Sob a Luz do Sol

Capítulo 13 - Connor


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O meu conto de fadas estava prestes a se materializar de todas as formas possíveis. Eu nunca fora romântica ou sonhara com o príncipe, como muitas das híbridas que conviviam comigo. Não poderia haver príncipes híbridos, e eu duvidava que os humanos que nos exilaram apareceriam em um cavalo branco, portando uma espada, para me salvar. Eu sequer imaginava que precisasse ser salva. Aquelas histórias contada por Felícia nunca me afetaram muito, mas eu cheguei a sonhar uma ou duas vezes se eu não teria um lugar me esperando em um castelo, para viver o ‘felizes para sempre’.

Não, era tolice demais. Mas Edward parecia determinado a fazer com que aqueles sonhos se transformassem em algo concreto. Ele era meu príncipe encantado, e eu estava tão apaixonada por ele que não sabia como lidar com aquele sentimento. A sensação de flutuar ao seu redor, a sensação de desejar sair de meu próprio corpo em êxtase só aumentava a cada dia. A cada noite. Eu não imaginava nada mais que eu poderia querer além de Edward Cullen.

E a família dele era perfeita demais para ser verdadeira. Alice era, então, uma amiga. Rosalie também era simpática comigo, mas não tão próxima. Ela parecia mais ríspida, e talvez fosse um trejeito de suas características humanas. Emmett era o meu irmãozão, como eu aprendera a chamá-lo, e o meu grande protetor. As caçadas com ele eram perfeitas… ele nunca me deixava sujar as mãos com os animais, e ele sempre caçava por mim, por ele e por mais alguém. De qualquer forma, Edward insistia que eu tinha que aprender a caçar sozinha. Para não morrer de fome, o que ele tinha razão completa.

Esme e Carlisle eram os pais que me davam muito mais do que eu tinha no covil. O carinho e a atenção que eles dispensavam a mim me faziam sentir realmente amada. Era uma sensação especial, e nada poderia ser melhor do que aquilo.

_Bea, vamos caçar. – Edward disse, segurando minha mão. Estava escurecendo, e fazia muito frio. O frio estava aumentando, e Edward dizia que era o inverno. A estação gelada, que fazia cair gelo do céu. Eu queria tanto ver o gelo cair do céu que chegava a ansiar por estar do lado de fora. Mas Alice me garantiu que a neve não cairia por aqueles dias, me fazendo frustrar um pouco. – Mas dessa vez você vai pegar a presa.

Senti meus ossos estalarem.
_Eu? – Olhos arregalados, assustada.
_Sim, está na hora. Emmett anda te mimando demais… você precisa aprender a comer sozinha.
_Ei! – Emmett, o grande urso vampiro, protestou da sala. Ele estava assistindo a liga de baseball. – Eu mimo a sua namorada e você reclama? Quem deveria estar fazendo isso era você, Edward Cullen.
_Ela precisa aprender. Você sabe disso.
_Sim, mas não vou forçá-la. Ela é sua, divirta-se.
_Não quer nos fazer companhia? Pensei em irmos atrás de uns ursinhos…

Emmett deu um salto do sofá, e logo colocou-se ao nosso lado, sorridente.
_Ursinhos! Ah ah ah Edward!! Você sabe como me provocar, hem?
_Eu me esforço. – Edward sorriu, iluminando toda a sala novamente. Respirei devagar, absorvendo toda a maravilha que eu sentia quando ele sorria descontraidamente. Senti que ele abaixou o olhar e diminuiu o sorriso, olhando para mim. – Bea, você me deixa definitivamente constrangido.
Foi a minha vez de corar. Eu, pelo menos, conseguia fazer minhas bochechas corarem. E aquilo denunciava meus pensamentos mais ainda do que eles próprios. Antes que o momento se tornasse constrangedor demais, saímos para caçar. Edward me segurava a mão, e me guiou até onde supostamente encontraríamos os ursos que Emmett tanto queria e alguns animais menores para mim. Porque, como eu já sabia, eu era pequena. Ao menos era como eu sempre me sentia, principalmente ao lado de Edward e Emmett.

Nossa viagem foi para mais ao norte, e fazia definitivamente frio demais. Eu não sentia a temperatura tão violentamente, mas sabia que estava frio. Até porque a mão de Edward nunca esteve tão gelada. A sua mão segurando a minha parecia uma pedra de gelo, e eu tive que notar a diferença de temperatura entre nós dois. Chegamos a algum lugar esperado, e meus instintos logo captaram um odor muito forte, ácido, que me inflamou as narinas imediatamente.
_Eles estão por perto. – Emmett agitou-se, arreganhando as presas e farejando a presa. – Vamos à diversão, Edward?
_Não, Em. – Edward disse, também farejando algo – Vim aqui para ensinar Beatrice… não a quero lidando com ursos enlouquecidos.
_Você não sabe o que está perdendo. – O comentário foi para mim. Mas eu sabia que Edward não me deixaria enfrentar animais perigosos, principalmente porque eu ainda não sabia matá-los, era verdade. Emmett nos deixou, indo para oeste. Edward continuou farejando, principalmente porque eu estava fazendo o mesmo. Mas meus sentidos ainda captavam a presa de Emmett, não a que eu deveria pegar.
_Os ursos? – Ele disse, assombrado. – Você quer mesmo os ursos?
_Eles… o cheiro é delicioso. Forte… muito forte.
_Mas Beatrice, eles são tão… você pode se machucar. – Sim, eu sabia. Edward não me deixaria enfrentá-los. Mas o desejo de correr atrás de Emmett e atacar um urso estava irresistível dentro de mim, e eu não conseguia pensar em outra coisa. O cheiro não saía de minhas narinas. – Bem, ursos então?

Edward me olhou, vencido. Fui surpreendida por sua aceitação, pois eu tinha certeza que ele não permitiria. Claro que Edward não era meu proprietário, e que eu poderia caçar o que quisesse. Mas eu andava muito condescendente ao lado dele. Deixava que ele fizesse comigo o que queria, e raramente encontrava forças para contestá-lo, para dizer ‘não’. Ele tinha razão quanto à minha personalidade… eu dizia ‘sim’ facilmente demais. Mas daquela vez falávamos de caça… e eu não sabia caçar… mas meus instintos me levavam em direção a um animal feroz, tão feroz que excitava a máquina de matar chamada Emmett. Era como eu imaginava, o urso.

De qualquer forma, Edward resignou-se à minha vontade. Ele fez um gesto que significou a minha permissão para correr a oeste, e atacar. Se eu conseguisse atacar.
_Beatrice! – Sua voz me alcançou, quando eu ainda perseguia o cheiro. – Siga seu instinto apenas… ataque. Feche os olhos se não quiser ver… eu confio em você.

Ah, ele confiava em mim! Aquilo poderia não ser o suficiente, mas reforçou meu ímpeto de caçar o urso. Havia um animal enorme, de pelo escuro e bocarra escancarada. Emmett estava lá, provocando-o. Era como se ele não estivesse simplesmente se alimentando, mas procurando diversão. Irritar o urso lhe parecia prazeroso. Aproximei-me, sabendo que não poderíamos dividir a presa, mas desejando-a mesmo assim.
_Edward, sua garota está de olho no meu urso! – Emmett conseguiu dizer, entre as presas cerradas e as provocações.
_Deixe-a divertir-se, Em… você pode conseguir outro mais facilmente do que ela.
Certamente Emmett não ficou satisfeito. Mas ele continuou a provocar o urso sem intenções de ataque, daquela vez. Como que preparando o terreno para o meu ataque. Coloquei-me em posição e, quando já estava totalmente dominada pelo aroma da presa e pelo desejo de sangue, atirei-me por sobre o urso, atacando-o fortemente no pescoço.

Mas… o urso era mesmo mais forte. E sim, eu poderia me machucar. Edward estava sempre certo, então. O grande animal estava muito provocado, e mesmo após o meu ataque e mesmo após a dentada fatal em seu pescoço, ele ainda teve forças o suficiente para lançar suas garras sobre mim e cravá-la, então, no meu corpo. Eu já sugava o sangue fresco, saciando a minha sede, quando senti o golpe, que me fez cair ao chão. Se eu fosse uma vampira, se eu fosse tão resistente quanto Edward ou Emmett, eu nem sentiria o ataque. Mas meu corpo se feria, meu corpo não resistiria ao choque. Eu seria arremessada longe, antes de conseguir me recompor novamente.

Foi o que aconteceu. Desfaleci ao chão, deixando o urso para a morte. Emmett jogou-se por sobre ele, terminando o serviço mal feito que iniciei. Edward correu para meu lado, ansioso, pressionando o ferimento que havia dilacerado meu ombro direito.
_Beatrice… – ele sussurrou, enquanto meus olhos ardiam em agonia. – Vai ficar tudo bem… só respire.
_Como ela está? – Emmett disse, sem deixar a sua presa.
_Ela vai se regenerar… o ferimento foi grande, mais alguns minutos.
Ainda bem que ele sabia que eu me regeneraria, e logo. Mas ele também sabia que doía, e doía muito. A dor era horrível, não desejável para nada. Meus olhos se fecharam, e tentei respirar bem devagar enquanto a ferida se recompunha. Aos poucos, senti a pele cobrir os ossos, e o sangue parar de correr para fora de meu corpo.

Emmett ainda bebia o urso insolente quando eu consegui me levantar. Edward segurando minha mão, eu tinha certeza que ele estava nervoso.
_Humpf. – Reclamei, passando a mão pela blusa totalmente arruinada e encarando a presa já praticamente drenada, nas mãos de Emmett.
_Vamos aos cervos agora? – Edward me segurou entre os braços. – Animais herbívoros e sem presas… mansos. Por favor? – O seu abraço era tão apertado que senti meus ossos estalarem. Eu senti remorso por tê-lo feito sofrer… eu deveria me lembrar que o meu sofrimento era também o seu sofrimento. Mas pelo menos uma coisa me deixou feliz, realizada. Eu podia caçar. Eu tinha forças para atacar o animal e sugá-lo até o limite, era como me sentia. E, morrendo de sede, que só estava mais provocada depois da tentativa frustrada com o urso, eu atacaria qualquer coisa que se movesse… até mesmo um humano.

Edward me levou então para buscar os cervos, e tivemos sorte em achar vários. Foi bem mais fácil com os cervos, devo confessar… não foi tão divertido quanto com o urso terrivelmente irritado, mas daquela vez não houve qualquer ataque, ou garras que pudessem me abater. Eu era a predadora, a predadora que colocaria fim à vida do animal. Não foi nada divertido. Tentei encarar como se estivesse realizando uma proeza extremamente necessária para minha singular sobrevivência. Edward observou-me caçar, mas me deixou sozinha por alguns instantes, buscando algo para si. Entendi que os cervos podiam ser ideais para mim, mas para ele eram apenas brinquedos. A verdadeira presa deveria ser outra…

Terminei com minha presa e senti-me péssima. Saciada em minha sede, mas péssima por ter passado por tudo aquilo. Não gostei de matar, afinal. Não gostei de atacar ou ser atacada, nem de ser a responsável por tudo. Mas sim, sobrevivência. Aguardei Edward voltar, observando minha roupa bastante rasgada onde o urso me atacara, quando ouvi ruídos na floresta. O cheiro não era de um urso, ou de um cervo. Era um cheiro novo, bastante diferente. Não parecia um vampiro, nem um humano. Os humanos tinham outro cheiro, mais irresistível ainda. Aquele cheiro era confuso. Um novo tipo de animal, pensei. Apurei as narinas e inalei uma grande quantidade de ar, quando me dei conta de um fato inexplicável. Aquele… era o meu cheiro! Antes que pudesse reabrir os olhos, Edward já estava ao meu lado, os braços ao meu redor, olhando para determinada direção.
_O que está acontecendo? – Perguntei, assustada.
_Tem alguém na mata… – Ele disse, presas expostas, esperando. Emmett logo se juntou a nós, também em posição de ataque.
_É um humano? – Perguntei, temendo ter me enganado.
_Não. – Edward tinha certeza, então. – O cheiro é inteiramente seu… exatamente como o seu.

Minha boca se abriu, assustada. Olhei incrédula para Edward, que me apertava contra seu peito com força. Eu mal conseguia respirar então, a face voltada para seu peito, completamente imersa em sua pele doce. Meus braços o envolveram, e eu desejei esconder-me. Um híbrido! Em poucos minutos, uma figura loira e pálida cruzou nossos olhares. Um homem alto, olhos da cor dos meus, pele branca como a minha, lábios vermelhos e fartos, trajando roupas do século passado, manchado de sangue fresco. Edward rosnou, Emmett o seguiu, e ambos encararam o híbrido com voracidade. Meu olhar perplexo talvez não dissesse tanto quanto meus pensamentos. Escondi-me imediatamente atrás de Edward, o coração pulsando muito forte, a respiração ofegante. Connor.

_Olá, viajantes. – Ele levantou a mão e cumprimentou os rapazes. – Devo ter-me afastado muito de minha trilha… poderiam ajudar-me a retornar?
Edward rosnou novamente, daquela vez bastante alto. Expôs as presas novamente, e sua irritação já havia começado a me assustar.
_Não somos o que você está pensando! – Edward disse. Emmett parecia esperar apenas um alerta para atacar. – Vocês híbridos são tão estúpidos que não reconhecem um vampiro nem olhando para dois!!
Aquilo me doeu, bastante. Eu era estúpida, aos olhos de Edward? Eu era estúpida… uma tola idiota que fazia as perguntas mais ridículas possíveis. Como ele poderia estar apaixonado por uma idiota, então? O que ele teria visto em mim para atraí-lo? Ou seria apenas uma armadilha daquele vampiro, a fim de prender-me em outro tipo de amarras? Senti tanta vontade de explodir com ele naquele instante, mas a presença de Connor me causava ainda mais pavor. Preferi tentar discutir aquilo posteriormente, até porque meus pensamentos foram tão cruéis que eu sabia que Edward tinha identificado um por um.

Connor encarou Emmett e Edward por algum instante. Ele não podia me reconhecer, porque eu estava definitivamente por baixo da camisa de Edward. Já havia me colocado ali desde que percebera a imagem conhecida. Meu corpo todo tremia, e Edward tinha um péssimo momento tentando me manter sob controle. Suas mãos acariciavam minhas costas, tentando me passar algum conforto. Inutilmente.
_Vampiros? – Ele disse, em desdém. – Oras… não sabia que existiam vampiros por essa região.
_Não moramos aqui. Estamos de passagem.
_Edward, nós vamos…
_Não, Em. Ela o conhece…
_Bem, peço desculpas por meu comportamento. – Connor resignou-se. – Estava caçando alguns humanos, mas perdi a trilha. Imaginei que fossem vocês…

A perplexidade me fez ainda mais estúpida. A frase de Connor me causou tanto pavor que desprendi-me de Edward e coloquei-me à frente, encarando o antigo irmão com dúvida e descrença
_Beatrice! – Ele disse, também perplexo.
_Connor! Você… o que você está fazendo aqui? O que você.. você está caçando humanos?
Silêncio. Connor avaliou a situação. Saberia ele que eu tinha fugido? Ele teria como saber, Rudolph teria contado a alguém sobre minha fuga? Ou ele temia uma debandada dos híbridos? Connor era um dos caçadores, ele tinha permissão para sair e caçar para nos alimentar. Ele parecia tanto um humano… se não fosse seu cheiro inconfundível, ele poderia se passar por um. Mas lá estava ele, confessando que… eu não queria acreditar.
_Bea, por favor, volte aqui. – Edward aproximou-se, segurando-me. Eu não estava pensando claramente, então.
_Ele caça humanos? – Eu me virei para Edward, horrorizada. – Você viu… ele caça? Diga-me, ele me fazia alimentar com sangue… humano?
_Beatrice, o que você está fazendo com esses puros? Aliás, o que você está fazendo fora do covil… Rudolph sabe que você…
_Cale-se! – Eu gritei. – Edward… diga-me.
_Sim. – Edward abraçou-me novamente, tentando me afastar de Connor. Ele me puxou, bem lentamente, e me recolocou atrás de si, ajeitando sua envergadura. Mesmo que ele não me tivesse dado resposta alguma, eu já sabia. Connor caçava humanos. Ele levava sangue humano para o covil. Não era sangue de animal; era sangue de pessoas, seres humanos. Ele era um assassino.
_Como pode… – Eu disse, entre uma respiração e outra. – Connor, Rudolph sabe que você caça seres humanos?
_Aah! – Connor riu, e eu desejei atacá-lo ali mesmo, como fizera com o urso. – Claro que ele sabe, Beatrice… na verdade, Rudolph adora sangue humano. Mas não se preocupe, você nunca bebeu. Sangue humano é só para os chefes, os anciãos.
_Desprezível. – Meu tom de voz era baixo, o ódio lentamente se acalmando em mim. Como podia… ouvir aquilo me causou um repulsa imediata, e um pavor terrível. Era como se eu tivesse vivido uma mentira desde sempre. Eu considerava os híbridos sofisticados, bondosos. Os humanos eram cruéis e nos haviam exilado, banido para as profundezas. Os humanos eram cruéis. Eles nos perseguiram sem motivo algum, porque os híbridos não queriam fazer-lhes mal. Mentira! Vã mentira, eu então sabia. Se Connor caçava humanos e se Rudolph adorava seu sangue, é porque os híbridos sempre se alimentaram de humanos! Por que aquela mentira fora construída, por que tanta máscara ao redor de um fato como aquele, era o que eu ainda não entendia.
_Vamos embora. – Edward decidiu, em meio ao meu desespero. – Ele não está em nossa região… e caçar humanos não é contra as leis dos vampiros. É uma opção detestável, mas legal. Vamos embora.

Emmett não pareceu satisfeito em deixar a briga, mas não faria nenhum mal a outro ser, eu pensei. Emmett era uma pessoa ótima, apesar de ser sempre tão irritável. Edward colocou-me à frente e deu as costas para Connor, intentando deixar o local.
_Não posso deixar que se vá, Beatrice. – Connor disse, rosnando também. – Agora você sabe mais do que deveria…
_Eu não vou voltar para aquele maldito covil, então faça bom proveito de suas opções. – Eu disse, sem virar-me.
_Mesmo assim, pretendo levá-la ou terei que aniquilá-la.
Foi o suficiente para Edward e Emmett se voltarem novamente para ele, presas expostas, o ataque iminente. Apavorei-me, horrorizada com tudo aquilo. Eu nem conseguia respirar, porque havia um peso enorme sobre meu peito que me empurrava para baixo.
_Connor, você é louco? Vai desafiar dois vampiros muito mais fortes do que você, e ainda a mim? São três contra um, esqueça isso!
_Ele não vai esquecer, Bea. – Edward sussurrou para mim, logicamente sabendo mais do que eu. – Emmett, temos que resolver isso. Se o deixarmos ir, ele já sabe exatamente o que vai fazer. Não há outra solução.

O sinal de ataque vindo de Edward foi o suficiente para que Emmett pulasse por sobre Connor, arrancando-lhe um pedaço com os dentes. Connor tentou reagir, mas Edward logo se posicionou ao lado do irmão e também lhe retirou um pedaço. Os dois começaram a desmembrar Connor, e tão logo os pedaços estavam jogados ao chão, Emmett arrumou alguns gravetos ao redor e ateou-lhes fogo, com um isqueiro metálico.

Eu estava aterrorizada ao limite máximo. Meu coração batia tão rapidamente que eu pensei que ele entraria em falência. Minha boca estava aberta, a imagem de Connor totalmente desmembrado e queimando naquela fogueira improvisada. Edward me olhou de longe, enquanto Emmett garantia que o fogo consumiria tudo. Eu caminhei para trás, tentando me afastar daquilo, me afastar de tudo. Minha cabeça começou a rodar, a minha visão tornava-se turva, e o pavor não cessava. Senti como se o mundo estivesse em uma velocidade que eu não conhecia, enquanto Edward e Emmett e a fogueira de Connor se afastavam de mim. Até que meu corpo bateu em algo, que imediatamente me segurou pelos braços.
_Beatrice. – Carlisle me amparou, enquanto eu imaginava que fosse desabar ao chão. – Você está se sentindo bem?

Nenhuma resposta. Junto com Calisle estavam Alice e Jasper. Eu sabia que Alice provavelmente tinha visto tudo que aconteceria, e eles seguiram para nos encontrar. Minha condição catatônica não me permitiu observar muito. Alice parecia bastante abalada, e tentou se aproximar.
_Carlisle, deixe que eu cuido dela.. vá ajudar Edward e Emmett. Vá também, Jasper!
_Alice. – Eu disse, olhos apreensivos, medo. – Você me leva para casa?
_Vamos esperar os…
_Agora, Alice… por favor.
Ela sorriu, e fez um gesto para Jasper indicando o que iria fazer. Alice segurou-me pelos braços e andou comigo para casa. A nossa velocidade era impressionante, e percorríamos longas distâncias sem perceber, quando queríamos. Em pouco tempo estávamos em casa, e eu corri para trancar-me no banheiro. Não sabia se precisava de um banho, mas tinha uma sensação de enjôo como se tivesse, naquele instante, bebido o sangue contaminado das brincadeiras de Jasper.

Depois de um banho morno, tentando normalizar a minha temperatura corporal conforme Edward me ensinara, fui direto para meu quarto e fechei a porta. Alice não entrou, apenas ficou do lado de fora, como que zelando por mim. Eu me sentia ainda muito imunda, e as imagens de Connor sendo despedaçado eram abomináveis. Pior, as imagens de Edward desmembrando Connor. E o fogo escuro e de cheiro terrível que continuava em minhas narinas. Eu me sentia tão mal que o mundo ainda estava rodando. Sentei-me no sofá que estava colocado próximo à parede de vidro e me encolhi, como que em uma posição de defesa.

_Alice, deixe-me passar! – A voz de Edward pode ser ouvida. Fechei os olhos e apurei meus ouvidos, ainda sentindo tudo tremer. Ouvir a voz dele sempre me causou conforto, mas não naquele instante. Talvez alívio, por ele estar em casa, em segurança.
_Edward, ela está sofrendo… dê algum tempo a ela, Bea precisa ficar sozinha.
_Você não sabe, não está ouvindo a agonia dela! – A voz de Edward era transtornada, e eu ainda não o tinha ouvido daquela forma. – Deixe-me falar com ela, por favor…
_Eu não estou te impedindo. – Alice pareceu sucumbir. – Mas ela fechou a porta… é o suficiente para pedir privacidade.
_Edward meu filho… – Era a voz de Esme. – Seja lá o que tenha acontecido, ela vai superar.
_Eu matei um híbrido… mas vocês já sabem disso, ou não teriam mandado um destacamento atrás de nós. Era a única chance.. eu preciso explicar a ela o que ouvi, o que ele planejava.
_Talvez mais tarde, ou amanhã…

De todos os sentimentos possíveis naquele dia, o mais estranho ainda poderia ser o remorso. Ouvir Edward totalmente transtornado no corredor, implorando para passar pela irmã e pela mãe, desejando falar-me, foi dilacerante. Mais ainda do que qualquer outra sensação. A agonia imediatamente mudou de foco, e eu só conseguia imaginar Edward sofrendo por minha causa.
_Não, vou falar com ela agora. – A mão de Edward abriu a porta, e ele entrou quarto adentro. Pude ver Alice frustrada no corredor, por não impedi-lo, e Esme conduzindo-a para mais longe. Seus olhos capturaram os meus, e eu pude ver a agonia que antes imaginara. – Bea, meu amor… – ele caminhou em minha direção, enquanto eu me mantinha encolhida e assustada. – eu sinto muito, Beatrice. Mas eu não vi outra saída, ele… aquele caçador pretendia levá-la de volta… mas não viva. Eu pude ver, eu pude sentir e…
Edward colocou a face entre as mãos, interrompendo-se. Desejei secretamente ler seus pensamentos, então. Eu gostaria de saber o que ele sentia, para poder confortá-lo. Porque ele parecia precisar de conforto.
_Edward. – Eu soltei minhas pernas e tomei suas mãos entre as minhas. Ele me olhou, os olhos claramente desesperados. – Edward, diga. Diga que Connor era um monstro, diga que ele matava humanos e era um assassino. Diga que ele mereceu tudo que teve, e que essa foi a morte que Alice viu. Diga-me… se for mentira, minta.
_Não é mentira. – Ele hesitou em puxar-me para si, mas o fez. Imergi em seu peito mais uma vez, deixando que seu aroma adocicado me fizesse esquecer o cheiro que estava impregnado em mim. – Não é mentira, ele era um caçador de humanos. Ele caçava humanos e se alimentava deles, o que muitos vampiros fazem. Mas eu fiz o que fiz por você, Beatrice! Foi por você… eu vi o que ele pretendia fazer com você. Eu vi… ele era um monstro, mais pelo que ele pensou em fazer com você. Eu só pensei em te manter em segurança, desculpe-me!

De onde ele tirou que precisava pedir-me desculpas, era uma boa questão. Mas ali estava o meu Edward, sentado ao meu lado, abraçando-me com toda força possível, desculpando-se por matar aquele que pretendia agredir-me. Connor.. um dos meus. Um daqueles que eu aprendi a respeitar e venerar, um caçador. Como eu os respeitava… como eu desejei ser entregue como companheira de um caçador, quando Rudolph decidisse que chegara a hora. E então Connor, um deles, era um assassino cruel e vil. Ele mentia… todos eles mentiam para os híbridos, dizendo que somente nos alimentávamos de sangue animal. Eles criaram fábulas ainda piores do que as que contavam como lendas. E Edward estava ali, desculpando-se por ter-me salvo a vida.

Eu não queria que ele se sentisse mal pelo que fez, apesar de todo o meu pavor. Eu só precisava de um tempo para absorver a idéia, para compreender tudo. Só um tempo. Mas Edward invadiu meu espaço, sofrendo, pedindo perdão por um erro que ele não cometeu, implorando por uma frase que lhe fizesse sentir bem.
_Edward… – Eu disse, elevando o olhar e me perdendo em seus olhos. Não consegui completar a frase, porque em segundos eu já tinha me atirado em seus lábios e o estava beijando. Ele se moveu por sobre mim, empurrando meu corpo contra o couro perolado do sofá, como estava se acostumando a fazer. Talvez não fosse preciso dizer nada, então. Um simples gesto demonstraria tudo… até eu me lembrar que ele podia ler meus pensamentos.
_Eu tive tanto medo de algo te acontecer. – Ele disse, as mãos em meus cabelos, olhos nos olhos. – Eu acho que perdi um pouco o controle… eu o teria matado só por ele cogitar qualquer coisa contra você. Se ele não tivesse realmente te ameaçado, eu mesmo assim o teria matado.

Eu o fiz calar, e beijei-o novamente. Edward me levou até a cama, intentando me oferecer um melhor espaço para me acomodar. Eu só queria beijá-lo, deixar que seus lábios me fizessem esquecer qualquer coisa antes. Eu só queria ter seu gosto em minha boca mais uma vez, só queria o peso de seu corpo sobre o meu. Eu não podia imaginar muito mais que pudesse me confortar. Ele se deitou ao meu lado, sempre os lábios nos meus, vez ou outra se desprendendo para o pescoço, para meus ouvidos, para meus cabelos… sempre que ele pretendia me dar espaço para respirar. Sem me deixar um segundo, Edward desabotoou sua camisa e deixou-a cair pelo chão, me permitindo o tão desejado contato com sua pele.
_Eu daria qualquer coisa para você se sentir melhor, Bea. – Ele disse, entre os dentes, entre os lábios, entre a respiração ritmada. Ele não deveria mesmo ter dito aquilo… ele não deveria permitir que minha mente pudesse… divagar. Qualquer coisa era coisa demais, e talvez eu quisesse tantas que ele precisaria de muito tempo para satisfazer-me. Mas naquele instante, poucas imagens se formaram tão nitidamente em mim quanto aquela. Era tudo que eu precisava para esquecer qualquer barbaridade anterior, qualquer perigo. – Tem certeza? – Ele sussurrou, enquanto eu não sabia mais se tinha espaço para constrangimento. – Tem mesmo certeza? E se eu… eu já perdi o controle hoje, Bea.
_Eu não me importo. – Foi o veredito final. – Eu não me importo.

Qualquer coisa. Edward moveu-se para o lado, e soltou meus cabelos por um instante. Logo, seus dedos alcançaram o botão de suas calças e elas se abriram, lentamente sendo empurradas para baixo. Juntamente com as calças, as suas meias desapareceram. Ele então se voltou para mim, sem interromper o beijo nem um segundo. Eu gostaria muito de vê-lo… eu queria muito vê-lo, olhar para ele vestido exatamente como eu desejava. Mas resisti à tentação momentaneamente, enquanto deixava que ele me beijasse lentamente e me causasse ainda mais amnésia do que eu pretendia. Naquele instante, decidi que faria apenas o que ele me permitira algum tempo antes; eu iria tocar.