DOMINGO - 21:35

CASA DOS PUCKETT’S

PDV GERAL

Os vizinhos dos Puckett's já estavam até acostumados com os gritos de Pam. Todos sabiam que naquela casa vivia Samantha Puckett, mais conhecida como Sam, e que sua mãe, volta e meia, berrava seu nome, quando não arremessava o que estava pela frente.

Sempre foi assim, desde o dia em que Sam aprendeu a andar, o que demorou um pouco. Melanie, sua irmã gêmea (que se parecia com ela apenas no físico), foi a primeira em tudo. Andou primeiro. Falou primeiro. Aprendeu a ler primeiro. Aprendeu a escrever primeiro. Até para nascer ela foi a primeira.

Mas Sam não se incomodava com isso, contando que ninguém a comparasse com sua irmã gêmea. Aí sim ela transformava a chateação em ódio.

—Será que dá para você parar de me comparar com a Melanie? - Em mais umas de suas discussões, Sam praticamente gritou para sua mãe.

—Eu não compararia se você fosse pelo menos um pouco civilizada! - Pam retrucou de lá.

—Você que não é civilizada - a loira rebelde murmurou num tom baixo para a mãe não ouvir, mas falhou, pois Pam tinha os ouvidos muito bons.

Geralmente, a loira mais velha arremessaria um chinelo ou uma sandália, na certeza de que assim educaria a filha, mas ela tinha uma mania ainda pior.

Vendo que Sam estava sentada no chão da sala, de frente para a TV e para a mesinha de centro, prestando mais atenção na luta de MMA do que no trabalho de geografia que devia concluir, Pam foi até ela e apanhou o caderno da filha para começar a esbravejar logo depois:

—Você chama isso daqui de letra, Samantha? É por isso que você só tira F. Ninguém entende esse garrancho seu. Exceção com ‘s’? Olha aí, não sabe nem escrever!

Pam jogou o caderno sobre a mesinha de centro com desprezo, mas ele escorregou e foi ao chão. O caderno, que já não estava em bom estado antes, teve sua capa arrancada e boa parte das suas folhas amassadas.

—Falou a semianalfabeta! - Sam retrucou quando Pam lhe deu as costas.

Diante daquelas palavras, Pam nem pensou direito. Ela apenas se virou para trás e acertou um tapa forte no rosto da loira. Não havia um só dia que Sam não terminava com as bochechas vermelhas por causa dos tapas da sua mãe.

SEGUNDA-FEIRA- 8:00

RIDGEWAY HIGH SCHOOL

—Carly! - Sam chegou perto dos armários praticamente correndo e abordou a morena que apanhava alguns livros.

—Que foi, Puckett? - Carly perguntou rindo do quão de repente Sam apareceu.

—Me empresta o seu trabalho de geografia?

—Não fez o seu? - Carly perguntou enquanto tirava seu trabalho da bolsa, mas ela já sabia a resposta.

Então Sam negou com a cabeça e sentou no chão ali mesmo para copiar as respostas.

—Sabia que a Sra. White se demitiu? - Carly perguntou enquanto via a amiga escrevendo.

—Já não era sem tempo!

—Fiquei sabendo que um cara vai substituir ela. Ouvi as meninas no banheiro comentando que ele é o maior gato.

Carly parou de falar e observou a amiga distraída com o que escrevia, como se nem a tivesse escutado.

—Sam!

—Que?

—Você ouviu o que eu falei? - A morena perguntou com certa impaciência.

—Que a Sra. White se demitiu - Sam respondeu.

—Depois disso.

A loira parou e pensou tentando se lembrar, mas não tinha como ela se lembrar de algo que ela sequer ouviu.

—Quer saber? Deixa pra lá! - Carly exclamou. Odiava aquela “mania” da amiga.

(...)

—Melanie! - Srta. Briggs chamou pela loira em sua mesa e a entregou seu trabalho de geografia. - Tirou ‘A’. Parabéns!

Melanie sorriu orgulhosamente e voltou para sua mesa.

—Sam! - Srta. Briggs chamou pela outra loira com claro desdém. - Tirou ‘F’. Como sempre! Não entendo como vocês duas podem ser gêmeas e mesmo assim…

—A gente compartilhou o mesmo útero, não o mesmo cérebro - Melanie disse desde a sua mesa.
—Ainda bem, né? - Retrucou Sam.

—Você bem queria ter o meu cérebro. - Provocou Melanie.

—Eu não sou esgoto para querer merda.

—Pode não ser esgoto, mas fede como um. - A outra gêmea retrucou e Sam não pensou duas vezes antes de voar na direção da irmã, agarrando-a pelo cabelo.

A Srta. Briggs, que nunca foi muito simpática de Sam, apenas encarou aquilo como um pretexto para colocar a loira para fora de sua sala e mandá-la à sala do diretor com uma folha de atividades, para onde Sam foi sem muito esforço.

Ao chegar lá e abrir a porta sem bater, a loira se deparou com o Diretor Franklin rindo à beça com Freddie, um ex-aluno, mas também o novo professor de inglês.

—Samantha - O Diretor Franklin exclamou ainda se recuperando do riso. - O que a senhorita aprontou dessa vez?

Sam olhou de Freddie, que ainda ria, para o Diretor Franklin e deu de ombros, respondendo num murmúrio:

—Eu não fiz nada. Aquela velha que me odeia!

—Mocinha, quando é que você vai parar de aprontar, hein? - O homem de semblante simpático disse enquanto se levantava. - Vem, Freddie. Vou te mostrar a sua sala. As coisas mudaram muito por aqui desde que você se formou. Quanto à senhorita, - o Diretor Franklin parou ao lado de Sam - me espere aqui. Depois teremos uma conversa.

A loira assentiu. Talvez o Diretor Franklin fosse o único naquela escola por quem Sam tinha um pingo de respeito.

12:10

NO REFEITÓRIO

—Carly, você sabia que o professor que vai substituir a Sra. White é o maior gato? - Sam perguntou enquanto se inclinava na mesa.

—Eu te falei hoje mais cedo, loira.

—Falou? - Fez uma careta. - Não lembro.

Então, no mesmo instante, o Diretor Franklin se aproximou da mesa onde estavam as duas amigas e disse:

—Samantha, assim que você terminar de comer, para evitar que você fique de detenção depois da aula, pegue 15 livros de inglês do 1° ano na biblioteca e leve até a sala 8.

—Detenção por que se eu não fiz nada? - Questionou a loira com uma ponta de indignação.

—Apenas leve os 15 livros e você ficará livre disso.

O Diretor Franklin não disse mais nada e saiu.

—Tudo é culpa minha! A Melanie que começa e eu que pago o pato!

Insatisfeita, Sam exclamou e se levantou com sua bandeja de comida já vazia. Enquanto Carly continuou sentada, comendo.

SALA 8

Sam deixou os livros sobre o chão e abriu a porta da sala sem esperar que encontraria alguém. Então, pegou os livros do chão e fez que ia entrar, mas para sua surpresa ela deu de cara com Freddie que apanhou os livros dos seus braços no mesmo instante.

—Eram os livros do 1° ano e você trouxe do 2°. - Disse Freddie depois de analisar os livros. - E você trouxe 13 livros.

A loira sorriu amarelo e conferiu na capa do livro o símbolo de segundo em números romanos.

—Esse é do 1° ano. - Disse ela convicta.

—Não, esse é do 2° ano.

—Então por que tem um “um” escrito aqui?

Freddie olhou para onde Sam apontava e riu sem acreditar.

—Você tá me zoando? - Perguntou o moreno com um sorriso de lado.

—Não! - Sam respondeu séria.

—Isso não é um “um”. Quero dizer… Até é, mas…

—Tá vendo? É você que não está sabendo! - A loira contou vitória.

—Não, o que eu quero dizer é que esse não é o número 1 em algarismos arábicos. Esse é o número 1 em algarismos romanos. Então, se tem dois deles, quer dizer que está sendo representado o número 2, ou seja, 2° ano.

Freddie olhou Sam e ergueu uma sobrancelha para perguntar, intrigado:

—Você não sabia disso?

—Claro que sabia! - A loira respondeu no impulso, sentindo o rosto queimar.

A verdade é que ela não sabia e estava com vergonha de admitir.

—Eu só estava zoando. - Ela continuou e pegou os livros de volta dos braços de Freddie. - Vou lá trocar.

Então Freddie ficou ali parado na porta da sala, observando a loira se distanciar com os livros nos braços, até que ela sumiu de seu campo de visão e ele entrou na sala novamente rindo baixo. Ele achava que aquele havia sido um incidente engraçado, mas mal sabia ele que os “incidentes” não iriam parar por aí. Havia muito mais para ser descoberto.