General Leia Organa dormia em seu aposento. Após a cansativa reunião com seus conselheiros, ela precisava descansar. Em seu sono, ela se viu numa praia semelhante a de seu planeta natal, Alderaan. Caminhava tranquila, a água morna do mar refrescando-lhe os pés, quando viu uma jovem mulher correndo em sua direção.

A estranha estava sorrindo e abriu os braços, enquanto Leia, sem entender, recebeu o abraço caloroso da desconhecida. Súbito, a moça desmanchou-se em seus braços e Leia viu-se segurando dois bebês de pele muito clara e cabelos negros. Eram meninas e abriram os olhos para a General, que foi imediatamente inundada pelo poder da Força e acordou, assustada, ainda sentido o calor dos corpinhos miúdos. Ela sentou-se na cama e olhou ao redor, confusa. Fora um sonho ou visão? Quem era a jovem? Não a conhecia, mas sentiu imenso carinho por ela e pelas crianças, que fizeram Leia recordar-se de seu marido e filho.

General Hux entrou na sala de treinamento e observou Kylo Ren sendo atacado por Droids de combate voadores. Ele tinha os olhos vendados e rebatia cada rajada laser com precisão usando seu sabre de luz. Hux sabia que os sensíveis à Força possuíam capacidades extra-sensoriais, mas pensou se seriam tão bons guerreiros sendo pessoas comuns.

Kylo cessou o treinamento e tirou a venda. Os pensamentos de Hux causavam-lhe antipatia e o olhar de desdém dele era algo irritante, mas nada comentou. O General falou:

—Falta pouco para alcançarmos as coordenadas de Malastare.

—O contingente será suficiente para a abordagem?

—Sim, mas se não está certo de sua participação, eu posso...

—Avise-me quando chegarmos, General Hux...

Ren caminha para fora da sala de treinamento e decide ir à cela da prisioneira. Ao chegar no local, encontrou-a dormindo profundamente e ficou intrigado como ela parecia calma diante da possibilidade da base de seus companheiros de luta ser invadida e sua gente morta ou capturada no processo.

Enquanto esperava seu despertar, Ren sondou o corpo dela, descobrindo informações sobre seu metabolismo, idade ou alguma patologia, exceto sua mente, ainda insondável para ele devido o implante. Ela era forte e saudável e alguns anos mais nova que ele.

Shae abriu os olhos devagar e percebeu a presença de alguém dentro da cela. Ela sentou-se no leito e esperou. Ren falou com voz calma:

—Estar presa não parece incomodar você.

—Não.

—Está com medo?

—Não mais.

Ele sorri, incrédulo, e tenciona sair quando Shae fala:

—Comandante... Quando descobrirem a base, serei descartada, não?

—Sim.

Ela balança a cabeça e se deita, encolhendo o corpo e suspirando profundamente. Ele sente a pulsação dela aumentar e seu corpo ficar tenso. Sabia que ela tentava fingir-se de durona, mas no íntimo, estava apavorada. Ele seguiu até a porta e falou:

—Talvez...

Ela abriu os olhos e ele concluiu:

—Se aceitar unir-se à Primeira Ordem, à Snoke... Ele decida poupar sua vida. Pode vir a ser um membro produtivo e garanto que seria um destino mais honroso que a morte.

Shae riu:

—Toda a minha família pereceu nessa guerra insana entre vocês e os Jedi. Eu deveria estar com eles agora, mas por alguma razão sobrevivi. A última coisa que farei é me juntar à vocês.

—Quem sabe a Força a tenha deixado viver. É seu destino.

Shae se vira para a parede e Ren deixa a cela. No longo corredor que deixava aquela ala da nave, ele seguiu pensativo, enquanto a jovem refazia, mentalmente, todos os caminhos que conhecia da antiga base, todas as armadilhas que aprendera a montar e instalar. Estava confiante que seus algozes não teriam tempo de descobrir que haviam sido enganados. Mesmo se ela não conseguisse escapar, teria vingado seus amigos e salvado a causa.

Após o salto para o hiperespaço, a nave Shuttle de Kylo Ren e a de assalto dos Stormtroopers alcançam a órbita de Malastare. Era um planeta cheio de florestas, abundante no combustível malastarian e local das podracings mais famosas e perigosas da galáxia.

Shae estava algemada, sentada entre dois troopers e concentrada. Ren e dois oficiais estavam na cabine de comando, mas o Comandante vigiava todas as reações da prisioneira na tentativa de perceber alguma intenção obscura. Parecia fácil demais.

Kylo Ren ordenou que um robô-sonda fosse enviado à terra, antes do pouso. O mecanismo enviaria informações sobre condições climáticas, estabilidade do solo, além da presença de formas de vida. Uma hora depois, as naves pousam a poucos metros do local indicado nas coordenadas informadas por Bouthor e os Troopers saem da nave de assalto e se espalham, cobrindo toda a área, aguardando as ordens de seu comandante.

Os primeiros sinais da base surgiram por entre a densa vegetação local. Kylo se volta para Shae:

—Quantas entradas?

— São três principais. No interior os acessos são interligados por túneis.

—Quero a posição dos vigias.

Ela olha ao redor, por entre as árvores e franze o cenho. Precisava fazê-lo crer que não sabia que a base se encontrava há muito abandonada. Assoviou e esperou, enquanto os soldados que acompanhavam Ren se punham em modo de defesa, alertas a algum ataque. Porém nada aconteceu.

Shae encara o Comandante e ele ordena que outro grupo de soldados se posicionasse na área atrás das árvores que circundavam a base. Outro grupo segue na frente, em direção às principais entradas do local e logo atrás, Ren, Shae e mais três soldados. Após subirem a escadaria próxima, ele vê um objeto no chão e o afasta com o pé sem que os demais percebam. É um parafuso enferrujado e o sinal dele na poeira mostrou a Ren o que ele já desconfiava.

Entraram na estrutura e desceram uma rampa sólida. Os soldados verificaram cada compartimento, cada corredor, mas nem sinal de vida. Insetos e alguma vegetação rasteira já invadiam a base e Shae olhou ao redor:

—Não é possível...

Ela se aproxima de um painel e sopra a poeira acumulada. Kylo Ren segura o sabre laser, apontando para ela:

— Nem pense nisso.

Ela recua devagar:

—Acho que serei descartada mais cedo do que esperava, Comandante.

—Não parece decepcionada.

—Na verdade, não. Nosso grupo se muda com muita frequência. Nenhum lugar é seguro o bastante...

Ele investe contra ela:

—Quero a localização atual da base...

—Essa foi a última que conheci antes de fazer a viagem interceptada por vocês. Havia um ponto de encontro onde iríamos entregar as mercadorias da nave que explodiu. Lá, certamente saberíamos onde está o novo refúgio.

Um soldado avalia os painéis e fala:

—senhor! Talvez os computadores nos digam alguma coisa.

Shae se volta pra ele:

—Não há nada neles, tenho certeza!

Ren diz:

—Verifique.

Ao dizer isso, Kylo aciona o sabre e o coloca junto ao rosto de Shae:

—Se alguma coisa nessa sala se mover, vou arrancar sua cabeça!

Ela espera e as luzes dos painéis começam a acender, enquanto telas com mapas e outros dados brilham nas placas de cristal. Um trooper analisa as informações que surgiam nas telas, quando uma imagem holográfica aparece repentinamente, fazendo Shae exclamar. Ela reconheceu o rosto de seu líder.

Kylo percebe a surpresa dela e fala:

—Quem é esse homem?

—Nosso líder.

—que tipo de registro é esse?

—Mensagens de encorajamento aos grupos. Foram suas palavras que nos restauraram a coragem e esperança de uma galáxia livre.

O guarda aperta a tecla e a imagem se expande, enquanto a voz firme e gentil do homem ocupa toda a sala de comando:

— “A Força”... Aquilo que deveria trazer equilíbrio e paz a toda galáxia, tornou-se matéria prima das maiores atrocidades cometidas contra inocentes. Diante disso, fiz uma escolha e ofereço a quem desejar... A liberdade de recusar o chamado dela. Aos sensitivos eu peço que ponderem sobre sua decisão. Não posso impor o implante contra sua vontade e nem taxa-los de meus inimigos se recusarem minha oferta... Eu conheci os dois lados da Força e garanto que ambos são escravos desse poder. Ambos são insensíveis ao que acontece com as pessoas consideradas “comuns”. No embate entre essas duas forças, os inocentes pagam com suas vidas.

Eu despertei por alguma razão e agora gostaria de mostrar um futuro diferente à todos que desejam a liberdade de escolher. O Conselho Jedi me considera um louco e os Sith não conhecem nosso movimento, mas certamente isso acontecerá em breve. Sou imensamente grato por sua coragem e desprendimento, pois nossa causa ainda é tímida diante de tudo que os Jedi e Sith já fizeram. Outros planetas nos recebem cada vez mais, nos escutam e percebem o quanto todos são afetados pela Força. Só peço cautela ao divulgarem essas mensagens. Haverá inimigos de ambos os lados que vão tentar nos deter. A galáxia será livre! Nós a faremos assim.”

Ren observa Shae. Os olhos dela brilhavam de excitação pelas palavras de seu líder. Ele comenta:

—Discurso interessante. Ele não parece um louco pra mim, ao contrário...

Shae analisa os painéis de controle e Kylo Ren diz ao trooper:

—Retire o cristal holográfico e a placa de dados. Através dessas informações, colocarei um caçador atrás desse homem. É só uma questão de tempo até a Primeira ordem capturá-lo.

A jovem sente o estômago revirar. Se não fizesse algo, a causa estaria perdida. Correndo o risco de se ferir, ela avança contra o Comandante e ergue os pulsos na direção do sabre. O metal atinge o laser, causando uma pequena explosão. Shae salta de lado e sente a pele do pulso arder onde o metal derretido encostou. No impulso, ela se joga sobre um determinado painel de controle e encontra uma saliência, colocando a mão esquerda nela.

A ação rápida liga o mecanismo de defesa da sala, fechando todas as saídas e acionando pequenas armas laser que descem de aberturas no teto, atirando em todas as direções, devido a sensores de movimento. Shae sabia dos riscos de ser atingida, mas isso não importava. Ninguém sairia dali com aqueles dados para prejudicar a causa.

Ela se agacha, enquanto os Stormtroopers tentam se esquivar dos disparos e destruir as armas. Ren usa seu sabre e treinamento para rechaçar os tiros, se esquivando para alcançar a fugitiva que engatinhava até uma parede próxima, tentando se proteger. Havia outras saídas secretas, mas os disparos não permitiam que ela as alcançasse antes que tudo fosse selado. Súbito, recordou-se do alçapão que levava a uma passagem subterrânea e ficava pouco atrás da principal mesa de controle.

Kylo Ren usou seu poder e destruiu três armas, enquanto via seus soldados serem abatidos e, lá fora, tiros atingiam as grossas portas de metal que impediam a entrada do segundo pelotão. Shae respira fundo por duas vezes e decidiu se arriscar, erguendo-se de uma vez e correndo na direção do local, rezando para não ser atingida pelos lasers.

Ela desliza pela mesa de metal, cai sobre o alçapão e tenta abri-lo. Ren destrói a última arma laser no teto e salta sobre o painel, caindo logo à frente da fugitiva. Ele a segura pelo casaco, erguendo-a do chão como se ela fosse feita de palha:

—Devia ter deixado Hux interrogá-la até que restasse apenas pó de seus ossos! Custou-me muito...

Shae segura o braço dele com força. O alçapão aberto atrás dela estava mergulhado em escuridão e ela se debate, tendo os pés longe do chão:

—Solte-me! Eu não...

Nisso, um som semelhante a um bip ecoa pela sala de controle e vai aumentando gradualmente. Alguns troopers que sobreviveram aos lasers olham ao redor e percebem o que estava para acontecer. Shae agarrou a gola do capuz de Ren e inclinou-se de uma vez em direção à passagem atrás dela. O movimento, aliado ao peso do Comandante fez com que ambos caíssem pela abertura, que se apresentava como um túnel com inclinação de 60 graus, forrada com um material deslizante e levemente acolchoado, o que absorveu parte do impacto da queda deles. Shae sentiu o corpo pesado de Ren bater contra o seu, mas ele rapidamente girou e colocou-a por cima, evitando esmagá-la na queda. Naquele segundo, todos os explosivos adormecidos da base abandonada foram acionados e iniciaram uma violenta reação em cadeia.

O pelotão que estava de vigia fora da base precisou correr às pressas para não ser atingido pela explosão. O solo rachou e pedaços de ferro e concreto foram lançados para fora perigosamente. Metros abaixo, Kylo percebeu que tudo acima deles se desmanchava, enquanto escorregavam em alta velocidade pela passagem. Destroços rolavam violentamente pela passagem, em seus calcanhares e logo os alcançariam.

Shae agarrava-se às roupas de Ren com força, enquanto mantinha os olhos fechados. Se ele não fizesse algo, seriam soterrados assim que atingissem o final da passagem. Ele concentrou-se e aumentou a velocidade de sua queda, mantendo uma distância segura das rochas, vidro e metal que vinham logo atrás. Ao fim da decida, a inclinação diminui consideravelmente e eles são lançados para uma caverna de grande proporção.

Com uma cambalhota calculada, Kylo Ren pousa a metros da passagem, tendo Shae encolhida em seus braços. Ele a deposita rapidamente no chão e gesticula na direção das rochas em crescente movimento contra os dois. Usando o poder da Força, ele segura toneladas de material e mantêm uma barreira contra o que vinha logo em seguida. O barulho do terreno que cedia acima da caverna era ensurdecedor e a pressão causada pela explosão era imensa.

Shae jazia caída a poucos passos do seu captor e observava, assustada, o poder dele se manifestando. Kylo Ren mantinha um escudo invisível que impedia de serem esmagados, mas a tortura parecia não acabar. Naqueles segundos, ele sentiu o ferimento de seu abdômen arder e gosto de sangue na boca. Sob o elmo negro, a cicatriz parecia ter aberto e a raiva tomou conta do Comandante.

Num último esforço sobre-humano, Ren ergueu imensos blocos de rocha e arremessou-os contra a passagem, selando o material que se acumulava. Shae arrastou-se até o lado oposto da ação e esperou. Ren estava de costas para a moça e ofegava. Num gesto nervoso, acionou seu sabre, virou-se e caminhou em direção à ela. Shae sentiu o calor do sabre próximo ao rosto e a voz soturna do vilão ecoou pela caverna:

—Maldita serpente!!! Eu vou...

As palavras morrem em sua boca e Ren cambaleia, caindo ajoelhado, tocando a barriga. Shae se ergue rapidamente e tenciona correr. Kylo retira o elmo negro e toca o rosto ensanguentado. O ferimento no abdômen parecia em chamas e o Comandante percebeu que o esforço para conter o desmoronamento fora demasiado para seu organismo convalescente. Lá fora, uma nave da Primeira Ordem pousa a poucos metros do local da antiga base. Havia fogo, fumaça e poeira no ar e Hux desceu da nave, avaliando as ruínas.

Um trooper aproximou-se:

—General.

—Onde está o Comandante Ren?

—Explosivos puseram tudo abaixo. O Comandante ainda estava lá dentro...

O General gesticulou e Capitã Phasma aproximou-se. Ele virou-se para ela:

—Retire o restante dos soldados. Mande instalar sondas-escâneres e me informe se houver algum sinal do vida nesse local.

Phasma assente com a cabeça e se afasta. Hux lança um último olhar para os escombros e sente uma ponta de satisfação, mas era cedo para dizer que Ren estava fora do seu caminho.

Continua...