Star Wars- Coração Rebelde
Uma outra Resistência
O robô manipulou alguns botões da cadeira e pouco depois, a moça abriu os olhos. Ela contorceu o rosto e gemeu, como se sentisse dor. Um dos prisioneiros falou com Hux:
—Seu soldado nocauteou a garota!
Hux não se manifestou e a jovem olhou ao redor, percebendo a situação em que se encontravam. Quando abriu a boca para falar alguma coisa, Kylo Ren a interrompeu:
—Se começar a gritar, farei com que se cale permanentemente...
Hux falou com o droid:
—O prisioneiro da esquerda.
O robô se aproximou do homem e colocou a palma da mão em seu peito. Hux iniciou o interrogatório:
—Serei rápido. Onde é a nova base da Resistência?
—Resistência? Não somos parte disso, nós...
Um aceno de Hux e o droid aciona uma descarga elétrica em sua mão, causando dor e agonia ao prisioneiro. O outro homem grita:
—Não vamos entregar nossa causa! Não vamos trair nossos companheiros! Mas não somos da Resistência!!
Hux se volta para Ren e este fala:
—O material que levavam...Qual a finalidade dele?
Os prisioneiros permanecem calados. Hux acena para o droid e este eletrocuta o homem novamente. A jovem observa tudo com olhos furiosos e encara Kylo Ren por alguns segundos. Vestido de negro e com um capacete sinistro, era uma figura realmente intimidadora.
Após algum tempo de tortura sem resultado, Hux fala:
—Eles insistem em dizer que não são da resistência... Vou fritá-los antes de conseguir alguma coisa que preste.
Ren se aproxima do prisioneiro torturado:
—Vejamos...
E investe seu poder sobre o homem. De repente, ele recua e fala:
—Removam os capacetes!
Os troopers retiram os capacetes de cada prisioneiro e Hux se aproxima, surpreso:
— Que diabos é isso?
Como uma serpente, uma estrutura metálica formava um arco sobre a cabeça raspada dos três cativos. Era possível perceber ramificações que se enterravam na pele e o estranho implante partia da base do crânio e se estendia até quase a testa deles. Hux toca o implante:
—Isso é ...
Kylo Ren fala:
— Um tipo de inibidor neural... Está me impedindo de acessar as mentes deles. Muito engenhoso.
Hux ordena ao droid:
—Remova isso!
O segundo prisioneiro grita:
—Não faça isso!!! Vai matá-lo!
Mas o droid puxa o implante à partir da base com rapidez e o prisioneiro sofre uma violenta convulsão, seguida de hemorragia nos olhos, ouvidos, nariz e boca. Segundo depois estava morto. A jovem vira o rosto e respira rapidamente, tentando controlar-se. Ela aperta os olhos, contendo as lágrimas.
General Hux ordena que um dos soldados levasse o implante aos técnicos da nave e sai dali pouco depois. Kylo Ren ainda permanece na sala de interrogatório e fala com os dois cativos:
—Seria sábio de sua parte nos contar o que queremos saber.
O homem cospe no chão:
—Não somos idiotas! Nossas vidas nada valem pra vocês com ou sem nossa colaboração!
Kylo Ren conclui:
—Se não colabora por você, pelo menos por ela...
O homem ri:
—Não se engane conosco, monstro! Fomos moldados no combate e na dor... Suas ameaças não representam nada pra nós!
Com um simples movimento da mão, Ren quebra as duas pernas do prisioneiro, que grita horrivelmente. O Comandante sai dali em silêncio, deixando os dois cativos sozinhos.
A jovem fala ao companheiro ferido:
—Bouthor! Você...
—Aquele maldito! Ahh...
—Vamos morrer, não é?
Bouthor respira com dificuldade. Sentia os ossos fraturados das pernas perfurarem-lhe os músculos e tentava não se mover. Ele olha a jovem ao seu lado. Sabia que ela tentava não parecer assustada e falou:
—É possível que eles nos matem, mas ...Humph... Há uma chance.
— Que chance?
—Nosso antigo refúgio... Você irá leva-los até lá. Sei que muitas coisas ainda funcionam... Aqueles explosivos podem salvar você.
A moça suspira:
—Não sei se posso fazer isso sozinha...
Ele sorri em meio à dor:
—Acione os explosivos como eu te treinei... E fuja pelos túneis. Pode dar certo!
A jovem abaixa o olhar. Bouthor percebe o desapontamento na face dela:
—Nossa viagem termina aqui, menina... Desculpe arrastá-la para essa situação.
—Vou matá-los, Bouthor... Eu prometo!
—Esqueça! Salve-se! Leve-os para a armadilha e dê o fora de lá. Deixe a vingança para outro dia.
Ela não sorri. A face contraída do companheiro de causa indicava o nível de sofrimento que o acometia e ela nada podia fazer por ele. Nisso, Hux entrou, seguido de dois soldados e o droid. Aproximou-se de Bouthor:
—Tiveram tempo para pensar se vale a pena resistir. Diga-me o que quero saber.
Bouthor respira fundo e fala:
—Planeta Malastare, latitude 52º oeste, longitude 37º sul, Quadrante N16.
Hux sorri:
—Sábia decisão. Sua amiga será poupada.
Ao dizer isso, Hux acena para o droid que ergue a mão e toca a cabeça de Bouthor. A descarga elétrica é tão poderosa que queima-lhe a pele da cabeça e do rosto completamente. O cheiro é insuportável e a jovem vira o rosto para o lado oposto à cena e fecha os olhos. Agora, mais do que nunca, arrastaria seus algozes para uma armadilha.
Sob as ordens do General, a moça foi retirada da cadeira e escoltada até uma cela comum. O lugar possuía uma cama-painel acoplada à parede, uma cadeira metálica presa ao chão e uma janela acima da cama, de onde se podia ver o cosmo, contrastando com a pintura branca das paredes e dos móveis. Lá, a jovem foi deixada só e pensativa sobre suas chances, rememorando os painéis de controle do antigo refúgio, os túneis e passagens que conheceu em seu treinamento.
Apesar de jovem, ela já era experiente em perdas. A morte de seus dois companheiros de luta não era novidade para ela. Era doloroso, mas choraria por eles no momento oportuno. Assim, exausta pela fuga malfadada e captura, deitou-se no leito e mergulhou num sono profundo, não percebendo uma presença entrar na cela pouco depois e avaliá-la.
Kylo Ren observou a jovem dormindo. A cabeça dela tinha sido completamente raspada para introdução do estranho implante neural. De acordo com os técnicos da nave, que analisaram a amostra retirada do prisioneiro morto, a conexão do mecanismo com o cérebro era completa, talvez até irreversível. Como testado, a remoção do mesmo causava a morte quase instantânea do usuário.
Minúsculos filamentos, pouco mais grossos que um fio de cabelo eram introduzidos em pontos estratégicos dos dois hemisférios cerebrais e Ren estava intrigado sobre a real utilidade daquilo. O implante não aumentava a força física ou a capacidade cognitiva de quem o possuía. Certamente não impedia que a pessoa delatasse sua causa sob tortura. Havia mais alguma coisa que escapava de seu entendimento e aquela jovem lhe daria a resposta.
Algumas horas mais tarde, a moça acordou com cheiro de comida. Próximo à cama, um painel móvel da parede servia de mesa e continha uma jarra com água, um prato com frutas e outro com comida quente e perfumada. A jovem ergueu a mão, mas recuou, temerosa, até que uma voz fria e grave informou:
—É seguro comê-la. Garanto que não temos interesse em envenenar você.
Ela virou-se e viu Kylo Ren parado junto à parede do fundo da cela, olhando pela janela o espaço profundo e negro. Ele estava sem o sinistro capacete e ela viu a ferida na face dele. Imaginou que ele havia se ferido em algum combate e parecia aborrecido pelo fato dela fixar os olhos naquele ponto em seu rosto. O Comandante Ren era alto, pálido e intimidante. Sua presença ali não era amistosa e a moça esperou.
Ele sentou-se no lado oposto da cama, curvou-se, apoiando os cotovelos nos joelhos e falou:
—Se decidir morrer de fome, podemos colocar você presa à uma cama e injetar alimento por suas veias... Acho que não é uma forma nada agradável de nutri-la, não? Coma... Não se sinta envergonhada por aceitar nossa hospitalidade.
Ela olhou para o Comandante e depois apanhou o copo de água e sorve em longos goles. Avança para o prato de comida e come devagar. Estava saborosa e ela sentiu-se revigorada. Após terminar de comer, ela deixou o prato no painel e encolheu-se na cama. Kylo Ren começou:
—Seu amigo foi generoso ao nos dar as coordenada do seu esconderijo, mas tamanho altruísmo pode esconder um perigo equivalente, assim decidi que irá conosco e nos mostrará tudo o que queremos saber. Acho que não tem tendências suicidas, não é?
Ela balança a cabeça em concordância e ele sorri num canto da boca:
—Ótimo! Começamos bem. Diga-me o que é esse implante que usa e quem o fez? Sei que é um inibidor...
Ela baixa o olhar:
—Sim... É um inibidor do que chamam de “força”. Foi desenvolvido por nosso líder e...
Kylo Ren se ergue:
—Como?
Ela se encolhe ainda mais e ele se aproxima, segurando-a pelo pulso:
—Explique-se.
—A-A f-força... É uma maldição! Está contaminando toda a galáxia!
Ele ri e a liberta. Ela fecha os olhos:
—Jedi ou Sith... Não importa de que lado esteja, ela corrompe, traz guerra e morte! É como uma doença se espalhando e arrastando pessoas para a loucura!
Ele olha para ela:
— Então a “causa” pela qual lutam é...
—A galáxia livre! Livre de todos vocês! Livre dessa maldita influência!
Ele fica parado, encarando-a por alguns segundos e depois deixa a cela sem dizer mais nada. Segue pelos corredores com pensamentos diversos e chega à ponte de comando da nave, onde Hux o recebe:
—À vontade, Comandante Ren?
Kylo percebe que estava sem o elmo negro e muitos oficiais da ponte o olhavam de soslaio para seu rosto machucado, para em seguida continuarem suas tarefas. O Comandante fala:
—A “causa” deles é contra a Força.
—Como é?
—Os prisioneiros fazem parte de um movimento que quer banir a Força da galáxia.
Hux começa a rir:
—Que brincadeira é essa, Ren?
Kylo se aproxima da janela:
—Há uma outra resistência crescendo lá fora, mas contra nós e os Jedi. Qualquer um que use a Força ou a tenha como princípio.
Hux se senta:
—Era o que faltava. Além dos miseráveis rebeldes, temos que nos preocupar com camponeses alienados!
—Camponeses? Não creio... O nível de tecnologia daquele implante me diz que seu líder é alguém com uma visão ambiciosa. Imagine quantos foram recrutados nessa causa e quantos mais estão aderindo ao movimento? Serão menos pessoas suscetíveis à Força e à nós. Lorde Snoke precisa ser informado.
—Vamos lá, então.
Pouco depois estão no salão de conferência, esperando o holograma de seu líder, enquanto discutem o problema. Hux andava de um lado para outro e Kylo está parado, olhando os próprios pés:
—Algo me diz que a resistência não sabe o que descobrimos e isso pode ser vantajoso para nós.
Hux se volta para ele:
—Acha mesmo?
—Imagine essa tecnologia revertida para potencializar o uso da Força ou até mesmo controle mental em grande escala?
Snoke surge nas sombras. Sua presença holográfica é tão forte quanto seria fisicamente e ambos os comandantes se inclinam, respeitosamente. O líder fala:
—A prisioneira.
—Numa cela, meu Senhor.
—Tragam-na aqui. Quero avaliar sua descoberta.
Minutos depois, a jovem é escoltada até o grande salão. Ela caminha tranquila, mas seus olhos examinavam tudo ao redor como se avaliasse possibilidades de fuga. Kylo Ren observa a prisioneira e percebe seu potencial de perigo. A demonstração no hangar mostrou apenas uma faceta de sua personalidade.
Então ela viu Snoke e ficou estática. A figura sombria e agigantada pelo holograma inclinou-se para ela:
—Nada tema, criança...Quero conversar com você.
Após aqueles segundos de surpresa e medo, ela respira fundo e fala:
—Já sabe de tudo. Não temos o que conversar.
—Não sei sobre sua história e o que a levou a fazer tal sacrifício...
Ela toca o implante:
—Está enganado... Eu sou livre e posso escolher o caminho que quero seguir. Essa “força” não me controla como faz com vocês! Não passam de fantoches dela.
Snoke ri:
—É o que pensa de nós? Que somos fantoches?
Súbito, ela começa a flutuar até a altura do rosto do Líder Supremo e ele diz:
—Esse fantoche pode te partir ao meio ou te arremessar no espaço profundo... Posso sondar toda a galáxia e ler a mente de meus inimigos e tudo graças à “Força”.
A jovem fecha o semblante:
—Eu acredito em você e posso entender que usá-la dá sensação de poder e grandeza, mas imagino quanta dor ela te causou para chegar nesse ponto.
Snoke devolve a moça ao chão em silêncio. Sua face é soturna e Ren percebe uma curiosa perturbação no espírito de seu líder. Aquela jovem enfrentava a presença do líder da Primeira Ordem com coragem e veemência. O fato de não terem acesso aos seus pensamentos era algo inimaginável àqueles homens poderosos.
Ela ergue o olhar para Snoke:
—Meu nome é Shae Wendallis. Nasci no planeta Ruusan e toda minha família foi assassinada durante o conflito de rebeldes contra agentes do Império. Sua guerra contra os Jedi destruiu tudo o que eu conhecia e amava. Destruíram planetas inteiros por causa dessa Força e do poder que ela oferece. Meu líder me contou que alguém sensível à isso não pode sentir nada... Amor, raiva, medo podem transformar você, corromper seu coração.
Ela volta seu olhar para Kylo Ren:
—Qual a vantagem em se tornar um monstro?
Snoke sorri:
—Eloquente... Você foi bem treinada. Quem é seu líder?
—Nunca vai saber, tirano!
De repente, Shae sente o corpo ser pressionado para baixo e cai, batendo os joelhos no chão com força. A pressão contra sua nuca aumenta, como se mãos invisíveis tentassem esmagar sua cabeça. A voz cavernosa de Snoke ecoa no recinto
—Diga-me o nome de seu líder!
Shae apoia as mãos no chão e sente gosto de sangue, que começa a escorrer de seu nariz:
—Não! Eu fui moldada na dor e no combate! Prefiro morrer a delatar meus companheiros! Não sabe nada de mim, monstro!
Kylo se recorda de ouvir a mesma frase do outro prisioneiro e percebe que Shae não cederia, mesmo que o poder de Snoke partisse seu corpo ao meio. Ele ouve o grito de dor da cativa e decide intervir:
—Mestre! Precisamos dela para a localização da base deles. Perdemos os outros prisioneiros. Se houver algo mais, eu mesmo arrancarei dela...
A pressão sobre o corpo da jovem cessa e ela desaba no chão, ofegante. O rosto e as roupas estavas sujos de sangue e ela tentava se sentar, mas seu corpo não obedecia. Snoke fala:
_O implante é formidável!
Hux se adianta:
—Nossos técnicos já estão analisando a amostra... A retirada desse implante provoca a morte de seu usuário.
—Interessante, General Hux. Mantenha-me informado dos avanços.
—Sim, Líder supremo.
Snoke se volta para Ren:
—Leve a prisioneira e cuide dos danos. Alguma coisa em todo esse movimento me incomoda, mas por enquanto, veja o que consegue na base deles.
Dizendo isso, o holograma desaparece e Hux fala:
—Acha que ela foi a melhor escolha dos três, Comandante? Talvez a “força” a tenha escolhido pra sobreviver, não?
E sai dali rindo, mas deixando Ren pensativo. Ele se agacha junto dela e a segura pelos ombros. Ela o encara com raiva no olhar:
—A-Acabe logo... com isso...
Ele parece sorrir:
—Sinto dizer, mas temos planos pra você. Mantê-la viva ainda é interessante para a Primeira Ordem.
Quando ele a ergueu nos braços, ela respirou fundo e gemeu. Sentia dor em todo o corpo e a cabeça parecia ter sido sacudida em todas as direções. Estava fraca demais para combatê-lo e deixou-se levar até a enfermaria da nave. Durante o trajeto, ela apoiou a cabeça dolorida no peito do Comandante e comentou:
—Ora... você possui... um coração... Quantas pessoas teve que machucar para acreditar que não tem?
Ele para de andar:
—Cale-se, prisioneira... Não abuse da minha paciência. Tão logo eu descubra o que quero, você será descartável.
Ela ergue os olhos para ele:
—Eu sei... Não espere muito de mim sobre isso.
Então ela se cala, voltando a apoiar o rosto nele e fechando os olhos, cansada. Pouco depois, os droids enfermeiros e o médico da nave prestam os primeiros socorros à prisioneira. Um dos robôs se volta para Ren:
—Comandante. A última vez que trocou seu curativo foi...
—Estou aqui. Vamos logo com isso.
Ren retira a pesada vestimenta e expõe o abdômen. O droid se aproximou e avaliou o curativo:
—Um pouco mais e poderia infeccionar, senhor.
Kylo Ren ergue os olhos, impaciente, enquanto o robô limpa o ferimento. Nisso, Ren volta-se para a prisioneira, deitada na maca, e percebe que ela olhava para ele, para seu ferimento, depois adormeceu devido aos sedativos. Ren pensa na frase de Hux_ “Talvez a força a tenha escolhido para sobreviver” _ e naquele momento, ficou ainda mais ansioso para encontrar a base daquele grupo insurgente.
Continua...
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