A grande janela da sala que estava com as persianas abertas mostrava o vai e em frenético dos carros quarenta andares abaixo bem no coração de Nova York. Regina estava hipnotizada olhando para baixo pensando em como essa agitação na 5th Avenue condizia bem com seu estado de espírito. A morena sentia todos os seus nervos a flor da pele com a história de Emma. Não que ela não tivesse acreditado antes que a mulher havia sofrido esse ataque, mas ouvir a narrativa com riqueza de detalhes a chocou em demasia e sentia esse choque se repetir em sua memória como um disco arranhado de uma melodia ruim.

Durante as ultimas quarenta e oito horas a morena havia trabalhado sem parar na tese de defesa da loira. Levantou todos os pontos que tinha que debater e já foi juntando com as provas que Emma a havia lhe entregado. Mas ela ainda não fazia ideia de como conseguiria provar o estupro da outra sem levantar suspeitas e comprometer sua defesa. E o pior de tudo é que o tempo parecia escorrer de suas mãos.

As horas eram inimigas e suas investigações na empresa não estavam retornando em quase nada. Frustrada fechou as persianas, a claridade parecia debochar da falta de sucesso dela. Regina sentou novamente em sua mesa e a tela do IPad exibia o descanso de tela. Não tinha percebido que tinha ficado tanto tempo de pé olhando o movimento. Abriu seus documentos e começou a ler o que já havia escrito quando algo lhe chamou a atenção no computador ao lado.

A morena comprara o aparelho em suas mãos assim que começara a trabalhar no caso de Emma. Ela sabia que os computadores da empresa eram ligados na rede a um servidor e ela não queria de forma alguma arriscar, mas jamais havia imaginado que alguém realmente mexia em sua máquina, afinal ela era Regina MIlls. Até aquele momento. A seta do cursor se movia sozinha pela tela. A mulher observava a seta abrir seus documentos e emails sem a menor dificuldade, paralisada Regina quase caiu da cadeira quando a ideia lhe irrompeu pelas veias. Se alguém pode entrar no computador dela, ela também poderia entrar no computador de alguém.

Guardando o IPad na bolsa e voltando para seu computador empresarial que agora se encontrava imóvel, a morena apagou várias pastas que ela sabia que eram importantes para o funcionamento do equipamento e sorriu muito aliviada quando de repente a máquina apagou na sua frente.

Levantou lentamente de sua cadeira ajeitando a saia lápis em seu quadril que estava bem marcado no tecido apertado. Conferiu os lábios tonalizados de vinho por um Marc Jacobs mate, passou os dedos pelos fios de cabelo ajeitando-os. Satisfeita com sua aparência saiu de sua sala feito um furacão, seus saltos ecoando pelo piso de mármore branco como o prelúdio de uma tempestade. O semblante sisudo fazia as pessoas desviarem do seu caminho. Por dentro um sorriso a consumia e Regina tinha que morder o interior das bochechas para evitar que gargalhasse no meio do corredor. Ela poderia fingir o quanto quisesse, mas a verdade é que amava ser a Evil Queen.

Era uma pena que seu destino não era tão longe. Logo avistou a sala que seria seu alvo. O garoto branco de cabelos cheios e negros deu um pulo na cadeira quando Mills entrou na sala de supetão. Bater não fazia parte do protocolo Mills. Eric era responsável por todo sistema de tecnologia da Mills e em sua caverna gelada ficava o servidor. Se houvesse um lugar de onde Regina poderia acessar todos os computadores, aquele era o lugar.

_O que foi, nunca me viu?– Regina disse para o homem a sua frente que apenas negou com a cabeça que houvesse algo – Parece que viu um fantasma. Meu computador desligou e eu preciso do meu computador ligado.

_A senhora poderia ter me ligado eu ia a sua sala.

_Senhorita. – Regina disse seca. - E eu sou mulher de ficar esperando alguma coisa? Sou mais de agir e ir atrás do que eu quero. Além do mais não posso ficar lá esperando você fazer seu serviço, eu preciso de um computador agora. Enquanto você faz eu vou usar esse aqui. – disse já se acomodando na maior máquina.

_Senhorita esse computador é o servidor você não pod...

_Você está querendo me dizer que eu não posso sentar no computador que eu quiser dentro da minha própria empresa Eric? – o olhar zangado de Regina encontrou o do homem que nesse momento mais parecia um bichinho amuado. – É isso que você esta querendo me dizer?

_Não...- sua voz tremia – claro que não.

_Eu imaginava que não. – Regina virou novamente para frente – Vai ficar aí parado? Quanto mais tempo fica aí me fiscalizando, mais tempo eu uso seu precioso servidor.

Bastou ouvir o clique baixo da porta que Regina começou sua caçada. Pelo servidor encontrou os computadores de Gold, Neal e de sua mãe. Com um Pendrive que havia escondido em seu sutiã copiou os arquivos que achava mais pertinente do computador dos mais velhos e não encontrara nada de muito útil no computador do mais novo além de várias fotos de pornografia e vídeos. Pensando se valeria a pena ou não tirou print das telas e baixou todas as fotos.

O computador de sua mãe não tinha muita coisa relevante, Cora sempre foi adepta do papel, mas o computador de Gold era organizado por sua secretária e Regina fez uma nota mental para dar uma bonificação para essa mulher. Suas pastas eram separadas por ano e continha desde trabalhos a detalhes de sua vida pessoal, como por exemplo, extrato bancário. Regina achou o ano do estupro de Emma e não foi difícil achar as três transações de cinquenta mil dólares destoando dos extratos dos outros meses. Ela já tinha por onde começar.

_Regina. – A morena fingiu que não ouvira sua mãe lhe chamando enquanto voltava para sua sala. – Regina Mills. – Chamou novamente mais alto, mas a morena bateu a porta atrás de si e sorriu vitoriosa quando Cora abriu a porta logo em seguida furiosa. – Regina você não pode agir assim dentro dessa empresa, quando eu te chamo você tem que me responder, desse jeito você diminui minha autoridade.

_Sua autoridade não anda suficiente por aqui não? – A morena mais nova perguntou se virando para a mãe.

_Não me teste Regina. Aqui dentro não somos mãe e filha, sou a diretora desta empresa e você como uma funcionária aqui dentro me deve respeito. – Cora ficava mais alterada a cada palavra e não deu chance de Regina retrucar. – Você está relapsa, não vem mais trabalhar, deixou de lado os planos do casamento e tudo por conta de um moleque bastardo e de uma sapatão intrometida e nojenta. Esse menino ira para um internato assim que Neal ganhar a guarda dele. Não quero essa ralé com você.

_Lave a sua boca Cora Mills para falar de Henry e Emma Swan. – Regina vociferou deixando a raiva contida nos últimos dias tomar controle do seu corpo. Há muito ela queria jogar tudo na cara de sua mãe e esse parecia o momento perfeito para sua libertação - Muito engraçado você falar de respeito e família quando você nunca teve um e tão pouco foi o outro. Aliás respeito e família não podem se incluir na mesma frase dita por você mamãe. – Cora se espantou com a reação de Regina, mas sabia disfarçar tudo muito bem. Há meses acompanhava a mudança de comportamento da filha sentindo que perdia as rédeas da morena, nesse exato instante ela duvidou se algum dia realmente as teve. Aquela não era a menina insegura e dependente que havia criado – Você nunca teve respeito, nem pelos outros, nem por você mesma e muito menos pela nossa família.

_Olha como fala comigo menina...

_O que foi? Não aguenta ouvir algumas verdades? Mas vamos começar pelo meu pai, o que você sentiu traindo o único homem que te respeitou e amou na vida? – Cora arqueou as sobrancelhas, há coisas que nem mesmo ela conseguia disfarçar – Qual foi a sensação me diga?

_Você não sabe do que está falando...

_Aí você engravidou da Zelena, e pasme, conseguiu esconder essa gravidez por nove meses do seu marido. Me diz, como conseguiu isso? – Regina riu sem humor – Mas você não podia parar não é mesmo? Todo mundo saberia que aquele bebê ruivo nunca poderia ser filha de Henry Mills então você teve a brilhante ideia de dá-la a adoção. – Cora deu um passo atrás se apoiando no encosto da poltrona da sala – Como você pode ver ‘família’ nunca teve um significado real para você. Aí algo deu errado e você percebeu que meu pai era um ser humano muito melhor e mais íntegro do que você jamais conseguiria ser e trouxe Zelena de volta e a criou como filha.

_Regina...

_Me deixe terminar. Você tinha que conviver com a lembrança constante do seu erro e fez da vida daquela criança um tremendo inferno. Criança que aguentou tudo para proteger a irmã mais nova, para que ela pudesse receber ao menos um pingo de consideração de sua mãe. Mas aquela menina sabia que amor de sua irmã era muito mais válido a ela e recebeu também a indiferença de quem deveria dar amor e depois que seus dois pilares se foram essa mãe viu a chance de destruir o único vínculo que ela ainda possuía.

_Tudo o que eu fiz na vida foi para você ter sucesso como eu sem um quinto do esforço que eu tive.

_Sim. Exatamente isso. Você queria que eu fosse como você. Amarga. Seca por dentro. Mesquinha. E esse foi o seu maior crime porque por um momento você quase conseguiu. Quase me transformou em tudo que eu mais abominei. Você.

_Você é uma ingrata. – Cora apontou acusatoriamente para Regina.

_Anos de internato e preparação para um futuro que eu nunca quis. Você nunca se importou com o que eu gostava, eu na verdade não podia gostar de nada porque se eu gostasse você tirava de mim. Os cavalos. Papai...

_Como ousa? Esta me acusando de matar seu pai? – Cora disse de repente.

_Nunca disse isso. Estava falando de me enterrar em um internato durante um maldito ano e nas férias, mas agora que disse isso tão preocupada me levou a pensar no que causou o infarto de papai... mas não vamos falar disso agora. – Regina completou vendo o medo estampado no rosto da mais velha. De alguma forma ela sabia agora que sua mãe de alguma maneira contribuiu para o infarto do pai e sentiu as pernas ficarem bambas – Zelena. Você me afastou da minha irmã. E por fim, o seu glorioso fim, você tentou e vem tentando destruir Emma Swan. E usou minha única amiga para isso.

_Você nunca foi boa para amigos Regina. E Ariel é uma prova disso. Ela te traiu muito facilmente. – Mesmo tendo tantas verdades jogadas em sua cara, Cora não queria ficar para trás e precisava atingir Regina de algum jeito, desestabilizá-la, mas a morena estava revestida de uma proteção que há muito estava escondida. Confiança nela mesma.

_Eu não quero nem imaginar o que fez para Ariel para ela te ajudar em qualquer coisa, mas está certa nunca fui boa com amigos porque nunca achei pessoas que valessem a pena até encontrar Emma Swan. Por isso Cora, não importa o que você fez há seis anos atrás, não importa o que vem fazendo porque tudo isso só prova o tipo de pessoa que você é. O tipo de monstro que você é. Então mamãezinha não ouse falar de Emma, porque ela foi muito mais amiga, muito mais mulher e muito mais família do que você já foi algum dia. O destino se incumbiu de nos colocar no mesmo caminho novamente e eu peço todo santo dia que, apesar de tudo que fez ela, ela possa amar a sapatão aqui de novo como um dia ela amou. – Sentindo seu corpo leve Regina sorriu antes de pegar sua bolsa e sair da sala caminhando para o corredor.

_Regina não ouse sair assim, você não pode falar comigo desse jeito. Você tem que me respeitar, eu sou sua chefe e posso te mandar embora porque não vem cumprindo com suas obrigações. – Cora recuperada do seu choque foi atrás da filha porque não era da natureza de Cora Mills perder uma briga tão facilmente.

_Ora mamãe isso não será necessário, porque eu mesma me demito. – Sorrindo para todos os colaboradores que saíram para o corredor Regina chamou o elevador, antes, porém de finalmente descer completou – nos vemos no tribunal mamãe.