Sob a Luz do Sol

Capítulo 25 - O casamento - parte 02


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PARTE 02 – PREPARAÇÕES TOTALMENTE DESNECESSÁRIAS: UMA VISITA À ESCOLA.

*tema: Wang Lee Hom’s Heartbeat*

Aquele vampiro era mesmo irritante. Eu poderia ter acreditado na mentira dele, se Rosalie não fosse tão terrível e tivesse me contado toda a verdade. Seria apenas um dia com todos os outros, se Rosalie não tivesse irritado todos os Cullen com a revelação da informação que me deixaria fora de controle. Edward estava no covil.

Eu acordei tarde, porque ele não estava ao meu lado. Foi um indício de que as coisas estavam diferentes, porque Edward não saía para ir à escola sem despedir-se de mim. Esme também parecia que escondia alguma coisa, quando desci com Charles para alimentá-lo. Eu pude notar, na forma como ela me olhava, que ela estava relutante em me dizer algo, que provavelmente eu não poderia saber. Mas o que poderia estar errado, se eu estava bem, Charles estava bem e bastante sonolento, o que era uma anomalia, e Edward estava na escola, como o aluno aplicado que ele era? Tudo estava tão perfeitamente encaixado e adequado que eu tive certeza que estava inventando coisas para ver problemas onde eles não existiam.

Mas os Cullen chegaram da escola, no carro vermelho de Rosalie. E Edward não. Onde estaria aquele vampiro e seu carro prateado? Eu sentia uma falta terrível dele, como se estar separada de Edward significasse manter aberta uma ferida pulsante, em carne viva. Esme tentava de tudo para me agradar, mas eu estava sempre em agonia. Charles Henry era um bebê muito quieto, muito tranqüilo. Ele não me dava nenhum trabalho, só exigindo de mim que o alimentasse regularmente. Não era distração o suficiente; eu precisava retornar logo à escola, viver uma vida normal. Se eu pudesse considerar que estava vivendo alguma coisa, claro. Alice me abordou imediatamente e começou a falar sobre o casamento, sobre cores e flores e arranjos e outras coisas que eu ignorava o que fossem. Ela falava tão rapidamente que Charles chegou a assustar-se em meu colo. Meu filho era muito perceptivo de tudo ao seu redor, e o comportamento de Alice era, também, suspeito.

Depois de algumas horas em que ela conseguiu me entreter sem, no entanto, me dizer o que havia acontecido com Edward, eu acabei por perguntar. Eu queria saber onde meu vampiro havia se perdido, porque ele nunca se atrasava sem me avisar. Foi quando Rosalie decidiu relatar os fatos, e eu percebi que ela não estava interessada em manter os segredos do irmão.

_Edward foi até seu covil. – Ela disse, sendo instantaneamente repreendida por Emmett, que chegava ao salão. Ah, os rapazes… como eram unidos, os rapazes! Como eles se defendiam, como faziam tudo para que as coisas dessem certo entre eles. Eu percebi que Emmett pretendia defender Edward, naquele instante, quando ele chegou como um dragão enfurecido e encarou Rosalie com olhos de fogo.

_Rose! – Foi o protesto. Meus olhos arregalados encararam os vampiros ao meu redor. A palavra covil sendo utilizada na mesma frase com o nome de Edward me causou pânico imediato. – Você não pode contar isso para Bea… Edward vai ficar desapontado!

_Como assim ele está no covil? – A pergunta saiu instantaneamente de mim. – O que ele foi fazer ao covil?

_Isso ele não me disse. – Rosalie desdenhou de todos. – Mas fique tranquila, Bea… se alguma coisa tivesse acontecido, Alice saberia.

Não, eu não ficaria tranquila. Nada me faria ficar tranquila a partir daquele instante. Meu organismo sofreu uma espécie de knock out, e eu me senti bombardeada imediatamente na cabeça. Esme pegou Charles de meus braços quando eu comecei a andar de um lado para o outro, sentindo uma explosão de adrenalina totalmente inusitada. Eu nunca me imaginei sentindo nada daquilo, era verdade. Eu mal me imaginava sentindo alguma coisa, quanto mais aquela ansiedade terrível. Alice e Jasper, que também chegou para tentar contornar a situação, tentaram me acalmar. Jasper tinha aquele poder irritante de fazer tudo ficar bem, mas eu ainda respirava rapidamente e sentia meu coração bater. Eu achava insuportável quando meu coração batia rapidamente demais, era assustador. Como se eu fosse irromper em vida, o que Carlisle já havia dito ser impossível mas eu ainda não acreditava plenamente. Deveria mesmo ser curioso, um ser com medo de viver.

Alice notou minha condição deplorável e ligou para Edward. As expectativas de meu vampiro estavam todas frustradas mesmo, e eu precisava saber se ele estava bem. Se ele estava inteiro, se nada tinha acontecido com ele, se ele se mantinha imaculado e perfeito como sempre. Quando ele atendeu Alice eu quase tive uma síncope totalmente humana e colapsei sobre minhas próprias pernas. Inacreditável que aquele comportamento fosse meu. De qualquer forma ele estava bem, e aquilo foi suficiente para fazer desaparecer qualquer vontade de fazê-lo em pedaços. Ele estava incólume e voltando para mim, era tudo que importava.

Eu ainda rodava de um lado a outro quando ouvi o Volvo prata parar no pátio. O ruído quase inaudível do motor suave do veículo conjugado com o barulho dos freios me deu a maior sensação de alívio que eu já pudera sentir. Como eu já estava reagindo da forma mais ridícula possível, meus pés se atropelaram e eu corri para a sacada a fim de receber Edward. Eu não prestei atenção em nada, eu não vi Esme retornando com Charles, eu não vi Jasper tentando em vão me segurar, eu não me importei se tropeçaria em mim mesma; eu só corri para Edward e joguei-me sobre ele tão logo a sua imagem, ainda borrada, se formou em meu campo de visão. Nossos corpos trombaram com alguma violência, e eu tinha certeza que aquilo me renderia alguns hematomas. Mas eu não me importei, nada era relevante naquele instante. Só o fato de que Edward estava de volta. Tive a sensação de que ele deixou cair alguma coisa para me segurar, tão logo eu me agarrei em seu pescoço e afundei-me em sua pele.

_Bea, meu amor… – Ele sussurrou em meus ouvidos, eu de olhos fechados, não querendo olhar para nada, só ficar presa a ele. – Bea… acalme-se, o que houve?

_Edward, nunca mais faça isso! – Eu disse, som abafado por meus lábios grudados em sua camisa. Ele cheirava como se um jardim inteiro estivesse em sua pele. Nada podia afetar o aroma incrível que Edward exalava no ambiente. – Nunca mais faça isso!! Eu tive tanto medo que algo lhe acontecesse, o que você foi fazer naquele covil?? Não diga, só prometa que nunca mais fará isso…

Edward deixou meu corpo apoiar novamente no chão, e delicadamente usou suas mãos firmes para afastar-me de seu corpo. Seus dedos percorreram a linha de minha face, e o polegar direito limpou uma lágrima de meus olhos. Chorar… eu havia chorado duas vezes em tão pouco tempo. Sensações muito estranhas, era fato. Seus olhos incrivelmente translúcidos penetraram nos meus e seu sorriso foi suficiente para fazer meu mundo parar imediatamente.

_Eu vou fazer Rosalie pagar por isso. – Ele disse, entre os dentes. – Está tudo bem, Bea.. estou de volta. Vamos entrar, venha.

Eu ainda não estava vendo nada. Eu ainda não estava ciente do que estava ao meu redor. Os Cullen estavam todos entre a sacada e o salão, apenas Carlisle ainda não havia retornado do hospital. Eu não percebi que eles tinham a expressão de curiosidade, e que conversavam sobre algo com alguém. Eu estava surda pela voz de Edward e cega por sua imagem. Meu coração estava praticamente parado, como se ele nunca tivesse batido antes.

_Esme… vamos precisar organizar o quarto de hóspedes. – Então eu pude ouvir meu vampiro falar, e olhei para ele confusa. Por que precisaríamos do quarto de hospedes?

_Sim… podemos colocar Charles para dormir com vocês e oferecer o quarto dele a Felicia, então.

_Aha, quero ver o que vão fazer com o bebê no meio! – Emmett deu uma risada. Meus ouvidos me traíram ao ouvir o nome de Felicia, e eu imediatamente passei a me conscientizar dos arredores. Olhei em volta e vi Edward segurando uma mala, o que ele provavelmente havia derrubado antes, enquanto atrás de si vinha Ferdinand, meu irmão híbrido, carregando outra mala. Felicia vinha logo atrás de Ferdinand, não tão tímida quanto antes. Esme segurava Charles, que movia os bracinhos em minha direção. Jasper chegava da cozinha com uma mamadeira para ele, uma vez que Rosalie parecia desaparecida. Alice recebia os recém chegados, e Emmett fazia piadas com nossa vida sexual, como de costume.

Os híbridos estavam ali, na casa dos Cullen. Minha mãe híbrida e meu irmão, ex prometido, que desistiu daquela sandice e me permitiu ir embora com Edward. Meus olhos procuraram Edward, e ele tinha um sorriso delicioso nos lábios, demonstrando que ele já tinha compreendido minha confusão e que pretendia explicar-me tudo que acontecia. Até porque os demais Cullen também não pareciam muito conscientes do que os híbridos faziam ali.

_Vamos nos sentar? – Ele disse, convidando todos ao salão. Abraçou-me pela cintura e arrastou-me com ele. Era tão bom tê-lo comigo. No caminho, tomei Charles em meus braços e pude notar que ele me sorria. Sim, ele sorria. Tudo nele demonstrava felicidade, como se ele tivesse entendido toda a minha angústia e soubesse que estava tudo bem, então.

_Então, teremos visitantes para o casamento? – Esme perguntou, e eu tive certeza novamente que ela era mais sábia do que eu. Todos eram mais sábios do que eu, era um fato intrigante. Eu era tão pouco objetiva que nunca conseguia enxergar nada claramente.

_Sim, teremos. – Edward começou a falar. – Eu estive no covil, como sabem… eu fui convidar seus pais para o casamento, Bea. Queria fazer-lhe uma surpresa, mas Rose parece que atrapalhou um pouco meus planos. – O olhar de Edward para Rosalie foi tão cruel que senti-me mal por ela. Ele rosnou, mas não moveu um músculo. Por mais irritado que ele estivesse, ele jamais faria nada contra ela, eu sabia. – De qualquer forma, após conversar com Rudolph, ele considerou…

_Rudolph? – Arregalei os olhos e deixei a palavra escapar em sonoro volume. – Você… falou com ele?

_Sim, meu amor. – Edward beijou-me os lábios com bastante suavidade. Maldito vampiro, ele não podia ser tão cruel! – Afinal, eu precisava da permissão dele… você entende das regras do covil muito melhor do que eu! Como eu poderia trazer Felicia sem falar com ele? E… bem, eu queria que ele viesse também.

_Rudolph? – Foi a fez de Emmett repetir o nome de meu pai vampiro. Obviamente Emmett, que não lia mentes, também não tinha entendido as intenções de Edward. Ninguém entenderia, porque elas não faziam o menor sentido prático. Por que ele teria retornado àquele lugar horrível, e por que ele pretendia ter uma conferência com um vampiro cruel. Pior ainda, por que ele pretendia trazê-lo de volta a nossas vidas.

_Sim. Eu sei que vocês devem estar todos confusos, mas eles são a família de Bea. Por mais conflitos que tenham acontecido, vocês deveriam dar-me um pouco mais de crédito. Afinal, eu estou dentro da cabeça de todos vocês… eu sei, eu tenho absoluta ciência do que pensa Rudolph. E Bea. E eu sei o quanto ela ama, mesmo que ela não saiba disso, a família do covil. Eu também sei que eles a amam. Ferdinand com sua desistência, Rudolph com a resignação, Felicia com a doação absoluta… eu não podia deixar que as coisas ficassem mal. Fui até o covil para buscá-los para o casamento sim, e pretendia que Rudolph conduzisse Beatrice ao altar. Mas como ele não veio, espero que Ferdinand nos faça essa gentileza.

_Mesmo eu sendo bastante ignorante nesse assunto, será uma honra. – Ferdinand respondeu quase que instantaneamente, imitando um comportamento que era todo meu. Falar apressadamente para impedir que Edward lesse nosso comentário.

_Mas… – eu ainda estava no humor de fazer perguntas – eles vieram… dias antes.

_Sim, foi idéia de Rudolph. – Edward demonstrou algum descontentamento com a situação. – Felicia e Ferdinand nunca estiveram na presença de humanos. Ele os enviou para que nós os… testássemos.

_Ah! Maneiro. – Emmett bradou.

_Louco demais. – Jasper considerou, sabendo claramente dos riscos que aquilo representava.

_Completamente insano! – Alice deixou cair o queixo.

_Tão ridículo quanto esperado. – Rosalie debochou.

_Já imagina como fará isso sem expor todos ao perigo, Edward? – Esme perguntou, tentando não reprovar publicamente o que o filho estava fazendo.

_Não. – Edward respirou fundo. Ele sempre fazia aquilo quando estava com problemas; era um cacoete totalmente humano. – Mas eu sei que vou levar nossas visitas para caçar. Eles vão estar mais aptos a enfrentar a tentação se tiverem sangue fresco como refeição.

Edward sorriu, tentando mostrar que ele tinha o controle da situação. Ele não tinha, e não precisava de super poderes para saber isso. Mas eu precisava estar do lado dele, afinal tudo que ele estava fazendo era por mim. Ele havia inventado aquela história toda porque ele sabia que eu tinha dúvidas quanto à história do altar. Edward então decidiu levar minha mãe e meu irmão para caçar tão logo eles foram devidamente acomodados. Ferdinand ficaria no quarto de hóspedes, enquanto Felicia dormiria no quarto de Charles. Ela disse que não era preciso que ele dormisse conosco, mas eu quis que assim fosse. Eu gostava de ter meu filho por perto, sempre, o máximo de tempo que eu pudesse tê-lo. Jasper e Emmett acabaram por decidir acompanhar Edward; os dois nunca dispensavam uma boa caçada. E meu vampiro efetivamente precisava de uma ajuda, pois os híbridos não estavam acostumados a caçar. Eu sabia, e imaginava que Felicia teria ainda mais dificuldade do que eu tive, para alimentar-se. Ferdinand ao menos era um homem, ele fora criado com os caçadores e sabia mais sobre caçadas.

Eu sinceramente não imaginava como Edward pretendia apresentar minha família aos humanos. Qualquer atitude era arriscada demais, mas ao mesmo tempo eu tinha aquela compreensão de que os meus híbridos não seriam cruéis com os humanos. Assim como eu não fui. O auto controle era uma característica interessante nossa, e por isso eu tinha certeza, dentro de mim, que Felicia e Ferdinand não se importariam tanto com os humanos. Eles sentiriam, sim, o mesmo que eu. A dor e a queimação na garganta como se a necessidade daquele sangue fosse imprescindível para nossa existência. E nós sabíamos que não era.

Quando retornaram da caçada, eu estava recolhida em meu quarto a admirar Charles Henry. Eu não tinha sede, estava bem alimentada, e depois do terror a que me submeti durante a tarde eu precisava passar algum tempo com meu filho, com minha família, para acalmar-me. Eu havia terminado de alimentá-lo, e ele me olhava com olhos brilhantes, vívidos, completamente transparentes. Ele tinha olhos transparentes, era fato. Edward entrou no quarto bem devagar, silencioso, imaginando que Charles dormia. Ele tinha um aroma ainda mais delicioso do que de costume; ele cheirava a sangue fresco. Seu cabelo impecavelmente desordenado, sua roupa inegavelmente limpa, e o aroma intoxicante do sangue fresco.

_Sua família se saiu muito bem. – Ele me deu informações sobre a caçada, enquanto sentava-se ao meu lado. Edward e seus movimentos perfeitamente calculados e medidos. – Ferdinand será um excelente caçador.

_Você está fora de seu juízo, já disseram isso? – Eu franzi os lábios, olhando em seus olhos límpidos. Tão claros quanto os de Charles, mas densos. – Toda essa empreitada é louca.

_Ninguém disse, mas todos pensam. Dá no mesmo para mim. – Ele me acariciou a face, gentilmente. – Eu devo tomar um banho, certo? – A pergunta me surpreendeu um pouco, mas eu imaginei que o cheiro dele tivesse despertado algo dentro de mim. E muito provavelmente, dentro de Charles também. Apesar de ele ter acabado de alimentar-se, o aroma estava muito forte. – Emmett fez muita bagunça hoje.

_Deu para perceber. – Eu ri. – Edward… eu estava pensando… depois disso tudo… – Interrompi-me quando notei que ele já sabia tudo que eu falaria.

_Diga, Bea.

_O que vai ser? Vamos continuar em Forks… Charles crescendo tão rapidamente… os humanos…

_Vamos ter que ir embora de Forks, Bea. Pelo menos pelos próximos vários anos. Mas isso é natural, a maioria dos nossos colegas de escola vai para a Universidade. Nós vamos também.

_E para onde vamos?

_Podemos pensar nisso mais tarde. – Edward tomou meus lábios e beijou-me bem devagar. – Vou banhar-me, ou nosso filho vai ficar inquieto a noite toda.

Edward me deixou mas retornou rapidamente. Eu nem estava interessada em adormecer, porque estava ansiosa demais para entender o que ele pretendia no dia seguinte. Mas meu corpo sucumbiu ao cansaço, e eu tive que acompanhar Charles. Pela primeira vez, Edward teve que sustentar dois híbridos adormecidos. Eu, completamente apagada por sobre seu peito, e o pequeno Charles, que ele segurava firmemente com o braço esquerdo. O peso insignificante de nosso filho não era suficiente para fazer com que Edward se incomodasse em segurá-lo a noite toda.

Meu sono foi daqueles inquietos que eu tanto abominava, e que não me deixavam sucumbir ao completo estado de inconsciência. Eu tive que perceber os movimentos durante toda a noite; saber que as coisas aconteciam sem no entanto poder participar delas. Quando a manhã chegou e eu finalmente pude despertar, percebi que Edward não estava mais ali. Temi ter perdido algo importante, e que ele já tivesse ido para a escola sem despedir-se. Mas Charles Henry também não estava na cama, e eu decidi buscá-lo. Vesti o roupão, sempre presente de Alice, e desci as escadas sem prestar muita atenção ao meu redor. Notei apenas que o dia estava claro mas sem sol algum, o que representava dia de aula para os Cullen. Para minha surpresa, porque eu esperava que nenhum dos Cullen estivesse mais em casa, Jasper encontrou-me quando eu chegava ao salão. Sorrindo, ele me deu bom dia e subiu correndo as escadas, em velocidade incompatível com a que eu estava acostumada a vê-lo transitar pela casa.

Fui até onde meu instinto me conduziu para achar Edward, ainda vestido em seu moletom preto, sem camisa, com Charles na sacada. Um vento muito frio soprava, e Edward parecia mais uma figura pintada no meio da paisagem do que uma pessoa. Aproximei-me, e notei que ele conversava com Charles. Eu não queria fazê-lo perceber a minha chegada, mas aquilo era impossível. O status de curiosidade prejudicava seriamente o status de coerência. Eu não me considerava apta a disfarçar meus pensamentos quando toda a minha concentração estava voltada para o que Edward fazia. Mesmo assim, ele pareceu não se importar inicialmente comigo, prosseguindo com seu discurso para o bebê.

_Faremos exatamente assim, você compreende? Quando você for apresentado àquelas pessoas, elas podem querer tocar você, e você pode sentir vontade de fazer algo que não seja adequado. Na verdade, Charles, nada é adequado. Os humanos não podem ser tocados por nós, a não ser em algumas situações. Você precisa resistir a eles, sim?

Aquela conversa era mais uma das conversas sem sentido de Edward, principalmente se eu a havia pego pela metade. Antes que ele se voltasse para mim, Rosalie aproximou-se por trás e me tirou do transe normal.

_Beatrice, já vamos nos atrasar. – Ela disse, surpreendendo-me. Olhei para Rosalie, que também não estava vestida para a escola, sem entender por que os Cullen não estavam estudando em um dia sem sol. – Se vai ficar babando em Edward por muito tempo, vamos deixar você para trás.

_Eu…

_Ela não sabe, Rose. – Edward disse, rosnando. Ele ainda não havia perdoado Rosalie completamente, apesar de eu sentir que ele não se irritaria com ela por muito tempo. – Eu não disse a ela.

_Disse o que? – Eu ainda estava completamente perdida. – Por que vocês estão todos aqui, ainda?

_Porque hoje só vamos chegar à escola no horário de almoço. – Edward entrou em casa, e me interceptou com um beijo na testa. – Vamos todos… inclusive você, Charles Henry e sua família.

_Ahm ? – Pavor preencheu meus olhos.

_Calma, Bea… está tudo sob controle. – Emmett disse, também se aproximando. – Pelo menos achamos que está… ah, vai dar tudo certo, não se incomode com isso.

Edward passou por mim, convidando-me implicitamente para subir e vestir-me. Eu ainda não tinha entendido direito, mas parecia que iríamos para a escola. Então, a exposição dos híbridos aos humanos se daria na escola? Nada menos coerente. Como Edward e os Cullen podiam cogitar a idéia de que aquilo fosse seguro? E se Felicia e Ferdinand não dispusessem do meu autocontrole? E se eles simplesmente não resistissem? O que estávamos arriscando, afinal? Era estúpido, e eu cheguei a celebrar que a idéia não tivesse vindo de mim. Não disse uma palavra, mas não me preocupei em esconder os pensamentos. Deixei que Edward soubesse tudo que se passava comigo, e seu semblante emburrado me deu indícios que eu aquilo o incomodava. Mas como eu podia pensar em não incomodá-lo quando tudo aquilo parecia além do limite da loucura?

Vesti-me com alguma coisa pré selecionada por Alice, porque não estava interessada em ocupar-me com vaidades, e escolhi uma roupa para vestirmos em Charles. Ele precisaria parecer mais humano do que nunca, e muito mais novo do que ele era. Charles não parecia um bebê de uma semana, mas de várias. E se ele teria que ser apresentado como um bebê prematuro – e eu sabia exatamente o que aquilo significava! – ele não podia aparentar tanta idade. E eu teria que agasalhá-lo o máximo possível, pois bebês sentiam muito mais frio. Toda aquela informação ao mesmo tempo, eu tendo que processar tudo enquanto estava completamente enlouquecida com a idéia.

No salão dos Cullen, encontrei-me novamente com Felicia e Ferdinand, que estavam tão diferentes que custei e reconhecê-los. Ferdinand estava vestindo algo de Jasper, porque provavelmente eles tinham tamanhos similares, enquanto Felicia vestia roupas emprestadas de Esme. Obviamente eles não poderiam ir à escola com aquelas vestes do covil. Além de tudo do covil cheirar ao século retrasado, as roupas eram como se pertencessem à Idade Média. Edward nunca se vestia como um jovem humano, eu já tinha percebido, mas ele usava ao menos vestimentas do século XXI. Foi interessante ver Ferdinand completamente penteado, parecendo um dos Cullen. Ele estava muito menos híbrido e muito mais vampiro. Talvez ele fosse mais depurado do que eu, então. Talvez ele fosse a genética perfeita que Rudolph buscava, e por isso o meu prometido.

Eu ainda não sabia exatamente o que faríamos na escola, e Edward pareceu interessado em manter-me na ignorância. Entramos no Volvo prateado eu, Felicia e Ferdinand, com Edward ao volante. Os demais Cullen iriam no carro de Emmett, o discreto Jeep de proporções monstruosas. Edward ligou o carro e me apontou o porta luvas, querendo dizer que algo estava ali e eu deveria checar. Mesmo segurando Charles, abri o porta luvas e encontrei vários envelopes de cor roxa, um tom bastante forte, combinado com um suave prateado nas bordas.

_O que é isso? – Perguntei antes de verificar, uma característica de quem não tem o intelecto suficientemente desenvolvido.

_Os nossos convites. – Edward disse, o sorriso brotando em seus lábios. – Ficaram prontos ontem, Alice os trouxe para casa. Ela consegue tudo quando quer, até convites em vinte e quatro horas. Imagino que ela tenha subscritado todos corretamente, ela seguiu a sua lista.

Tomei os envelopes nas mãos e olhei um por um. Cada envelope roxo estava endereçado a cada um de meus amigos humanos; seus nomes impressos em tons prateados e com uma caligrafia impressionante. Abri um dos envelopes e me deparei com um papel em um tom de roxo mais claro, mas ainda muito forte, também escrito em tons prateados, e as informações de nosso casamento.

Carlisle Cullen e Esme Anne Platt Evenson Cullen - Rudolph Caldwell e Felicia Marie Caldwell

Convidam para o casamento de seus filhos

Edward Anthony Masen Cullen e Beatrice Ann Caldwell

Olhei para Edward completamente chocada, e ele tinha aquele sorriso insuportável nos lábios. Era muita coisa, realmente, para eu assimilar em pouco tempo. Meu organismo não reagia bem a tudo aquilo, eu senti uma dificuldade em respirar e uma sensação muito estranha. Eu considerei que estava feliz demais, aquela era a questão.

A Forks High School não parecia sombria como eu imaginava. Eu a imaginava entristecida e fria, porque por alguma razão ridícula eu suspeitava que todos soubessem que uma horda de vampiros chegava para colocar a sua sobrevivência em risco. Estacionamos os dois carros e eu ainda estava apreensiva. Os convites em uma mão, meu bebê em outra, sem saber direito que tipo de desculpa eu poderia apresentar. Na verdade eu sabia, pois eu estava expert em mentir. Estar entre os humanos me fizera expert, haja vista eu não poder contar a verdade para eles nunca. Eles jamais poderiam suspeitar da minha real natureza orgânica, então eu mentia deliberadamente para poder viver sob a luz do sol e não confinada em um covil fétido.

_O que vamos fazer, agora? – Perguntei, ansiosa.

_Os Cullen vão cuidar de suas vidas. – Edward fez um gesto para os irmãos. – Eles vão ficar apenas observando, caso sejam necessários. Eu e você vamos conversar com seus colegas… pelo que percebo, estão todos reunidos em uma mesa, o que simplifica a nossa vida. Haja naturalmente, Bea… deixe que eu introduzo a conversa, entre no jogo comigo.

Sim, entrar no jogo. Edward sempre me dizia para não me preocupar, que ele sempre faria tudo dar certo. Eu acreditava nele, eu sempre acreditei nele sem contestar. Mas eu não podia evitar preocupar-me, porque era uma sensação mais forte que a minha. De qualquer forma, minha apreensão não estava relacionada aos humanos, mas à reação de minha família a eles. Caminhamos para o refeitório, Edward dando instruções para Felicia e Ferdinand. Ele explicou que o aroma dos humanos era fantástico, porém resistível, e que sem haver sangue derramado era perfeitamente possível suportar a presença deles. A dor era angustiante, porque sentíamos dor na garganta, uma vontade louca de beber algo que não nos estava disponível. Eu senti aquilo desde o início, mas eu sempre resisti bravamente porque eu queria. Era um desejo meu, que eu tive desde sempre, no covil. Edward explicou a eles que se houvesse força de vontade da parte deles eles conseguiriam resistir.

Da entrada do refeitório Ferdinand parou instantaneamente. Ele fechou seus olhos e prendeu a respiração, enquanto Edward subitamente levou suas duas mãos até os ombros de meu irmão híbrido. Era uma medida de segurança, pensei. Edward podia antecipar o que eles pensavam e sentiam, e aquilo era uma vantagem. Emmett, que já estava no refeitório, e que estava prestando atenção em nós, moveu-se na cadeira esperando que fôssemos precisar dele.

_Está tudo bem, Ferdinand. – Edward disse, voz baixa. – A sensação é essa, não precisa reprimir-se. Basta controlar-se.

Ferdinand reabriu os olhos e nos encarou, positivamente. Meneou a cabeça como que nos dizendo “sim”, e retomou a sua respiração. Felicia parecia bem, estranhamente bem. Edward não se sentiu tentado sequer a aproximar-se dela.

_Eles são muito iguais a nós. – Ela disse, finalmente. – A uma primeira vista, eu diria que somos idênticos.

_Vocês são parte humanos. Obviamente, parecem-se muito mais. – Edward sorriu. – Beatrice, está tudo sob controle. Vamos?

Sim, vamos. Edward caminhou por entre as mesas, os presentes nos olhando como se fôssemos fantasmas, até chegar à mesa de meus amigos. Claro que parecíamos fantasmas, mas não por nossa cor esbranquiçada. Éramos fantasmas porque ele era um Cullen, e eu estava sumida há meses. Mais chocante ainda, eu trazia em meus braços um embrulho, um pacote enrolado em um pano flanelado, o que causava ainda mais expectativa.

_Bom dia? – Edward disse, e Layla foi a primeira a olhá-lo. Eu tomei o cuidado de esconder-me atrás dele, nem sei se fui notada.

_Edward Cullen. – Sylvia disse, em tom debochado. – Falando conosco?

_Traz alguma notícia de Beatrice? – Geoffrey perguntou.

_Vamos precisar dar parte à polícia? – Layla finalmente falou algo.

_Vocês falam demais. – Edward riu. – Sim, trago notícias de Bea… eu disse que ela estava faltando o semestre porque estava doente, mas eu menti.

_Mentiu? – Sylvia arregalou os olhos. – O que houve com ela, Edward? Ela foi embora, algo assim?

_Aposto que ele aprontou, ela se irritou e voltou para casa. Isso sempre tem o dedo dos homens…

_Bea não voltou para casa. – Edward riu novamente, concordando com a gargalhada sonora emitida por Geoffrey. – Eu menti para protegê-la, porque ela estava muito constrangida com a situação. Vocês sabem que éramos namorados… e eu não fiquei sabendo imediatamente, assim como vocês, até porque ninguém notou… mas Beatrice ficou grávida.

_COMO? – Sylvia levantou-se repentinamente e deixou a cadeira cair no chão. Layla deixou cair o alimento que tinha nas mãos. Todos no refeitório inteiro se calaram, como se o que Edward disse pudesse ter sido ouvido com facilidade. Eu realmente estava envergonhada, não seria difícil fingir constrangimento.

_Preciso explicar como se fica grávida? – Geoffrey riu mais uma vez.

_Mas… como assim? Nós não… ninguém notou… onde ela está? Ela está bem? – Layla estava curiosa.

_Beatrice escondeu a gravidez porque ela ficou muito constrangida. Não éramos casados, e ela talvez considerasse que o que fazíamos era errado. Ela é de uma cidade do interior… teve uma criação muito rígida. Eu soube da gravidez quando ela já estava em estágio bem avançado, e não podia mais esconder o fato. Mas ela teve diversas complicações… e ficou em repouso absoluto. Isso não impediu que o bebê nascesse, prematuro.

Se era a minha deixa ou não, eu não sabia. Mas tão logo Edward mencionou o nascimento do bebê eu olhei para trás e vi Felicia e Ferdinand aguardando, resistindo tranquilamente à presença dos humanos saborosos, e decidi sair detrás de Edward. Movi-me lentamente e me fiz ver por completo. Meus amigos me encararam e se levantaram, todos ao mesmo tempo, intencionando uma aproximação.

_Oh!!! – Sylvia soltou a interjeição. – Bea!!!! Você está bem… e…

_Olá para vocês também. – Decidi demonstrar emoções humanas. Sinceramente eu também sentia falta dos meus amigos humanos, era um fato verdadeiro. – Senti saudades.

_Bea! – Layla correu para abraçar-me, e eu instintivamente entreguei Charles para Edward. Ele olhou para o filho com aquela expressão fantástica de adoração, e sorriu. Eu não queria colocar Charles em contato inesperado com Layla, era uma tortura muito cruel para o pequeno híbrido. Geoffrey também caminhou para meu lado, e logo eu estava cercada pelos humanos. – Céus, você está ótima… nem parece que esteve doente!

_Eu estava bem, só precisava repousar para garantir a segurança do bebê. – Tentei aproveitar a mentira de Edward e improvisar sobre o tema. – Como estão vocês, bem?

_Vamos poder conhecê-lo? – Sylvia apontou para o bebê nos braços de Edward, ansiosa de curiosidade. Até mesmo eu podia sentir sua ansiedade, os humanos costumavam ser bastante óbvios.

_Claro que sim. – Edward sorriu, e entregou-me o bebê. Respirei fundo, apesar de estar cercada de humanos, e descobri a face de Charles Henry para exibi-lo aos humanos. Ele tinha os olhos arregalados, e parecia bastante surpreso com tudo que acontecia. Os humanos imediatamente o circundaram também, e provavelmente a reação deles a Charles foi tão chocante quanto a de qualquer outro ser.

_O nome dele é Charles Henry Cullen. – Eu disse, apresentando-o a todos os humanos.

_Ele é adorável!! – Sylvia disse, em êxtase.

_Lindo demais… como vocês dois conseguiram uma criança completamente loira!

_Ele nem parece prematuro! Lindo, Bea… parabéns, vocês devem estar muito felizes.

_Sim, estamos. – Edward passou seu braço ao redor de minha cintura, puxando-me para perto. – E é por isso que viemos aqui hoje… Bea tem algo para vocês.

Meu filho mudou de colo outra vez, e eu peguei os convites que estava guardando. Entreguei um a cada um dos meus amigos presentes, que receberam surpresos o envelope mas já imaginavam do que se tratava.

_Isso é nesse final de semana!!!! – Layla jogou-se na cadeira.

_Que pressa é essa? – Geoffrey arregalou os olhos.

_Quero oficializar nossa família o mais rapidamente que puder. – Edward disse, beijando-me os cabelos. – E também, a mãe e o irmão de Beatrice vieram de longe para o casamento… precisamos ser breves.

Meu vampiro apontou para os dois híbridos que estava na porta, e os chamou com um gesto. Felicia e Ferdinand caminharam em direção ao público, ainda bastante hesitantes. Senti aquela apreensão de novo, mas meus amigos pareciam estar apenas divertindo-se com a situação. Vendo Ferdinand talvez eles descobrissem por que eu e Edward tivemos um filho loiro. Era característica genética, um fator considerável. Meus amigos humanos imediatamente festejaram a presença de minha família biológica e se apresentaram, dando início a uma pequena confraternização.

Foi algo inexplicável, e ao mesmo tempo impressionante. Ferdinand e Felicia não só resistiram aos humanos como se misturaram imediatamente a eles, da mesma forma que eu. Notei olhares bastante significativos de Layla para meu irmão híbrido, mas um relacionamento daqueles jamais poderia prosperar. Humanos e híbridos não… uma vez que Ferdinand passaria todo o tempo de vida de Layla desejando matá-la, e o segredo acabaria por se revelar. Eu sequer podia cogitar a possibilidade de um absurdo daquele, humanos e híbridos! Mas Ferdinand tinha toda aquela beleza surreal dos vampiros, graças à parte contribuição de Rudolph. Levamos vários minutos interagindo com meus amigos humanos, ate o momento em que deveriam voltar para suas salas. Edward não iria para a aula, pois ninguém poderia conduzir-nos até a casa. Eu não fazia a menor idéia de como dirigir aquele carro, e duvidava que minha família soubesse fazê-lo. Voltamos todos para casa, eu com a certeza de que as coisas finalmente estavam encaixadas, sob a luz do sol.