— Giane, como o tio Silvério está? – Perguntou Bento, assim que ela chegou na acácia amarela.

O pai da moça estava bastante doente nos últimos tempos, apesar de se fazer de forte, Giane conhecia muito bem o seu pai. E estava preocupada com o rumo que as coisas iam.

— Ele diz que sente bem, mas eu sei que é só pra não me preocupar. – Disse ela, cabisbaixa.

— Ei, ele é forte vai superar essa! – Bento dizia enquanto segura a mais nova pelo ombro.

— Bento… é mais sério do que você imagina. – Começou. – O tratamento é caro, vou ter que fazer umas dez campanhas o mais rápido possível pra poder começar a pagar os remédios.

— Caramba, Giane… eu não sabia que era tão caro. – Respirou fundo. – Porque você não pede ao Caio? Até onde eu sei ele é milionário e não vai te negar ajuda.

— Eu sei, mas eu não quero parecer uma interesseira, também tenho meu orgulho, pô! – Respondeu brava.

— Tudo bem, você sabe que se eu tivesse como eu não pensaria duas vezes antes de te ajudar. – Bento disse.

— Eu sei… eu vou me virar, tem que ter algum jeito. – pensava.

. . .

— E é isso gente, eu preciso de muita grana, então eu tô dentro de todas as campanhas que vocês quiserem, não posso recusar trabalho nesse momento. – Sorriu fraco para Érico e Silvia que a ouviam atentamente.

— Vai dar tudo certo, Giane. Conta com a gente! – Érico comentou para dar uma força à menina. – Agora eu tenho que ir porque tratei de encontrar a Renata.

— Tá bom, vai lá! – Giane falou.

— A gente vai te ajudar, okay? E não fica tristinha, seu pai vai ficar bem! – Silvia tranquilizou a mais nova que até sorriu mais leve.

— Bom, eu vou indo nessa porque daqui a pouco já tenho que voltar pro hospital! Beijo! – Saiu da agência, mas deu de cara com Fabinho, trombando nele.

— Não olha por onde anda, pivete? – Disse com raiva.

— Ninguém mandou ficar na porta, fraldinha! – Disse com ainda mais raiva que ele.

— Você devia era me agradecer. – Concluiu ele.

— Agradecer pelo quê? Tá maluco? – Debochou.

— Eu ouvi sua conversa com a Silvia e o Érico. – Confessou com um sorrisinho no rosto.

— E…? – Questionou sem entender.

— E que eu posso te ajudar.

— Você? Me ajudar? – riu debochada. – Conta outra. – revirou os olhos.

— Eu to falando sério, ou você esqueceu que eu tô rico? – dizia carregando um sorrisinho de lado.

— E daí? Desde quando você faz caridades?

Ela ainda estava incrédula. Já ele, confessava a si mesmo que estava adorando aquela situação.

— Desde quando eu tenho interesses em comum. – Sorriu abertamente.

— Claro, você nunca vai mudar né? – Disse negando com a cabeça. – Fala aí como você pode “me ajudar”.– fez aspas no ar.

— Eu pago o tratamento do seu pai todo, mas com uma condição. – Falou com cara de deboche.

— Que condição? – Giane estava considerando a “ajuda”.

— Você vai ter que fingir que namora comigo durante um tempo. – Deu seu melhor sorriso.

— QUÊ? – Exclamou assustada. – Você só pode tá me zoando. – Giane dizia, sem acreditar naquela proposta.

— Não tô te zoando, só queria unir o útil ao agradável. – Deu de ombros. – Você me ajudaria a conquistar a confiança do Plínio e da Irene, em troca eu pago o tratamento do seu pai. – Concluiu.

— E por quê eu? – Questionou.

— Porque você agora é uma modelo famosa, até que arrumadinha, inclusive diria que dá para o gasto… – Analisou a menina com um olhar sedutor, fazendo a mesma corar.

— Vai sonhando. – desdenhou. – Valeu pela proposta, mas eu dispenso. – Falou enquanto saía de perto dele.

— Vê lá hein, essa proposta é única, se eu fosse você não desperdiçava, não. – ele ria enquanto via ela sair pisando firme, cheia de raiva.

Fabinho na verdade queria fazer aquela maloqueira baixar a guarda, odiava ser inferior, e mesmo sem querer, Giane o fazia se sentir sempre menor que ela. Mas isso iria mudar, ele sabia que ia. Quando soube do problema de Silvério, viu a oportunidade de colocar seu plano em prática e seria mais rápido do que pensou. Ela havia negado num primeiro momento, mas a necessidade a faria aceitar, ele sabia que sim.

— Cê ainda vai voltar atrás, maloqueira. – sussurrou para si mesmo sorrindo atoa.

— Fabinho? – Silvia estava surpresa ao vê-lo entrar na agência. – O que você está fazendo aqui? – Perguntou curiosa.

— Eu pensei naquela sua proposta de trabalhar aqui… – Ele confessou. – Eu tô rico, mas nada impede que eu possa trabalhar, não é? E publicidade é algo que eu gosto de verdade, então se ainda estiver de pé o convite eu aceito.

— Espera.. Fabinho, aqui na agência? – Júlia estava incrédula. – Só espero que ele não apronte nenhuma com a gente. – Concluiu.

— Júlia, vai tomar um café, eu preciso conversar com o Fabinho.

— Tá bom. – Foi a contragosto.

— Então, eu tenho algumas exigências a fazer…

— Ah, não… Silvia você me chamou por que sabe que tenho talento, mas aí vir com sermãozinho pra cima de mim, não rola.

— Fabinho, me escuta! – Ela continuava calma. – Vai ser rápido e indolor. – Ela disse. – Eu só quero que você pense melhor nas suas atitudes, tenha um pouco menos de raiva do mundo, se sinta feliz com o que você tem hoje, aproveite sua vida sem humilhar ninguém.

— Era só isso? Eu tenho que ir agora! – Fingiu que não tinha ouvido aquelas palavras de Silvia, mas tinha as guardado consigo. E elas pesaram em suas costas.

— Pode ir! Você começa amanhã, ok? – Fabinho assentiu e saiu.

. . .

— Fabinho? Meu filho, você está aí? – Irene perguntava enquanto batia de leve na porta do quarto de Fabinho.

— Tô aqui! – Respondeu entediado. – O que você quer?

— Eu e seu pai iremos sair, não sabemos que horas vamos voltar. – Falou e não obteve resposta. – Dispensamos a Celinha mais cedo, mas ela deixou o jantar pronto, tá na geladeira.

— Valeu! – Foi a única coisa que disse, e ouviu passou se afastarem.

Finalmente sozinho. Respirou fundo e foi até a cozinha pegar alguma coisa para comer.

Estava aproveitando um pedaço de torta, quando ouviu a campainha tocar. – Será que eles esqueceram a chave? – Resmungava enquanto se arrastava até a porta, ao abri-la teve uma surpresa.

— Vai ficar aí com essa cara de palhaço e não vai me convidar para entrar? – Questionou seria.

— Ah.. entra, fica à vontade. – Ele disse e fechou a porta assim que ela entrou. – Eu sabia que cê ia pensar duas vezes na minha proposta. – sorriu presunçoso.

— Vai baixando tua bola, mané. – Cuspiu as palavras. – Eu só tô aqui pelo meu pai.

— Então quer dizer que você aceita? – Ele estava ansioso, mas não entendia por quais motivos.

— Infelizmente, sim, eu aceito. – Ele sorriu feliz, já ela, apenas suspirou.

— Então.. você aceita um pedaço de torta, namorada? – Falou apenas para provocar.

— Se você me chamar assim novamente, sua cara que vai ficar torta. – Rosnou e ele riu.

— Nervosinha, hm? Quer beijinho, pra ver se passa? – Chegou perto dela que o estapeou. – Ai, maloqueira, você tem a mão pesada, sabia? – Reclamou.

— Dane-se, isso é pra você não se meter comigo. – Disse séria.

— Hmmm, moleque de rua como sempre. – Riu quando viu a expressão séria da menina. – Vai aceitar a torta ou não?

— Não, eu vou pra casa. – Disse indo a caminho da porta.

— Espera! – Pediu, ela o olhou com a melhor cara de tédio. – A gente precisa planejar esse negócio de namoro, pra que ninguém desconfie que é fake.

— Achei que o badboy número um do país tivesse pensando em tudo. – Desdenhou, sorrindo de canto pela primeira vez desde que chegara ali.

— Pois pensou errado, agora vem cá e me ajuda pensar. – A puxou pela mão e foram até a cozinha, sentando-se na mesa, onde minutos atrás Fabinho se deliciava com a torta. Continuou comendo enquanto Giane apenas o observava. – Tá com essa cara de fome pivete, pega um prato ali no armário. – Apontou para o armário atrás de si.

— Quando a gente começar esse negócio de namoro, você vai ter que ser mais cavalheiro. – Resmungou, indo pegar o prato e se servindo.

— Falou o moleque que passou umas três vezes na fila da delicadeza né? – Falou de boca cheia. Enquanto ela se deliciava com a torta

— Eca, come primeiro, depois você fala. – Reclamou novamente.

— Mas você é uma chata! – Estava começando se arrepender daquela proposta.

— Azar o seu, agora vai ter que me aguentar, fraldinha. – riu da cara de desgosto que ele fez.

— Pior que cê tá certa. – Fez cara de tédio. – Mas é o desastre em pessoa mesmo. – Ele ria enquanto olhava para ela.

— Do quê, que cê tá rindo? – Perguntou.

— Tá toda lambuzada de cobertura de chocolate. – Falou enquanto tentava limpar.

— Tira a mão de mim, pô. – Ordenou de cara fechada.

— Mas é um cavalo, mesmo. – Riu. – Cê namorou aquele almofadinha fotógrafo, não é? – Ela concordou com o cenho franzido em confusão.

— Namorei, porquê?

— E por um acaso a relação de vocês era só passear de mãos dadas no parque? – Desdenhou.

— É óbvio que não, coisa mais clichê, eu hein. – Falou e continuou comendo, ainda com o rosto sujo. – Era um namoro normal, mas onde você tá querendo chegar?

— Na parte onde namorados se beijam, abraçam e fazem essas coisas “clichês”. – Ele levantou a sobrancelha em desafio.

— Se você tá querendo dizer que vai me beijar, pode tirar seu cavalinho da chuva, não vai rolar. – Negava freneticamente.

Ela levantou da cadeira, disposta a ir embora, mas ele foi rápido em ir atrás dela e segurar seu braço.

— Sem beijos, sem namoro. – Disse a encarando nos olhos e sorrindo ao ver seu rosto sujo. – Sem namoro, sem a grana que seu pai precisa.

— Cretino, idiota, babac… – ele colou os lábios nos dela, calando os xingamentos que ela estava dando. Ela ficou estática por um momento, mas a maciez dos lábios do badboy fizeram com que ela cedesse, se deixando levar pelo beijo, que aos poucos se intensificava.

Ela segurava a frente da camisa dele com força, como se pedisse para que ele não se afastasse, já ele segurava a cintura fina dela com uma mão e a outra estava enfiada no meio dos seus cabelos da nuca. Os dois estavam completamente entregues, mas o ar faltou para ambos, mas foi ela quem se afastou primeiro, o empurrando.

— Tá maluco? – Perguntou ofegante, tentando normalizar sua respiração.

— Eu não podia adquirir algo sem saber a qualidade, sabe como é né? – Falou debochado.

— Onde eu tava com a cabeça quando aceitei essa proposta absurda? – Dizia pegando sua bolsa, que havia caído durante o beijo.

— Sabe, a sua sorte foi que a cobertura de chocolate deixou seu beijo melhor, se não minha proposta teria ido pelo ralo. – Ele falou desdenhando, mas no fundo tinha se surpreendido. Quem diria que aquele moleque de rua beijasse tão bem.

— Idiota. – Deu um belo tapa no rosto do garoto e saiu de lá o mais rápido possível.

— Moleque desgraçado. – Segurou o rosto, sentindo a ardência no local.