— Mãe, hoje vou trazer uma pessoa aqui em casa pra vocês conhecerem. – Comentei com minha mãe que estava sentada no sofá da sala, lendo um livro que não fiz questão de saber qual era.

— Quem seria essa pessoa? – Questionou ela.

— Ah mãe, vocês vão saber! – Queria surpreendê-los.

— Tudo bem, vou adorar conhecer essa pessoa! – Sorriu e me abraçou com carinho, retribui seu abraço. Era bom receber um pouco de carinho às vezes.

— Será que o Plínio não se importa? – Perguntei me afastando do abraço.

— Não me importo com o quê? – Plínio chegou perguntando.

— É que o Fabinho quer trazer uma pessoa aqui hoje à noite… – Irene começou.

— E quem seria? – Ele quis saber, com a feição fechada.

— É… minha.. n-namorada. – Disse um pouco sem jeito, era estranho chamar a Giane assim. Perto dela era fácil, porque eu gostava de irritá-la, mas ali a situação era diferente. Dessa vez era importante pra mim e envolver a Giane, que é querida por todos eles nessa história, seria no mínimo arriscado.

— Oh, eu não sabia… mas espero que não seja nenhuma patricinha mimada. – Plínio disse.

— Não é, pode ter certeza. – Soltei um riso descontraído. Se tinha uma coisa que essa garota não é, é uma patricinha. – Tá mais pra uma maloqueira. – Pensei alto.

— Meu filho, não diga isso! – Repreendeu minha mãe.

— Desculpa, mas é inevitável. – Sorri sozinho lembrando que Giane iria ficar p da vida se soubesse que estou a chamando de maloqueira na frente dos meus pais. – Será que a Malu vai estar em casa? Eu não vi ela hoje, então não consegui avisar...

— Eu vou avisar ela! – Plínio se prontificou, já ligando para ela.

— Fabinho, se eu te pedir uma coisa, você promete não ficar chateado? – Minha mãe começou, sentando e me puxando pela mão para fazer o mesmo, então o fiz.

— O que seria? – Fiquei curioso.

— Convide a Margot para jantar conosco, querendo ou não, ela cuidou de você muito bem. – Ela iniciou seu discurso.

— Eu sei.. – Só esqueceu de citar que meu pai adotivo colocou todo dinheiro que tinha no lixo, quando resolveu bancar a vida de jogos e bebida. Babaca. E nos deixou na miséria quando morreu. – É que ela tinha um compromisso, mas… eu vou dar um jeito nisso. – Sorri meio sem jeito. – É difícil pra mim aceitar, mas ela também é minha mãe. – Dei um meio sorriso.

— Bom, vou pedir pra Celinha preparar um jantar especial! – Comentou animada.

— Tudo bem! – Concordei com ela.

— Fábio, falei com a Malu, ela disse que pode contar com a presença dela. – Deu um tapinha nas minhas costas. – E ela disse que está muito feliz por você. – Sorri escondendo o deboche. Ah maninha, se você soubesse a verdade.

— Valeu! Agora eu vou visitar a dona Margot! – Comentei e sai. Chegando ao estacionamento no prédio, peguei minha moto, teria rumo certo, a casa verde.

Enquanto andava pelas ruas movimentadas, eu pensava em toda minha vida, em como cheguei onde estou agora.

Assim que nasci, minha mãe biológica me entregou para adoção. Fiquei no lar do tio Gilson por um bom tempo, lá também viviam outras crianças, entre elas: Bento e Amora. Amora foi adotada por Bárbara e Plínio, que na época eram casados. Eu fui adotado logo depois, mas diferente dela, não me dei tão bem quanto imaginava. Meu pai adotivo morreu e com ele foi todo o pouco dinheiro que tinha, consequentemente tive que começar a trabalhar para não morrer de fome.

Mas minha sorte mudou enquanto via uma revista, onde tinha a foto de um casal, a mulher estava desaparecida há anos e observando melhor, vi que em sua mão ela usava um anel idêntico ao que minha mãe deixou comigo quando me entregou à adoção, já o homem, era Plínio Campana, agora, ex marido de Bárbara, que procurava por Irene, a quem ele dizia ser a mulher da vida dele.

Aos poucos os pontos foram se ligando.

Decidi ir atrás deles e finalmente ter a vida que sempre sonhei. Margot, minha mãe adotiva, vendeu a casa onde morávamos e voltamos pra São Paulo. Infelizmente, ela teve de comprar uma casa no bairro onde eu havia crescido, eu odiava aquele lugar. Me lembrava pobreza.

Passei a rever as mesmas pessoas que eu conhecia antes de ser adotado, era tudo igual, sempre.

Bento, que nunca fora adotado, tinha uma cooperativa de flores e como sócia, tinha a garota que brincava com a gente na rua, Giane. Ela sempre pareceu mais um moleque de rua, jogava futebol muito melhor que qualquer um na casa verde, mas nunca diria isso para aquele pivete. Ela sempre foi apaixonada por Bento, mas ele nunca enxergou, só tinha olhos para aquelas flores. Impressionante.

Pouco mais de um mês depois de estar na casa verde, encontrei meu verdadeiro pai. De início ele não acreditou em mim, mas aos poucos ele passou a ter tolerância à minha existência. Pediu minha ajuda para encontrarmos Irene, vulgo minha mãe. Eu não poupei esforços, se isso custava minha herança, iria encontrá-la o mais rápido possível.

Eu consegui seu contato com Odila, a mulher que minha mãe havia me entregue assim que nasci. Descobri que ela trabalhava, humildemente, com peças teatrais infantis, além de fazer leituras para as crianças de lares adotivos. Como ela podia fazer isso com outras crianças, e ter me abandonado?

Não foi fácil convencê-la a voltar a encarar seu passado, apesar de muito carinhosa comigo, ela tinha medo de reencontrar Plínio. Segundo ela, ele a havia traído. E esse era o motivo de ela ter me deixado no lar. De uma forma isso me fez odiar ele um pouco mais.

Ela teve depressão e com medo de seus atos ela resolveu fazer o que achava melhor para me proteger. Até conseguia entendê-la, mas ainda tinha ressentimento pelo abandono.

Quando meus pais finalmente se encontraram, eu tive de esperar mais algumas semanas até procurá-los novamente. E quando o fiz, fui surpreendido por Plínio, agora ele é minha mãe estavam juntos novamente, e com poucas palavras, ele nos levou direto à clínica onde faríamos o teste de DNA.

Foram duas semanas de extrema angústia e espera. Mas o resultado foi o melhor possível. Eu era um Campana, era oficial. Estava rico, finalmente.

Eu achei que seria mais fácil arrancar a grana daquele babaca depois que o exame o apontou como meu pai, mas não foi. Eu fui morar no apartamento dele, junto com Irene e Malu, minha meia irmã. Ela era fruto do casamento de Plínio com Bárbara. Diferente do que pensei, ela era legal, porém, certinha demais para o meu gosto.

O único dinheiro que eu tinha era uma espécie de mesada, não era pouco, mas ainda assim não era o que eu queria e esperava.

Já minha mãe adotiva, estava adorando morar na casa verde e estava namorando Silvério, o pai de Giane.

Foi através dela que descobri a doença dele, mas foi só quando ouvi a conversa de Giane com Silvia e Érico que soube da grana que ela precisava e da gravidade do problema. Eu queria humilhá-la, por todas as vezes que ela o fez comigo, incluindo as vezes que apanhei daquele pivete. Oh menina da mão pesada. Ela me pagaria por tudo, mas no fundo eu queria ajudar também, seu Silvério era uma boa pessoa e sempre foi legal comigo. Mas ela não precisava saber.

Quando eu tive a brilhante ideia do namoro fake, eu não pensei na proporção que isso tomaria, praticamente todos à minha volta conhecem Giane e a adoram, inacreditável. Eu não menti quando disse que queria a confiança dos meus pais, mas também queria saber até onde o orgulho daquela maloqueira iria.

E de um jeito maluco, estava ansioso pelo jantar que teria hoje à noite, apresentaria ela como minha namorada aos meus pais e irmã. Só de pensar sentia algo estranho no estômago, como se estivesse com medo. Mas que droga é essa?

— Deixa de idiotice, Fabinho, é tudo teatrinho. – Falei pra mim mesmo, quando já estava chegando na casa verde.

Estacionei a moto na frente da casa de Margot, caminhei até a porta e bati três vezes seguidas, logo ela veio abrir a porta.

— Fabinho, meu menino, que saudade! – Minha mãe me abraçou, retribui um pouco sem jeito, dei um meio sorriso e me afastei. – Que bom que você veio me visitar! – Disse me puxando pra dentro de casa. – Como você está?

— Eu to bem e você? – Devolvi a pergunta.

— Melhor agora, meu filho! – Estava emocionada. – Feliz com sua visita e acabei de saber que o Silvério recebeu alta e já está vindo pra casa! – Sorriu feliz.

— Ah é? Que ótima notícia! – Falei contente. – Eu vim aqui convidar você pra jantar lá em casa hoje à noite. – Fui direto ao ponto.

— Fico muito contente com o convite, mas eu tenho que ajudar a Giane a cuidar do Silvério…

— Mãe, vocês todos podem ir, é um jantar para apresentar a Giane pro Plínio e a Irene. – Pedi, era importante que todos estivessem juntos.

— Mas.. será que ele vai topar? – Perguntou incerta.

— Bom, a filha dele é o principal motivo desse jantar, então… – Dei de ombros.

— Então precisamos avisar a Giane! – Concordei. – Vou ligar para ela.

— Não, não, deixa que eu aviso!

— Tá bom, mas agora venha cá que eu quero saber mais sobre seu namoro e como anda sua vida!

— Infelizmente agora não vai dar, mãe. – Ela me olhou triste com a rejeição. – É que eu tenho que ir trabalhar, o Érico acabou de me contratar, não quero perder esse emprego antes mesmo de começar!

— Tá certo, mas olha, saiba que eu to muito feliz por você e quero o seu melhor sempre! – Me abraçou novamente.

— Obrigada, mãe! – Retribui o abraço. – Até mais tarde! – me despedi e fui direto para a agência, que ficava ali perto.

. . .

— Bom dia gente, me desculpem o atraso, eu acabei tendo que resolver algumas coisas! – Eu esclareci assim que entrei na Crash Mídia.

— Quase boa tarde, não é mesmo Fabinho? – Silvia disse.

— Fabinho, por favor sem BO ok? Dei um duro danado pra te por aqui, não me decepcione! – Érico falou.

— Não vai mais acontecer, eu juro. – Disse, já cheio de ouvir puxões de orelha.

— Bom, eu deixo passar se você me disser: qual o motivo de tanta demora? – Érico questionou.

— Eu tava organizando um jantar pra mim apresentar minha namorada aos meus pais e visitando minha mãe adotiva! – Expliquei.

— Hummm, namorada? E quem seria louca de namorar o badboy número um do país? – Júlia que estava apenas ouvindo, resolveu se manifestar.

— Não que seja da sua conta, mas só pra você saber, minha namorada é a Giane! – Sorri torto.

— Como é que é? – Bento, que carregava um buquê de flores, falou. – Você fica longe da Giane ou eu te mato. – ameaçou, revoltado.

— E eu posso saber o motivo de tanta raiva? – Questionei, o desafiando.

— Por que a Giane é como uma irmã pra mim, e ela é gente boa demais pra cair na lábia de um playboy feito você. – Cuspiu com raiva se aproximando de mim.

— Isso é ela quem decide, Bento. – Debochei.

— Ela só pode tá louca! – Bento dizia enquanto ainda estava vermelho de raiva.

— Quem tá louca? – Ela chegou dizendo.

— Você! Que maluquice é essa de namorar com o Fabinho? – Perguntou pra ela e eu revirei os olhos diante de sua insistência.

— E desde quando eu te devo explicações sobre minha vida pessoal? – Ela falou com ainda mais raiva. – Você corre atrás daquela bandida da Amora e ninguém fala nada né? ah me poupe. – Disse com raiva.

— Já chega, né? – Silvia interviu.

— Silvia, essas flores são pra você, foi um cliente aqui da agência que mandou! – Bento disse à mais velha.– Eu já vou indo nessa, mas pensa bem no que você tá fazendo Giane! – Ele saiu de lá com raiva.

— Esse Zé florzinha se acha o rei do pedaço, não é? – Eu disse, sem paciência alguma para aquele showzinho.

— Fabinho, deixa pra lá, ok? – Pediu Giane sorrindo e me dando um selinho, fui pego totalmente de surpresa, mas nem tive tempo de questionar nada, pois Silvia nos interrompeu.

— Fabinho eu preciso que você veja as exigências de um dos nossos maiores clientes e nos ajude na criação do slogan e da campanha! – Fui até ela para checar as propostas do tal cliente.

— Sorriso… essa marca tem tudo a ver com esse pivete maloqueiro! – Apontei para Giane.

— Tem a ver comigo o quê? – Chegou ao meu lado me abraçando. Abraçando???

— Essa campanha da Sorriso. – Eu apontei.

— É claro que não, Fabinho. Olhas o que eles querem exaltar, eu não sou nada disso. – Negou.

— Deixa de ser teimosa, você tem um sorriso lindo e vai bombar essa campanha! – Lhe roubei um selinho dessa vez e ela corou na hora.

— Giane, eu acho que o Fabinho tem razão, você é a cara do produto! – Érico afirmou. – Pensa com carinho na proposta! – piscou o olho pra ela que ficou pensativa.

— Tá bom, prometo que vou pensar! – Disse sorrindo de leve. – Fabinho, eu vou ir no hospital buscar meu pai, aí resolvi passar aqui pra te avisar que o jantar não vai dar hoje. – Ela explicava.

— Vai sim! – Afirmei. – As 20:30 um táxi estará na porta da tua casa. Ah, dona Margot também vai com vocês!

— Ué, eu não ia de moto com você? – Perguntou.

— Se você quiser, eu posso te buscar… – Sussurrei no seu ouvido e pude ver ela se arrepiar.

— Mas e se meu pai passar mal? – Ela disse preocupada, se afastando de mim.

— Ele não vai, pô pivete, por favor se esforça um pouquinho. – Implorei.

— Você é um chato! – Bateu no meu ombro.

— E você uma maloqueira insuportável! – Sussurrei e lhe dei um beijo breve, que foi retribuído de prontidão.

— Então tá, né… até mais tarde! – Me abraçou brevemente, sem jeito.

— Até mais tarde! – Sorri.

— Vocês formam um belo casal! – Silvia elogiou e eu apenas ri. Belo casal na atuação, tinha que confessar, estava adorando.