Desparate people find faith, so now I pray to Jesus too and I say to you...

Eleven cantava uma música que estava em sua cabeça havia dias, enquanto penteava os cabelos de Max.

A garota ainda estava em coma, e naquela semana seu estado completava dois anos. Algo que desesperava cada vez mais seus amigos e sua família, os únicos que ainda tinham esperanças de ela acordar e melhorar. Os médicos, inúmeras vezes, já os aconselharam a desligar os aparelhos, algo que provocava a fúria daqueles que a amavam.

—...ooh-aah soon you'll get better oo-aah you'll get better soon because you have to.

Eleven terminou a música no mesmo instante em que terminou de fazer as tranças no cabelo da amiga. Sorriu. Ela amava esse penteado, e a garota sabia que se Max acordasse naquele momento, ela iria gostar de estar usando os cabelos assim.

—Pronto Max, seu cabelo já está arrumado. Parece que eu ganhei alguma prática, não é? Afinal, apesar de você já estar sem aquelas coisas no seu pescoço, braços e pernas, ainda assim é um pouco difícil pentear seu cabelo com você deitada...

Qualquer um que visse aquela cena diria que é uma loucura conversar com alguém inconsciente. No entanto, -os médicos, os mesmos médicos que constantemente aconselhavam o desligamento dos aparelhos-, diziam que conversar com pessoas nesse estado a ajudavam a se reconectarem com sua consciência.

O que no caso de Max poderia não funcionar, considerando a forma como tudo lhe ocorreu. Mas, seus amigos gostavam de pensar que ajudaria, não apenas ela voltar, mas também a agirem com um pouco mais de normalidade.

—As coisas têm sido boas, e acho que aos poucos tudo vai voltar em seu lugar. Eu já consigo chamar o Hopper de pai, a Joyce de mãe, o Will e o Jonathan de irmãos... enfim eu tenho uma família completa! Não que eu tenha me esquecido da minha família biológica, mas, eu não pude crescer com eles, esse direito me foi negado quando eu ainda era bebê. Então, apesar de as vezes eu pensar em como seria minha vida caso isso não tivesse acontecido, eu não consigo me ver sem a família que o destino me deu. -fez uma pausa- A Suzie vai vir para cá esse final de semana, parece que finalmente todos nós vamos poder conhecê-la. -deu uma risadinha- O Dustin está radiante! Eu nunca o vi assim. Sério. Ah, e por falar em relacionamentos, o meu namoro com o Mike têm evoluído a cada dia, tanto que acho que não vai demorar para eu descobrir o que são gritos felizes. -ruborizou- Sim, eu já sei o que você quis dizer com isso naquele dia, a minha mãe me explicou logo quando eu fui morar com ela.

Nesse momento, a tristeza tomou conta de Eleven, que fechou o sorriso e deixou o olhar cair para suas mãos em seu colo.

De repente lhe ocorreu que, se esse momento tão importante em seu relacionamento com Mike estava mesmo se aproximando, com quem ela falaria sobre?

"Tem a Joyce". Pensou. Mas, Joyce agora era sua mãe e ainda que elas tivessem um bom relacionamento e liberdade para conversarem o que quisessem, Eleven não se sentia confortável, afinal, não era apenas dela que se tratava, mas também de Mike, um garoto do qual sua mãe conhecia desde criança. Seria no mínimo constrangedor!

Nancy seria uma boa ouvinte, caso não fosse irmã de Mike.

Robin era legal, mas, não guardava as coisas apenas para si.

Ela ainda não conhecia Suzie, e mesmo que conhecesse, Suzie não parecia ser o tipo de garota que conversava assuntos como esse.

No final, a única pessoa da qual Eleven poderia conversar, seria Max!

Sorriu ao pensar na possibilidade. Max com certeza a aconselharia a tomar todos os cuidados necessários, tentaria convencê-la do contrário ao mesmo tempo que diria que ela estava certa em seguir o que "seu coração mandava", faria questão de ouvir todos os detalhes. E no final, a abraçaria e diria que estava orgulhosa da mulher que ela estava se tornando.

Mas... Max não estava lá. Pelo menos, não como deveria estar!

Quando Eleven se deu conta, uma lágrima descia pelo seu rosto. Rapidamente as limpou e voltou a olhar para a amiga deitada na cama.

—Mas, não é a mesma coisa sem você... -fez uma pausa -Você faz muita falta, Max! E não se preocupe, o seu lugar está aqui, e sempre estará! -deu um sorriso de canto- Por exemplo, a sua carteira ao lado do Mike nas aulas de matemática continua vazia. Ele não deixa ninguém sentar nela, nem mesmo eu! -deu uma risadinha- Sabe, ele está suspenso porque semana passada ele brigou com um menino que queria sentar na sua carteira. No final, apesar da suspensão, o garoto não ocupou sua vaga, já que ele bateu no Mike.

Após alguns instantes de silêncio, Eleven ouviu a porta se abrir lentamente; era Lucas.

—Oi El... -cumprimentou, ao se aproximar da amiga, que estava com suas mãos entrelaçadas na de Max.

—Oi Lucas.

A mais velha tentou disfarçar um sorriso, mas Lucas sabia perfeitamente que ela esteve chorando minutos antes de ele entrar no quarto.

—E aí, como vai nossa bela adormecida?

—Na mesma.

Meses depois de Max entrar em coma, o grupo havia dado a ela um apelido carinhoso e um pouco engraçado. E foi aí que "bela adormecida" entrou em cena.

Eles sabiam que não deveriam brincar com essas coisas. Mas, também sabiam que iria demorar até que Max acordasse (se acordasse), e, aos poucos, cada um seguiu sua vida, foram retomando a rotina... e depois de dois anos visitar Max no hospital também se tornou parte da rotina.

Sobretudo, eles tentavam tirar o melhor de algo ruim, depois de muito tempo tentando fingir que nada daquilo era real.

—El, por que você não aproveita que eu cheguei e vai comer alguma coisa? O Jonathan me disse que você chegou há umas três horas...

Eleven arqueou uma das sobrancelhas, intrigada.

—Ele ainda está lá embaixo?

Lucas assentiu

—Eu falei que ele podia ir... mas tudo bem, eu vou.

A Hopper se levantou, depositou um beijo na testa de Max, abraçou Lucas e saiu do quarto.

Após alguns instantes, Lucas se sentou na poltrona ao lado da cama, e ficou mais alguns instantes apenas vendo Max dormindo em seu sono profundo de dois anos enquanto pensava em muitos momentos que havia passado com ela.

—Oi Max... eu visitei sua mãe hoje, ela está bem melhor do que da última vez em que eu a vi. Desde que tudo aconteceu o vício dela piorou mas, nos últimos meses, ele vêm melhorando. Não é querendo me gabar mas, acho que ela gosta de mim e das minhas visitas -deu uma risadinha-. Mas, as saudades que ela sente de você só aumentam a cada dia. A saudade que todos nós sentimos, aliás. -fez uma pausa- Sabe, essa noite eu sonhei com você... nós estávamos no cinema, assistindo o lançamento de Top Gun. Você ficou tão encantada com a trilha sonora do filme, que não parava de me fazer perguntas sobre onde encontrá-las e eu estava apenas sorrindo, observando o seu olhar brilhante, e me deixando afundar no azul deles. Aí depois que saímos do cinema, eu te deixei em casa e nós nos beijamos, dissemos eu te amo e combinamos de irmos juntos para a escola, todos os dias, até o final do ano letivo.

Lucas sorriu.

Não, não, ele não sorriu, ele riu.

Uma risada que há tempos não dava. Era como se a alegria tivesse pulado de dentro dele e estivesse se manifestando ali, na frente de Max, na frente da destinatária de todo aquele amor que Lucas sentia.

Mas, após alguns minutos, as risadas cessaram e a tristeza surgiu novamente para zombar do garoto e de todas as suas esperanças.

Enxugou as lágrimas, e deixando o olhar cair para suas mãos entrelaçadas nas de Max, e em seguida deixando que ele encontrasse o rosto inerte dela, percebeu que não adiantava falar nem fazer nada, Max não iria acordar de repente e dizer que o amava. Ela não iria acordar e puxar a gola de sua camiseta para que ele a abraçasse e a beijasse.

Ela simplesmente iria continuar dormindo, profundamente.

Mas, Lucas ainda se agarrava a esperança porque... ele precisava!

Ele precisava se agarrar a qualquer partícula que o fizesse acreditar que a amada iria melhorar.

Porque, ele simplesmente precisava!

—Max... eu preciso de você! -fez uma pausa- Você sabe que eu odeio fazer essa situação ser sobre mim porque, de fato ela não é, mas, com quem eu devo falar? O que eu devo fazer se eu não tiver você? Eu preciso de você, Max, eu não posso te perder, não posso!

E deixou que as lágrimas tomassem conta de seus olhos e de todo o seu ser novamente.

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No dia seguinte, Dustin estava ocupado prendendo a bicicleta na grade da escola quando Will se aproximou.

—Dustin!

O Henderson se virou para encarar o amigo.

—Eai Will

—Eu preciso falar com alguém... você tem um minuto?

Desde que voltara a morar em Hawkins, Will se sentia desconfortável, tendo em vista que agora ele não sentia apenas o Mindflayer, como também o Vecna, algo que o tirava o sono pois a cada dia essas sensações pareciam piorar em níveis altíssimos. E na noite passada lhe veio a confirmação: ele passara a ter pesadelos também!

Mas, esse desconforto sempre era melhorado com a ajuda dos amigos e da família. Só eles sabiam como fazer o jovem Byers se sentir forte o suficiente para lidar com essas coisas.

E minutos depois, Will estava acompanhado de Dustin em um dos bancos do pátio da escola, que estava começando a ficar vazio devido a primeira aula do dia se aproximar.

Aula essa que eles não iriam assistir!

—O que foi, Will? É algo grave? -perguntou Dustin, parecendo preocupado.

—Ainda não é, mas pode ser!

O garoto a sua frente franziu o cenho.

—Como assim?

—Eu venho tendo pesadelos... e, na noite passada, eu tive um que foi o mais real até agora e... o mais provável de acontecer também.

—E o que era?

—Era a casa Creel. Ela estava vazia, mas, bem cuidada, não parecia abandonada há tantos anos, mas também não parecia habitar pessoas. Eu fui entrando, e a medida que eu ia entrando uma luz forte ia aparecendo no meu campo de visão, e aí teve um ponto nisso tudo que de repente a luz se apagou e voltou a piscar mas dessa vez de uma forma mais fosca e turva... e de repente eu percebi que eu estava em uma espécie de sala e no meio dela... estava a Max!

Os olhos do Henderson se arregalaram e em seguida ele franziu o cenho. Nada daquilo parecia fazer sentido.

—E como ela estava? Ela estava bem? O que estava fazendo?

—Ela estava cantando uma música que eu não consegui identificar mas falava sobre fazer um acordo com Deus e trocar de lugar...

Running Up That Hill, da Kate Bush! Salvou ela do Vecna na primeira vez! -disse Dustin, deixando seu olhar cair mas em seguida o voltou para o amigo.

—Isso! E aí ela cantava... mas aí no nada ela caiu no chão, como se alguém a derrubasse e um líquido vermelho começou a sair dos olhos, dos ouvidos e da boca dela, um líquido que parecia sangue. -fez uma pausa- Aí apareceu o Vecna. Apareceu o Vecna e a Max estava morta!

Dustin se encontrava em lágrimas silenciosas que escorriam pelo seu rosto.

—Eu não sei o que isso quer dizer... -disse Will.

—Será que quer dizer que ela não vai acordar do coma? E se ela já estiver morta, Will? Ela... ela não pode estar morta! Não pode!

—Ela não está morta. -disse Will, tentando consolar o amigo.

—Sim mas, você mesmo disse que esse pesadelo é o mais provável de acontecer e já fazem dois anos. Dois anos e ela não tem nenhuma reação!

Will não soube o que dizer, afinal, o que deveria dizer? Agora se sentia mal, como se tivesse preocupado o amigo por algo que nem ele mesmo sabia o que era e o que significava.

Era evidente que ele não chegou a ter uma relação próxima com Max, mas pelo pouco que a conhecia ele sabia que ela era uma pessoa incrível.

Por fim, apenas abraçou o amigo e deixou que as lágrimas silenciosas dele molhassem sua camiseta.

Duas horas depois Dustin e Will estavam novamente juntos, dessa vez, na sala de aula esperando que a professora de história chegasse.

Dustin não parava de pensar no que Will lhe dissera, e a sua preocupação se juntou com o medo. A cada dia que se passava as expectativas de melhora no quadro de Max diminuía gradativamente, e todos sabiam que uma hora ou outra o Vecna retornaria. De repente parecia que todas as peças estavam se encaixando.

—Eu pensei no que você disse mais cedo. -disse Dustin, se sentando na cadeira vazia em frente a Will, chamando a atenção dele. -A gente tem que contar do seu pesadelo para o pessoal!

—Tem certeza? Isso pode piorar ainda mais a situação, principalmente para o Lucas e pra El.

—Eu sei, mas caramba! O Vecna projetou a Max morta para você através de um pesadelo, essa é uma das maiores formas de ele atacar alguém; pelo pesadelo! Todas as vítimas dele tiveram antes de serem mortas. Chrissy, Fred, Patrick... e Max!

Will arregalou os olhos.

—Eu sei disso mas... puta merda! Será que eu vou ser a próxima vítima?

—Não tem como saber se você vai ser vítima ou se ele só está te usando como isca para chegar a nós. E é exatamente por isso que nós temos que contar para o pessoal!

—Tudo bem então. Mas quando?

—Hoje na reunião do Hellfire!

—Beleza! Vou pedir pra El ir.

Logo depois a professora chegou e Dustin voltou para seu lugar.

Mas nenhum dos dois conseguiu se concentrar na aula.

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Mike havia chegado em casa pouco depois das cinco. Talvez devesse ter chegado um pouco antes das quatro, mas não se importou, não naquele dia.

As palavras de seus amigos ainda martelavam em sua cabeça, como se a qualquer momento ele pudesse cair pelo peso delas.

Ele pensava que estava tudo em ordem. Com certeza sabia que Vecna retornaria mas, uma parte sua ainda tinha esperanças de que o monstro tivesse se esquecido deles.

Doce ilusão!

Só despertou de seus devaneios quando viu a irmã mais nova sentada em uma mesa perto da cozinha. Ela estava desenhando em um papel e o pijama que vestia indicava que já estava de banho tomado apenas esperando para jantar.

Sorriu. Nos últimos tempos ele havia se aproximado mais de suas irmãs. Principalmente Holly, que ainda morava consigo. Nancy havia ido para a faculdade há quase dois anos, e agora era apenas uma visita na casa Wheeler.

—O que a minha princesinha está desenhando? -perguntou o mais velho, se sentando na cadeira de frente para a mais nova.

—Uma pessoa que eu gosto muito!

Mike arqueou uma das sobrancelhas.

—Hum... sou eu?

Holly olhou para ele e deu uma risadinha antes de responder.

—Não, seu bobo. É a Max!

Imediatamente o sorriso se dissipou do rosto do jovem Wheeler.

—A-a-a Max?

—Sim! -confirmou Holly, voltando sua atenção ao desenho que fazia. -Eu sinto falta dela!

—Eu... eu também!

—Quando ela vai acordar, Mike?

Nesse momento o garoto pôde sentir um bolo se formando em sua garganta.

Esse era o tipo de pergunta que não se sabe como responder. E, se não se sabe responder, o que se deve dizer?

—Eu não sei... ninguém sabe! -respondeu, pensando que talvez essa seria a resposta mais lógica.

Holly voltou a olhar para o irmão e ergueu uma das sobrancelhas.

—Nem os médicos?

Após alguns segundos de silêncio, Mike enfim respondeu:

—Nem os médicos!

Minutos depois o Wheeler disse para a irmã que precisava tomar banho para jantar e foi para o seu quarto, fechando a porta logo em seguida. Jogou a mochila em um canto qualquer e se deixou cair na cama.

Se sua cabeça já estava a um turbilhão de pensamentos, agora ela estava prestes a explodir!

Uma parte de si torcia para que tudo o que Dustin e Will disseram fosse apenas uma especulação sem chances de serem verídicas. E a outra parte só sabia pensar em Max!

É evidente que durante muito tempo, sua relação com ela fora conturbada, difícil... alguns até mesmo achavam que havia ódio entre eles. Mas, um pouco antes dos eventos que originaram o coma, Mike e Max estavam mais próximos, se tornaram verdadeiros amigos. Era inegável que eram diferentes, mas ao mesmo tempo, eram parecidos.

Talvez fosse essa a causa de tantas discussões.

Olhou para a mesa de cabeceira, havia dois porta retratos nela; um carregava uma foto dele abraçado a Eleven. E o outro, carregava uma foto de todo o grupo junto depois da mudança dos Byers e de Eleven para a Califórnia. E nela, Max estava entre ele e Lucas.

Se sentou na cama e pegou o porta retrato, enquanto mil memórias surgiam, como se um filme de repente estivesse sendo exibido em sua mente.

—Oi Max... é estranho conversar com uma foto mas... eu sinto que preciso fazer isso. -fez uma pausa- Durante esses dois anos eu venho tentando ser forte, principalmente pela El e pelo Lucas e, sinceramente, não tive muito tempo para sofrer a minha própria dor de ter você tirada de mim. Eu sei que não tivemos muito tempo juntos, já que, somos tão teimosos que passamos boa parte de nossa convivência brigando um com o outro. Bem, isso não importa agora. -fez outra pausa- O que importa Max, é que eu sinto muitas saudades suas e queria tanto que você estivesse aqui com a gente, indo para a escola, se divertindo... sabe, durante muitos dias e muitas noites eu abracei a Eleven e enxuguei as lágrimas dela, ela nunca parou de se culpar pelo seu coma. E o Lucas também, nunca parou de se culpar por não ter conseguido ligar a Kate Bush a tempo. -fez mais uma pausa- Eu estava com a Holly há uns minutos atrás e ela estava desenhando você, e isso me fez tomar uma decisão: vou te visitar amanhã no hospital e levar esse desenho de presente para você. E quando eu digo que vou te visitar é porque eu vou sozinho, sem ninguém, finalmente criei coragem para isso. E eu espero que você em breve possa acordar para eu te dar um abraço apertado e me desculpar por tudo. Me desculpar por ter implicado com você quando você chegou em Hawkins, me desculpar por ter tido ciúmes de sua amizade com a Eleven, e me desculpar por não ter percebido a gravidade do seu mal estar naquele dia. Caramba! O Vecna tinha te atacado do meu lado e nem me passou pela cabeça que você estava em perigo! Mas enfim, volta pra gente. É só o que eu peço, volta pra gente!

E após mais alguns instantes olhando para a fotografia, voltou-a para a mesa de cabeceira e se dirigiu até a janela, observando a noite que caia.

Enquanto finalmente deixava as lágrimas silenciosas correrem, sem impedimentos.

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Dois meses se passaram e o final do ano letivo se aproximava. Mas, isso não era uma preocupação para a Party.

As teorias de Dustin sobre o pesadelo de Will se confirmaram; Vecna estava de volta e usou o Byers como isca para se aproximar novamente deles, principalmente de Eleven!

Alguns deles haviam se unido para lutarem contra o monstro, enquanto Lucas e Erica permaneciam ao lado de Max no hospital, e foram eles quem testemunharam o acontecimento mais aguardado por dois anos.

Lucas estava segurando a mão de Max quando sentiu os dedos da garota apertarem os seus, fazendo com que o garoto rapidamente olhasse para ela e então... ele viu;

Max havia acordado do coma!

Ela finalmente estava de volta!

—O...que aconteceu? -indagou ela, enquanto lágrimas silenciosas caiam de seus olhos.

Erica, que estava na janela, rapidamente correu até a cama, arregalando os olhos, tamanha a surpresa.

—Max? -os dois irmãos indagaram, em unissono.

—Lucas? Erica? O que eu estou fazendo aqui? -fez uma pausa- Espera! Eu estou enxergando... eu estou enxergando! E, e eu consigo me mover!

O que era verdade.

Não apenas ela conseguia enxergar e se mover, como também as manchas em seu rosto devido ao sangramento ocular haviam desaparecido.

Era como se nada tivesse acontecido.

—E acordou muito bem para uma paciente em coma... -pontuou Erica.

Lucas permanecia atônito. Ele não conseguia acreditar que finalmente sua amada havia voltado. Mas, ao mesmo tempo, se perguntava como aquilo podia ter acontecido e como Max pôde ter acordado como se tivesse apenas tirado um cochilo longo e não ficado dois anos em coma.

Logo, pensou que talvez isso poderia ter alguma relação com o Vecna, e se tinha relação com o Vecna, era porque ele havia sido derrotado!

Por fim, apenas abraçou a Mayfield, enquanto lágrimas de felicidade -nem um pouco silenciosas- desciam de seus olhos.

Minutos depois, quando os ânimos se acalmaram, Lucas e Erica contaram tudo o que aconteceu para Max, que por sua vez ficou em choque ao ouvir os relatos.

Meia hora depois, a garota adormeceu, devido as fortes emoções após despertar. E, enquanto Susan, sua mãe, fazia companhia a ela no quarto, os irmãos Sinclair desceram para a cantina.

Haviam acabado de se sentarem em uma mesa quando Dustin entrou no local. Ele parecia triste e desnorteado, algo que chamou a atenção de Erica.

—Dustin? -indagou Erica.

—DUSTIN! -gritou Lucas, indo de encontro ao amigo- Graças a Deus você apareceu! A Max acordou do coma! ELA ACORDOU DO COMA DUSTIN, A MAX ESTÁ DE VOLTA!

E abraçou o amigo, enquanto chorava.

Mas, por incrível que pareça, Dustin não havia esboçado nenhuma emoção.

Ao se separarem, Lucas percebeu a reação inesperada do amigo.

—Você está bem, cara? -perguntou.

—Você prestou atenção no que ele disse? -perguntou Erica, se juntando a eles.

—Eu... eu ouvi sim, mas...

Lucas franziu o cenho e perguntou:

—Aconteceu alguma coisa? Você está pálido!

—O Vecna foi derrotado!

—Que maravilha! Eu sabia que a Max acordar tinha alguma relação com ele... -disse Lucas.

—Então nós vencemos! Por que você está com essa cara? -perguntou Erica.

—Porque a luta final foi entre ele e a Eleven e... e no final da batalha entre eles, ela fechou todos os portais e destruiu o mundo invertido.

—Dustin, eu não estou te entendendo, se isso aconteceu então a gente deveria comemorar... -disse Lucas.

—A El morreu, Lucas. Todo o esforço utilizado por ela nessa luta resultou em um derrame cerebral...

A notícia caiu sobre eles como uma bomba. Toda a alegria esvaneceu dos rostos dos irmãos Sinclair.

Eles não podiam acreditar no que tinham acabado de ouvir.

Haviam visto Eleven pela manhã, ela estava bem, estava de braços dados com Mike... como isso pôde ter acontecido em um mísero espaço de tempo?

—O-o-que? -indagou Lucas.

—Exatamente o que vocês ouviram... por isso eu não estou feliz... apesar de agora estar um pouco pela Max.

—A Max... -lembrou Lucas- como vamos contar a ela? A El é a melhor amiga dela!

—Eu não sei... mas eu vim aqui contar para vocês então, ela também tem que saber!

E assim foi feito.

Meia hora depois os irmãos Sinclair estavam novamente ao quarto de Max, acompanhados de Dustin, e assim que Susan saiu, a notícia triste chegou ao conhecimento da Mayfield.

Max, por sua vez, não conseguiu dizer nada, nenhuma palavra sequer. Era como se ela tivesse levado um choque. E só depois de alguns minutos, ela enfim conseguiu derrubar as lágrimas.

—Eu acabei de acordar de um coma... e descubro que a minha melhor amiga morreu salvando essa cidade, e consequentemente me salvando?

Ela indagava a si mesma, enquanto tentava processar todos os recentes acontecimentos do dia.

—Eu não quero... -olhou para os três adolescentes parados em frente a sua cama.- eu não quero viver em um mundo sem a El! Não é justo que para eu viver ela teve que morrer! Não, não não eu não aceito isso. NÃO!

E de repente sentiu os braços de Lucas, Erica e Dustin a abraçando.

E juntos, sofreram a perda de uma grande amiga, que deixaria muitas saudades.

E ao final do dia, ninguém sabia se deveriam ficar felizes pela melhora de Max, ou tristes pela morte de Eleven.

Mas, de uma coisa eles sabiam; com o tempo, tudo iria melhorar e voltar ao normal.

Se é que algum dia foi!