I know I'II never get it, there's not a day that I won't try

Hawkins - Indiana, junho de 1992

Os raios solares daquela manhã de verão ganhavam destaque na paisagem bucólica da cidade interiorana de Hawkins, famosa por abrigar histórias e lendas sobrenaturais.

Porém, o clima agradável não tirou o foco de Maxine Mayfield, que naquela manhã estava prestes a fazer algo que sempre quisera fazer, mas que lhe faltava coragem.

Desceu do carro e em suas mãos havia um buquê de girassóis, as flores favoritas de certo alguém.

Quando parou em frente ao lugar, ficou pensativa durante alguns instantes, se perguntando se estava realmente pronta para fazer o que faria. Por fim, respirou fundo e seguiu em frente. Não podia recuar agora!

Andou até encontrar o que procurava, e quando finalmente o encontrou, não pôde evitar o choque.

Em memória amorosa de Jane Hopper

Filha, irmã, amiga e super heroína

18 de fevereiro de 1971 - 20 de maio de 1988

Após ler o que a lápide dizia, uma lágrima escapou dos olhos de Max, que imediatamente a secou com a manga do cardigã que vestia.

Deu um passo a frente, depositou as flores na lápide e se sentou no chão. Ficou alguns minutos apenas olhando o memorial enquanto pensava em muitos momentos que havia passado ao lado da amiga.

Faziam quatro anos desde o evento trágico que causara a morte de Jane, -mais conhecida como Eleven pelos íntimos- mas, ninguém ainda havia de fato superado a perda.

E Max, ainda não conseguia achar justo o fato de a amiga ter dado a vida para salvar a cidade. Em seu ponto de vista não era algo necessário.

Mas assim tinha acontecido, e em algum momento ela teria de aceitar.

—Oi El... eu vim te trazer essas flores, e também conversar um pouco com você. É a primeira vez que eu venho aqui. Quero dizer, a primeira vez que venho sozinha, eu já vim acompanhada dos meninos e também da Nancy, mas nunca sozinha. E, para mim é muito importante vir sozinha porque significa que eu estou avançando no meu trauma. Sabe, quando eu acordei do coma eu recebi a notícia que você tinha morrido derrotando o Vecna e toda aquela merda que envolvia o mundo invertido. E isso fez com que eu sentisse, novamente, o mundo caindo sobre mim. Eu acordei de um sono profundo de dois anos, recobrei minha consciência, o Vecna tinha sido derrotado, tudo estava acabado, mas eu não tinha mais você, a minha melhor amiga, então, do que adiantava? Chega a ser engraçado e revoltante o fato de você ter que morrer para eu acordar daquele coma. -fez uma pausa- Mas, agora, depois de quatro anos, eu estou um pouco melhor. Todos nós estamos, aliás. Mas, nunca nos esquecemos de você e nunca iremos nos esquecer! Todos os dias pela manhã o Hopper e a Joyce fazem waffles para o café. O Jonathan e a Nancy se casaram no ano passado e agora ela está grávida de uma menina, uma menina que terá o seu nome! O Will te homenageia a cada aniversário seu com uma exposição dedicada a você na galeria dele. O Lucas guarda uma foto de vocês dois juntos na carteira dele e sempre olha pra ela quando está sem coragem para fazer algo. O Dustin usa uma corrente no pescoço que tem o número onze gravado. O Mike... bem, o Mike é um pouco mais complicado, você sabe porquê... ele vem lutando contra uma depressão desde que tudo aconteceu. E assim como eu, ele têm feito avanços, mas, tem recaídas muitas vezes. Ele toma remédios, faz terapia, continua escrevendo, mas... há muito tempo não vemos o Mike sorrir verdadeiramente. É como se uma parte dele tivesse morrido junto com você. -fez outra pausa, para enxugar outra lágrima que caia de seus olhos- E eu... bem, assim como eu disse, estou conseguindo me recuperar dos meus traumas aos poucos, mas ainda tenho muito chão pela frente até que eu esteja de fato recuperada. Devido ao coma eu só consegui terminar a escola há dois anos, quando eu já tinha 19, e agora faço faculdade de direito, e já decidi que vou me especializar em área criminal focada em crianças e adolescentes que assim como você, sofrem abuso e outros tipos de violência. É a forma que eu encontrei de te agradecer por tudo o que você fez, não só por mim, mas por todos nós, por toda Hawkins!

Fez outra pausa e olhou para cima, para o céu, e logo voltou o olhar para o memorial.

—Sabe, o Lucas me disse que você costumava cantar uma música para mim enquanto eu estava no hospital. Era mais ou menos assim: I'II paint the kitchen neon, I'll brighten up the sky, I know I'II never get it, there's not a day that I won't try. E também tem uma parte sobre melhorar, era essa que você mais cantava para mim, segundo ele. -fez mais uma pausa- Ah El, você faz tanta falta! As coisas não são as mesmas sem você... e o pior disso é que eu não posso cantar a parte da música sobre melhorar porque você não vai voltar para nós, e isso dói!

Foi quando não conseguiu mais segurar as lágrimas, e se deixou desabar.

Só conseguiu retomar o controle de suas emoções depois de vários minutos chorando. Mas não podia evitar, era muito difícil se abrir, ainda mais sobre um assunto tão profundo como aquele.

—Muito obrigada, El, por tudo. Eu te amo muito minha amiga, e sempre vou te amar! Mas, preciso ir agora... já está quase na hora do almoço e eu combinei de ir almoçar com o Lucas, ele já deve estar me esperando. -esfregou os olhos quando se deu conta de algo- Ah é, esqueci de dizer que nós voltamos! Isso já faz um tempinho, pouco depois de eu acordar do coma.

Forçou um sorriso e se levantou.

—Espero que tenha gostado das flores, e que de onde você estiver, você esteja bem, El, é só o que eu desejo, que você esteja em paz!

Encostou a mão no memorial por alguns instantes, e então saiu do triste lugar, levando consigo um sentimento estranho de alívio, ainda que estivesse triste.

Era como se, depois de muito tempo, Max enfim tivesse encontrado uma certa paz ao que se dizia respeito a amiga.

Até porque, ela sabia que no final, elas sempre seriam as mesmas meninas que espionaram os meninos, que se divertiram no shopping gastando o dinheiro -do então padrasto de Max- e leram quadrinhos da Mulher Maravilha debaixo das cobertas.

Independente do que tivesse acontecido, elas seriam para sempre melhores amigas, e nem mesmo algo tão decisivo quanto a morte poderia mudar isso!