Sorts: A alma perdida

Nossa única esperança é essa garota


Eles pararam em frente à uma enorme, antiga e oponente casa de madeira, com colunas sustentando a gloriosa entrada da casa. Edward bateu na porta de mogno.

— Bom... - Uma mulher de cabelos loiros, como os de Edward, atendeu a porta - dia, Edward Towerkey.

Seu semblante estava sério, mas era visível o alívio em seus olhos.

— Olá... mãe - disse Edward, com um sorriso travesso no rosto. - Este é Trevor, e essa é Amber. - Diminuiu a voz para dizer: - Shadowchild.

Os olhos de Camilla Towerkey se arregalaram, ficando em um tom de verde escuro.

— Entrem. - Ela puxou o filho pela camisa. - Agora.

A porta foi fechada, enquanto a sra. Towerkey indicava um quarto no primeiro andar, onde Trevor pôde deitar a irmã.

— Há algo errado com ela - declarou Trevor. - Ela deveria estar apagada por tanto tempo?

Camilla fechou os olhos e espalhou um brilho azul pelo corpo da garota, como se rastreasse algo.

— Veneno - disse, olhando preocupada para Trevor.

Trevor se apoiou em Edward. Ele poderia não conhecer Amber tão bem, mas ela era sua irmã - um laço que Trevor sempre pediu para compartilhar com mais alguém, mas seus pais sempre negaram. Como poderia a vida o deixar saber da existência de sua irmã em menos de uma semana e depois a deixar a ponto de desaparecer tão rápido quanto surgiu?

— Existe algo que possa tirar esse veneno dela? - perguntou, tentando soar firme.

Camilla olhou para Edward, e ele assentiu, saindo do quarto e partindo para uma das estantes da sala. Voltou, dois minutos depois, com um livro cinza. O Livro de Guérison. A mãe de Edward folheou as páginas até chegar praticamente no fim do livro.

— Bom, Shadowchild, vamos precisar de três feiticeiros bem treinados, uma amostra do sangue dela e do seu - respondeu ela.

— Onde vamos arranjar o terceiro sorcier? - perguntou ele. - Vocês sabem, eu, definitivamente, não estou bem treinado.

Edward olhou para as escadas de sua poderosa casa. Jeremy Towerkey.

— Seu pai não vai gostar nada disso - advertiu Camilla.

— Mamãe, nossa única esperança é essa garota! - argumentou Edward. - Não acha que papai poderia esquecer essa rixa boba com os Shadowchild, pelo bem do nosso mundo?

Camilla o olhou, possivelmente mudando de opinião, e subiu as escadas.

— O que houve com seu pai e minha família? - indagou Trevor.

— Digamos que eu fiz umas loucuras em nome do amor... - respondeu Edward, divagando - ... de um Shadowchild. Alguns séculos atrás, mas papai é rancoroso.

Dois Shadowchild na minha casa? - berrou um homem. - Você enlouqueceu, Edward Dominic Towerkey? Passar 17 anos desaparecido e agora aparecer com gente dessa família?

— Fale baixo! - alertou Camilla. - Não sabe que estão procurando a garota?

— Então por que a deixou entrar?

— Senhor - Trevor interveio, timidamente -, se quer tanto que a gente vá embora, precisamos de sua ajuda.

Jeremy o analisou da cabeça aos pés.

— Não sou como qualquer um dos meus ancestrais - continuou. - Edward não fez nenhuma loucura enquanto fomos vizinhos.

— Vizinhos? - Jeremy olhou para Edward. - Você não aprendeu mesmo a ficar longe deles!

— Eu sabia quem Trevor é, desde que eles se mudaram - disse Edward, irritado. - Sabia que ele poderia nos livrar dessa guerra silenciosa contra a maldição da pedra. Contra o atual líder da Governança, o mesmo ser irracional que amaldiçoou cegamente Amber Shadowchild. Não temeremos mais nosso líder nem essa menina.

O pai de Edward olhou para a inconsciente Amber e suspirou.

— Garoto, prometa pra mim que vai embora da minha casa assim que essa menina se recuperar - falou o sr. Towerkey.

Trevor tentou conter o sorriso mais espontâneo e aliviado de sua vida e assentiu firmemente.

Os Towerkey foram para uma sala no fundo da casa, furaram os dedos dos Shadowchild, tiraram as amostras de sangue e fizeram um círculo com velas. Amber estava no centro, enquanto Edward, seus pais e Trevor estavam em volta dela. Os três Towerkey estenderam os braços sobre a tigela que continha o sangue de Trevor. O sangue saiu da tigela como se fosse uma gelatina e flutuando. Edward fez o mesmo com o sangue misturado a veneno de Amber e juntou os dois.

O sangue de Trevor encobriu o de Amber, fazendo as manchas amarelas de veneno desparecer. Camilla, Jeremy e Edward puseram as mãos uma em cima da outra e puseram o sangue sobre Amber.

Magicamente o sangue entrou pelas veias de Amber e ela acordou, ofegante e tossiu.

— Amber! - Trevor correu e apoiou a cabeça dela no joelho. - Amber, o que houve com você?

— Trevor - disse ela, a voz em um sussurro -, ela me pegou. Ela me envenenou, quer me matar.

— Ela quem, Amber? - perguntou Edward, enquanto sentava numa poltrona, exausto, como seus pais, por terem realizado um encantamento tão poderoso.

— E-eu não sei... É uma mulher, estranhamente familiar. - Ela olhou ao redor. - Onde estamos?

Trevor levou a garota de volta para o quarto em que estava antes e explicou tudo que aconteceu até eles chegarem à casa dos Towerkey, devagar e dando pausas para Amber processar as informações.

Quando ela começou a empalidecer mais, Camilla foi trazer algo para se alimentar.

— Como era a mulher que a envenenou, Amber? - perguntou Camilla, pondo uma bandeja com suco e um pedaço de bolo de chocolate perto da menina.

— Era uma senhora - começou a descrição -, usava um colar com um símbolo de uma espada no pescoço.

Trevor ouviu a descrição da irmã e se lembrou de um detalhe em uma das cartas que recebeu. Ele não entendeu direito o que as duas queriam dizer, mas respirou fundo e declarou:

— Acho que sei quem te envenenou.

Camilla olhou para o menino.

— Você pode ter alguma pista, então?

Trevor falou das cartas que recebeu e do que continha nelas, frisando que não as entendeu.

— Acha que pode voltar à sua casa para pegar as cartas? - perguntou Jeremy.

— Jeremy, é muito perigoso voltar lá agora - alertou Camilla. - Seus pais voltaram à Inglaterra e estão tentando rastrear vocês dois, mas tenho certeza de que não são os únicos querendo encontrá-los.

— Eu vou com ele - falou Edward. - É meu dever treinar Trevor e protegê-lo enquanto ele ainda está descongelando sua habilidade.

— Você? - desdenhou o pai de Edward. - Deixe que eu vá.

Edward impediu o pai de subir as escadas, pondo um braço em sua frente, deu seu olhar mais ferino e disse:

— É meu dever proteger Trevor e Amber. Eu vou também.

Jeremy o olhou sombriamente e assentiu.

Camilla saiu de perto de Amber e abraçou o filho.

— Então... - começou Amber - ... irmão.

Trevor voltou sua atenção a ela e sorriu sem jeito.

— É, não estou acostumado a isso - disse ele, coçando a nuca.

— Eu nunca desejei um irmão. Mas já que é você e você salvou minha vida, posso superar isso.

Trevor a olhou bem nos olhos castanhos.

— Não vai se arrepender de me deixar fazer parte da sua vida tão depressa.

— Não me arrependo, Trevor - confessou ela. - Quando tudo isso acabar, vamos sentar e nos conhecer melhor. Mas enquanto isso, me contento em ter um irmão para lutar comigo nesse mundo novo.