3 dias depois...

P.O.V Da Sam

— Freddie, eu preciso ir buscar minhas coisas na casa da minha mãe. Pode me dar uma carona? - Pedi.

Eu não podia ficar usando suas roupas o tempo todo, mesmo que fossem confortáveis, e eu amava usar suas camisetas e moletons, porém, eu precisava pegar minhas roupas e alguns objetos pessoais.

— Claro, vamos lá. - Ele pegou as chaves na tigelinha que ficava na mesinha de centro.

A casa da minha mãe ficava um pouco longe, o Benson me levou e quando chegamos lá, pedi para ele ficar no carro me aguardando.

— Deixa eu entrar com você, te ajudo a carregar suas coisas! - Insistiu.

— Não! - Exclamei negando, eu não queria que ele visse o quanto a minha mãe era vulgar e escandalosa.

— Tudo bem. - Cedeu meio frustrado. - Te espero aqui fora. - Saiu do automóvel e ficou ali encostado no mesmo.

— Okay, não vou demorar. - Lhei dei as costas subindo a calçada e indo até o portãozinho precário.

Não estava trancado, abri o mesmo puxando o trinco enferrujado que sempre emperrava, abrindo o portão e coloquei os pés no gramado mal-coidado porque minha mãe não pagava ninguém para aparar há meses.

Com minha cópia da chave em mãos, destranquei a porta principal e adentrei a casa da minha mãe, imagindo que ela não estava, pois Pamella passava a maior parte do seu tempo na rua, porque ela era uma vagabunda que vivia às custas de homens casados.

Engano meu, Pam estava sentada no nosso velho sofá vermelho, pintando as unhas dos pés, enquanto passava uma porcaria de reality na TV que ela gostava tanto.

— Decidiu voltar para casa, sua vagabundinha? - Parou o que fazia e me olhou debochada.

Um cigarro aceso ainda queimava dentro do cinzeiro.

— Não sou você! - Passei na frente da TV, querendo chegar no meu quarto e catar minhas coisas, eu pretendia nunca mais voltar ali.

— Me chamou de vagabunda? - Enroscou a tampa do esmalte vermelho, apanhou o cigarro dando uma longa tragada e soltou a fumaça, riu enquanto levantava.

Estava usando um robe preto aberto, com uma camisola preta minúscula por baixo, me encarou enquanto se aproximava ainda tragando o cigarro.

— Repete o que disse, garota! - Me desafiou.

— Não sou você! - Encarei seus olhos azuis, eram mais escuros que os meus.

— Você me respeita, sua merdinha, eu que te coloquei no mundo, você me deve tudo! - Tentou me dar um tapa.

— Não encosta em mim! - Recuei depressa, me desvencilhando.

— Vaza da minha casa, garota, você é uma ingrata! - Agarrou meu braço avançando sem me dar tempo de recuar novamente, e pressionou a ponta do cigarro contra o meu braço direito, queimando minha pele.

Gritei de dor e soltei um palavrão, e a empurrei.

Pam veio para cima de mim ainda mais furiosa e me deu um tapa, tentei revidar, no entanto, ela segurou meu pulso com força.

— Nunca mais levante a mão para mim, entendeu? - Vociferou.

— Senão o quê? - A enfrentei.

Eu não tinha mais medo dela.

Freddie invadiu a casa antes que ela respondesse.

— Solta ela! - Ordenou vendo Pam apertar meu braço erguido, minha mão estava fechada.

— Quem é você, moleque? - Ela o olhou com desprezo.

— Sou amigo da sua filha. Se não a soltar agora mesmo, vou ligar para a polícia! - Ameaçou.

Pam hesitou e o fuzilou com um olhar de ódio, me largando.

— Vamos rápido pegar suas coisas e vazar daqui! - Me apressou.

Fui para o meu quarto com ele me seguindo nervoso.

— Pedi para ficar lá fora. - Falei irritada.

Eu não queria que ele tivesse presenciado aquilo.

Meu rosto devia estar marcado pelo forte tapa e tinha uma pequena queimadura no meu braço.

— Ouvi o seu grito, eu não podia deixar essa louca machucar você. - Me ajudou com minhas coisas.

Comecei a socar minhas roupas em duas mochilas com sua ajuda, depois enchemos uma grande caixa de papelão com meus sapatos e alguns objetos pessoais que eu queria levar.

Encontramos Pamella na sala ainda fumando.

— Nunca mais coloque os pés aqui, sua vadiazinha! - Me ofendeu na frente do Benson.

— Ela não é vadia, senhora! - Ele me defendeu.

— Você deve estar trepando com ela. Dever ser um canalha que assim que a engravidar, vai chutar ela! - Também o ofendeu. - E você! - Virou para mim, apontando o dedo. - Quando ele cansar de você e te dá um pé na bunda, nem pense voltar chorando, eu não vou te aceitar, ainda mais grávida! Escute o que eu tô dizendo, mas pelo visto você deve ser burra, graças a Deus sua irmã é mais esperta que você! - Sempre exaltava a Melanie.

— Vamos, Sam? - Freddie a ignorou e me chamou.

Ele segurava a caixa e carregava uma das mochilas no ombro.

— Nunca mais colocarei os pés nesta maldita casa! - Deixei bem claro.

— Se você tiver grana e for um bom rapaz, essa daí vai te dar o golpe da barriga! - Minha mãe me dava nojo.

— Qual é o seu problema? Eu não sou como você! - Me defendi.

Benson a encarava incrédulo.

— Tem razão. Você é pior! Abria as pernas para o seu ex-padrasto! Isso mesmo, garoto! Ela não é flor que se cheire, nunca foi! - Acusou.

Aquilo não era verdade.

— MENTIRA! - Gritei com raiva e indignada.

— Agora vai negar? - Me encarava com desprezo.

— Você é doente, igual aquele traste que vivia socado aqui dentro de casa... - Comecei a chorar. - Eu só tinha 14 anos na época... Como pode falar essas coisas? Nunca foi minha culpa, ele que entrava no meu quarto e mexia na gaveta das minhas calcinhas... Você mesma o flagrou! - Joguei na cara dela. - Você nunca me protegeu, deixou aquele homem entrar em nossas vidas e me assediar! - Falei com repulsa dela.

— Não foi o que o Ramon disse... Você deixava ele... Merda! Você dava em cima dele! - Não era verdade.

Chorei ainda mais, ela acreditou no ex e não na própria filha.

— Você acha que dei aquela garrafada na cabeça dele por quê? Aquele imundo tentou passar a mão em mim! - Tive que me defender.

Apanhei mesmo sendo a vítima.

Pamella surtou porque feri o namorado dela na época, ela me espancou, achando que eu tinha um caso com ele e que eu havia agredido Ramon por ciúmes dele.

Eu só tinha 14 anos e ela não me protegeu.

Nunca ligou para mim.

Por culpa dela, eu tinha pesadelos

Lembranças dolorosas de uma noite terrível.

Fui parar no hospital quando Pam me espancou e me obrigou a mentir.

Foi numa noite chuvosa, ninguém ouviu meus gritos por socorro, estava relampejando e trovejando bastante.

Minha mãe quase me matou.

Acordei no hospital cheia de hematomas, com duas costelas fraturadas e um dedo da mão direita quebrado.

Fui obrigada a contar para os policiais que fui vítima de delinquentes que me atacaram, eu estava com medo.

No fundo, eu não queria ver minha mãe indo para a prisão.

Quando dei por mim, já estava dentro do carro do Benson aos prantos.

— Você está machucada, devemos ir prestar queixas... - Tocou meu rosto preocupado, também mostrou meu pulso marcado pelo aperto e a queimadura causada pelo cigarro.

Pam havia me machucado, de novo.

— Só me leve para a sua casa, por favor. - Implorei.

Apesar de tudo, Pamella era minha mãe e eu não desejava nada de ruim para ela.

Eu só queria distância daquela mulher.

Respeitando minha decisão, Freddie ligou o carro e fomos embora.