"In front of your eyes, it falls from the skies when you don't know what you're looking to find [...] I don't want this moment to ever end." – "Bem diante dos seus olhos, cai do céu quando você não sabe o que está procurando [...] Eu não quero que esse momento termine."

(With me, Sum 41)

Aquela era uma manhã agradável, o sol aparecia um pouco tímido, mas sua presença era notória. A temperatura estava amena, por isso, eu estava vestida com de meus suéteres mais confortáveis, ele era feito de crochê em um tom off white, havia sido um presente da minha avó materna. Combinei a peça com um jeans um pouco surrado e botas de couro marrom. Deixei meus longos cabelos (agora castanhos) soltos e saí de cara limpa. Eu nunca me dei bem com maquiagens e as usava apenas em casos de emergência.

Depois de termos nosso episódio piloto aprovado, todos nós precisávamos encontrar lugares para morar em NY durante as gravações do novo episódio. Por esse motivo, eu aluguei um flat pequeno, mas bastante confortável, com a pequena quantia que eu havia economizado. Como passávamos pouco tempo em casa, era o lugar ideal para apenas descansar.

Por esse motivo, eu havia acordado mais cedo para estudar alguns textos e tomar um café da manhã tranquilo, sem correria, como costumava ser. Optei por fazer isso no Au Lait, um Café simples e pouco movimentado, em um lugar mais afastado do centro. O ambiente transmitia paz até mesmo em sua decoração. Não havia nada muito elaborado. Apenas mesas altas com banquetas de madeira, posicionadas próximas ao paredão de vidro temperado que cobria toda a fachada da loja. No meio da loja havia um balcão de madeira escura em forma oval e nos cantos que cercavam o balcão havia outras mesas, mas com acentos acolchoados. As cores escolhidas para o lugar transitavam do marrom para o bege bem claro e o estilo anos 80 era notório em cada canto daquele estabelecimento. Esse café havia se tornado o meu lugar favorito durante aquele momento tão confuso de adaptação. E agora que a série estava ganhando popularidade, eu precisava de lugares calmos, onde eu pudesse ter um momento só para mim.

Estava tão entretida em minha leitura que não notei que alguém havia sentado na mesma mesa que eu. Mas, para minha surpresa, era alguém que eu gostaria de encontrar.

— Hey, Chuck. — Falei em tom divertido. Era o nome do personagem de Ed Westwick na série.

— Você sabe que o Chuck não estaria em um lugar como este a essa hora da manhã. Provavelmente ele estaria bêbado depois de uma noite de farra com garotas bonitas. — Ele disparou e sorriu com o canto da boca. O jeito de falar dele era completamente agradável, sentia que poderíamos ser bons amigos, pois eu poderia ficar escutando-o falar por horas. Além disso, ele tinha um sotaque britânico que poderia fazer qualquer garota americana pirar. Que sotaque! Eu estava acostumada a ouvi-lo forçando um sotaque americano para as gravações e isso o fazia estar tenso em boa parte do tempo. Vê-lo assim, natural, com os cabelos despenteados e um look composto por uma blusa xadrez de mangas compridas, jeans e botas, me fez vê-lo de uma forma diferente da última vez em que contracenamos juntos. Isso com que meu coração disparasse um pouco mais rápido do que o normal e eu não gostei nada daquele descontrole emocional dentro de mim. — E o que Blair Waldorf faz em um bairro afastado tão cedo? — Ele interrompeu-me como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.

— Certamente, ela está tramando algo. — Rimos tão alto que as pessoas se viraram para nos olhar. Ainda não éramos tão conhecidos, apenas o público mais jovem conhecia a série, mas ainda não havia tanto assédio. Em dois anos, aquela conversa nunca teria acontecido sem, pelo menos, uma dúzia de fotógrafos plantados do lado de fora e uma nota de "escândalo" sobre as nossas cabeças.

— Prefiro não perguntar, pois ainda não tomei meu café. Você já pediu?

— Sim. Já tomei dois, mas estava prestes a pedir outro e me esqueci. Estava distraída com o texto. — Apontei para os papeis espalhados na mesa.

— Uau! Coffeholic... — Ele brincou. Sua voz era um pouco grave, de forma rouca e aveludada, era como se ele sussurrasse as palavras.

— Sou mesmo! — Falei séria — Não consigo ficar sem tomar 4 ou 5 copos por dia. — tombei um pouco a cabeça para o lado e dei um sorriso simpático — Mas, como eu estava dizendo... Para falar a verdade, estava pensando em você. — Falei em tom sério e ele espantou-se.

— Em mim? Estou fazendo você se apaixonar duas vezes? — Soltei uma gargalhada. Não fazia ideia do quanto ele era divertido.

— Não seja tão convencido, nós quase não nos falamos fora das gravações. Estava pensando nisso enquanto lia esta cena. — Mostrei-lhe o papel e apontei para o número da cena. Não precisei explicar, ele sabia do que eu estava falando. Era o texto do sétimo episódio da primeira temporada, "Victor, Victrola". — Estava pensando enquanto lia... Como faremos essas cenas se não nos conhecemos direto? Seria muito mais interessante para o público se tivéssemos uma química. — Levantei uma sobrancelha.

— Não conhecia essa regra, achei que fosse sexo casual. — Ele deu um sorriso tímido, parecia que aquela frase havia saído sem o seu consentimento, pois ele voltou os olhos para o próprio pé e projetou um biquinho após dar um sorriso tímido. Em seguida, ele começou a observar a rua através do vidro que compunha a fachada do lugar. Me peguei com o olhar preso em seus lábios enquanto ele sorria. Depois disso, comecei a analisar cada detalhe de seu rosto. Ele não era o homem mais bonito que eu havia conhecido na vida, mas, com certeza era o mais charmoso. Seus cabelos, que normalmente estavam penteados para gravar, agora estavam jogados para o lado, o que contrastava com suas sobrancelhas grossas e compridas. Na maçã de seu rosto, pequenas sardas surgiam de maneira sútil e eram notórias em sua pele branca. Mas, nada se comparava ao brilho que cintilava em seus olhos no momento em que eles entraram em contato com a luz do sol. O castanho claro tornou-se mel e aquela cena me fez parar de respirar por um segundo. Até que ele virou-se e flagrou-me fitando-o descaradamente.

— Acredito que não. — Continuei a falar, de forma desajeitada, tentando disfarçar o vexame. Será que ele havia notado? Minhas bochechas ficaram quentes e certamente ficaram vermelhas. — Eu sinto que o Chuck e a Blair ainda vão ter uma história. Acho que estamos prestes a nos tornar um casal. Já parou para pensar? — Sorri e toquei sua mão de forma amigável.

— Vendo as coisas por esse ângulo, acho que você está certa. Podemos ser amigos? — Ele estendeu a mão esquerda para que eu apertasse.

— Acordo selado! — Apertamos as mãos e senti uma espécie de choque quando nos tocamos. — A-acho que precisamos mesmo ser amigos — Minha voz saiu trêmula porque algo dentro de mim havia dado pane. Acho que foi meu cérebro. Aqueles sentimentos estavam fora de cogitação naquele momento da minha vida. Não era possível que alguém pudesse sentir algo tão estranhamente forte no primeiro encontro (que, na verdade, não era um encontro). Estava agindo como uma adolescente e eu não sabia o motivo. Minha única certeza era que aquelas contrações em minha barriga precisavam parar, pois eu não ia permitir que mais uma vez a emoção ultrapassasse a razão. Ao mesmo tempo, eu não queria que aquela manhã chegasse ao fim.

— Sabe, Leigh... — ele hesitou, parecia estar escolhendo, com bastante cuidado, suas palavras. — Estou feliz por ter começado o dia aqui com você. — ele falou de uma vez só e olhou-me nos olhos.

Droga! Meu coração acelerou novamente.

— Não quero que essa manhã acabe. — ele continuou e me desconsertou por inteira.

Mas, espera aí... ele só pode ter escutado meus pensamentos porque eu...

— Me sinto da mesma forma. — Reproduzi meu pensamento em voz alta, mas não me senti envergonhada por ter dito aquilo, era meu coração falando.

Passamos por um longo momento de silêncio enquanto nos olhávamos e sorríamos um para o outro, parecia que estávamos em uma outra dimensão. O que era aquilo?­ Até que, felizmente, o garçom pigarreou ao nosso lado.

Nossos pedidos chegaram e, quando nos demos conta, faltavam apenas dez minutos para iniciarmos as gravações. Seríamos os primeiros a gravar naquele dia e precisávamos correr.

Santo relógio! Estava prestes a cometer o erro de deixar meu coração falar mais alto. Espero que seja apenas fruto da boa impressão que ele me causou.

Na pressa, tropecei no pé da mesa e ele me segurou, mas não conseguiu evitar de me fazer derrubar todo o café em meu suéter de cor clara. Ainda bem que os meus papeis já estavam dentro da bolsa, o pessoal não gostava muito quando nós perdíamos os textos, tínhamos de ser responsáveis. Logicamente.

—Eu sinto muito. — Ele disse ainda segurando minha mão. E eu observei que havia uma mancha marrom enorme em sua blusa.

— Minha nossa, me desculpe, sou muito estabanada com essas coisas. — Falei tentando limpar o estrago com a mão — O ritmo de NY ainda não me contagiou. — Ri da minha própria piada para não parecer tão estúpida. Mas não adiantou.

— Não se preocupe. Estou mesmo é preocupado com você. Seu suéter está todo manchado agora. — Ele exprimiu uma feição triste — Peça outro café, fica por minha conta.

— Não vou recusar! Está tudo bem, estou vestida por baixo. — Tirei o casaco e observei enquanto ele assinava o papel da conta.

— Canhoto... Britânico... Tem como você ser mais peculiar?

— Também sou um ótimo poeta e um dos melhores kissers da cidade. — Ele abriu a porta

— HAHAHA! — Ri de forma sarcástica — ­Eu aposto que suas poesias são boas! — Sorri e agradeci quando ele abriu a porta para que eu passasse. — Mas, sobre ser ou não um bom kisser, nós saberemos mais tarde.

Saímos e uma brisa gelada me atingiu com tanta força que eu não pude disfarçar o tremor, estava apenas com uma blusa branca básica, de alças finas. Ele, por outro lado, estava bem vestido e coberto por uma jaqueta de couro preta

— Toma. Use o meu casaco. — Ele o colocou sobre os meus ombros, antes que eu pudesse dizer algo.

— Obrigada. — Segurei com uma mão.

— Eu seguro suas coisas — ele pegou minha bolsa e meu café. — Não queremos que nossa estrela congele, ainda não fechamos a temporada. — Ele riu.

— Já imaginou as manchetes? "Morre atriz desconhecida sem nem ao menos sabermos quem ela é." — Percebi uma ponta de ressentimento em minha voz.

— Não fala assim! — Ele passou o braço esquerdo por cima do meu ombro — Eu sinto que a série ainda tomará proporções gigantescas e não conseguiremos mais ter uma manhã agradável como essa. Você se lembra quando nós gravamos o piloto? — eu concordei com a cabeça — As pessoas paravam para olhar, apenas para observar o motivo da movimentação, depois continuavam a caminhar normalmente. De repente, as pessoas começaram a surgir nas locações.

— Foi agradável mesmo, apesar de sua camisa estar suja por minha causa.

— Sem problemas, é só abrir um pouco. — Ele devolveu minhas coisas e desabotoou três botões de sua camisa.

Saímos em busca de um taxi e não encontramos. Um clássico em New York City. A cidade já havia parado e estávamos expostos àquela confusão. Depois de muito esperar, decidimos pegar um metrô e nos assustamos quando algo inusitado aconteceu. Fomos reconhecidos por algumas meninas que andavam por ali vestidas com uniformes escolares. Eram crianças, mas já faziam parte da real elite escandalosa de Manhattan.

Nossos episódios estavam há pouco tempo no ar, mas parecia que elas já estavam por dentro do que estávamos fazendo e nos conheciam. Elas não pediram autógrafo ou foto, apenas nos abordaram de um jeito muito diferente.

— Oi, vocês são atores daquela nova série, certo? — Uma das meninas falou. Concordamos. Ela tinha belos olhos azuis e cabelos castanhos bem longos. Todos os seus acessórios possuíam tons de rosa. De longe, não parecia ser tão jovem. A produção era um pouco pesada. A amiga que a acompanhava parecia ser uma cópia dela, exceto pelos cabelos loiros e com um corte Chanel. Ela estava vestida exatamente como a outra, porém seus acessórios possuíam um tom de azul celeste que combinava com a cor de seus olhos.

— Ótimo! Faça! — A menina morena ordenou e outra fotografou-nos.

A dupla de meninas saiu rindo e nós ficamos sem entender o que havia acabado de acontecer. De fato, era muito assustador saber que as loucuras que fazíamos na série, aconteciam ali, bem perto de nós. Preocupei-me com o destino que aquela foto tomaria.

— Acho que temos fãs. — Ed disse enquanto descíamos as escadas para o metrô.

— Espero que sejam. Ou nossa vida real vai se tornar uma extensão de Gossip Girl. — Eu ri, pois eu queria que fosse uma piada, mas ele ficou sério, silencioso e pensativo.

— Vamos correr. Estamos muito atrasados. — Mudando o foco do assunto, ele puxou-me pela mão e eu fui arrastada no meio da multidão.

Tomamos o metrô lotado. NY era tão maravilhosamente agitada e superlotada que chegava a encantar. Estava acostumada com o sossego, mas aquela agitação toda me mantinha energizada. Não era à toa que aquela havia se tornado a minha cidade favorita no mundo todo.

Durante o caminho, conversamos bastante. Rimos. Por alguns minutos, nos esquecemos de que estávamos atrasados e que aquilo iria nos custar uma boa chamada, mas estava valendo a pena. Até aquele momento, eu não havia me divertido tanto com a alguém como com ele.

Estava tudo bem, até que meu telefone tocou.

— Hey, Leigh. Onde você se meteu? — Era Blake, outra companheira de cena. Ela atua como Serena, a melhor amiga de Blair na série. Na vida real, não tínhamos toda a cumplicidade de nossas personagens. Na verdade, havíamos trocado telefones há poucos dias e eu realmente não imaginava que ela se preocuparia com o meu paradeiro.

— Olá, eu estou a caminho. Tive um... mmm... — Voltei o olhar para Ed, que me olhava um tanto aflito. — Estou no metrô.

— Metrô? Sério? — ela deu uma risada sarcástica — Vocês perderam a noção? — Ela usava um tom de voz alterado.

— Perdemos...? Eu... Como você sabe que eu não estou sozinha? — Minha voz estava trêmula, pois o modo como ela falava estava me deixando tensa.

— Quem está com você? — Ela bufou — Estava falando sobre o Ed, porque ele também não apareceu ainda — Gelei por dentro — Quer saber?! Não interessa. Você precisa estar aqui agora. — Aquela maneira de falar não combinava com a Blake, senti que havia algo a mais, nosso atraso não era um motivo de tanta preocupação para ela. — Aconteceu alguma coisa, Josh e o diretor estão enfurecidos, andam de um lado para o outro, falam ao telefone e perguntam por você e pelo Ed, enquanto Stephanie tenta acalmá-los — ela respirou — Por falar nisso, você sabe onde ele está? — Seu tom de voz havia mudado.

Josh e Stephanie eram os produtores da série e nos tratavam como pais. Josh devia estar em um dia ruim e esse atraso era a gota d'água para ele.

— Eu preciso desligar, chego em cinco minutos.

Chegamos ao destino e corremos tanto que minha barriga se contorcia. Mantivemos o ritmo e, enfim chegamos ao estúdio em que gravaríamos as cenas iniciais. O estúdio A era o lugar onde grande parte dos cenários foram montados. Um desses lugares era a cobertura em que eu, quer dizer, minha personagem vivia.

— Nada mal para uma manhã de sexta. Vamos repetir amanhã? — Eu disse ofegante, enquanto caminhava para dentro do estúdio. As primeiras tomadas daquele dia seriam gravadas no lobby da cobertura da Blair.

— Acho que amanhã vou optar por dormir até mais tarde. Essa corrida valeu pela semana toda. — Rimos juntos do nosso péssimo preparo físico.

Continuamos conversando animadamente e sorríamos como se fôssemos amigos de uma vida inteira.

— Era de se esperar! — Uma voz bastante conhecida surgiu no fundo do cenário ecoou por toda a sala. Era Josh, e pelo tom enfurecido de sua voz, sabíamos que algo ruim estava prestes a acontecer.

Seu grito fez os olhos de toda a produção e elenco se voltarem para nós. Todos nos encaravam de maneira muito mal-encarada. Nossos rostos que expressavam paz e tranquilidade deram lugar a uma expressão de medo e preocupação.

Um silêncio estarrecedor se instalou no local e tudo que eu conseguia ouvir eram as batidas aceleradas do meu coração. Josh caminhou até nós e checou-nos da cabeça aos pés.

— Eu estou muito decepcionado com vocês. Sabem que eu não tolero atrasos. — Ele cruzou os braços.

— Desculpe, nós... nós... apenas... — Ed tentou intervir, mas foi interrompido.

— Não há desculpa quando o motivo é muito claro. Vocês passaram a noite juntos, não foi? Isso é muito pior que atraso e vocês sabem bem disso. — O produtor foi tão direto que nem ao menos pudemos nos defender.

— Não! Não foi nada disso. — Eu contra argumentei sem sucesso.

— Como não? Deem uma boa olhada em vocês. — Ele estendeu a mão em nossa direção.

Realmente estávamos em um estado um tanto comprometedor. Eu estava vestindo apenas uma blusa de alças finas e coberta com o casaco que Ed havia me emprestado. Já o meu estava enrolado em um coque mal feito. Ele, por sua vez, com os botões da camisa abertos que também estava amarrotada e bagunçada, bem como o seu cabelo.

— Você está certo, Josh! — Ed quebrou o silêncio.

— Ed, cala a boca! — Intervi assustada com medo do que estava por vir e apertei seu braço.

— Estávamos juntos. Mas, não foi nada demais. — Relaxei — Apenas sexo casual. — Pirei. Ele ergueu a cabeça e sorriu com o canto da boca. (O sorriso que só ele conseguia dar).

Mas, o que ele estava falando?

— Passamos a noite juntos. — ele continuou — Precisávamos treinar nossas falas e rolou um clima. Sabe como são essas coisas... — Ele revirou os olhos com ar de desdém, olhou para mim e voltou a baixar a cabeça. Eu fiquei sem reação. Ele tinha um plano?

— Eu sabia! — Josh virou-se de costas para nós. — Os dois tratem de tomar um banho já! Depois corram para a maquiagem. Sejam rápidos e tenham ao menos respeito por seus colegas de elenco. Conversamos no fim do dia. — Ele saiu com a mão direita na cabeça, como se sentisse dor na região. Sem nem ao menos olhar para nós.

Ed apressou-se e chegou ao camarim antes que eu pudesse alcançá-lo. Sorte a dele! Caminhei ainda desconcertada com o que havia acabado de acontecer. Como ele fez isso comigo? Estávamos começando a nos dar bem. Senti vergonha da forma como agi com ele e dos pensamentos que passaram pela minha cabeça naquela manhã.

Naquela hora, comecei a acreditar em algo que minha mãe vivia falando para mim, "personagens intensos invadem nossa alma e surgem em forma de máscara sempre que há necessidade no mundo real". Ed estava fazendo exatamente isso, adquirindo o gênio de Chuck Bass? Ou ele realmente era assim? Qualquer que fosse a opção certa, não me agradava. Se ele ao menos tivesse dito que passamos a noite juntos porque havia um sentimento, mas... sexo casual? Ele só podia estar de brincadeira. Devia ser dessa forma que ele me via... como uma brincadeira. Conquistar a colega de elenco para depois cantar vitória com os amigos... um clássico! Como eu fui idiota!

— Hey, o que está acontecendo? Que confusão toda é essa? Vocês perderam a noção? — Blake disse puxando-me pelo braço enquanto eu corria para o camarim feminino.

— Do que você está falando? Acredita nesse cretino? Apenas tomamos um café juntos e não foi marcado, muito menos planejado. Apenas aconteceu. — Voltei a caminhar com velocidade enquanto lutava para segurar as lágrimas que queimavam dentro de mim. Estava imensamente decepcionada.

— Espera, Leigh. — Ela apressou-se e parou em minha frente — Eu acredito em você! Mas, você sabe como as pessoas nos vigiam e querem o nosso mal. Esses encontros casuais nunca vão dar certo. — Ela falou segurando-me pelo pulso enquanto uma lágrima rolava pelo meu rosto. Não pude segurar. — Além disso, nós todos aqui sabemos que fomos proibidos de nos relacionar com os colegas porque essas relações podem atrapalhar o desenvolvimento de nossos personagens.

— Eu sei disso! É exatamente por isso que não rolou nada. Não rolou nada, entendeu? — Eu estava irritada demais para sermões. Só queria que aquele dia chegasse ao fim. Ainda tinha dúvida de como seria gravar com Ed depois de tudo.

Dei um passo para trás fazendo com que as mãos dela soltassem meu meu braço.

— Se você me dá licença, preciso me trocar. — Ela concordou e deu um passo para o lado e sua expressão me preocupou, ela estava com os olhos umedecidos. Parecia que algo grave estava acontecendo, mas eu estava muito estressada para perceber ou falar sobre.

Chegando ao camarim, mandei uma mensagem para ela: "Desculpe pelo meu jeito de falar, estou muito decepcionada com isso tudo." E ela prontamente respondeu: "Não precisa se desculpar. Hard Rock mais tarde? Preciso conversar sobre algo." — Minha intuição estava certa e algo estava realmente acontecendo. "Claro", respondi e guardei o meu celular na bolsa. Seria bom sair para conversar com alguém em um lugar com boa comida e música de qualidade.

Enquanto me preparava, fiquei pensando em como um dia normal tornou-se tão perfeito e logo em seguida tão ruim. Por que ele não me defendeu? Por que não ficou ao meu lado? Nunca o perdoarei por isso. Sabia que não éramos tão íntimos para que eu pudesse exigir uma atitude cavalheiresca da parte dele, mas, no mínimo, eu merecia respeito.

Mais tarde, naquele mesmo dia. Eu estava pronta para gravar a cena mais intensa do script. A filmagem aconteceria no Box Manhattan, uma locação que representaria o bordel de Chuck. Para fazermos uma cena bem feita, precisávamos estar bem conectados. Trocaríamos olhares apaixonados durante a gravação. Encenaríamos um momento de entrega, de paixão. E tudo precisava ser muito real. Preocupei-me com a possibilidade de não ser uma atriz tão boa naquela hora.

No episódio, Blair estava passando por um momento difícil com Nate, seu namorado de uma vida inteira na série, e, ao que tudo indicava, o namoro deles havia chegado ao fim. Com isso, ela vai ao encontro do melhor amigo de seu ex para aproveitar a noite perdida. Chuck. No calor de emoção, ela despe a si mesma e dança de forma atraente na frente de todos. Nesse momento, há uma troca de olhares entre sorrisos bobos. Logo depois, os dois se beijam e passam a noite juntos em uma limusine. Aquele seria o meu maior desafio como atriz, pois, enquanto Chuck e Blair estão encontrando o amor um no outro, eu queria estrangular o Ed. Cheguei à conclusão de que Josh estava certo em sua teoria de que relacionamentos entre membros do elenco atrapalham o desempenho em cena.

Havia sido um dia intenso de gravação e estávamos prestes a fazer a cena final. Seria uma gravação noturna e em dois ambientes, primeiro interno e depois o externo. Já passava das 18:00h e eu já estava pronta para gravar. Blair já havia se apossado de mim e era incrível como essa transformação acontecia quando acabávamos de nos produzir. Eu vestia um gracioso vestido de em um tom de verde bem claro, com mangas compridas. Meus cabelos estavam modelados com cachos volumosos e decorados com uma tiara de strass.

A primeira cena daquela já havia acabado de ser rodada. Contracenei com Chace, que interpretava Nate, e só conseguimos finalizar a cena rapidamente, pois protagonizamos uma discussão, e eu aproveitei para colocar para fora tudo que eu estava sentindo. Na cena seguinte, eu sairia de dentro de uma limusine, por isso já eu estava dentro dela, sentada. Aguardando e evitando a presença de Ed, como eu fiz durante todo o dia. Ainda tentando processar os acontecimentos daquela manhã.

De repente, alguém da produção passou por mim e parabenizou-me pela atuação na cena anterior. Agradeci e voltei os meus olhos para o chão. Eu estava emocionalmente afetada e, sinceramente, não conseguia entender o porquê de tamanha decepção, se há menos de vinte quatro horas mal nos falávamos.

— Finalmente! Eu estava te procurando. — Ed disse abrindo a porta do carro sem pedir. Ele falava baixo, mais do que seu tom de voz costumava ser.

— Sai! — Eu gritei. E foi tudo que eu consegui dizer. Enquanto ele queria ser discreto, eu queria que todos soubessem que eu havia sido enganada. Eu não sabia se me incomodava mais com a presença dele ou com as palpitações que ele causava quando aparecia.

— Por que eu deveria? Achei que devíamos conversar um pouco antes de gravarmos. Mas vejo que você não está no clima. Me desculpe. — Ele ameaçou abrir a porta do carro. Finalmente, consegui olhar para ele e dei uma boa checada em seu visual. Chuck costumava aparecer com uns looks um tanto duvidosos. Mas, naquela noite ele estava elegante em um terno preto, por dentro vestia uma camisa social lilás com pequenos drapeados no peito e o toque final ficava por conta da gravata borboleta, sua marca registrada.

— Me desculpe? É tudo que você tem a dizer? — Ele tirou a mão da porta e abaixou a cabeça.

— Me desculpe, Leigh. — Ele manteve os olhos fixos no chão da limusine. Sua voz parecia abalada.

— Você faz ideia do que foi passar o dia escutando fofoca e risadinhas? Tive de encarar o mau humor do Josh, logo hoje que temos uma cena importante para gravar. — Falei tão baixo que quase sussurrei. Minha voz estava fraca. Era noite e tudo estava escuro dentro do carro, a presença de Ed ali ao meu lado era um risco muito grande e eu não queria mais escândalos. Senti meu rosto queimar e novamente aquela vontade insuportável de chorar retornou com força total. Naquele momento, eu não estava me sentindo triste, era minha maneira de lidar com a raiva. — Você só pode estar ficando maluco! — Encostei a cabeça no vidro e respirei fundo em meio as lágrimas que já rolavam sem timidez. Não tinha mais forças para discutir sobre aquilo.

— Permita que eu me explique. — Ele se virou, comovido com a forma como eu me sentia. Consenti com o meu silêncio e então ele continuou — Se eu falei aquilo, foi apenas para te proteger.

— Dizendo para o nosso produtor que nós infringimos a regra que ele criou? — Limpei as lágrimas com uma mão. Aquela reação dramática estava me matando, mas de uma forma muito estranha, eu não conseguia parar. — De onde você veio? Lá na Inglaterra vocês também entendem as coisas ao contrário? — Eu havia alterado meu tom de voz novamente e ele fez um sinal para que eu não gritasse. Em seguida, sorriu de forma carinhosa e segurou minha mão. Meu rosto corou como tomate maduro, mas eu não o rejeitei. O que estava acontecendo comigo? De certo modo, eu gostei daquilo. Me senti protegida, naquele momento, e toda a agonia que eu sofri naquele dia se dissipou quando eu senti o seu toque.

Ele me tinha em suas mãos.

— Eu disse o que ele queria ouvir, Leigh. Você sabe que quanto mais negássemos, mais ia parecer que estávamos escondendo algo que não aconteceu. Em vez de comentários, as pessoas estariam espalhando teorias e isso enfureceria o Josh, porque nós sabemos que ele odeia mentira. — Ele respirou fundo.

Precisei concordar. Minha cabeça estava girando. Ele tinha razão, tudo agora fazia sentido. Eu estava me sentindo tão estúpida por não ter entendido que ele só queria nos proteger.

— Daqui a alguns dias todo mundo já terá se esquecido. — Ele continuou — Enquanto nós teremos mais tempo para explicar tudo que aconteceu na manhã de hoje. — Ele estava suando frio, mas não soltava minha mão.

— Me desculpe. Eu realmente sinto muito. Eu fiquei muito confusa com tudo isso. Esse foi o dia mais difícil que eu tive até agora dentro do set. — Por impulso, eu retribuí ao seu toque e segurei firme em sua mão.

— Eu te peço perdão. Apesar de tudo, eu também quis que você se sentisse mal dessa forma. — Fiquei atônita e soltei sua mão. Ele ajeitou sua gravata borboleta lilás com detalhes coloridos e sorriu com um olhar malicioso. É tão difícil lidar com atores. — Não me entenda mal, mas eu vi seu texto, acabou ficando comigo na hora em que os papeis caíram. Enquanto estávamos no metrô comecei a ler achando que fosse o meu, mas eu vi anotações suas e fiquei intrigado com o fato de você estar sentindo dificuldade em transmitir uma emoção diferente para Blair nas cenas de discussão com o Nate e... — ele respirou fundo. — Depois a Blake te ligou e corremos tão apressadamente, que acabei esquecendo. — Ele sorriu novamente, mas dessa vez, de um jeito divertido. Provavelmente, eu estava com uma cara muito feia. — Na hora que tudo aconteceu, eu senti que precisava agir para te proteger. Eu senti que precisava fazer aquilo por você, mas não sabia o porquê. Meu coração estava mandando. Exagerei em algumas partes.

Virei-me para fitá-lo. Dentro do carro, a iluminação era baixa, mas as luzes da rua traziam ao rosto de Ed um brilho especial. Ele não era como os outros caras que eu conheci na vida. Aproveitadores e fúteis. Ed era educado, carinhoso e protetor. Seria perfeito para mim, mas aquilo nunca daria certo.

— Eu vou te dar uma chance de se redimir. — Ele encarou-me e sorriu aliviado. — Mas, não vai ser tão fácil. Se queremos ser amigos e próximos, precisamos estar prontos para encarar as fofocas e comentários maldosos de cabeça erguida.

— Sim, amigos... — Ele fez uma pausa dramática e deslizou o dorso mão pelo meu rosto. — Vamos mergulhar de cabeça nisso, aconteça o que acontecer.

Estremeci por dentro.

"Amigos". Eu dizia a mim mesma...

— Ed Westwick. — Ele beijou a minha mão.

— Leighton Meester. ­­— Ri, divertindo-me com aquela apresentação e a tentativa dele de começarmos novamente.

—A propósito, você está linda demais hoje! — Ele abriu a porta do carro.

— Obrigada. Mas, você não vai me seduzir com seus elogios, Chuck Bass. — Ironizei, apesar de ter me sentido lisonjeada. Não queria parecer uma pessoa carente por elogios. Ele sorriu e caminhou para dentro do Box Manhattan, locação que ambientava-se o infame clube de Chuck. Dentro do clube, já estavam acontecendo a concentração e os ajustes finais. Precisei de alguns segundos para controlar meus batimentos cardíacos. Éramos apenas novos bons amigos, mas o jeito dele de falar, de agir e pensar me deixaram sem chão e quando saí do carro, alguns minutos depois, senti as pernas bambearem.

Apesar de tudo, todos aqueles pensamentos que estavam se passando dentro da minha cabeça seriam extirpados, pois eu prometi a mim mesma que não me envolveria com nenhum colega de trabalho. Eu já havia enfrentado grandes problemas desse tipo no passado, e, agora, queria começar do zero. Aquela série era muito importante para mim e eu realmente não queria pôr tudo a perder como fazia em todos os relacionamentos anteriores.

Fizemos a primeira cena externa e depois, iniciamos as internas. O ambiente representava um perfeito bordel dos anos 40. O lugar estava cheio de pessoas novas e havia dançarinas produzidas em todos os lugares. Era isso que eu adorava na ambientação da série. A produção nunca deixava a desejar e, por esse motivo, nos sentíamos dentro da história.

Mais uma tomada e lá estava eu... dançando enquanto me despia. Confesso que senti medo quando li o texto daquela cena. Foi uma cena difícil de trabalhar no começo. Mas, depois de todos os ensaios e esforços de nossa preparadora, eu estava pronta para gravar e soltar a fera que havia dentro de mim. Afinal, o que seria da vida de um ator sem os desafios?

Em uma mesma tomada, fizemos vários "takes", cometi alguns erros, pois eu não conseguia me concentrar. Eu estava muito nervosa e todos começaram a perceber. Take 10, 12, 18 e eu pedi uma pausa. Estava exausta! O diretor concordou. Estava me sentindo tonta, por isso, sentei-me à beira do palco. Cabisbaixa, respirei fundo. Nesse exato momento, Mercy, uma de nossas maquiadoras, surgiu para os retoques.

— Menina, você precisa se acalmar, senão maquiagem nenhuma vai dar jeito. Feche os olhos. — Ela começou a aplicar o blush rosado. Mercy tinha aproximadamente uns trinta anos, mas poderia ser facilmente confundida com um de nós. Ela tinha um rosto delicado, olhos verdes, cabelos loiros e finos amarrados em um coque desajeitado e sua feição àquela hora da noite aparentava cansaço. Sempre era um alívio quando ela se aproximava entre uma cena ou outra. Ela sempre estava disposta a nos aconselhar e nos dar força para prosseguirmos com as gravações. Alguns dias eram muito duros dentro do set.

— Estou tentando, Mercy. Mas, por mais que eu me esforce, o dia de hoje está sendo difícil de engolir. — Falei com os olhos fechados enquanto ela acariciava meu rosto com leves pinceladas.

— Prontinho. — Abri os olhos e ela sentou ao meu lado. — Eu sei que está sendo difícil. As pessoas são muito cruéis quando se trata de fofocas, mas não deixe isso te abater, você é superior a tudo isso, Leigh. — Ela apertou meu ombro de leve e retirou-se.

Olhei para a multidão de figurantes, atores, produção e equipe técnica que havia se formado no local, a fim de encontrar o diretor, o Josh ou a Stephanie para dizer que eu estava pronta para retornarmos. Foi quando eu encontrei Steph ao lado de Ed. Os dois cochichavam e aquilo me intrigou. Eles olhavam para mim e apontavam para o palco. Ed sorria e gesticulava animadamente e Stephanie balançava a cabeça o tempo todo. A conversa só terminou quando eles perceberam que eu estava olhando. Sorri, com um sorriso falso, como se não tivesse notado a conversa dos dois e, com o polegar direito, mostrei que estava pronta. E muito curiosa.

Stephanie conversou com a preparadora de elenco e com outras pessoas que eram responsáveis pela organização das cenas. O telefone sem fio passou de um para outro até chegar ao diretor, que deu apenas uma ordem e todos ficaram em silêncio. Nesse exato momento, o ele falou:

— Vamos transformar isso em um espetáculo... uma festa! E, Meester, — Meu coração parou por um segundo. — você é a nossa estrela. — Ele falou sério e deu um sinal para baixarem as luzes e para que tudo estivesse pronto para mais um take. — Agora é com vocês! Atenção... — Ele fez um sinal com a mão direita e olhou fixamente para a câmera que estava a sua frente.

Aquilo me deixou bastante perplexa e ao mesmo tempo muito extasiada. Eu não sabia o que estava prestes a acontecer. Mas, se eu era mesmo a estrela, não ia deixar o meu brilho se apagar.

Ao sinal de "ação", todos começaram a gritar e aplaudir-me. Eu simplesmente não entendi como aquilo aconteceu. Fui tratada como estrela, mesmo sem merecer e aquilo me emocionou bastante. Contudo, aquela abordagem não era comum no set e isso me preocupou. No meio de toda aquela confusão, olhei para Ed, que me encarava sem piscar. Com os olhos, expressei minha preocupação e, em resposta, ele acenou com a cabeça como se dissesse "apenas faça". Nossa comunicação não estava sendo fácil dentro do set por causa do ocorrido naquela manhã.

A cena foi gravada em pequenas tomadas. Eu precisava dançar conforme a música, enquanto nossa preparadora e os produtores rugiam, gritavam e me faziam rir com apelidos divertidos. Os figurantes e o elenco de apoio faziam o mesmo de longe. Foi uma cena gostosa de fazer, afinal, pois eu liberei todo o drama vivido ao longo daquele dia. Era essa pessoa que eu costumava. Divertida, animada e inquebrável.

Até encontrar Ed naquela manhã.

Todos estavam se divertindo e participando da brincadeira, com exceção do Ed, que apenas olhava para mim de forma séria, enquanto eu tentava disfarçar o olhar. Porém, foi inevitável. A troca de olhares entre Chuck e Blair aconteceu de forma natural e espontânea na cena. No momento em que a câmera captou suas cenas, ele sorriu. Um sorriso lindo que me passou confiança. Eu havia ganhado um amigo. Uma amizade que valia a pena cultivar.

A hora estava correndo e já se aproximava das 22h da noite quando estávamos novamente na limusine, mas agora, prontos para gravar. O diretor deu o sinal para iniciarmos o texto. Ao ouvir ação, nos olhamos com cumplicidade. Ed era um parceiro de gravação e tanto. Mas, aquela cena, em especial, não havia sido nem um pouco técnica. Chuck e Blair estavam vivendo um momento de descoberta. Nós também. Emoções reais e fictícias se misturavam dentro de mim e eu atuei com o coração. Todas as tomadas estavam ficando perfeitas e nós fomos muito elogiados pelo diretor por estarmos tão concentrados e focados na ação. Tudo corria bem até ele pediu para que fizéssemos a cena de ininterrupta. E o momento chegou.

— Obrigada pela carona. — Iniciamos nosso texto mais uma vez e essa seria a tomada final.

— Você estava deslumbrante esta noite. — Nossas cabeças estavam encostadas no banco de couro e nossos olhos não se desgrudavam. O mais assustador era que, por um momento, não era mais atuação. Falávamos e agíamos seriamente, como se estivéssemos dando vida aos nossos papeis.

Aproximei-me dele assim como previa o script, mas o script era uma pequena desculpa.

Nos beijamos logo em seguida. Pela primeira vez na série. E uma emoção muito grande invadiu minha alma. Eu não sabia como explicar, mas estava emocionalmente ligada a Ed, e ele...

— Você tem certeza? — Ele precisava fazer essa pergunta, estava prevista para o momento. Nos beijamos novamente e a técnica ultrapassava os limites éticos da encenação. Foram momentos intensos, aquela cena havia sido escrita para ficar na história e nós estávamos certos de que ficaria. Havia um sentimento real por trás de tudo e tudo ficou ainda mais claro quando o diretor finalizou a cena e o beijo que era estritamente profissional, tornou-se real. Realmente estávamos tentando evitar o inevitável. Aquele momento não durou muito, pois rapidamente nos demos conta do erro que estávamos cometendo. Erro.

No momento em que o personagem de Ed perguntou para a minha personagem se ela estava certa, eu senti que não era apenas a fala do Chuck Bass. Era a vida me perguntando se eu estava pronta para encarar o maior papel da minha vida, o meu próprio. E se eu realmente estava pronta para dar o 'play' em uma história que mudaria minha vida.

Para sempre.