2012

2012, ano em que fechei mais um ciclo em minha vida. Todos nós do elenco havíamos trabalhado nisso durante seis anos e, embora fosse recompensador, estávamos completamente exaustos. Chegar de algo nunca é agradável, principalmente porque, cada vez que um ciclo se fecha, muitas coisas ficam para trás: hábitos, gostos, histórias... Pessoas.

Há pessoas que cruzam nossas vidas para marcar. Comigo não foi diferente.

Chegar ao fim daquele ciclo não foi uma tarefa tão fácil quanto eu pensei que seria. E isso não se deu pelo fato de eu estar me despedindo de um momento tão significativo para minha carreira e de pessoas com as quais eu não saberia viver sem. Não era esse o motivo pelo qual meu coração estava tão partido. Na verdade, eu sabia que algo mais forte estava se rompendo naquele momento. Algo que eu não poderia mais conter. Eu tinha certeza que, a partir do momento em que eu colocasse os pés naquele avião de volta para casa, o meu coração ficaria, e com ele parte de mim. E nada nunca mais voltaria a ser como foi um dia. Nunca mais.

2007

"Querido diário, desculpe por estar tão ausente nos últimos dias, minha vida virou de cabeça para baixo desde quando eu fui escolhida para o elenco principal da série para qual da qual eu tanto escrevi aqui. Depois de tantos testes, finalmente eles entraram em contato. Neste exato momento estou arrumando minhas malas para me mudar para New York, não é incrível? Não faço ideia do que o futuro tem reservado para mim, mas estou disposta a encarar para conquistar meus sonhos. Não sei se terei muito tempo para escrever, mas prometo que os melhores momentos estarão registrados aqui."

Leighton Marissa Meester

07/04/2007

Alguns meses haviam se passado desde o dia em que eu escrevi pela última vez no diário que eu carregava comigo desde os 12 anos de idade. Desde quando assinei o contrato com os produtores executivos da série, minha vida não foi mais a mesma. Agora, estávamos no ar com alguns episódios e gravando outros, mal sobrava tempo para mim ou para relatar tudo em meu diário. Mas, por acaso, em uma manhã de um dia que parecia ser o início de apenas mais um dia normal, encontrei-o jogado no meio da bagunça, que instalou-se em meu quarto desde o dia em que me mudei. Folheei o caderno rosa com plumas com carinho e quando finalmente cheguei à última página senti um aperto no peito. Sorri ao relembrar esse momento da minha vida, e meus olhos se umedeceram rapidamente ao fazer uma breve recordação da minha trajetória até aquele dia.

Nasci em Fort Worth, região metropolitana do Texas, e pode-se dizer que a presença do drama em minha iniciou-se bem cedo. Minha família não era nem de longe bem estabilizada financeiramente e isso levou meus pais a optarem por um estilo de vida um tanto alternativo e ilegal. Em razão disso, nasci durante o período em que minha mãe, Constance, cumpria pena em uma prisão. Graças a minha avó materna, pude desfrutar dos meus primeiros anos como uma criança normal até meus pais retornarem para casa.

Após esse momento difícil, minha família fixou residência na Flórida, onde eu já vivia com minha avó Grace. Minha mãe, então, finalizou os estudos e tornou-se jornalista. Porém, ganhava a vida como cronista em um pequeno jornal local. Ela não ganhava muito, mas era o suficiente para que pudesse sustentar a nossa família. Enquanto isso, meu pai, Doug, tentava a vida em empregos temporários.

Minha infância foi especial para mim, pois foi quando eu me descobri atriz. Desde pequena eu não perdia a chance de participar das produções teatrais da escola. Em pouco tempo, eu estava atuando nos palcos de teatros de verdade. Meu sonho era ser uma grande artista para ter uma vida confortável e ajudar minha família.

Quando eu tinha apenas 10 anos, meus pais se separaram. Meu irmão, Lex, e eu ficamos com nossa mãe. Por esse motivo, quando minha mãe recebeu uma proposta de emprego para trabalhar em uma editora em Nova York, ela não recusou. Então, nós nos mudamos, eu tinha 11 anos e lá encontrei-me com uma nova vida, cheia de oportunidades e grandes acontecimentos.

Os três anos em que vivi foram importantes para o meu crescimento como artista. Trabalhei como modelo para algumas marcas famosas, como Ralph Lauren. Além disso, estudei em uma escola que formava artistas de todos os gêneros.

Aos 14 anos, a Sra. James, uma professora, pela qual tenho grande apresso e profunda gratidão, indicou-me para iniciar meus estudos na Beverly Hills High School. Um colégio público, porém muito respeitado pelo conselho estudantil do país. E a melhor parte era que eles tinham um grande departamento de teatro e artes cênicas que, segundo ela, abriria grandes portas para mim.

Minha mãe aceitou e entendeu a proposta, pois sabia que seria bom para mim. Além disso, ela havia recebido uma oferta de emprego para ser cronista em um jornal de São Francisco, que também fica na Califórnia. Em poucos dias, nos mudamos e fixamos moradia em Los Angeles, mais precisamente, no mesmo bairro em que localizava-se o meu novo colégio.

Em LA, eu me apaixonei pela vida. Amava cada canto daquela cidade. Nunca me senti tão bem em um lugar como estava me sentindo naquele momento. Adorava a sensação de estar próxima ao mar; de poder patinar no fim da tarde, ver pessoas coloridas e bronzeadas, das mansões belíssimas, das boas festas e de estar vivendo uma vida tranquila em um lugar que emanava uma energia boa até mesmo em dias nublados.

Em LA, eu me sentia viva. Talvez, essa sensação se devia ao fato de eu estar vivendo uma nova fase. E, embora eu fosse apaixonada por NY, sentia que aquele seria o meu lar.

Quando se é pobre, torna-se um pouco mais difícil investir na carreira e, por isso, passei os primeiros seis anos na nova cidade fazendo vários testes por mês e pequenos trabalhos até conseguir meu primeiro papel em uma série de TV.

Ainda lembro do quanto comemoramos essa conquista, mas a minha grande decepção aconteceu quando recebi a notícia de que a série havia sido cancelada, após a exibição de dois episódios. Ainda não havia passado por aquele tipo de situação e aquilo foi como um soco no estômago para mim. Minha personagem era misteriosa e um tanto intrigante. Eu realmente gostaria de saber qual seria o destino dela, mas isso não aconteceu.

Essa decepção fez com que eu parasse de fazer testes por um longo período de tempo. Passei por um longo estágio de depressão. Eu não saía de casa, não comia bem e cheguei a pensar em desistir da carreira de atriz.

Até que um dia a sra. James, que tanto havia me ajudado no passado, encontrou-me enquanto eu lia em uma cafeteria próxima a minha casa. Ela contou-me sobre as audições para uma nova série que seria ambientada em Nova York. Ela disse que era uma grande chance e que eu deveria me candidatar para um papel que eu adorava interpretar quando criança na Pupils NY Art School: a menina rica e mimada que vivia no Upper East Side. Ela me apresentou centenas de argumentos e garantiu que se os produtores fossem realmente bons, reconheceriam meu talento. Naquele momento da minha vida, eu achava que não tinha mais nada a perder, então eu decidi inscrever-me.

A série retrata a vida de jovens ricos que pertencem à elite do Upper East Side de Manhattan, em Nova York. Toda a história inicia-se quando Serena van der Woodsen retorna à cidade, após passar seis meses escondendo-se em um internato. Essa ausência fez com que Blair Waldorf, sua melhor amiga, ficasse magoada, pois a amiga se foi sem dar notícias no momento em que ela mais precisava de alguém para contar, devido a graves problemas familiares. Por esse motivo, a jovem lidou com a situação do jeito que só ela sabia, por meio de uma vingança. Manipulou todas as mean girls para que Serena fosse excluída e esse era só o começo de toda a história. Todos esses acontecimentos eram narrados por uma blogueira anônima que era conhecida pelo pseudônimo "Gossip Girl".

Desde o início, eu me apaixonei pela personagem Blair. Ela era exatamente como a personagem Sofia, que eu havia interpretado quando criança. A personagem foi apresentada como uma jovem de estatura média, olhos castanhos e longos cabelos da mesma cor. Sua beleza não poderia ser comparada a nenhuma outra menina, nem o veneno que corria em suas veias. A frase mais conhecida da série de livros que inspiraram a série para a TV "você sabe que me ama" representava a personalidade dela. Ela estava sempre bem vestida, como se seu corpo fosse uma vitrine das marcas mais famosas e caras do mundo. Ela conhecia seu poder e sua inteligência, e isso a tornava um ser arrogante.

A descrição física da personagem batia exatamente com quem eu era, exceto a cor do cabelo. Meus cabelos eram naturalmente loiros com um tom mais puxado para o mel, por isso, eu certamente teria de escurecê-los. Uma mudança no visual sempre faz bem.

Foram longas semanas desde a preparação até o meu último teste em Dezembro de 2006. Em Fevereiro de 2007, recebi a melhor notícia de toda a minha vida. Eu havia sido escolhida, depois de aproximadamente 15 ou 20 tentativas. Naquele momento, eu entendi que, na vida, tudo tem um tempo certo para acontecer. Nosso trabalho é nos esforçar, esperar e nunca desistir dos nossos sonhos, porque eles batem a nossa porta quando menos esperamos.

Obrigada, Sra. James.

Quando iniciamos a série em 2007, estipulei algumas regras, para poder ser bem sucedida em minha carreira. Uma delas era a promessa que fiz a mim mesma de não me envolver com nenhum colega de trabalho, no sentido amoroso. Não me julgue, estava no meio artístico há um tempo e sabia que essa experiência dificilmente dava certo. Além disso, eu havia passado por uma situação amorosa muito traumática anos mais cedo, da qual eu não gostaria de lembrar. Era um projeto novo e completamente diferente para mim. Eu não conseguia prever o futuro ou esperar por algo concreto no início, mas estava feliz por participar de uma grande produção ambientada no coração de Nova York, a cidade que me fez desabrochar como atriz.

Sair da tranquilidade de Los Angeles para passar a viver em uma cidade tão agitada, novamente, me deixou realmente assustada. Eu já conhecia o ritmo da cidade, mas eu era uma criança e não tinha a responsabilidade de viver sozinha em meio àquela loucura e com um turbilhão de emoções dentro de mim. Felizmente, eu não era a única a passar por isso. Não estava sozinha nessa nova fase. Éramos vários jovens assustados e, de certa forma, inexperientes. Compondo o elenco principal em um projeto que mais tarde viria a ser o grande pivô da minha ascensão ao estrelato.

Meu maior desafio foi me tornar Blair Waldorf. Sempre vivi de maneira muito simples e singular. Não era adepta aos grandes estilistas, não andava de limusine para todos os lugares e, sinceramente, eu odiava saltos. Queria sempre estar confortável e ser invisível.

Difícil de acreditar? Para mim também é. Tornar-me um ícone da moda e ser uma inspiração para tantas jovens em todo o mundo não estavam, nem de longe, nos meus planos. Mas, as coisas tomaram proporções gigantescas e, quando me dei conta, não dava mais para segurar, uma grande onda passou por mim e a personagem ganhou vida própria. Ela era eu e eu era ela. Não era possível olhar para mim sem enxergar a rainha da Constance. A menina Leigh havia ficado para trás. Eu ainda era a mesma pessoa, a menina simples, que enfrentou grandes desafios para chegar onde chegou, porém estava vivendo uma nova fase.

Uma fase que mudaria minha vida de um jeito surpreendente.

Trabalhamos intensamente durante todo o ano de 2007. Tudo que fazíamos tinha de estar perfeito e, embora estivéssemos um tanto inibidos, rapidamente nossos personagens encontraram seus lugares dentro de nós.

Estar em um novo projeto é como começar em uma escola nova. Todos estão passando pelos mesmos conflitos, ninguém se conhece e você sente uma necessidade imensa de fazer amizade com seus colegas para que a convivência em grupo seja amigável.

Surpreendentemente, todos nós do elenco nos demos bem logo no início. Foi um longo período entre audições e preparação até iniciarmos as gravações. Tivemos tempo para nos conhecermos. O fato de estarmos todos no mesmo barco, fez com que nascesse no meio de nós um clima de cumplicidade e respeito.

Todos sempre foram muito parceiros e profissionais excelentes. Em alguns momentos, ao terminarem as gravações, nos juntávamos em algum lugar para conversarmos, cantarmos e até mesmo jogar jogos de tabuleiro. Atividades desse tipo eram muito frequentes. Éramos como família.

Esse clima de família se iniciou a partir do momento em que estávamos trabalhando para a gravação do episódio piloto. Moramos todos em um mesmo hotel durante todo aquele período. É engraçado lembrar como a vida era diferente para nós naquela época. Poderíamos ir a qualquer lugar sem sermos reconhecidos. Éramos pessoas normais, não havia assédio do público nem da imprensa. Apenas jovens corajosos que estavam lutando por uma vida melhor.

O episódio piloto de uma série carrega consigo uma responsabilidade muito grande. Em um primeiro momento, parece que é apenas mais um episódio. Mas, a verdade é que o trabalho inicial é mais árduo do que todo o resto da série.

Os desafios eram enormes. Tínhamos de lutar diariamente contra o medo e a ansiedade. Tivemos de nos adaptar a uma cidade nova, a pessoas novas e a um estilo de vida completamente diferentes. Felizmente, eu pude contar com meus colegas e com toda a equipe que nos tratavam com muito carinho.

De todos os membros do elenco, Ed Westwick foi uma pessoa que despertou minha curiosidade. Contracenávamos a maior parte do tempo juntos, mas nunca havíamos passado mais de meia hora conversando. Ele era realmente muito tímido e fechado, e isso me instigou a conhecer mais sobre o meu maior e melhor parceiro de cena.