AINDA NA SEGUNDA-FEIRA

PDV GERAL

Quem passasse em frente à sala 8 naquele momento, ficaria chocado com o silêncio. Nem parecia que havia 15 adolescentes lá dentro. E o mais impressionante talvez era notar que estavam todos concentrados na aula de inglês. Claro que cada um tinha o seu próprio motivo para concentrar, mas o mais importante era a estranha maneira com que Freddie prendia a classe.

—Alguém pode me dizer algum grande autor da literatura americana? - O moreno perguntou em pé no centro da circunferência feita pelas mesas dos alunos.

Grande parte das garotas da sala ergueram suas mãos para responder com uma empolgação que qualquer outro professor estranharia. A única que não ergueu a mão foi Sam. Então, ainda curioso com o incidente de mais cedo, Freddie propositalmente ignorou as demais alunas e perguntou à loira:

—Sabe me dizer o nome de algum, Samantha?

A loira pensou por algum instante, sentindo todos os olhares sobre ela.

—Shakespeare? - Ela mais perguntou do que respondeu.

A classe toda riu, exceto Carly e Freddie.

—Não, Shakespeare é inglês. Mas… Boa tentativa! Ele foi um grande autor.

O moreno girou sobre seus calcanhares, escolhendo outro aluno para responder, até que, coincidentemente ou não, apontou para Melanie, que prontamente respondeu:

—Ernest Hemingway, Jack London, Jack Kerouac…

—Certo, certo! - Freddie exclamou risonho vendo que a loira parecia estar a fim de nomear uma longa lista. - Pelo jeito, você conhece bem a literatura americana.

—É que ao contrário da minha irmã, eu estudo. - Melanie respondeu enrolando uma mecha do cabelo no dedo indicador enquanto olhava para Sam do outro lado da sala.

—E se continuar falando merda, daqui a pouco, ao contrário de mim, você não vai ter dentes também. - A loira ameaçou.

—Meninas, se acalmem! - Freddie exclamou e tentou retomar a aula. - Mas, bem, que bom que a Melanie citou o Ernest Hemingway, pois vamos começar a aula de hoje com um trecho do livro dele, O Velho e o Mar. Então, abram seus livros na página 19. Alguém se voluntaria a ler?

Freddie olhou ao redor e percebeu que desta vez, curiosamente, ninguém ergueu a mão.

—Se ninguém se voluntariar, eu vou escolher, hein! - Freddie “ameaçou”, rindo.

Mas mesmo assim ninguém se ofereceu.

—Certo! Então… Lê para a gente, Samantha? - O moreno perguntou a Sam, pois a havia visto se esconder atrás da mochila.

Melanie riu alto e disse:

—Ela nem sabe ler!

—Fica na sua, Melanie! - Sam retrucou, vermelha de raiva e vergonha.

Ignorando a provocação da outra gêmea, Freddie insistiu olhando para Sam:

—Você começa a ler?

A loira respirou fundo e olhou para o próprio livro, ficando alguns longos segundos em silêncio, como se ordenasse seus pensamentos. Por fim, começou a ler com um tom de voz extremamente baixo, tão baixo que Freddie precisou chegar mais perto para escutar.

—O fe...felo

Quase toda a classe caiu na gargalhada, mas Sam tentou manter o foco.

—O vel… O velho! - Exclamou quando conseguiu como se fosse uma grande vitória, e talvez até fosse. - O velho ben… bensa… fa… O velho… Pensava!

—O velho bensafa.— Melanie repetiu em meio a risada. - Que palavra é essa, Sam?

—Melanie! - Freddie tentou repreender a garota, mas mal se virou para olhar a loira que ria e viu Sam saltar no meio da roda e literalmente voar em Melanie, passando por cima da mesa e a derrubando no chão.

Pronto! O alvoroço estava feito. Os demais alunos começaram a gritar, agitando a briga, enquanto Freddie tentava separar as duas irmãs que trocavam chutes, tapas e socos. Carly até tentou ajudar, mas nem ela deu conta.

A NOITE - 19:36

APARTAMENTO DE FREDDIE

—E aí? Como foi o seu primeiro dia? - Gibby perguntou desde a porta da cozinha enquanto Freddie servia um pouco de café.

—Regular. Pelo jeito, eu tenho uma aluna que não sabe ler.

Gibby riu e perguntou:

—Não sabe?

—Quero dizer, ela parece ter dificuldade. E o pior é que ela tem uma irmã gêmea que tipo… A garota é até proeminente, sabe? Tipo ela é uma boa aluna e tal, mas vive provocando a irmã que tem dificuldade. Você acredita que a garota não sabe nem o que são números romanos?

—Tem certeza que tá dando aula para o 1° ano do ensino médio?

Freddie riu disfarçadamente da piada do amigo e coçou os próprios cabelos enquanto bebia um pouco do seu café.

—Mas é complicado, sabe? - O moreno continuou absorto em seus pensamentos. - Quero dizer, se não trataram essa dificuldade dela até agora…

—Vai ver que a garota não gosta de estudar. - Gibby ponderou.

—Talvez, mas… Sei lá.

Os dois amigos deram de ombros e ficaram em silêncio por alguns segundos, até que um som de notificação soou. Então Freddie tirou seu celular do bolso e checou.

—Ha! Não acredito nisso.

—O quê? - Gibby perguntou curioso e foi até Freddie.

—A garota de que estamos falando me mandou convite no Facebook.

Gibby riu alto.

—Te falei! Ela não deve gostar de estudar, mas para outras coisas ela é boa.

—Você acha que eu devo aceitar? Tipo…

—Cê que sabe, irmão! - Gibby exclamou e bateu uma mão no ombro de Freddie a caminho da geladeira. - Só te digo que essas adolescentes são danadas!

Freddie riu e foi para a sala enquanto clicava no botão “aceitar”.

CASA DOS PUCKETT’S

Sam estava sentada em frente ao computador em sua casa. Seu caderno de desenhos estava sobre a mesa do PC, enquanto ela procurava distraidamente por desenhos na internet para reproduzir. Com fones no ouvido e totalmente alheia ao que sua irmã fazia no sofá com um colega de escola, a loira largou sua pesquisa por desenhos de lado quando viu a notificação de que Freddie havia aceitado seu convite.

Então apanhou seu celular apressadamente e mandou uma mensagem para Carly, dando a notícia. Em seguida, enquanto sua amiga não respondia, voltou ao Facebook e navegou pelas fotos do moreno com um sorrisinho de lado no rosto.

—Aí, Sam! - Melanie chamou pela loira de repente.

—Que foi? - Sam perguntou olhando para trás e vendo a irmã de mãos dadas com o tal garoto, ambos em pé perto da escada que dava para o segundo andar.

—Sabe se a mãe tem camisinha?

—Não! - A loira respondeu rispidamente e voltou sua atenção para o computador.

Melanie por outro lado simplesmente bufou irritada com a irmã e puxou o garoto escada acima.

Quanto a Sam, assim que viu a irmã subir, pegou o celular novamente e mandou um áudio para Carly.

“A Melanie tá dando para o Vernon de novo. É uma puta igual a minha mãe! Tomara que ela pegue herpes.”

Isso não era algo para se desejar para uma irmã, mas Sam não queria saber. Considerava muito mais Carly como uma irmã do que Melanie.