Sob a Luz do Sol

Capítulo 12 - Apaixonada


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*tema: Westlife’s To Be Loved*

With all the power of a symphony
That’s how my heart beats when you’re holding me
I can’t conceal, this is how it feels
To be loved by you
If everybody knows, it’s only ‘cause it shows
Because I take your love everywhere I go…

Por todo o poderoso Deus que os híbridos acreditavam existir, e por todas as orações que Felicia nos fez rezar noite após noite; por todos os milagres que ela contou acontecerem e por todos os nomes sagrados que eu aprendi. Nada poderia existir de forma tão plena, fantástica e entusiasmante. Eu não conseguia me conter dentro de mim mesma, e meu corpo parecia desejar expandir-se como se fosse feito de componentes moles. Havia música em todas as vozes. Havia uma cor diferente em cada estrela que tingia o céu de prata. Havia um aroma diferente em cada vez que eu respirava. E nunca, em nenhuma hipótese, poderia haver alguém que guardasse dentro de si algo tão grande e tão ansioso para se libertar.

Aquela era eu, exatamente no instante em que Edward me beijou. O contato de seus lábios nos meus, a sensação das suas mãos me puxando ainda mais para perto, do seu corpo cobrindo o meu. O sabor… o sabor de sua língua delineando os contornos da minha. Eu poderia me perder naquilo para sempre, e nunca mais me achar. Meus dedos desceram até encontrar algo em que agarrar, cravando-se com toda força possível na borda frágil da calça de Edward. Talvez aquilo causasse algum estrago… porque eu era forte, apesar de tudo… mais do que aquele tecido parecia suportar. Eu nunca havia sido beijada, ou pensado em beijar alguém. Eu sequer havia visto um beijo, que não nos filmes no covil. As donzelas em perigo eram sempre salvas, e terminavam sendo beijadas pelo mocinho errante.

Mas eu não era uma donzela em perigo, não havia qualquer monstro sobrenatural a me perseguir, e não havia mocinho a me salvar. E definitivamente eu não estava dentro de um filme de produção barata. Senti meu coração parar de bater por mais de um minuto, eu pude ter certeza. E minha respiração já tinha parado há muito tempo. Mas eu senti necessidade de engolir o ar, então. Como se toda aquela preparação no meu primeiro dia de sol não tivesse passado de mera especulação, e eu realmente precisasse do ar. Meus lábios dolorosamente buscaram um espaço fora dos de Edward para que eu pudesse puxar o ar com toda força, retomando o batimento inconsistente de meu coração.
_Bea… – ele novamente sussurrou, com os lábios tocando minhas bochechas, descendo para meu pescoço, e subindo novamente para encontrar meus ouvidos. – Respire. Vamos, respire…
Eu inspirei e expirei várias vezes, sentindo meu corpo estremecer e sacudir para cima e para baixo. Edward rosnou baixinho e levou seus olhos aos meus, esperando que eu me recuperasse. Se aquilo definitivamente fosse possível.
_Eu pensei que… – eu mal conseguia falar.
_Parece que pensou errado – Ele sorriu, e foi como se eu tivesse visto a luz pela primeira vez. – Vamos, você não está se sentindo bem. Vou levar você para seu quarto.
_Não! – Eu protestei antes que ele pudesse captar a negativa em mim. – Edward, não… eu… eu quero ficar com você.
_Tudo bem. – Ele ainda sorria, e seus lábios tocaram os meus rapidamente. O suficiente para que eu não entrasse novamente em uma ânsia sem fôlego. – Eu posso ficar com você lá.
_Passar a noite? – Eu repeti suas palavras de algumas noites atrás.
_Sim, passar a noite.

Então, aquela era a sensação de estar apaixonada. Aquela era a sensação de desejar alguém a ponto de esquecer-se de si mesmo e pensar somente naquela pessoa. Era aquilo que Edward sentia por mim, e que eu sentia por ele. Dormir aquela noite foi um martírio, porque ele estava ao meu lado. Se ele se fosse, eu não conseguiria parar de querê-lo ali. Se ele ficasse, eu não conseguiria parar de desejar tocá-lo, beijá-lo outras vezes. Edward não dormia, mas ele se deitou na cama e me puxou, fazendo-me repousar em si. Ele pensou em abotoar a sua camisa novamente, mas eu não permiti. Ele disse claramente que eu podia tocá-lo, e eu então o faria o quanto quisesse. Se fosse possível deixar de querer, algum instante. Eu queria olhar para ele sem parar. Edward deixou que seus dedos passeassem por meus cabelos, acariciando-os com bastante cuidado. Eu deixei que meus dedos desenhassem os contornos de seu peito até meu corpo não resistir e sucumbir ao sono.

Eu tentei me lembrar se me sentira daquele jeito desde que conhecera Edward. Desde aquele instante em que ele pensou em mim como uma presa, eu o desejei daquela forma? Muito provavelmente sim. Eu só não tinha percebido, ainda. Naquele instante, seu cheiro me foi intrigante, irritante. Mas eu já sabia que ele era perfeito em muitas maneiras de ser. Muito provavelmente, eu o desejei desde sempre. Mas eu ainda não tinha entendido o que havia iniciado aquilo tudo. Por que, de repente, eu havia perdido o controle. Quando foi que eu decidi que poderia sentir tudo aquilo por ele livremente, sem qualquer tipo de restrição.

Aquelas perguntas não foram respondidas por ele, porque eu as fiz durante o meu sono frágil. A consciência ainda restante no meu cérebro, a luta para manter-me acordada enquanto meu corpo sucumbia violentamente ao cansaço.

Com uma nova perspectiva de sensações, eu era a pessoa mais satisfeita que poderia existir. Pessoa não era um termo muito aplicável a mim, mas eu era, afinal, uma pessoa. O que mais eu poderia ser? A minha satisfação parecia impossível de ser superada, porque Edward instantaneamente me fornecia tudo que eu precisava. Ele se tornou o centro de tudo, e eu passei a gravitar ao seu redor.

_Eu às vezes acho que estou estragando você. – Ele reclamou, um dia, no almoço, dirigindo-se a mim.
_Eu tenho certeza. – Rosalie fez uma careta.
_Duas. – Alice concordou.
_Quietas. – Edward reclamou novamente. – Vocês dois, controlem essas duas. – Ele se dirigiu a Emmett e Jasper.
_Edward, você melhor do que ninguém deveria saber que não se argumenta facilmente com as mulheres. – Jasper riu. – Elas sempre vencem qualquer discussão.
_Muito esperto, Jazz. – Alice sorriu, beijando-o na ponta do nariz. Ela não se importou em fazer aquele carinho espontaneamente em frente a todo o refeitório, porque simplesmente o refeitório não enxergava os Cullen. Desde que eu me tornara oficialmente uma deles; não mais a prima, mas a ‘irmãzinha’ de Emmett, a companheira de Edward, eu também me tornei invisível aos humanos. Até Sylvia não parecia mais me enxergar, e eu não podia culpá-la. Edward me consumia todos os instantes do dia, não deixando sobrar muito para quem fosse.
_Por que acha isso? – Eu disse, mesmo sabendo que ele já havia lido essa pergunta. – Eu estou sendo estragada?
_Sim! – Edward segurou minha mão, e começou a brincar com meus dedos. – Você saiu do covil para conhecer o mundo… para ver os humanos… para viver uma nova vida. E logo você nos encontrou, eu te levei para casa e desde então…
_Imagine se vocês… – Emmett iniciou a frase, mas parou imediatamente sob o olhar ferino de Rosalie. E Edward. – Ok, ok… esquece.
_Eu não estou reclamando. – Falei, sorrindo. Eu gostaria ignorar a platéia e beijá-lo ali mesmo, no meio do refeitório. Mas não seria adequado. – Aliás, eu estou muito feliz, você devia saber disso.
_Mas eu ainda acho que estou tomando as experiências de você.
_Vocês deviam viajar. – Jasper disse, não imaginando que prestariam atenção. Os olhares, no entanto, se voltaram para ele. Todos ao mesmo tempo, até o meu.
_Que boa idéia, meu amor! – Alice sorriu, agitada. – Viagens são tão empolgantes… vocês poderiam ir até a Europa e…
_Estamos no meio do semestre, Alice. – Edward interrompeu o discurso da irmã, já sabendo o que ela diria. – Apesar da idéia de Jasper ser tentadora… ainda temos até as férias de primavera para podermos pensar nisso.
_São alguns meses, só. – Alice retomou a empolgação de onde ela tinha parado. – Vocês precisam mesmo programar tudo… então, não é cedo para começar a pensar. Jazz! – Ela parecia estar apreciando o companheiro, ofertando-lhe um sorriso enorme. Jasper pareceu encabulado, e se ele não fosse um vampiro ele teria corado.
_Eu não sei. – Falei, novamente por impulso. Eu falava muito por impulso, talvez porque Edward sempre me lia, e eu desejava falar antes.
_Eu disse. – Edward fez um bico. – Bea prefere terminar o semestre.
_Não há justiça se você sabe o que ela pensa. – Rosalie rebateu.
_Bem, todos vocês estão certos, afinal. – Edward desistiu. Virou-se para mim, sorrindo. Desde que eu vira a luz, o seu sorriso me cegava sempre. Invariavelmente, por mais preparada que eu estivesse. – Eu estou mesmo estragando você. Então… talvez a viagem seja uma boa idéia. O que acha, Beatrice? Gostaria de passar as férias de primavera comigo, conhecendo lugares que você nem imagina que existem?

Aquilo não poderia ter vindo como uma pergunta. Era de uma covardia extrema que ele cogitasse uma resposta diferente de um sim. Era mais fácil que ele simplesmente impusesse a idéia, porque eu não conseguia fazer nada além do que o desejo dele. Talvez ele estivesse certo, e me estragasse. Eu não conseguia mais pensar por mim mesma, eu só pensava o que eu gostaria que ele ouvisse, o que poderia agradá-lo. Eu só conseguia pensar nele, e para ele.

A idéia me assustou um pouco, era verdade. Viajar… algo como Boston, pensei. Encarar o avião novamente… apesar de que a presença de Edward já faria o avião mais admissível. E ele cogitou lugares que eu não imaginaria que existissem… irresistível. Foi como uma coerção, ele fez a pergunta e a resposta saiu de mim instantaneamente. Sem hesitação, como vinha sendo tudo que eu fazia por ele.

Na casa dos Cullen, Edward pediu para conversar com os irmãos por um instante. Eu deveria vestir-me… ele pretendia me levar ao cinema novamente. Os filmes em Port Angeles eram divertidos, ótimos momentos juntos. Eu não estava mais relegada aos romances, tínhamos experimentado outros estilos. Alguns eram tão estúpidos que me faziam rir, rir muito. Edward não ria sempre, ele era mais sério, mais comedido. E naquele dia, iríamos novamente a Port Angeles. Mas primeiro, ele pretendia conversar com os irmãos… novamente, conversa privada que me excluía. Momento de diversão com Alice, que estava sempre exultante e saltitante, como um cervo.

**** A conversa dos irmãos Cullen ****

_Vamos logo, Edward… o que é? – Emmett não era mesmo muito paciente. Edward reunira os dois irmãos para conversar, em campo neutro. Escolheram o quarto de Jasper e Alice porque Alice deveria estar distraindo Beatrice. Que não poderia ouvir a conversa, claro.
_Eu acho que preciso de ajuda. – Edward disse, não muito satisfeito em ter aquele debate.
_Diga, Edward… está relacionado à viagem? – Jasper sentiu a apreensão desde o momento da aceitação de Beatrice.
_Sim e não. Sim, porque eu imagino que essa viagem torne as coisas mais difíceis, apenas. Não, porque o problema existe desde que eu decidi assumir Beatrice…
_Enigmas, enigmas… – Emmett jogou-se sobre a cama.
_Emmett, por favor não desarrume essa cama… ou você terá que se entender com Alice sozinho. – Jasper recomendou.
_Bla bla bla. – Emmet rosnou. – Vamos ao problema de Edward.
_Beatrice é meio humana. – Ele disse, divagando, olhos na parede de vidro, observando a imensidão da floresta.
_Conte uma novidade.
_Sério, Emmett.. ela é meio humana. Eu… eu não sei o que pode acontecer se…
_Se?
_Oh. – Jasper levantou uma sobrancelha, e caminhou até Edward, colocando a mão em seu ombro, em sinal de conforto. – Então é por isso que até então vocês…
_Sim e não. – Edward riu da repetição da resposta.
_Você está com ela há quanto tempo mesmo? – Emmett questionou, divertindo-se com os enfeites de Alice. O olhar de Jasper controlava tudo, mas o irmão maior não parecia nada preocupado em manter a ordem.
_Três meses. – Edward confessou. – Desde que… bem, desde que começamos a namorar. Acho que o termo está bom.
_Edward, você é muito devagar. – Emmett riu alto. – Com três meses, eu e Rosalie…
_Não faço questão de saber, Emmett.. você não precisa me dar uma imagem tão clara. – Edward se sacudiu, tentando livrar-se da visão.
_Okay, vamos nos concentrar aqui. Edward, seu problema é… porque ela é meio humana? Qual seu medo real? Eu não consigo captar, só sei que você está muito apreensivo.
_Bem, eu sei que mulheres vampiras são naturalmente… incapazes de reprodução. Afinal, nenhuma delas enfrentou esse problema… nenhuma das que conhecemos. Mas… Beatrice não é uma vampira. Estão entendendo?
_Mais ou menos. – Emmett bufou.
_Você teme a possibilidade de ter um filho? – Jasper levantou a sobrancelha novamente.
_Sim e não. – Nova risada de Edward. – Eu temo a possibilidade de qualquer coisa inesperada acontecer. Ela é forte o suficiente, isso está bem para mim. A sua regeneração é muito rápida, mesmo que eu a machuque, ela talvez nem sinta. Mas… na primeira vez em que nos beijamos, ela não respirou. Ela às vezes se perde na divisão entre humanos e vampiros, quer lutar contra as suas necessidades corporais. Até hoje eu preciso lembrá-la de que ela tem que respirar quando nos beijamos. Eu não sei como seu corpo pode reagir ao momento.
_Use alguma das técnicas dos humanos. – Emmett considerou.
_Acha que elas funcionariam em um vampiro? – Jasper censurou. – Medicamentos definitivamente não serão eficientes. E… preservativo? Não sei… Edward é forte demais para isso, o ato seria muito intenso… seria muito possível que o invólucro não sobrevivesse.
_Acho que você está ligando demais para isso. – Emmett deu de ombros, intentando encerrar a conversa. – Você não vai machucá-la… seja lá o que for que aconteça depois, lide com o problema quando ele aparecer.
_Você está sendo muito útil. – Edward reclamou. – Como você é o mais… empenhado nisso, achei que poderia me ajudar.
_E eu estou ajudando – Emmett bateu no ombro de Edward. – Você deveria deixar essa preocupação para lá e deixar acontecer, irmãozinho.
_E pensar que ele pode antecipar tudo que ela quer… – Jasper suspirou, enquanto os três deixavam o quarto.

Naquela noite, depois do retorno de Port Angeles, Edward parecia diferente. Ele estava totalmente absorto em seus próprios pensamentos, como se estivesse planejando algo. Inicialmente, pensei que fosse a questão da viagem a perturbar-lhe. Alice passou muito tempo falando da mesma coisa, enquanto eu o esperava. Eu tinha certeza que aquilo o incomodava, mas o leitor de mentes era ele. Eu só poderia ter certeza do problema quando – e se! – ele me contasse. Durante o filme ele se limitou a segurar minha mão nas suas, completamente concentrado no filme. Eu gostaria de ter tido mais atenção… eu demandava atenção dele, mas eu não podia ser tão exigente. Ele já me dava tudo, era impossível querer mais.

Os Cullen já estavam todos recolhidos em casa, até mesmo os que saíram para caçar ao mesmo tempo que nós, em seus afazeres noturnos. Alice e Jasper estavam desaparecidos, e Edward sequer ousou perguntar sobre eles. Levando em consideração a apreciação de Alice pelo companheiro, durante o dia, eu tinha alguma idéia do que estaria acontecendo. Afinal, depois de tanto tempo entre os humanos e os Cullen, eu já tinha aprendido muito. Eu já não precisava fazer perguntas básicas e agir como uma tola, porque muitas das vezes eu conseguia entender. E Edward sempre acabava me fazendo entender, quando ele percebia a minha incompreensão.

Eu precisava de um banho, porque eu estava acostumada a banhos diários. Meu organismo era muito mais propenso a acumular impurezas, pela minha metade humana. A metade fraca, eu pensava. E eu sabia que Edward gostava do meu cheiro após o banho; ele gostava da fragrância do sabonete, que ficava em minha pele. Subi as escadas e pretendi encontrar-me com ele em seu quarto, como ele sempre fazia. Já havia se tornado rotina. Até eu não suportar mais a exaustão e desabar em um sono inconclusivo, eu ficava no quarto dele, ouvindo música, aprendendo, ouvindo-o contar-me as histórias de seus pais, seus irmãos, a sua própria. Ele demonstrava gratidão absoluta por Carlisle tê-lo salvo. Ele era tão inteligente que eu me sentia diminuída próxima a ele, mas ele sempre tentava me fazer parecer mais do que eu era. O mesmo acontecia noite após noite, com algumas exceções. Algumas das vezes ele me levava para junto da família, ou tocava piano para eu observar, maravilhada. Eu dedilhava o piano, mas ele era impressionante.

E naquela noite, eu pretendia fazer o mesmo de sempre. Banhei-me, vesti-me com uma das ‘roupas especiais’ para o sono, e caminhei para o seu quarto. Bem lentamente e suavemente, eu pretendi. O quarto de Alice e Jasper estava fechado e eu não pretendia fazer nenhum ruído que lhes perturbasse. Não parecia haver música vindo do quarto de Edward, o que era estranho. Talvez ele também não pretendesse perturbar os irmãos. Sempre muito suavemente, dirigi-me até a porta ao final do corredor, sendo surpreendida por algo inesperado.

Edward não estava vestido como sempre, mas parado em frente ao guarda roupas, sem camisa, sem as calças cáqui, como se escolhesse algo diferente.

Meus olhos mais uma vez se arregalaram, como se pretendessem uma visão mais ampla. Se fosse aceitável que eu tivesse uma visão mais ampla… porque não deveria ser permitido ver mais do que aquilo. Edward inteiro deveria ser proibido. Se eu não me julgasse imortal, talvez eu tivesse problemas naquele instante.
_Beatrice. – Ele disse, sabendo da minha chegada à porta. – Você… poderia esperar-me no seu quarto, por favor?
Ah, meu quarto! Aquilo era definitivamente novo, então. Edward raramente se dirigia a meu quarto se não fosse para me deixar na cama, já adormecida. Sabendo que ele não precisava de resposta, caminhei de volta pelo enorme corredor, o ar entrando seco pelas minhas narinas, meu coração acelerado, a eletricidade de volta.

Eram semanas passadas desde que a eletricidade fora embora.

Eu já estava me acostumando ao toque de Edward, e as sensações se aprimorando. Não havia mais uma corrente elétrica que repelia todo contato de sua pele na minha, mas uma atração magnética. Não havia mais como repeli-lo, mas como puxá-lo para mais perto. Então, aquela eletricidade toda fora um tanto quanto inesperada, também. Mas eu alcancei o meu quarto antes dele, e fiquei sem saber o que fazer. Observar o luar seria a minha melhor idéia. Como o sol não me causava um bem tão grande, decidira apreciar a lua e seus silvos prateados. Era a luz da lua que tornava Edward ainda mais insuportavelmente lindo.
Em alguns instantes, as mãos de Edward tocaram meus ombros suavemente, e seus lábios beijaram meus cabelos.
_O que estamos fazendo aqui? – Eu perguntei, porque ele então me deixava falar. Eu precisava me sentir proativa.
_Passando a noite. – Ele sorriu, mesmo que eu não estivesse olhando.
_E…
_Eu queria algo mais confortável para vestir. – Ele respondeu antes, daquela vez. Aliviada, ele me havia poupado da tortura de ter que dizer aquilo em voz alta. – Algo mais… macio.
Virei-me para ele, instintivamente. Eu sempre via Edward com o mesmo tipo de roupa, então eu precisava entender o que ele queria dizer com algo mais confortável. Ele se afastou alguns centímetros, me oferecendo a visão que eu queria. Em pé, moletom preto, meias, sem camisa. Prendi a respiração novamente, olhando incrédula para ele. Tentei banir a visão anterior de minha mente, mas foi impossível. Tentei banir a idéia de que ele estava vestindo a menor quantidade possível de roupa naquele momento, mas foi impossível. Ele estava ali, de frente para mim, lábios retorcidos, como se esperasse por minha silenciosa opinião.

Então ele estava decidido a passar a noite comigo, mais uma vez. Mas daquela vez ele estava diferente. Eu desejei lê-lo como ele me lia, mas tudo que podia esperar era Edward me mostrando o que estava havendo. Enquanto eu ainda estava em branco pela dúvida e pela curiosidade, ele me puxou para a cama, me fazendo deitar. Eu nem estava cansada, ainda. Acostumara-me a adormecer mais tarde, sempre com ele, enquanto passávamos agradáveis horas juntos. Mas ele parecia determinado, então aceitei. Deitei-me na cama, esticando os músculos. Edward deitou-se ao meu lado, acariciando meus cabelos ainda, as costas da mão delineando as linhas de minha face. Fechei os olhos e deixei que ele me beijasse, sabendo que aquilo era inevitável.

Porém Edward não me presenteou apenas com um beijo naquela noite. Eu também já estava me acostumando a ser beijada por ele, a sentir seus lábios pressionando firmemente os meus, fazendo-os entreabrir; sua língua buscando espaço até encontrar a minha, seu gosto floral na minha garganta. Aquelas sensações já estavam marcadas em mim como que impressas. Mas naquela noite ele decidiu me dar coisas que eu ainda não estava esperando sentir. Enquanto ele me beijava, seu corpo moveu-se por sobre o meu, o seu peso sustentado em seus cotovelos. Logo, parecíamos apenas um por sobre aquela cama. Sua pele toda em contato com a minha, enquanto o suave movimento de nossos corpos parecia estrategicamente levantar as bordas da minha blusa. Eu tentei desesperadamente não pensar, não olhar para ele, evitar que ele conseguisse ler o que eu estava sentindo. Mas Edward me beijava, e pressionava levemente seu corpo contra o meu; afundando nós dois no colchão macio. Suas mãos acariciavam meus cabelos, meu pescoço, meus ombros, me seguravam firme.

_O que foi isso? – Eu perguntei, sem conseguir distanciar-me dele um milímetro, uma das pernas entrelaçadas nas dele, tentando mantê-lo ali o máximo possível. Nossos lábios ainda se tocavam, mas ele estava tentando dar uma pausa para que eu respirasse. Sim, ele me tirava o fôlego de uma forma miserável. E eu desejava tirar aquela preocupação dele, mas sempre me afastava, buscando o ar desesperadamente. E então ele sempre – sempre! – se preocupava em parar, quando percebia que eu estava sem fôlego.
_Estamos passando a noite juntos. – Ele disse, ainda muito concentrado, beijando-me intermitentemente. – Até o limite do possível, até onde puder ser seguramente premeditado. – Ele completou.
_Não sabia que se podia premeditar isso. – Eu disse, capturando-o entre meus lábios novamente.
_Você sabe onde isso pode nos levar, Bea. – Ele mal conseguia respirar. Apesar de manter o ritmo para me ajudar, ele também se sentia sem condições de respirar.
_Sim, eu sei. Mas eu não sei se…
_Sim, é claro que podemos nos controlar. – Ele me encarou, então. Sobrancelha erguida, lábios afastados. Por um segundo, que pareceu eterno. – Sempre podemos… e você vai mesmo dormir, daqui a pouco.
_E se eu não quiser? – Fui infantil.
_Eu volto para meu quarto. Temos tanto tempo para passar juntos, não precisa se sacrificar por isso.

Eu estava, então, contrariada. Mas era verdade, tínhamos mesmo tempo. E eu confiava em Edward… cada passo que ele deu, cada movimento seu foi calculado e premeditado. E cada um me fez sentir a pessoa mais completa. Então, se ele pretendia premeditar aquilo também, se ele pretendia estar no controle, que fosse feita a sua vontade. Eu gostava de tê-lo no controle, porque ele era sempre muito bom no que fazia. Diante de minha resignação, Edward voltou a beijar-me, ainda por sobre mim, silenciando qualquer protesto sonoro que eu pudesse fazer.
_Vamos passar a noite assim mais vezes? – Eu tive que perguntar novamente, em outra pausa. A pergunta poderia ser irritante, mas Edward me sorriu.
_Quantas vezes você quiser, Bea. – Ele me beijou a ponta do nariz, como eu vira Alice fazer com Jasper. Uma fisgada, a eletricidade. – Mas não.
_Não o que? – Arregalei os olhos, surpresa. – Sua resposta ficou contraditória, não acha?
_O não é referente a duas coisas. A primeira, você não pode continuar a me espiar pela porta. E a segunda, você não vai me ter aqui vestido daquela forma. Ainda não.
Daquela vez o pouco controle que me restava fugiu de minhas mãos totalmente, e minhas bochechas coraram no maior rubor possível. Todo o sangue que circulava em meu organismo se direcionou para aquela parte do corpo, causando uma sensação totalmente desagradável. Como, entre tantas coisas fora de contexto que eu estava pensando, ele sempre conseguia se prender às mais ridículas e embaraçantes! Edward era um radar para captar meus momentos mais tolos. De tudo que eu estava pensando naquela hora, a imagem dele posando somente em suas roupas íntimas era irresistível. Mas não era para ele ter se apegado àquele detalhe… e menos ainda para ter tirado tantas conclusões.
_Assim você me deixa completamente envergonhada. – Eu disse, afundando-me em seu peito nu. Já havíamos mudado de posição, e eu estava então divagando em seus braços firmes, aguardando o sono abater-me. – Mas não sei por que não.
_Por que você é uma droga, Beatrice. – Ele disse, sorrindo. – Quanto mais eu tenho, mais eu quero. E seus pensamentos em nada ajudam o meu controle.
_Você pode me ter o quanto quiser. – Eu já estava mesmo imersa nele, um comentário absurdo a mais, um a menos, não faria diferença.
_Eu sei. Você também poderá me ter o quanto quiser… mas por favor, espere um pouco. Tenho algo a resolver… depois… depois eu sucumbirei à sua vontade.