo ainda atiraria em mim?

Ele toma cuidado para que as balas que ricocheteiam nele não atinjam ninguém. Com sua visão de calor, ele aquece a arma de um dos bandidos, que a solta imediatamente. Para outro, ele assopra forte, derrubando-o ao chão. Quanto ao último, o herói pega o cano da metralhadora e a dobra.

No momento de um piscar de olhos, os três ladrões estão imobilizados com suas próprias armas, dobradas em suas mãos de maneira que formassem algemas.

“Q-Quem é você?” - pergunta o gerente do banco, que olhava assustado para Freddie.

“Como assim, quem sou eu? Faz anos que eu patrulho Seattle!”

Freddie então repara nas outras pessoas. Todos o olhavam com espanto, perguntavam-se uns aos outros quem era aquela figura.

“Supergirl! Faça alguma coisa contra esse homem, ele quer roubar o banco!” - alguém grita.

O herói se vira. E fica de frente com uma adolescente, de aproximadamente 15 ou 16 anos, vestindo uma jaqueta vermelha aberta, blusa azul, jeans e tênis. Não era possível distinguir seu rosto, pois usava uma máscara cobrindo toda a parte ao redor dos olhos. Para completar, o capuz da jaqueta cobria o resto de sua cabeça. Basicamente, só conseguia visualizar a boca dela, adornada com um gloss típico de adolescentes.

“Quem é você?” - ela pergunta para o Superman.

“Eu que pergunto! Nunca ouvi falar de uma Superg...”

Entretanto, antes que pudesse terminar a frase, Freddie sente uma dor aguda no estômago, seguida de outra na ponta do queixo e um impacto forte na altura do peito, que o atira através da vidraça do banco, jogando-o na rua.

Freddie se apoia com um joelho sobre o asfalto, esfregando o queixo. Poucas vezes tinha sido atingido com tamanha violência.

E a garota novamente estava à frente dele.

“De onde você copiou esse símbolo no seu peito? Como você consegue voar?”

“Olha, eu não estou entenden...”

A garota chuta o rosto dele, fazendo-o cair novamente no chão. Enquanto ali estava, ela o agarra pela capa, atirando-o violentamente contra um poste, que se parte.

“Responda agora!”

“Respondo que cansei de apanhar de você!” - ao gritar isso, Freddie dá um murro no chão, rachando-o e causando um pequeno terremoto, que desequilibra a garota.

Aproveitando seu desequilíbrio momentâneo, Freddie segura os braços dela por trás e decola em alta velocidade.

Em poucos segundos, estão no Grand Canyon.

O Superman atira a garota no chão.

“Beleza, aqui podemos brigar sem ferir inocentes!”

“Ora, seu...”

A garota parte para cima do herói, desferindo socos em alta velocidade. Contudo, como estava preparado, Freddie consegue bloquear todos os golpes.

Ele apanha o braço da garota e a atira com grande força contra uma parede de rochas, abrindo um buraco.

Ela cai ao chão, abalada pelo golpe. Seu capuz havia saído, revelando cabelos negros longos e levemente ondulados.

“Unnhh... eu vou... te socar, seu...”

Freddie dá alguns passos para trás, pasmo. Sua visão de raios-x confirmara suas suspeitas, surgidas logo após vislumbrar aqueles cabelos negros.

Supergirl era Carly Shay, em uma versão mais nova do que a que ele conhecia.

Em supervelocidade, a morena arremete novamente contra ele, desferindo vários socos e chutes, que são habilmente bloqueados por Freddie. Em uma fração de milissegundo, ele se aproveita de uma brecha dada por ela e prende seus dois braços, formando um “X” sobre o próprio peito dela, imobilizando-a por um momento.

“Pare, Carly!” - ele profere, na esperança de detê-la.

Ela para de se debater, motivo pelo qual ele a deixa ir.

Supergirl tira uma mecha de seu cabelo da frente do rosto, e fita seu adversário com seriedade.

“Como... você... sabe... meu... nome? Você é um espião com poderes? É um inimigo do meu pai, vindo de Krypton?”

São necessários alguns segundos para Freddie analisar o corpo da garota à sua frente. Seu DNA mais lembrava o seu próprio do que o da amiga morena. Juntando o fato de que sua amiga estava pelo menos 6 anos mais jovem, que tinha poderes e que ninguém do banco o conhecia, o rapaz chega à conclusão que aquela não era sua Terra.

“Eu não sei como explicar... mas eu também sou de Krypton... mas, aparentemente, de outro Krypton...”

Em uma fração de segundo, ela está novamente à sua frente, agarrando-o pelo colarinho.

“Explique-se! Eu não tô engolindo nada do que você está falando!”

Freddie segura os dois pulsos da garota, que se espanta com a força dele. Ele a olha com seriedade, fazendo suas duas pupilas se acenderem com a visão de calor sendo acionada.

“Garota, eu sou mais forte e experiente que você... e estou do seu lado! Não sei se você percebeu, mas aqueles assaltantes foram imobilizados por mim. Agora, por favor, queira se acalmar para nós conversarmos, OK?”

O herói solta os pulsos da garota, que os esfrega. Jamais tinha encontrado alguém mais forte do que ela.

Freddie pensa um pouco. Não era a Terra dele, logo, não fazia sentido guardar seu segredo, motivo pelo qual ele decide desativar seu disfarce facial.

“Talvez você confie um pouco ao ver meu verdadeiro rosto.”

A ‘Super-Carly’ cai para trás, abismada.

“Freddie? Mas que loucura é essa? Como você tá mais alto? Como você voa? Eu tô sonhando?”

“Calma, garota... eu não sou o seu Freddie. Aparentemente eu caí numa singularidade que me trouxe para outra dimensão... uma dimensão maluca onde você é de Krypton, e não eu...”

“Então... você... é de outra dimensão? Parece coisa de ficção científica!”

“Sim... mas agora o problema é saber como eu volto.”

Freddie se senta no chão.

“Bom... já que estou aqui, preciso me situar, já que não vejo sinal do vórtice que me trouxe pra cá... seu nome é Carly Lane Shay?”

“Não... Carly Ann Shay. Você se chama Freddward Benson?”

“Quase. Meu nome completo é Freddward Clark Benson. Seu nome kryptoniano?”

“Carl-El. E o seu?”

“Kal-El. Quase tudo igual, aposto que tem uma Sam aqui também...”

“Sim! Minha melhor amiga!”

“Oh, que novidade...”

Carly se levanta e oferece a mão direita para Freddie.

“Olha, eu não sei como vamos te levar de volta pra casa, mas, se você quiser passar um tempo lá na minha... só vai ter de fazer esse truque do rosto, porque você realmente é muito, muito parecido com o Freddie. Podemos dizer que você é um amigo do Spencer, já que é mais velho do que nós três.”

“Combinado... eu preciso espairecer...”

“Você consegue correr, né?”

“Prefiro voar. Você não consegue?”

“Hã... não... nem sabia que kryptonianos faziam isso.”

“Você vai aprender. Sobe aí nas minhas costas. Mora no Bushwell?”

A garota acena com a cabeça. Superman então decola e em poucos segundos está no terraço do prédio, que impressionantemente era idêntico ao que ele morava com a mãe.

“Céus! Você é muito mais rápido do que eu!” - Carly diz assustada, tentando colocar em ordem seu cabelo.

“Eu sou mais velho que você, também. Seus poderes vão se desenvolver.”

Os dois descem até o oitavo andar e adentram o apartamento dos Shay. Como combinado, Freddie ativa seu disfarce facial, recolhe o uniforme e veste uma roupa de Spencer, que cabia justa nele, afinal, era mais musculoso do que o irmão Shay mais velho. Ela também se troca para roupas mais normais.

“Estou espantada com o seu tamanho. Deve ser bem uns vinte centímetros mais alto que o Freddie.”

“A altura não faz o homem.”

Interrompendo a conversa dos dois, adentram pelo apartamento Spencer e Sam, que olham para o estranho que acompanhava Carly.

“Quem é esse aí, maninha?”

Sam apenas o fitava com a boca aberta. Gostou do que via.

“Mano, por favor, tranca a porta com a chave.”

Spencer assim o faz, voltando-se para falar com os dois.

Carly coloca a mão sobre o braço de Freddie, falando para ele:

“Freddie, por favor, desative seu disfarce... eles sabem do meu segredo, de repente podem nos ajudar.”

“Os dois sabem?!? E eu, você não contou pra mim?”

“Ora, Spencer é o meu irmão e a Sam é minha melhor amiga, você queria o quê?”

“E o Freddie não é o seu melhor amigo?”

“Ah, é diferente! Para de ser implicante, aliás, a Carly do seu mundo sabe do seu segredo?”

“Hã... não... só minha mãe e a Sam sabem...”

“Tá vendo? Você só contou... peraí, como a Sam sabe e eu não sei?”

“Bom, ela é tipo... minha namorada.”

Carly aplica pressão sobre suas têmporas, impaciente.

“OK, depois falamos nisso. Agora, desative o disfarce, por favor...”

Os outros dois, que não haviam entendido nada da conversa, aguardam o desfecho; relutante, Freddie desativa a ilusão, revelando seu verdadeiro rosto.

“FREDDIE?!?” - os dois gritam em uníssono.

“Mas... por que ele está mais velho... e mais alto? E mais... mais... gostoso, digo, diferente?” - questiona Sam, que não consegue desviar o olhar dos braços torneados do Freddie da outra Terra.

“Calma, eu explico tudo...” - apazigua Carly, segurando o irmão e a amiga pelos braços. “É uma longa história...”

Todos se sentam no sofá, e Carly começa a explicar todo o ocorrido até então. Freddie se sente deslocado no tempo, havia muito que não se sentava com todos assim, em especial na sala da Carly. Estranhamente, Sam se senta ao lado dele, mas perto do que o normal. Ele se move alguns milímetros à esquerda, mas a garota o segue. Os dois se entreolham e Sam sorri para ele.

“Uau... isso é... inacreditável. Ei, Freddo, me diz aí, na sua Terra eu já virei um artista famoso? Tipo, do nível do Picasso, ou Da Vinci?”

“Spencer...” - Carly rebate o irmão, colocando a mão sobre seu rosto.

“Não... mas seu outro você está pra casar, cara.”

“Putz, mas não era isso o que eu queria... preferia ser rico e famoso...”

Enquanto isso, Sam apertava o braço de Freddie, que estava nitidamente incomodado com a garota.

“Nossa... isso é de verdade? Nem em sonhos o nerd tem os braços assim...”

“Olha, por favor... nós temos de nos focar no que podemos fazer para me tirar daqui. Eu nem sei se não estou abrindo um rombo nesse espaço-continuum ficando por nesta dimensão por muito tempo...”

Sam se encosta no sofá, cruzando os braços.

“Agora parece o panaca daqui, falando essas nerdices.”

“Ei, talvez o Nevel possa ajudar!” - Spencer afirma, enquanto vai à geladeira pegar um refrigerante.

“Nevel? Nevel Alexander Papperman?” - Freddie pergunta, intrigado.

“Nevel Papperman. O pai dele tem uma empresa cheia de traquitanas que varrem o espaço, talvez alguma delas tenha conseguido captar esse portal que trouxe esse Freddie bombado aqui.”

Nevel Papperman. Por que não me surpreendo em ter uma versão dele aqui?– Mantendo seus pensamentos para si, Freddie olha para a Carly daquela dimensão, alheio às conversas que os dois irmãos compartilhavam - Mas seria esse Nevel tão maligno quanto o que eu conheço?

“Ei, repetindo, o que você acha, Freddie, ou melhor, Kal-El?” Carly estala os dedos à frente dele. Só então percebe que Sam novamente está colada ao corpo dele.

“Eu prefiro ser chamado de Freddie. Bom, podemos tentar.”

“Ah, não... Freddie é nome de panaca...” - Sam interrompe, colocando sua mão sobre o braço do kryptoniano - “Vamos chamá-lo de Chris... muito mais charmoso. Vocês sabem... não podemos dar mole chamando o Super de Freddie na frente do nerd bobão desta Terra.”

Freddie tira o braço do alcance da adolescente loira.

“Que seja. Podemos ver esse Nevel?”

“Bom... infelizmente... ele está viajando. Deve voltar só em dois ou três dias.” - Carly afirma, com meio sorriso - “Você vai ter de ficar algum tempo por aqui...”

“Ele fica na minha casa!” - diz Sam, mal esperando que Carly terminasse.

“E o que a sua mãe ia achar disso, Sam?!? Para de dar em cima dele, Kal fica aqui, diremos que ele é um amigo do Spence que está visitando a cidade.”

De repente, todos se viram em direção à porta quando ouvem batidas.

“Ei, por que a porta está fechada? Me deixa entrar!”

“Por favor, Kal, ative de novo seu disfarce... esse é o nosso Freddie. Peraí, Freddie!”

O kryptoniano ativa seu disfarce facial, um pouco ansioso por encontrar o Freddie daquela dimensão. Apesar de sua genética na realidade ter mais a ver com a Carly, seria curioso ver-se em terceira pessoa.

A morena rapidamente vai até a porta e a abre, permitindo a entrada de um Freddie praticamente idêntico a ele quando tinha 16 anos, talvez um pouco mais baixo e de físico não tão imponente.

Por uns momentos, Kal-El observa aquele Freddie, maravilhado.

“Er... olá! Eu sou Freddie Benson, e você?”

“Ah... eu sou Fr..., digo, Christopher Welling, amigo da Faculdade de Direito do Spencer. Prazer, Freddie.”

Os dois rapazes se cumprimentam.

“Uau! Forte, você, hein, grande? Ei, essa camiseta não é do Spencer?”

“Não, não, é minha. Você sabe...” - Kal-El flexiona seus bíceps - “Adoro malhar.”

“Ei, quero ver se começo também! Você sabe, eu já tenho dois pesinhos lá em casa, meu braço já está maior... só falta pegar com mais afinco.”

“Claro, cara. Vai fundo.” - Kal-El lhe diz isso, colocando uma mão sobre o ombro dele.

Em alguns minutos, todos estão comendo pizza, encomendada por Spencer. O Freddie daquela dimensão conversava com Carly, claramente dando em cima dela. Por sua vez, Sam não saía de perto de Kal-El.

“Carls... acho que esse amigo do Spencer é gay. Você viu a secada que ele deu em mim? E, sei lá, essa camisetinha agarrada, esses músculos... acho que esse cara gosta de morder uma fronha.” - Freddie discretamente murmura para Carly.

“Freddie!”

Kal-El obviamente havia escutado isso, e não conseguia se furtar um sorriso.

“Ei, Chris, fala comigo!”

Um pensamento veio à cabeça do rapaz.

“É... Sam, me diga uma coisa, o pai do seu Freddie está vivo?”

Sam apoia seu queixo com as duas mãos, cujos cotovelos estão sobre o braço do sofá, obviamente tentando seduzir o kryptoniano.

“Sim, claro... por que o Seu Benson não estaria?”

“Você sabe onde ele mora?”

“Claro... mas só te mostro pessoalmente. Você vai ter de me levar até lá... voando.”

“OK, você venceu. Vamos até o terraço?”

Sam sorri e dá um pulinho, como uma garotinha animada.

“Gente, vou levar o Chris pra conhecer a cidade, OK?” - a garota fala alto para seus amigos, enquanto agarra o braço do herói.

Carly os fita com desconfiança, finge ir até a geladeira e sussurra, de maneira que nenhuma outra pessoa consiga ouvir.

“Toma vergonha na cara, Kal-El! Você é bem mais velho que a minha Sam! Eu sei que você pode me ouvir! Se você continuar com isso, vamos voltar a ter aquela conversa do Grand Canyon, sendo você mais forte ou não!”

Enquanto Sam o arrastava para o terraço, Freddie responde, murmurando de maneira que a loira não o entendesse.

“Calma, eu sou fiel à minha Sam. Eu só quero que esta me leve até o meu pai.”

“Como assim?”

“Eu não te contei. Na minha Terra, meu pai morreu quando eu era criança. Eu sinto muita falta dele.”

“Ah... OK, mas tenha juízo! A Sam está caidinha por você!”

“Não se preocupe. Isso não é algo que o Superman faria.”

Chegando ao terraço, Freddie varre a área com seus poderes como já estava acostumado e, ao constatar que ninguém reparava, toma Sam em seus braços (o que a faz suspirar) e decola.

“Certo, já estamos voando. Agora, onde fica a casa dele?”

“Em Vancouver.”

“OK.”

Freddie vai em direção à cidade canadense, carregando consigo uma garota deslumbrada com a visão aérea. Ele tinha de tomar cuidado e não viajar rápido demais, pois, caso contrário, poderia feri-la.

Mesmo assim, em poucos minutos eles chegam ao local.

A garota havia apontado para uma casa localizada em um bairro suburbano da cidade, com ruas calmas e bem conservadas. A casa onde seu pai morava era muito bonita, com um jardim bem cuidado na frente.

Freddie se aproxima cuidadosamente pelo lado da casa.

Com sua visão de raios-x, varre o interior da casa, encontrando o Sr. Benson espanando a poeira da estante localizada na sala. Ele era idêntico ao seu pai, Jonathan.

O homem tira a poeira de alguns porta-retratos. Quando para diante de um, onde está a foto do seu filho Freddie, retira o objeto da estante e carinhosamente passa o dedo por cima do rosto dele, sorrindo.

Neste momento, Freddie não consegue segurar uma lágrima.

“Papai...” - ele murmura emocionado.

O rapaz decide então tocar a campainha.

“Ei, espera aí, você não pode falar com ele!” - tenta interpelá-lo Sam, aproveitando para segurá-lo pela cintura.

“Eu preciso falar com o meu pai uma última vez... e relaxa, vou usar meu disfarce.”

Enquanto Sam se esconde de lado, Freddie fica à frente da porta.

Em poucos segundos, o homem, de aproximadamente 45 anos, cabelos razoavelmente curtos e loiros, com barba ligeiramente a fazer, atende à porta.

“Sim?”

Com os olhos brilhando, Freddie se contém para não abraçar o homem.

“Er... boa noite, senhor! Eu sou Fred, instrutor da academia de musculação ‘Krypton’, recém-aberta, e gostaria de convidá-lo para uma visita para conhecimento.”

O homem sorri.

“Se for, vou ficar forte como você?”

“Claro, senhor! Depende do seu esforço.”

“Ah, ah! OK, me passe o endereço, eu prometo dar uma passada lá...”

Freddie finge procurar em seus bolsos alguma coisa.

“Oh, céus... que cabeça a minha. Esqueci os folders lá... e... putz, esqueci também o endereço! Vamos fazer o seguinte, eu volto aqui com todas as informações!”

“Claro, jovem.”

Freddie aperta a mão do homem.

Acaba não resistindo e o abraça.

“Obrigado, senhor, obrigado...”

“Puxa, você é empolgado. Essa academia tem tudo para ir pra frente...”

Os dois se despedem, e Freddie volta ao encontro da Sam do outro universo.

“Obrigado, Deus, por ter tido a chance de falar com o Papai de novo... mesmo que seja o de outra dimensão.” - ele fala para si próprio, com lágrimas caindo em profusão. Ele precisa se recuperar e acaba por encostar em uma parede.

“Puxa, você gostava mesmo do seu pai...” - Sam se aproxima, colocando uma mão sobre o ombro dele.

“Tudo o que sou eu devo aos meus pais. Graças a Deus ainda tenho minha mãe por perto” - ele inspira - “Bom... Vamos voltar?”

A loira assente.

“Está frio.” - com um comando, o uniforme azul e vermelho toma o lugar da camiseta branca e calças jeans - “É melhor eu arrumar um jeito de te proteger durante o voo.” - ele afirma, desacoplando sua capa vermelha e enrolando a adolescente nela.

“Nossa, que quentinho!”

“E no calor ela refrescaria. É um tecido avançado, tecnologia do meu extinto planeta. A minha Sam falou a mesma coisa quando a enrolei na capa pela primeira vez. Vamos?”

A loira consente e ele a toma nos braços outra vez, perfazendo o caminho de volta ao lar.

Para sua surpresa, ele a deixa na frente de sua casa, em um bairro da periferia de Seattle.

“Como você sabe?”

Ele coloca a capa sobre os ombros.

“Ora, eu vinha muito aqui. Bem, não aqui... mas você entendeu” o herói aponta para uma árvore próxima à casa das Puckett, “Quando tínhamos de quinze pra dezesseis anos, ‘você’ e eu costumávamos tomar cerveja roubada da sua mãe logo ali, embaixo daquela árvore. Claro que a Sam sempre chumbava antes, eu sou imune a álcool...”

“Isso não parece muito uma coisa que o nerd e eu faríamos...”

“É um mundo diferente. Mas, quando tínhamos entre dez e quatorze anos, brigávamos como cão e gato. Sei lá... os opostos se atraem.”

Freddie fica em silêncio por um instante, pensativo.

“O que foi?”

“Sinto saudades dela. E medo de não vê-la novamente.”

Sam olha o rapaz à sua frente; indestrutível e ao mesmo tempo frágil, temendo perder alguém que realmente ama. Ela tinha armado essa situação tentando ao final beijá-lo, mas se detém. Por fim, abraça o herói.

“Você vai ver a sua Sam novamente. O Nevel vai conseguir achar outro portal...”

Freddie sorri para a garota loira.

“Obrigado por me levar ao pai do Freddie.”

“De nada. Você é da hora.”

Freddie beija a testa da loira e se despede dela, esperando que ela entrasse na residência. Antes de fechar a porta, ela acena para ele, despedindo-se.

Por alguns instantes, Freddie fica imóvel. Então, de repente:

“Quer carona pra casa, Bochechas?”

“Como você sabe...?” - Carly sai de trás de uma árvore, a vários metros de distância.

“Eu decorei seu ritmo cardíaco desde que pisei pela primeira vez nesta Terra. Sei que você nos acompanhou o tempo todo desde que cheguei no Canadá.”

“Queria que meus poderes fossem que nem os seus.” - a garota diz cabisbaixa, chutando uma pedra longe.

“Talvez sejam iguais, talvez sejam maiores... não dá pra saber, somos de dimensões diferentes.”

“Bom, está na hora de eu patrulhar a cidade, se você quiser se deitar no quarto de hóspedes...”

“Eu também não sinto sono. Aceita companhia durante a noite?”

“É claro!”

Os dois superseres se juntam, para partilharem uma experiência inédita para ambos: combater o mal com companhia. Ambos eram heróis solitários, e, ao menos por algumas noites, para terror de bandidos e afins, teriam a experiência de partilhar histórias e casos com alguém não só com superpoderes, mas de origem kryptoniana. Essas horas juntos significariam muito para ambos no futuro em termos de crescimento como pessoas.

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Após dois dias, finalmente Nevel retorna para Seattle. O Freddie ‘sem poderes’ havia entrado em contato com o garoto rico para que este desse acesso ao ‘amigo do Spencer’ marombado e viciado em astronomia aos computadores do complexo da enorme empresa dos Papperman para que obtivesse informações sobre o histórico de anomalias das últimas semanas.

Vão à empresa Kal-El, Carly, Spencer, Sam e Freddie, que são recepcionados por Nevel em pessoa. Ele era idêntico ao Nevel que o herói conhecia. Para este, é necessário um tremendo esforço para fingir ser simpático com o rapaz baixo e esnobe.

Kal-El vê que Freddie e Nevel se dão muito bem, tal qual ele e o outro Nevel quando mais jovens, o que lhe traz lembranças de um passado longínquo, quando Nevel nada mais era do que seu melhor amigo.

Ao passar por um corredor, seus olhos se arregalam. Exposta em uma vitrine, a única coisa que lhe dava pavor: a morte na cor verde, uma pedra de Kryptonita. Carly percebe a reação.

“Você... conhece essa pedra?”

“Infelizmente, sim, chamam-na de kryptonita. Você também já teve contato com ela?”

“Sim, ela quase me matou...”

“Quanto a mim, quase me mataram com ela...”

Felizmente para ambos, o contêiner da pedra aparentemente segurava a radiação, deixando-os a salvo. Tentando esquecer a presença daquele mineral, os jovens seguem pelos intrincados corredores da empresa, ruma a uma sala repleta de máquinas sofisticadas.

“Impressionante, essa anomalia descrita por você, Christopher. Não tinha percebido nada igual a isso.”

“Certo, Nevel. E o que você tem a dizer sobre ela?” - Carly pergunta.

“Bom, pelos registros do satélite, essa singularidade ocorreu há seis dias, às 12:37, na latitude 47°, longitude -160°; há três dias, no mesmo horário, mesma latitude, só que na longitude -120°...”

Kal-El arregala os olhos.

“Então, pode voltar a acontecer hoje, na Dakota do Norte! Que horas são?”

“12:30.”

“Oh, droga! Gente, preciso ir, lembrei de um compromisso urgente! Carly, se lembra? Temos de falar com um... cliente do Spencer que é meu amigo... e depois preciso voltar pra minha casa.”

“Claro, Chris.”

O viajante de outra dimensão rapidamente se despede de todos.

“Obrigado, Nevel. De coração.” - ele tenta ser amigável com o rapaz rico, mas o agradecimento acaba soando falso.

“Freddie, continue treinando. E comece a abrir os olhos, OK? E também visite mais o seu pai.” - o adolescente o cumprimenta sem entender direito o que o rapaz mais velho havia dito.

“Hã... OK, Chris...”

Sam dá uma cotovelada no amigo, que diz ‘Ai’, abraça Kal e lhe dá um beijo na bochecha.

“Ei, Chris... eu prometo que levo o nerd pra visitar o pai dele mais vezes. Promessa da Mamãe é cumprida.”

“Valeu, Sammy.”

Kal abraça Spencer.

“Valeu, cara. Tenho certeza que um dia suas obras estarão expostas no Louvre.”

“Obrigado, Fr... Chris... até, irmão.”

Apressadamente Kal e Carly deixam a sala. Os outros quatro que ficaram se entreolham, e em especial dois deles nem fazem ideia do porquê da saída tão repentina.

Freddie coça a cabeça, intrigado.

“Er... por que ele levou a Carly e não o Spencer pra visitar esse cliente?”

“Fredo, convenhamos... você preferiria comprar alguma coisa de mim ou da minha irmã?”

“É, faz sentido. Mas ainda acho que esse Chris é meio boiola...”

“Ah, cala a boca, nerd... vocês têm muito em comum...”

Para variar, Sam dá um soco no braço do amigo.

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Sem que os outros percebessem, em vez de irem ao térreo os dois jovens vão até uma saída de emergência, onde Freddie volta a usar o uniforme de Superman.

“Você consegue voltar da Dakota do Norte até aqui, né? Queria que você me acompanhasse.”

“Claro, vamos, faltam só alguns minutos pro vórtice se abrir novamente.”

Freddie apanha Carly no colo e decola no sentido leste, em direção à Dakota do Norte.

Em poucos segundos estão abaixo do local exato onde em teoria ocorrerá o aparecimento do portal.

Freddie olha para Carly. Seus olhos são castanhos como os seus próprios.

Será que eu devo alertá-la sobre o Nevel? Melhor não... há muitas coisas diferentes nesta realidade, talvez o Nevel desta Terra seja bom, como eu imaginava que o meu ex-amigo era.

“Carls... só... tome cuidado com pessoas próximas. Às vezes, pessoas que pensamos serem nossos amigos acabam se voltando contra nós, OK?”

“Tá bom, Freddie.”

Um brilho ocorre, quilômetros acima de onde eles estão. Freddie sorri abertamente.

“Irmãzinha de Krypton, obrigado pela ajuda” os dois se abraçam “Eu tenho certeza de que você será a maior heroína deste planeta em pouco tempo, se já não é...”

“Tchau, Freddie... obrigada pelas dicas... vou sentir sua falta, mesmo que tenhamos nos conhecido por tão pouco tempo.”

Freddie beija o rosto da morena.

“De novo, obrigado. Agora... para o alto e avante!”

O rapaz decola em alta velocidade e em segundos um forte brilho toma conta dos céus daquela região, forte o suficiente para ofuscar Carly.

E então, o céu volta ao normal.

Em meio a um grande campo verde, sem ninguém por perto, Carly Ann Shay sorri, na esperança de que aquele outro Freddie de Krypton tenha voltado para seu lar.

Esse inusitado encontro a fez abrir um leque de novas percepções sobre essa vida de heroína.

Freddie havia lhe dito que optara por não usar uma máscara para não atrair desconfiança do público, bem como para que ninguém achasse que tinha uma identidade secreta, protegendo assim quem fosse próximo dele.

O disfarce facial utilizado pelo herói era muito útil, mas, infelizmente, Carly não tinha acesso àquele tipo de tecnologia. Porém, isso não era uma limitação.

Talvez, disfarçar sua identidade civil fosse uma opção. Poderia começar a usar óculos, mudar o penteado, a postura. Outra opção era adotar uma peruca de outra cor enquanto agisse como Supergirl... mil ideias pipocam na mente aguçada da última filha de Krypton, dentre elas, a adoção de um uniforme oficial, em vez da velha jaqueta vermelha surrada.

Ela olha para o céu, o sol está a pino. Os raios solares, como sempre, lhe traziam um prazer difícil de ser descrito para outras pessoas.

Sente-se feliz.

Era bom saber que havia pessoas como ela, ainda que habitassem outras dimensões.

Dava-lhe um alento em continuar a duríssima vida de heroína, em um mundo cada vez mais dominado por pessoas perversas.

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Protegendo seus olhos, Freddie se vê flutuando no mesmo local onde havia entrado em contato com o vórtice. Olha para baixo e não vê Carly, sinal que estava em outra dimensão. Mas seria a correta?

“Freddie, pelo amor de Deus, responda...” - seu comunicador ganha vida, e um grande suspiro de alívio é dado pelo herói.

“Oh, meu Deus, eu voltei! Sam, eu voltei!”

“Graças a Deus, você sumiu por três dias!”

“Onde você está?”

“Em casa...”

Freddie laça os punhos à frente e sai em alta velocidade, pouco se importando em ultrapassar a barreira da velocidade do som em algumas vezes. Em poucos segundos está na casa da namorada, abraçando-a pela cintura e levantando-a.

“Oh, meu Deus! Que saudades! Pensei que fosse ficar preso naquele lugar e nunca mais te ver!”

Ele beija Sam desesperadamente, mal dando tempo à garota para respirar.

“Ei, calma, grandão! Tem Mamãe suficiente pra você! Eu só queria que você explicasse o que aconteceu! Estávamos todos preocupados com você...”

Freddie desativa o uniforme, convida a namorada a sentar no sofá, sentando-se ele próprio logo a seguir.

“Prepare-se... é uma longa e maluca história... só pra ter um resumo, trata-se de uma história com uma Sam, uma Carly e um Freddie que não nós três...”

E, pela hora seguinte, o herói conta a aventura tida nos últimos dias, e uma entretida loira o escuta atentamente, mal acreditando nas palavras que saíam da boca do amado, aliviado por estar de volta ao seu lar.

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Epílogo

Apokolips

“Diga-me que desta vez o Tubo de Explosão revelou algum local onde haja mulheres humanoides poderosas, Akryn... se demorar muito, Darkseid irá nos reduzir a pó.”

Um homem de aparência estranha mexe em aparelhos de tecnologia muito mais avançada do que a terráquea. Ao seu lado, um homem com franjas estranhas na testa, com ar frágil. Parecia extremamente agitado.

“Não, Desaad. Conseguimos apenas localizar um planeta repleto de seres fracos, conforme informações vindas do espião infiltrado lá. E tivemos azar. Houve um defeito na máquina geradora, ocasionando três aparições do Tubo de Explosão aleatórias e para locais desconhecidos. Mas felizmente já consertei essa anomalia.”

“Que o espião continue enviando informações. Sabe-se lá o que aquela terra pode conter. Para nossa sorte, Lorde Darkseid está entretido com a dominação de um mundo místico chamado Asgard. Essa operação parece estar demandando mais esforço do que previamente calculado. Então, continue com o trabalho, envie outros espiões para outros planetas.”

“Será assim, Desaad.”

Desaad caminha pelos escuros corredores do palácio de Darkseid. Precisava localizar logo um local com belas mulheres poderosas e de preferência guerreiras para o deleite do seu mestre.

Ou sua vida correria risco...