-ai! Apaga isso!!- disse minha avó clara enquanto abanava a fumaça do cigarro que eu tinha acabado de tragar.

- e porque eu faria isso?- perguntei com frieza enquanto dava outra tragada no cigarro.

-porque isto esta te destruindo por dentro- disse preocupada.

- Só por dentro né.- desviei o olhar- Porque por fora, já estou toda destruída.- cuspi as palavras.

Joguei o cigarro no chão ao seu lado e disse:

- pelo menos isso me alivia e não enche tanto o saco. – gritei a centímetros de distancia do seu rosto.

Virei-me e fui em direção a casa deixando ela ali sozinha. Fui direto para o meu quarto e me joguei na cama.

Fiquei ali chorando enquanto pensava na merda que tinha se tornado a minha vida.

Eu tinha tudo. Uma família linda com meu pai Ben e minha mãe Sarah... eu ainda sentia dor só de lembrar neles e sempre aquelas imagens horrorosas vinham a minha cabeça me atormentando. Tinha também meu... meu...

Jason...

Esse nome faz o quarto girar... meu irmão. Eu não conseguia consolidar essa palavra com a imagem dele ao lado dos corpos dos meus pais com o isqueiro na mão...

Já havia se passado 2 anos e eu não saia mas daquela casa. Era isolada e aconchegada e sem chances de pessoas verem meu rosto e correrem de medo.

Eu havia perdido muito tempo de aula e minha avó clara insistia para eu voltar a estudar e eu me recusava me prendendo mais ainda dentro da casa.

Eu só saia para ir a floresta que havia em volta da casa. Lá era tão aconchegante e vazia. Eu respirava direito naquele lugar sem nenhuma preocupação ou sofrimento. Apenas eu e os animais receptivos.

Eu havia tirado todos os espelhos ao meu alcance e fazia tempo que não olhava em um. Não me importava pois não queria me ver, não com esse rosto horrível.

Eu sabia que estava sendo exagerada e pirracenta. Sabia que tinha pessoas piores do que eu vivendo. Mas eu era fraca de mais para aguentar os olhares desprezíveis que antes eram de admiração e amor. E eu adorava.

Não sei como minha avó clara conseguiu. Mas além de me convencer a voltar estudar- desde que seja em casa- ela conseguiu também um garoto chamado Mark para me dar aula.

Ele já estava se formando e aceitou me dar aulas pois precisava de dinheiro extra.

Nossa primeira aula- que seria um teste para ver se ia dar certo- era hoje, Mark deve chegar aqui 13:30 ainda eram 11:00 então eu ainda tinha tempo.

Tomei um banho demorado para relaxar.

Sai do chuveiro e fui para a janela ainda enrolada na toalha. Hoje estava um dia bonito, com um sol forte e nenhuma nuvem no céu. Um dia maravilhoso para passar no jardim... “droga” pensei lembrando que hoje eu não teria tempo para isso.

Coloquei um short, uma blusa branca de alça e um bolero de renda preto. E para esconder as queimaduras nas mãos minha luva de linha também preta sem os dedos. Meu rosto não tinha jeito, suspirei e me virei para sair, mas antes fui a estante e peguei meu colar que continha uma foto da minha mãe e do meu pai.

Antes de sair fechei o colar em volta ao meu pescoço e apertei o pingente entre as mãos pedindo a eles que me ajudem, pois não suportava mais a minha vida.

Respirei fundo e resolvi dar uma volta no jardim.

Eu adorava, quando pequena, explorar a floresta que existia em volta da casa, mas o problema era que sempre me perdia dando muito trabalho ao meu pai para me achar, então como castigo não podia mais voltar lá.

Percebi que já estava a muito tempo andando e devia estar atrasada e minha avó já devia ter surtado.

Cheguei rápido a casa, mas antes de entrar apressada notei ao lado de fora um Chevy Impala 1967. Meu tinha uma oficina que eu passava o dia com ele aprendendo muito sobre carros. Meu pai... Sua imagem flamejante preencheu minha cabeça e eu retesei em entrar já sentindo as lagrimas. Mas respirei fundo e entrei.

Fui direto para a cozinha e fiquei parada encantada olhando para a mesa central aonde estava Mark sentando conversando com minha avó clara que lhe entregava uma xicara.

Mark era muito bonito, seus olhos verdes meio azulados faziam um contraste perfeito com seu preto liso e bagunçado cabelo.

-essa é a minha neta Stara Gilbert- disse minha avó clara quando notou minha presença.

Mark me olhou dos pés a cabeça e confesso que fiquei vermelha, com seu olhar.

Mas me surpreendi quando ele finalmente olhou meu rosto e diferente que do pensei não fez nenhuma expressão assustada apenas me olhou e sorriu.

- prazer eu sou Mark Walker - estremeci com sua voz rouca.

Ele levantou e estendeu sua mão para mim. Notei, quando ele levantou, seu corpo musculoso nada escondido pela sua blusa branca com gola em V

Fiquei olhando para sua mão, mas não a apertei. Apenas falei fria enquanto ia em direção a minha avó clara.

-é eu já sabia.