Havia barulhos de sirenes e jatos fortes d’agua, mas eu sentia o ar fresco e o vento ao meu redor... Eu sentia o ar da noite.

Tentei me mover e ouvi alguém dizer meu nome muito ao longe:

-Stara...- passos encobria mais ainda a voz.

Tentei imaginar de quem era aquela voz e um arrepio me passou. Então deixei que novamente a inconsciência me tomasse.

Mas alguns segundo e eu conseguia sentir cheiro de fumaça distante. Tentei respirar puxando ar, mas meu corpo doía muito atrapalhando minha falha tentativa.

Consegui ouvir alguém dizer enquanto ofegava algo como “ela ta aqui!

Não consegui abrir meus olhos, mas consegui sentir meu corpo sendo puxado do que parecia ser grama. Depois algo que estava em baixo me locomovendo balançou “cuidado para ela não cair da maca!” disse alguém desconhecido.

-Stara...- ouvi uma voz conhecida me chamar de novo. Minha Avó. Forcei meus olhos a abrirem mas quando olhei em volta a procurando só vi rostos estranhos e uma claridade invadiu minha visão me fazendo fechar os olhos novamente.

Eu levantei meu braço direito ainda de olhos fechados e senti alguém o segurar.

Eu me debati tentando me soltar daquele aperto, mas nada adiantou. Me debati mais forte fazendo meu quadril levantar e ser bruscamente empurrado para baixo, mas mesmo assim não adiantou. Senti uma picada no meu braço esquerdo e logo já estava me sentindo fraca e percebia que a inconsciência ia me dominar de novo.

-Seu rosto... - falou uma voz masculina com pesar na voz.

- duvido que não deixe marcas. - falou outra voz masculina.

-devia ser um lindo rosto... - disse uma voz agora feminina.

-devia... por que agora...

Não consegui ouvir o resto porque a escuridão me invadiu. De novo.

Quando acordei senti uma forte dor de cabeça e logo depois senti dor no meu corpo todo. Virei meus olhos e vi minha avó com as mãos entrelaçadas apoiadas no peito mostrando seu nervosismo, mas seu rosto mostrava outra coisa. Alivio.

Encontrei seus olhos e supliquei com os meus. Tentei falar, mas apenas o que sai foi um sussurro indiscernível. Minha avó ficou esperando vendo que eu ia tentar de novo.

-dor...- consegui dizer baixo e incoerente de mais.

Mas pareceu que minha avó Sue entendeu. Porque apertou um botão ao lado da minha cama e segundos depois uma enfermeira apareceu com uma seringa na mão. Eu não acompanhei enquanto ela ia em direção ao meu braço. Eu apenas fiquei olhando para cima esperando a inconsciência me tomar era o que eu mais queria naquele momento. Tomara que nunca acorde de novo. Pensei fechando meus olhos e tentando segurar as lagrimas.

Finalmente chegou o dia em que eu ganharia alta e poderia ir para casa. Tirei aquele roupão horrível do hospital e coloquei minha roupa macia e cheirosa. Minha calça jeans escura e minha regata de banda: The Pretty Reckless.

Aproveitei que minha avó havia saído para ir ao banheiro para me ver no espelho que tinha no canto do quarto.

Respirei fundo tomando coragem e fui me aproximando do espelho, lagrimas antecipadas queriam descer do meu rosto.

Olhei o espelho e gritei com medo. Toquei meu rosto sentindo o estrago

Metade do meu rosto estava destruído por queimaduras. E a outra metade estava normal.

Minha pele tinha uma textura estranha e estava destorcida do canto da orelha direita ate o meu nariz pulando meu olho e pegando a metade direito minha testa. Meus olhos azuis piscina haviam perdido a cor por causa do sofrimento. Meus longos cabelos castanhos avermelhados haviam perdido o brilho e a beleza. E um pequeno corte na minha sobrancelha esquerda dava ênfase ao monstro destorcido que eu havia me tornado.

Cambaleei para trás tonta e desnorteada. Tropecei e cai em cima da cama. Sentei e enterrei meu rosto em minhas mãos e senti a textura do meu rosto destruído, o que me fez chorar e soluçar alto.

Abracei minhas pernas e fiquei chorando com minha cabeça enterrada nos joelhos.

Nem vi minha avó entrar. Apenas senti seus braços ao meu redor.

-tudo ficará bem- ela repetia dolorosa.

Não é o que o espelho diz.