Assim que amanheceu eu pulei da cama, não havia conseguido pregar os olhos à noite inteira, e além disso tinha tido uma ideia para tentar pedir desculpas para Giane e eu realmente esperava que desse certo, eu ia pisar no meu orgulho, mas não iria insistir se fosse o caso.

Eu estava decidido a seguir apenas o plano, não podia deixar qualquer sentimento interromper o motivo principal do namoro falso.

Tomei um banho rápido, vestindo minhas roupas em velocidade recorde e sai de casa quase correndo. Por sorte não vi ninguém, era cedo ainda, deviam estar dormindo.

Fui direto ao banco, onde eu transferi a quantia que julguei ser suficiente para pagar o tratamento de seu Silvério para a conta de Giane. Eu sabia que era caríssimo, e acreditem não foi pouca coisa que eu transferi. Logo após isso, fui até a casa verde, precisava resolver a segunda parte da história e, talvez, a principal.

— Fabinho… você por aqui logo cedo? – Questionou Salma que regava algumas flores em frente à sua casa.

— Pois é, preciso falar com a Giane. – Falei impaciente.

— Ih, ela e o Silvério não dormiram em casa, parece que ele passou mal lá no velório do pai do Caio. – Disse ela, logo mudando sua expressão para preocupada. – Silvério recém saiu do hospital, nem devia ter ido lá. – Finalizou.

— Hm… Será que ele tá bem? – Questionei.

— Não sei. – Respondeu e pareceu pensar. – Mas a Giane ligou pro Bento ontem à noite.. ela disse à ele em que hospital eles estão. – Disse e pensou novamente. – Se não me engano é o mesmo que ele ficou internado.

— Ah, valeu. – Tá vendo seu Silvério, foi puxar o saco do almofadinha e passou mal.

— O que você tá fazendo aqui? – Ouvi uma voz assim que subi na minha moto, olhei para trás e vi Giane ali parada.

— Vim atrás com você. – Ela me olhou com raiva. – E o seu pai? – Perguntei, eu estava realmente preocupado.

— Ele tá melhor, o Bento tá vindo com ele, eu vim antes porque preciso ir na Crash mídia. – Respondeu a contra gosto.

— Será que a gente pode conversar agora?

— Não, não pode. – Bufou. – Depois do vexame de ontem nem vem, Fabinho. – Abanou o ar indignada. – Eu acabei de chegar do hospital, tô exausta e ainda tenho um ensaio pra fazer, se você for me estressar eu soco sua cara. – resmungou.

— Eu vim te pedir desculpas. – Falei e ela me olhou incrédula.

— Como é que é ? – Quase Riu e eu continuei sério.

— É isso que você ouviu, agora se não quiser aceitar beleza, não vou implorar. – Falei já vestindo o capacete.

— Não, espera… – Segurou meu braço. – Ta desculpado, satisfeito?

— Eu não quero que você me desculpe como se isso fosse sua obrigação, quero que seja sincera. – Falei e ela me olhava como se eu fosse um alienígena ali.

— O que tá acontecendo com você? – Ela perguntou finalmente.

— Tá acontecendo que eu tô pedindo desculpas para você e não estou sendo levado a sério, qual o problema em me levar a sério? – Perguntei dando de ombros sem entender sua atitude. – não era você que vivia me dando sermão pra aprender a pedir desculpas? Então? O que tá faltando?

— Nada, esquece. – Disse e respirou fundo. – Eu preciso ir, meu pai tá cansado, preciso dar os remédios dele e fazer algo para ele comer assim que chegar.

— Espera, a gente tá numa boa?

— Tanto faz. – abanou o ar mais uma vez.

— Eu te levo para comprar o café da manhã, vem! – Falei sorrindo e entregando o outro capacete pra ela.

— Tá bom, fraldinha… – revirou os olhos, mas eu soube que estava tudo bem agora. Respirei fundo, mais aliviado por ela ter me desculpado.

. . .

— Ei, me leva lá na agência? To atrasada, o Érico vai me matar. – Dizia afobada.

— Levo, inclusive eu tenho que ir trabalhar também, se é que ele já não me demitiu. – Ri sem graça.

— Relaxa, eu assumo a culpa pelo atraso. – Piscou. – Pai, eu vou indo lá na agência, mas se você precisar de algo, me liga ok? – Ela dizia super preocupada com o pai.

— Pode deixar, filha. – Sorriu para a mais nova. – Eu já estou melhor.

— E não se preocupe Giane, eu liguei pra minha mãe e ela tá vindo ficar com seu pai! – Falei e ela sorriu aliviada.

— Valeu, fraldinha… até que você serve pra alguma coisa as vezes. – Disse e riu da minha cara de indignação.

— Tchau sogrão! – Dei um aperto de mão nele e saímos de lá. Fomos caminhando a pé, por ser perto, mesmo assim segurei a mão daquela maloqueira, até chegarmos ao nosso destino.

— Bom dia! – Giane disse enquanto entrávamos.

— E aí gente?! – Eu cumprimentei.

— Olha só quem apareceu… os atrasadinhos. – Disse Érico sarcástico. – A pontualidade de vocês é admirável. – Debochou.

— Foi mau Érico, eu atrasei o Fabinho! – Respondeu e ele continuava a olhando esperando ela explicar. – É que meu pai passou mal aí eu fiquei com ele no hospital à noite inteira e de manhã eu pedi pro Fabinho comprar o café da manhã pra gente…

— Tá, tá.. tudo bem, dessa vez passa. – Ele abanou o ar. – Agora vamos ao trabalho!

— Giane, minha flor, vamos para o estúdio agora mesmo! – Silvia disse e pegou a mão da maloqueira, eu segurei a outra e a trouxe perto de mim.

— Não vai nem se despedir? – Perguntei sorrindo de lado, ela revirou os olhos e me deu um selinho, mas eu me aproveitei e aprofundei o beijo.

— Eu te mato! – Ela sussurrou no meu ouvido e eu apenas ri.

— Eu sei que cê gosta! – Concluiu e finalmente me afastei dela. Bora ao trabalho, não é?

. . .

Passei o dia inteiro enfurnado dentro daquela agência, tinha umas três campanhas com urgência e como eu, modéstia à parte, sou o melhor criativo da empresa, fiquei encarregado de criar as melhores campanhas.

Ao final do dia recebi uma ligação de Giane, ela não havia voltado na agência, pois as fotos demoraram mais que o esperado e como ela estava preocupada com o pai, nem pensou duas vezes antes de ir pra casa. Ela pediu para que eu a encontrasse na praça, e assim eu fiz.

— Até que enfim. – Disse impaciente quando me viu.

— O dia foi corrido, não foi minha intenção atrasar. – Expliquei.

— Ok, mas o que eu quero saber é: que droga é aquele dinheirão que você depositou na minha conta? – Questionou.

— Para pagar o tratamento do seu pai. – Dei de ombros.

— O tratamento do meu pai é caro sim, mas não aquele dinheiro todo. – Resmungou, ela estava brava por algo que fazia parte do nosso trato, vai entender…

— O que sobrar você guarda, investe, sei lá… – Falei simplesmente.

— Você acha que pode me comprar? – Ela disse enfurecida.

— Não, mas era nosso trato, lembra? – Indaguei e ela continuava impassível. – Então eu vou refrescar sua memória, eu pagava o tratamento do seu pai e você fingia ser minha namorada, lembrou agora pivete?

— Quem diria… a maloqueira da casa verde se vendendo pro filho da Irene e do Plínio… depois você diz que a vadia sou eu. – Amora apareceu não sei de onde, debochando de nós dois. – E você Fabinho, enganando o papaizinho e a mamãezinha? – Riu. – O que será que ele irão achar disso se eu contar à eles?

— Você não vai fazer isso! – Falei autoritário, porém ela apenas ria.

— Eu te quebro em duas se você abrir essa boca suja. – Giane disse ameaçando.

— Bom, não ligo muito, a sujeira é de vocês mesmo e estará espalhada, não terá volta. – Riu sarcástica. – Vocês podem me matar, mas a verdade…. ah, ela vai estar bem clara.

— Qual o seu problema hein, Amora? – Perguntei com raiva.

— Com vocês? – Riu novamente. – Nenhum. Aliás, gostei de ver você caidinho pela Giane. – Falava enquanto ria descontroladamente. – Ou vai dizer que você não percebeu? – Questionou Giane.

— Chega, cala boca, Amora. – Disse tentando tirá-la dali.

— Eu vou, mas eu volto… vou assistir de camarote o tombo de vocês! – Disse enquanto mostrava a gravação do celular, onde havia minha conversa com Giane gravada. Merda. Antes mesmo que eu tivesse tempo de pegar o celular daquela lacraia ela já havia saído dali em seu carro.

— E agora, Fabinho? – Giane perguntou preocupada.

— Pelo menos o seu tá garantido. – Dei de ombros saindo dali.

— Como assim? – Ela gritou.

— Sem dúvidas eu serei deserdado. – Falei enquanto continuava caminhando até a moto, Giane estava logo atrás.

— Mas porque?

— Não tá óbvio? Eu te chantageei, te comprei para fingir um namoro pra causar boa impressão nos meus pais milionários. Fiz sua cabeça pra entrar nessa comigo, você aceitou por não ter outra opção, mas quando eles souberem… já era. – Respirei fundo. – Já era Fabio Campana.

— E se eu negar tudo? Eu invento uma desculpa, sei lá, faço qualquer coisa. – Dizia desesperada.

— Não, você já fez demais entrando nessa comigo. Você tem pavor de mim, e pelo seu pai você feriu seus princípios, pivete. Já deu, chegou a hora da verdade, você tá livre. – Sorri confiante.

— Você tá mudando, Fabinho! – Ela sussurrou mas eu pude ouvir. Eu ri, de verdade, eu mudando? Eu devia era tá pregando uma peça até em mim mesmo.

E mais uma vez a Amora conseguiu o que ela queria. Talvez me ver no chão seja seu hobby favorito, não é possível. Acelerei minha moto e sai da casa verde praticamente voando. A velocidade me acalmava, e eu precisava de calma principalmente agora, que eu nem sabia se tinha mais uma casa para morar.

Agora eu acredito em lei do retorno.