Havia acabado de tomar um banho, estava vestindo uma calça jeans escura, quando peguei a camisa branca para vestir ouvi duas batidas na porta do quarto, fui até ela, destranquei e a abri, vendo minha mãe ali, com um sorriso no rosto.

— Meu filho, desculpa te atrapalhar, mas é que a Margot e seu Silvério já chegaram! – Ela comentou.

— Que horas são? – Acho que havia demorado um pouco demais no banho.

— São oito e cinquenta e sete. – Ela checou no seu relógio de pulso, discreto.

— Nossa, me atrasei. – Falei e terminei de me vestir rapidamente, saindo de casa tão apressado que nem deu tempo de cumprimentar ninguém. Mas tudo bem, depois eu faria isso.

Andei rapidamente até o estacionamento, subi na moto a ligando e saindo rumo a casa daquela maloqueira.

Cheguei à casa dela em pouco tempo, estacionei a moto e fui até a porta, nem bati, apenas abri. E vi ela andando de um lado para o outro sem parar. Ela estava linda.

— Uow! – Deixei meu espanto se expressar em voz alta. Ela olhou rapidamente para trás.

— Pô, fraldinha, quer me matar de susto? – Falou brava, colocando a mão no peito devido ao susto.

— E você tá querendo matar quem, assim tão linda? – Comentei e ela corou.

— Vai zoar as suas peguetes! – Me xingou enquanto arrumava seu cabelo.

— Mas eu não to te zoando. – Dei de ombro e me aproximei.

— Voce é um cretino. – Riu descrente. – Achei que ia me fazer de boba e não fosse vir me buscar. – Ela me deu um tapa, mas diferente das outras vezes, essa vez foi de brincadeira.

— Foi mal, eu me atrasei, mas você podia ter ido com seu pai e a minha mãe. – Comentei.

— Eu até ia, mas não tinha terminado de me arrumar. – Deu de ombros, sorrindo fraco.

— Ah é? E você tava se arrumando tanto porquê? – Provoquei-a.

— Por que preciso causar uma boa impressão pro seus pais. – Disse enquanto me encarava com um meio sorriso brincando nos lábios.

— Ah é? – Desviava os olhos de seus olhos para sua boca, intercalando.

— É! – Concordou repetindo meus gestos.

— Mas eles gostam de você, mesmo quando você ainda era um pivete maloqueiro. – Disse chegando ainda mais perto dela e segurando sua cintura.

— Como é que é? – Especulou enquanto ainda intercalava os seus olhos entre meus olhos e minha boca.

— Fica entre nós, mas... eu também! – Disse e colei nossos lábios num beijo calmo, que foi correspondido de imediato e foi se intensificando aos poucos. Ela segurava meus ombros com as duas mãos, enquanto uma das minhas estava na sua nuca e a outra na cintura, fazendo nossos corpos se colarem ainda mais, se isso fosse possível. O ar começou a ficar escasso então nos separamos aos poucos, dando vários selinhos, e no último aproveitei para morder seu lábio inferior, ela soltou um grunhido em protesto.

— Fabinho, cê tem que parar de me beijar assim, esse namoro é só na frente dos outros, a gente não precisa fingir aqui… – Ela desatou a falar assim que recuperou o fôlego.

E quem disse que eu to fingindo?— Ela me olhou assustada. – E não adianta negar, por que eu sei você gosta de ficar comigo também. – Disse e ela negou.

— Cala boca, palhaço. – Me xingou. – Vamos logo pra esse jantar, que hoje eu tô sem paciência.

— Só hoje? – debochei.

— Se você continuar de gracinha eu quebro a sua cara. – Ameaçou.

— Você fica ainda mais bonitinha assim bravinha. – Provoquei lhe roubando outro selinho.

— Você fica ainda mais insuportável quando quer. Argh! – Bufou e eu ri.

— Faço o que posso! – Falei apenas para deixá-la ainda mais irritada.

— Vai te catar, fraldinha. – Falou e saiu andando, fui atrás dela. – Anda logo! – Reclamou abrindo a porta.

Sai e fui até a moto, colocando o capacete e subindo na mesma, esperei ela fechar a porta e vir até mim, ela colocou o capacete e também subiu na moto segurando minha cintura.

Sem dizer mais nenhuma palavra liguei a moto e fomos rumo à minha casa. Pouco mais de vinte minutos depois já estávamos no estacionamento do apartamento dos meus pais, fomos até o elevador e eu apertei o botão do vigésimo andar, quando o painel apontou que estávamos quase chegando, eu segurei a mão da maloqueira inquieta ao meu lado. Ela estava nervosa, mas assim que entrelacei nossos dedos ela parou de fazer o barulho constante de bater o salto no chão. A olhei sorrindo e ela retribuiu, a porta do elevador abriu e eu pensei que ela desistiria de tudo ali, tanto era sua expressão de medo.

— Ei, você tá bem? – Perguntei quando saímos do elevador.

— Eu não sei, eu to suando frio e to com enjôo… – Reclamou enquanto me olhava num pedido mudo para sair dali.

— É tão ruim assim a minha companhia? – Tentei descontrair, mas não surtiu efeito algum. – Qual é Giane? Vai amarelar agora? – Falei apenas para fazê-la ter alguma reação.

— Fabinho, vai ver se eu to na esquina. – Reclamou e saiu andando direito a porta e tocando a campainha, sorri torto, havia conseguido arrancar a reação que esperava dela. Andei até ela e segurei sua cintura esperando a porta ser aberta.

Minha mãe abriu a porta com um sorriso gigante no rosto, ela me olhou e em seguida para Giane, sua reação foi impagável, juntando a de Plínio que estava logo atrás então… estavam praticamente interpretando a obra “o grito”.

— Que falta de educação, nem convidaram minha namorada pra entrar. – Reclamei guiando Giane para dentro do apartamento, fechando a porta logo em seguida.

— Fabinho! – Giane me deu uma cotovelada, envergonhada pela situação.

— Qual é? Perderam a língua? – Eu falei e recebi outra cotovelada. – Aí, Giane, isso dói. – Reclamei.

— Giane! Quem diria que você seria minha cunhada! – Malu veio até nós, abraçando Giane que correspondeu brevemente.

— Pois é, menina! – Giane concordou.

— Giane, querida, me desculpe a falta de palavras, mas eu estou realmente surpresa! – Irene disse e abraçou a maloqueira.

— Olha, Fábio, devo confessar que também me surpreendi! – Plínio foi quem disse dessa vez.

— Cuida bem dessa menina! – Minha mãe disse e eu sorri envergonhado, pô todo mundo resolveu babar ovo pra Giane agora?

— É isso aí, Fabinho! A Giane já é minha cunhadinha preferida, então nem ouse magoar ela.

— Falando desse jeito parece que eu sou um monstro. – Reclamei. – Fala aí sogrão! – Fui até onde seu Silvério estava o cumprimentando. – Ei mãe! – Dei um beijo em Margot. – Como o senhor está? – Perguntei ao pai de Giane enquanto a deixava com meus pais e irmã.

Depois de muita conversa sobre assuntos aleatórios, o jantar foi servido, Giane já estava se sentindo em casa e nem parecia o mesmo moleque nervoso de minutos atrás, sorri comigo mesmo pensando no quanto aquele pivete era exagerado.

— Quem diria que por traz daquela implicância toda, existia um sentimento maior… – Comentou Malu olhando de mim para Giane. Já estávamos à mesa, Giane sentada ao meu lado direito, Malu do lado esquerdo, em nossa frente estavam Irene, Margot e Silvério, já na cabeceira da mesa estava Plínio.

— Quem disse que a implicância acabou? – Retruquei. – Se bobear até piorou. – Ri.

— Se liga em fraldinha, seja educado e para de responder de boca cheia. – Ela reclamou.

— Falou a educação em pessoa né? – revirei os olhos, mostrando tédio.

— Ah, vai te catar… – Ela iria continuar seus xingamentos se o seu celular não tivesse começado a tocar. – Gente, licença eu vou ali atender o celular. – Disse e seguiu até o escritório do Plínio.

Bufei enquanto via ela tagarelar no celular, era aquele almofadinha, pois eu havia visto o nome de relance. Será que esse cara não se manca?

— Fabinho que mau humor repentino é esse? – Malu quis saber, enquanto os mais velhos estavam entretidos em uma conversa.

— Não é nada maninha. – Falei sem paciência pra questionamentos.

— Vou fingir que acredito, mas eu sei que no fundo tem uma pitada de ciúmes. – Sorriu torto.

— Eu com ciúmes? Tá maluca?! – Falei saindo da mesa e indo atrás de Giane que já estava voltando.

— Fabinho, é o seguinte eu vou ter que ir embora. – Disse quando eu a fiz parar na metade do caminho. Ela seguiu até à mesa e eu fui junto. – Gente o pai do Caio morreu e eu vou ter que ir lá da uma força pra ele. – Giane disse e eu a olhei indignado.

— Como é que é? Você mal terminou de jantar. – Eu argumentei.

— Desculpa gente, mas a relação do Caio com o pai não era boa e ele não tá bem. – Ela explicava. – Eu preciso ir lá. – Me olhou por fim.

— Cara, esse Caio é um otário. – Falei baixo.

— Fabinho, o Caio é meu amigo. – Ela dizia tentando se controlar.

— Amigo, amigo é o escambau. – Eu estava com muita raiva. – Cê pensa que eu não sei que ele gosta de você ainda?

— Eu vou lá prestar solidariedade, mas você não sabe o que é isso né, porque você nunca se apaixonou por ninguém, nunca gostou de ninguém. – Ela explodiu a falar.

— Solidariedade agora é se entregar de bandeja pra dormir na casa do cara, pô legal hein Giane. – Só nesse instante lembrei que tínhamos plateia. Olhei ao redor e pude ver todos ainda na mesa, mas com os olhos voltados para nós.

— Quer saber? Não sei nem o que ainda to fazendo aqui. – Disse enquanto ia até a sala pegar sua bolsa. – Pai você vem comigo?

— Claro, o Caio é um bom rapaz! – Até o senhor, francamente. Meus pais os acompanharam até a porta, se despedindo.

Dei um murro na parede e senti meu dedos arderem, sai pisando firme em direção ao quarto e fechei a porta atrás de mim, sentei na cama e olhei pro teto. O jantar havia sido um desastre. Também, aquela maloqueira me tira do sério.

— Fabinho? Posso entrar? – Malu perguntou atrás da porta.

— Me deixa sozinho, por favor! – Pedi, mas ela insistiu dizendo que pegaria a chave reserva caso eu não abrisse.

— Você é chata sabia? – Falei pra ela assim que abri a porta.

— Você também. – Deu de ombros. – Vim saber como você tá? – Disse e eu a olhei.

— Sei lá, ainda to com raiva. – Resmunguei.

— Teve uma hora que a Giane falou sobre você nunca ter gostado de ninguém e nem se apaixonado… – Gelei, evitei a olhar e ela continuou. – Porquê ela disse isso?

— Sei lá, ela é maluca. – Dei de ombros.

— Só pode ser maluca mesmo pra não perceber que você é louco por ela. – Sorriu e eu apenas tentei não mostrar meu espanto com aquela afirmação. Eu não era louco por aquele moleque de rua. Não mesmo. Era só teatro.— Ah, Margot irá dormir aqui essa noite, tudo bem? – Perguntou e eu ainda estava desnorteado com o que ela tinha dito anteriormente.

— Uhum. – Resmunguei, apenas para que ela saísse do meu quarto logo.

Que droga estava acontecendo comigo? Eu não parava de pensar no que aquele almofadinha poderia estar fazendo com a minha maloqueira, apenas com a desculpa de estar carente.

Minha maloqueira?

— Francamente, Fabinho. – Neguei com a cabeça. – O badboy número um do país não tá apaixonado pelo pivete maloqueiro da casa verde. Não mesmo. – Isso não pode acontecer… – Me joguei na cama tentando espantar qualquer pensamento que envolvesse ela, o que foi em vão. – Eu vou ficar maluco por sua causa, Giane. – Reclamei sem conseguir dormir. Aquela noite seria longa.