— Filha, que bom que você chegou! – Sorriu Silvério para a filha, que retribuiu.

— Oi, pai! – Disse sentando na cadeira ao lado da cama e pegando a mão de seu pai entre as suas. – Posso saber o motivo de tanta alegria? – Perguntou curiosa.

— É que hoje à tarde a Margot veio me visitar! – Sorriu para a filha.

Margot era a mãe adotiva de Fabinho, mas ele sempre a renegou, ela por sua vez, amava o filho com todas as forças. Havia se mudado para a casa verde desde que Fabinho havia decidido ir atrás dos pais verdadeiros.

Ela e Silvério estavam namorando e Giane estava feliz por ver o pai tão feliz, mesmo internado ele tirava forças para lutar, sorria e mostrava estar disposto a vencer qualquer doença.

— Que ótimo, pai! – Sorriu cúmplice. – Fico muito feliz em saber que a dona Margot te faz bem.

— Inclusive, filha, ela disse que iria ficar aqui comigo essa noite, você se importa? – Perguntou.

— Não, claro que não! Mas, será que eu posso ficar aqui mais um pouco? – Pediu enquanto olhava para o pai.

— Claro, vou adorar que vocês fiquem comigo! – Ele sorriu.

— Giane, querida! – Saudou Margot assim que entrou no quarto. – Como você está?

— Eu to bem e você? – devolveu a pergunta sorrindo.

— Também estou! – Respondeu. – Veio ficar com seu pai? – Disse se aproximando da cama.

— Meu pai me falou que você irá ficar com ele, então só vou ficar aqui mais um tempo! – Respondeu.

Eles seguiram conversando sobre assuntos do cotidiano, o que estava acontecendo na casa verde enquanto estavam fora de lá, foi então que Giane lembrou de um assunto recente, que deveria ser comunicado a seu pai e sua sogra/madrasta.

— Aproveitando que vocês estão aqui, eu queria contar uma coisa pra vocês. – Começou Giane, um tanto envergonhada.

— O que seria? – Questionou Silvério.

— Está nos deixando preocupados… – Margot comentou.

— Não se preocupem, não é nada demais. – Disse e respirou fundo. – É só que.. eu e o Fabinho… a gente tá meio que namorando aí. – Respondeu coçando a nuca, visivelmente desconfortável.

— Minha filha, não sei nem o que dizer, mas eu confio em você e se você está com ele é porque sabe o que está fazendo. – Disse Silvério. – Quero sua felicidade sempre, então… por mim tudo bem. – Sorriu e a filha agradeceu pelo apoio que seu pai sempre lhe dava.

— Olha Giane, eu sempre tive esperanças do Fabinho ser alguém melhor, espero que com sua ajuda ele consiga. – Margot pegou a mão da menina em apoio.

— Valeu gente! – Giane agradeceu, mesmo envergonhada.

— Agora estamos todos em família! – Margot tentou amenizar o clima de desconforto da nora.

Seguiram conversando e se divertindo, de vez enquanto até riam mais alto do que deveriam, o clima estava leve. Giane estava feliz em ver o pai sorrindo tão verdadeiramente.

. . .

O celular de Giane ecoou um som, anunciando que havia recebido uma ligação, que ela não atendeu. Então digitou uma mensagem.

O que você quer, fraldinha?

Saber se ainda tá de pé o nosso trato.

É claro que sim, mas é só pelo meu pai, porque se dependesse de mim eu já teria te enchido de pontapés, pra ver se deixa de ser babaca.

Nossa, que namorada carinhosa fui arranjar.

E se reclamar mais uma vez, eu juro que quando eu te ver eu quebro todos os teus dentes.

Não obteve mais respostas, então escreveu outra:

Vem pro hospital, to te esperando na lanchonete!

Já tá com saudades, pivete?

Se você continuar com suas gracinhas, você morre.

Ele não respondeu, mas ela sabia que ele iria ao hospital, então disse ao pai e sogra que iria até a lanchonete e voltava em pouco tempo.

Já na lanchonete, ela pediu um suco e se sentou em uma das mesas, esperando por Fabinho.

— E aí moleque de rua?! – Sentou-se ao lado dela.

— Você não tem medo de apanhar de mulher? – Questionou ela.

— Para de doce, que eu sei que você gosta. – Provocou.

— Já contei pro meu pai e pra sua mãe do nosso namoro. – Disse e ele resmungou.

— Aquela mulher não é nada minha. – Reclamou.

— Claro que é, ela te criou, seu mal agradecido. – Repreendeu.

— Nem bem começamos a namorar e cê já quer mandar em mim? – Olhou pra ela em desafio.

— Só to tentando fazer você ser alguém melhor, a ingratidão que você sente é imensa. – Reclamou ela.

— Se você for me dar sermão, pode parar, que esse negócio não vai dar certo. – Revirou os olhos irritado.

— Com licença, o seu suco! – A garçonete entregou à Giane. – O rapaz vai querer alguma coisa?

— Uma água sem gás! – Disse ainda um pouco irritado.

— Obrigada! – Agradeceu Giane o repreendendo com o olhar. – Fabinho, cê tem que aprender a pedir desculpas. – Ela falou, também com um pouco de raiva.

— Eu não tenho pelo que pedir desculpas. – Deu de ombros. – E eu já falei, isso não vai dar certo! – Exclamou entediado. – E você tem mais a perder do que eu. – Debochou.

— Ah é? E o que será que seus papaizinhos vão achar quando eu disser à eles a chantagem que você me fez? – ameaçou ela.

— Filha da mãe. – Xingou e ela revirou os olhos. – Afinal pra que cê me chamou aqui? Porque se foi só pra me dar sermão eu já vou indo nessa! – Disse enquanto ameaçava levantar.

A garçonete trouxe a água que Fabinho havia pedido e saiu logo em seguida.

— Você não pode contar pra ninguém que tá pagando o tratamento do meu pai. – Falou autoritária. – Se alguém souber, vão ligar os pontos e já era “namoro”. – Falou tomando um pouco de seu suco.

— Achei que você não se importasse de acabar esse negócio de namoro logo. – Ele estava mais calmo.

— Não me importo, mas se souberem você vai continuar pagando o tratamento do meu pai? Não né. – Disse enquanto bufava. – Aliás, vê se disfarça melhor essa sua cara de bunda.

— Eu prometi cara bonita e simpática em algum momento? – Revirou os olhos entediado.

— Ah, mas é um pamonha mesmo. – Reclamou segurando o rosto do garoto ranzinza a sua frente, o beijando.

Fabinho ficou surpreso, mas imediatamente correspondeu ao beijo, aprofundando o que deveria ser apenas um selinho. Suas línguas estavam em uma briga por qual queria mais espaço na boca do outro, o toque de seus lábios causavam arrepios em ambos, mas nunca admitiriam.

Giane separou os lábios dos dele ofegante, sentia o ar escasso e seu peito subia e descia numa frequência rítmica, a situação de Fabinho não era diferente, mas ele mantinha um sorriso no rosto.

— Mas é um cretino safado mesmo, né? – Resmungou.

— Foi você quem me beijou dessa vez! – ergueu as mãos em rendimento.

— Era só um selinho pra sua mãe não desconfiar da sua cara de bunda, mas você se aproveitou. – Estava brava, mas no fundo sentiu seu corpo reagir ao toque dele.

— E você gostou que eu sei, eu senti. – Provocou sorrindo.

— Onde foi parar aquela cara de bunda? – Giane debochou.

— Não sei, acho que você sugou com o beijo, sabe? – Disse dando um beijo no pescoço dela, que se arrepiou, o empurrando. Ele riu.

Então ele causava reações nela, como ela causava nele. Bom saber. — Pensou Fabinho.

— Vou me despedir do meu pai, você me leva pra casa? – Pediu a ele que afirmou com um aceno de cabeça.

— Também quero ver meu sogrão. – Entrelaçou os seus dedos nos dela.

— Fabinho melosinho? – Riu alto e ele fez uma careta.

— Você é uma chata, reclamona. – Falou enquanto seguiam rumo ao quarto.

Depois de alguns corredores, chegaram ao quarto onde estava seu Silvério.

— Filha, você demorou. – Silvério reclamou, mas viu que Fabinho vinha logo atrás, um pouco retraído.

— Pois é, desculpa pai, é que fiquei conversando com o Fabinho. – apontou para o garoto.

— Conversando? – Margot riu deixando ambos envergonhados.

— Qual é mãe? Ela é minha namorada… normal que a gente se beije! – Fabinho disse dando de ombros.

— Eu sei… faço muito gosto desse namoro, viu? Cuida bem da Giane. – ela disse abraçando o filho que não se retraiu.

— Bom, eu não gostei muito da notícia, mas se vocês se gostam.. o que eu posso fazer, não é mesmo? – Silvério comentou. – Espero que você cuide da minha menina.

— Oh pai, eu sei me cuidar, e esse fraldinha aí não sabe nem cuidar dele mesmo. – Riu da cara que Fabinho fez.

— Se liga, pivete! – Ela rolou os olhos. O clima estava descontraído.

Fabinho estava carinhoso com a mãe, mas Giane não sabia se aquilo era só para que ela não desse mais sermão nele, ou estava sendo sincero. Mas deixou de tentar entender e resolveu curtir o clima.

— E aí, maloqueira, cê ainda quer a carona? – Fabinho questionou.

— Quero, amanhã cedo tenho que fazer umas fotos. – Ela disse pegando a bolsa. – Pai, se você precisar de qualquer coisa me liga, tá?

— Tá bom, filha! Vai descansada, Margot está aqui comigo! – Sorriu segurando a mão da mulher.

— Tudo bem! Bom… boa noite pra vocês! – Despediu-se.

— Tchau gente! – Fabinho deu um beijo em Margot e um aperto de mão em Silvério e saiu logo atrás da namorada.

Já fora do hospital, indo para o estacionamento, Fabinho quebrou o silêncio.

— Você não quer dormir lá em casa? – Perguntou Fabinho.

— É óbvio que não. – Disse brava.

— A maldade tá na sua cabeça! – Desdenhou ele.

— Eu te conheço muito bem!

— Tudo bem, eu te levo para aquele fim de mundo. – Disse quando chegaram perto da moto do badboy. – Toma! – entregou o capacete pra ela.

— Vê se toma cuidado nessa moto! – Ela pediu quando já estava na garupa da moto.

— Aposto que com aquele almofadinha você não tem medo de andar! – Ele alfinetou.

— Porque nele eu confio. – Falou e ele ficou com cara de poucos amigos, ligou a moto e acelerou.

Ela sem outra opção, teve que se agarrar a ele, pois tinha medo de cair da moto.

— Cê me paga maloqueira! – Disse enquanto acelerava ainda mais a moto. Tinha certeza que ela não tinha ouvido, o barulho da moto impedia. E sabia pelo jeito que estava agarrada a ele que ela temia acontecer algo.

A viagem durou pouco mais de quinze minutos, era noite, as ruas estavam desertas. Assim que estacionou na frente da casa da moça, eles desceram da moto e Giane saiu pisando firme em direção a sua casa.

— Amanhã você janta lá em casa, venho te buscar às 20h! – Falou antes dela entrar.

— Amanhã eu tenho que ficar com meu pai. – Disse ela.

— Tenho certeza que minha mãe não vai reclamar de ficar com ele outra vez. – Fabinho falou sorrindo, ela não teria outra saída.

— Mas jantar na sua casa pra quê? – Perguntou confusa.

— Vou apresentar minha namorada pros meus pais e pra minha irmã! – Sorriu com a cara de tédio que ela fez.

— Tá, eu vou! – se deu por vencida. – Mas pode deixar que eu vou de táxi. – voltou a olhar pra ele. – Neste troço eu não subo mais. – Apontou para moto, fazendo Fabinho rir.

— Qual é? Não gosta de adrenalina maloqueira? – Debochou.

— Adrenalina não é você tentar me fazer voar dessa moto. – Estava brava com ele.

— Mas você não ia cair do jeito que tava abraçada em mim. – Sorriu presunçoso.

— Cala a boca! – Disse com raiva.

— Vem calar! – Ela desceu correndo na sua direção, ergueu a mão pronta pra lhe dar um tapa, mas Fabinho foi mais rápido e segurou suas mãos. – E agora? Como vai me bater? – Ela foi erguer o joelho pra lhe dar um chute, mas ele a prendeu entre o muro e seu corpo. Tentou beijar a garota, mas ela virou o rosto, mesmo assim, ele aproveitou e sussurrou no ouvido dela. – Deixa de ser difícil, maloqueira. – Beijou o pescoço dela, fazendo ela se arrepiar.

— Pára, Fabinho! – Tentava empurrar o menino.

— Você vai comigo de moto, ou não? – Perguntou.

— Tá, tá, eu vou. – Disse e ele largou ela.

— Boa noite! – Roubou um selinho dela. – Sonha comigo! – Saiu sorrindo.

Cretino! — sussurrou ela, vendo ele ir embora.