Podia sentir um vento forte atrás de mim, e me toquei que estava consciente, até que fui arremessado para longe, o que me deixou inconsciente novamente.

—Eu vou fazer isso para você - Ouvi um homem falar ao longe assim que acordei novamente e então a ventania parou.

—Onde estou? - Perguntei alguns segundos depois, ao me recuperar do atordoamento.

—Um laboratório. - Ouvi alguém próximo de mim, que reconheci assim que olhei para ele.

—Luci! - Ele me esticou a mão e eu peguei.

—É Lúcifer. Não encurte meu nome.

—Onde exatamente estamos?

—Uma dimensão alternativa bem próxima da sua, não importa o nome, ano de 1912.

—Ótimo, milhares de anos após o meu. - Revirei os olhos. - E você me trouxe aqui por quê?

—Algo de errado aconteceu aqui, algo que não deveria acontecer nessa dimensão e sim em um de seus universos paralelos. Resolva isso.

—Poderia me dar uma dica do que é?

—Meh, ficaria fácil demais. - Ele desapareceu e eu olhei ao redor. Uma espécie de rampa formada com escombros que levava ao que parecia ser uma área para cirurgias e uma cadeira ensanguentada.

—Certo, o que aconteceu aqui? - Vi duas portas, uma de cada lado, e fui para a da esquerda, me deparando com algumas escadas. - Tudo bem. - Terminei de subir e encontrei alguns corpos, cabos e mais quatro portas, duas à direita, uma à esquerda e uma em minha frente. - Certo, aparentemente a porta da direita me traria ao mesmo lugar, e essas portas à direita provavelmente me levarão para algum lugar lá perto. Mas onde esses cabos vão dar? Não, isso não importa. Esquerda será então! - Abri a porta e dei de cara com uma câmara de elevador vazia. - Ótimo - Apertei o botão para chamar o elevador e fui dar uma olhada nos cabos, que levavam até uma espécie de um gerador, e quando o elevador chegou apertei o único botão, que deixava bem claro até para os mais idiotas o quê se fazer: “Push”.

Assim que o elevador chegou em seu destino balas voaram em minha direção e eu me escondi atrás de uma mesa.

—Espera, eu sou amigo! - Gritei e uma espécie de bola de fogo voou em minha direção. - Espera, você pode machucar alguém! - Dei a volta na mesa e corri na direção do homem que estava atirando até ser mandado para longe por um jato de água

—Quem é você? - Ele encostou seu revolver quente em minha cabeça

—Não é um soldado dos Fundadores nem dos Vox Populi, claramente não é um Fireman, Patriota de Ferro e muito menos um Handyman... - Uma garota começou a falar.

—Graças a Deus por isso.

—Más lembranças? - Perguntei ironicamente.

—...Então você só pode ser um cidadão, mas não pode ter entrado na Casa Comstock sendo um cidadão comum, então responda: - Ela se abaixou um pouco. - Quem é você?

—Pode por favor levantar um pouco? Esse ângulo não é muito favorável para eu pensar. - Senti o tapa estralar em minha bochecha. - Tudo bem, eu mereci isso - Ela se afastou. - Thomas Ender. - Ele afastou a arma de minha testa.

—E então, doeu? - Perguntou ironicamente.

—É, bom… Meu rosto está doendo bastante e sua filha parece bastante irritada - Coloquei a mão em minha bochecha.

—Ela não é minha filha. - Ele olhou para sua mão enfaixada. - Eu fui contratado para resgatá-la.

“Certeza que não são parentes? Irmãos talvez?” Melhor eu não perguntar, ele ainda pode atirar em mim.

—Tudo bem então. - Me levantei. - E quem são vocês? - Silêncio. - Eu respondo e vocês não? Confiança é tudo em um relacionamento. Tudo bem, não preciso saber mesmo.

Dei uma boa olhada neles. Um homem de cerca de trinta e oito anos, baixinho, meio bruto, porte físico de um soldado e cabelo bastante arrumado levando em consideração a sujeira em suas roupas, e ela tinha olhos azuis, cerca de dezessete anos e um vestido branco meio desabotoado e com um rasgo em sua manga direita, com a saia azul, uma gravata também azul porém rasgada e jogada para um dos lados de sua roupa e um broche preto de um pássaro branco no pescoço.

—Tudo bem, o que faremos agora? - Perguntei, quebrando o silêncio.

—Eles vão atrás de Comstock. - Um homem falou.

—Tu virás conosco - Uma mulher falou e eu procurei a dona da voz.

—”Tu virás conosco”? O que isso significa? - Perguntei, confuso, ao ver os gêmeos donos dessas vozes.

—Vocês não vão levá-lo antes de sabermos quem ele é - O homem bufou.

—Ah, então significa que eles vão me levar para algum lugar? - Murmurei.

—Ele é alguém que não deveria estar aqui. - O homem respondeu.

—Um invasor, pode-se dizer. - Ela continuou.

—Não um invasor, ele foi convidado. - Ele me defendeu.

—Não, um invasor, ninguém convidou. - Eu vi o que você fez aí mulher.

—Uma permissão foi requisitada.

—Sim, mas não foi aceitada.

—Podem por favor parar com frase combinada? - Perguntei irritado. - Não, espera aí.

—Eles são irritantes assim mesmo, mas é fácil se acostumar. - Eles vieram em minha direção. - Ei, pra trás, eu sou perigoso.

—Oh, sim, deveras. - Ele falou dessa maneira estranha novamente.

—Tudo bem, eu realmente não sou muito ameaçador. - Me conformei.

—Ei, primeiro queremos saber quem ele é! - O homem soava irritado.

—Mas com quais motivos? Vocês nunca mais vão encontrá-lo. - A mulher respondeu.

—Por que e aonde vão levá-lo? - A garota perguntou.

—Mais uma vez, de que importa? - O homem perguntou.

—Importa para mim. - Apesar de ser o assunto na sala estava me sentindo ignorado, então decidi interferir.

—Muito bem, então. - A mulher disse, por fim. - Vamos levá-lo de volta.

—Não vão não. Ao menos não até descobrir o quê está errado aqui e consertar.

—Tudo bem. - Ela respondeu, olhando a garota. - Estaremos esperando.

—Fácil assim? - Desconfiei.

—Sim - O homem respondeu e eles sumiram.

—Tudo bem então. - não podia fazer mais nada, então simplesmente aceitei.

—Como assim algo está errado? - A garota perguntou imediatamente.

—Algo que não está certo. - Me virei. - Nomes. Agora. - Ordenei.

—Explicações primeiro. - Ele queria barganhar?

—Primeiro vocês me dirão seus nomes, e então eu explicarei.

—Elizabeth. - Ela se interrompeu antes de dizer seu sobrenome.

—Elizabeth…?

—Não é importante. - Ela parecia um pouco irritada.

—Booker DeWitt. - Eles realmente responderam? Ótimo, parece que eu vou ter que explicar.

—Certo, eu não sei como eu vou explicar, já que nem eu mesmo sei direito, mas alguma coisa está errada nessa dimensão e eu tenho que resolver.

—Tudo bem, e o quê está errado? - Ele perguntou.

—Se eu soubesse já estaria resolvendo

—Booker - A garota chamou - Seu nariz está sangrando. - Ele o limpou

—Algum dia vou descobrir o que causa isso.

—Por que não agora? - Perguntei, me sentando na mesa onde tentei me esconder anteriormente. - Vamos, preciso de fatos, quando isso aconteceu anteriormente?

—Você está tentando ganhar o controle da situação? - Ele perguntou.

—Não, imagina… - Respondi ironicamente - Só quero ajudar, eu juro.

—Aconteceu pela primeira vez após abrir uma fenda que nos levou a um universo paralelo, onde alguns soldados que deveriam ter morrido estavam confusos e com o nariz sangrando. - Ela respondeu.

—Então é simples, tudo o que temos que fazer é te matar.

—Na verdade isso aconteceu antes, na primeira vez que conversei com Comstock.

—Comstock?

—O líder dessa cidade, que…

—O fundador, líder e profeta de Columbia. - Ela o interrompeu.

—Que imagino que seja o nome dessa cidade. - Tudo bem, então… - Mantenha-se longe de profetas e fendas.

“Espera, fendas?”

—Mas espera, como assim fendas?

—Eu posso abrir fendas entre dimensões, e quando era mais nova podia até mesmo criar algumas. - Ela respondeu.

Criar e abrir fendas fendas entre dimensões… Como eu queria poder pegar os poderes dos outros.

—E vocês cruzaram alguma outra fenda após isso?

—Sim, uma, para…

—E se nessa dimensão que vocês vieram parar em uma dimensão onde você está morto? - Cheguei a uma conclusão bem óbvia, mas que aparentemente eles ainda não tinham imaginado.

—Eu… Eu tinha visto alguns cartazes dos Vox Populi te chamando de Mártir. - Ela disse, após algum tempo.

—E quando me encontrei com Comstock?

—Talvez você tenha passado por alguma fenda no meio do caminho - Foi a única coisa que pude pensar.

—Ou, talvez, suas memórias tenham entrado em conflito, como o que aconteceu com os soldados e Chen Lin. - Tudo bem, a garota tem uma boa teoria.

—Quer dizer então que tem alguma coisa de errada com as memórias dele? - Minhas pernas começaram a balançar penduradas na mesa. Eu estava entusiasmado com aquilo?

“Isso pode não acabar bem, mas quanto mais pensar, mais dicas vou ter do que preciso consertar.”

—Talvez alguma parte delas tenha sido apagada ou substituídas. - Mais uma vez ela fez sentido.

—Bom, faria sentido apagar ou substituir as memórias de um soldado para não se lembrar dos horrores de uma guerra - Estou começando a me identificar com esse homem

—Quem te contou que já fui um soldado?

—Bom, fica bem óbvio pela sua habilidade com armas e as cicatrizes, o rosto e seu corpo…

—Talvez seja isso que está errado: Talvez ele não devesse estar vivo nessa dimensão.

—Então nós realmente só precisamos matá-lo

—É mesmo? Então quero ver você tentar - Ele não parecia muito confortável com a ideia.

—Ou podemos criar uma nova dimensão onde ele nem nasceu, assim não teremos problemas com memórias.

—Mas eu não tenho poderes suficientes para criar dimensões, não mais.

—Bom… - Me lembrei de um feitiço básico de suporte que aprendi há algum tempo.

—O quê? - Eles perguntaram.

—Eu posso amplificar um pouco seus poderes, talvez o suficiente para você poder criar um Universo Paralelo com algumas diferenças., mas…

—Mas...? - Eles perguntaram após alguns segundos

—Bom… Podem ocorrer alguns efeitos colaterais como por exemplo… Aumento ou redução de tamanho, envelhecimento, troca de sexo…

—Espera, o quê? - Ela reclamou– Não, eu não vou fazer isso!

—Não é tão importante mesmo, então não é necessário - Ele concordou.

—Não? - Como vou convencê-los? Armas! Se ele precisa de armas ele precisa atirar, logo… - E se acontecer no meio de um combate e você acaba atingido?

—Acho pouco provável.

—E você acha que vale a pena arriscar? Se você fizer isto além das chances serem baixas você vai me ajudar e diminuir as chances dele morrer em combate.

—Mas… - Ela pareceu parar pra pensar. - Tudo bem.

—Tudo bem, então… - Comecei o feitiço - Você vai ter alguns segundos de amplificação, então vai ter que se rápida, mas depois disso o que você criar vai existir pra sempre.

—Ela não pode simplesmente acabar com Comstock e nos levar a Paris?

—Iria demorar demais, ela só pode fazer um dos três com o tempo que a amplificação dura., e eu não acho que esses dois seriam uma escolha melhor.

O feitiço entrou em efeito e em alguns segundos a fenda foi aberta, deixando o ambiente em preto e branco por alguns segundos.

—Ah! - Ela gritou, segurando a roupa.

—Eh… Não me responsabilizo por esse efeito colateral. - Abaixei a cabeça, constrangido, enquanto ela correu para o elevador e desceu.

—O que foi aconteceu? - Booker perguntou.

—O efeito colateral foi que a roupa dela rasgou em algumas partes.

—Ah… - Ele corou. - E você…

—Não! - Isso ficava pior a cada segundo. Quando Luci vai vir me buscar?

Depois de muito tempo ela voltou com roupas trocadas, dessa vez vestindo uma saia azul que cobria suas pernas por inteiro, uma saia branca mais longa por baixo, espartilho, jaqueta bolero da mesma cor da saia e o mesmo colar de gargantilha e broche de antes.

—Por isso a demora então. - Murmurei ao vê-la passar pelo elevador, o que interrompeu minha conversa com Booker sobre a mesma.

—Ah, enfim, achei que você não iria voltar. - Ele veio até a mesa onde eu me sentei novamente após Elizabeth correr e pegou suas armas.

—Essas são as roupas de Lady Comstock - Ela explicou

—Bom, acho que é aqui que nos despedimos então.

—O que, você não vai ficar? - Booker perguntou.

—Sim, bom, eu não sou daqui, então…

—Bom, acho que não tem problema então - Elizabeth parecia um pouco desapontada.

—Adeus - Estendi a mão, gesto retribuído por Booker e fui em direção ao elevador.

Assim que entrei no elevador e fui apertar o botão Elizabeth disse alguma coisa que não pude ouvir.

—O quê?

—Elizabeth Comstock. - Ela repetiu.

Então ela era filha do líder da cidade. Mas espera, de onde então, Booker foi resgatá-la? E essa Lady Comstock, de quem ela pegou essas roupas é a mãe dela? - Sorri e apertei o botão, me isolando em meus pensamentos sobre essa garota.

—Ah, enfim! - Luci me puxou para fora assim que cheguei no andar de baixo.

—Então, podemos ir embora?

—Fiquei surpreso que você não sacou sua espada em nenhum momento. - Ele ignorou.

—Não foi realmente necessária em nenhum momento.

—Você nem se lembrava que estava com ela, não é?

—Calado. - Toquei um pouco acima de meu ombro e senti a empunhadura da espada.

—Acho que ela gostou de você.

—Ela?

—Elizabeth. - Ele quer me provocar?

—É, bom, você está enganado - Apareceu outro portal, como o daquele de seu reino.

—Vamos lá, passe

—Preciso mesmo?

—Quer salvar todo mundo? - Ele realmente sabe me convencer. Pulei dentro do portal.