Ao sudeste da vista da Caravana do Dragão, para além daquela enorme planície meio desértica, a cidade de Whiterun se erguia para além do horizonte, se erguendo cada vez mais conforme se aproximavam, como se levantada por um gigantes. Era final de tarde, e o sol estava quase descendo para sua posição que viria a ser o seu pôr.

— Lá esstá, pessssoal! - anunciou Nur - Essstamosss quase em Whiterun.

— Finalmente. - Comentou Inigo - Eu sei que saímos dela faz ao menos uns Trrês ou quatrro dias, mas parrece que já faz muito tempo.

— Eu concordo. - complementou Derkeethus - Ouso dizer que paressce que fazzz unss sseisss mesesss desss de que sssaimosss de lá.

Oh! que otimo! - ironizou Barbas — Mais um período de tempo em que vou ter que ficar mudo! Como eu amo isso!

— Foco, pessoal! - Interrompeu Lydia - Não vamos ficar muito tempo. Como o Senhor Nur tinha dito, vamos descansar até amanhã de manhã e logo depois partiremos.

— Bem, já é algo. Nurr nem quis deixarr a gente parrarr em Morrthal. Nem mesmo antes de chegarrmos em Ustengrrav.

— Foi mal, cara. É como eu tinha dito: Nóssstinhamosss acampado em ambasss asss ocasiõesss. Não tinhamosss por que parar lá. Masss tudo bem, porque agora poderemosss dar uma parada. Pelo menosss até essssa tarde.

***

O ranger dos portões se abrindo anunciou a chegada do grupo. Eles finalmente voltaram para a grande Whiterun. Tudo parecia calmo, como da última vez que eles haviam saído. Adrianne Avenicci batia ferro na frente da Dama Guerreira, os guardas faziam suas rondas, Nazeem caminhava de um lado pro outro esnobando os outros com suas vestes luxuosas.

— E então? O que fazemos prrimeirro?

Vosscêsss podem ir na frente e comer na Égua Emblemática. Eu vou dar uma olhada na minha nova casa. - O líder diz, retirando de seu bolso uma chave.

— Bem, tudo bem. Te vemos lá, Senhor Nur.

Após se separarem, o argoniano foi até a sua nova casa, a contemplando de frente.

Ao lado da Dama Guerreira, jazia a nova propriedade do Dragonborn: Breezehome. Uma casa modesta, pequena. Dava para dar a volta nela em menos de dois minutos. Uma casa bastante simples, de fato. Mas apesar disso, Nur se sentia realizado. Ele finalmente tinha uma casa para chamar de sua. Esse sempre foi um de seus objetivos de vida: uma casa para chamar de sua. Agora só faltava uma família e uma forma estável de se manter (o qual a recém adquirida vida de aventureiro andarilho não conseguia manter no momento) que sua vida estaria completa.

Mas uma coisa de cada vez. No momento ele tinha muito com o que se preocupar e só queria relaxar, aproveitando sua nova moradia.

Ele então põe a chave na fechadura, gira e então abre a porta, a fechando em seguida se escorando na porta, tirando dos ombros o cansaço que carregava a horas. O sexhleel de penas lentamente abre os olhos, dando uma melhor olhada no interior da casa. Ela parecia maior dentro que fora. Começando de cima, ele pode ver uma pequena cômoda no segundo andar, com um vaso de flores em cima. O caminho seguido pela escada parecia dar em um outro cômodo, localizado acima da cabeça dele. Mas abaixo da escada, no andar que ele se encontrava…

De repente ele é atingido no rosto. O Dovahkiin foi atingido por uma vassoura no rosto.

— TOME ISSO, Seu invasor de araque! - Disse o agressor.

Essspera, o que???

Assim que o agressor levantou novamente sua arma, Nur pode ver que se tratava de um humano, talvez cyrodillico, calvo e grisalho, aparentemente tendo certa idade. Ele não possuía nenhuma armadura ou arma de verdade. Era um cidadão comum de fato.

— É exatamente o que você ouviu, lagartixa. SAIA DA MINHA CASA!! - Ele esbravejava, enquanto batia no argoniano com a ferramenta.

Masss pera ai, PERA AI! que besssteira é essssa? Quem é vosscê?

— Meu nome é Terek, e essa casa, Breezehome, é minha casa. E VOCÊ, está invadindo ela.

Sssua casa?! SSSUA CASA?! - O thane do feudo, ao ouvir aquilo, se irrita, arranca a vassoura da mão do homem, a joga pro lado e diz - Essssa é MINHA casa. Eu comprei ela a maisss de trêsss diasss e dei muito duro pra comprá-la.

— Ora, sinto muito, mas eu achei ela vazia. Então não vejo problema nenhum em voltar a morar aqui. Sem falar que não parece que você fica muito por aqui, afinal comprou a casa mas até agora eu nunca vi seu rosto. Então se não se importa, pode se esforçar um pouco mais e comprar outra casa, amigo. Porque essa aqui agora já tem outro dono - o ancião então pega novamente a vassoura, a levanta e diz - agora, SAIA DA MINHA CASA!!! - Descendo a vassoura logo em seguida no rosto dele.

***

No interior da Égua Emblemática, o resto do grupo comia na mesma mesa em que haviam sentado da última vez, na mesa a sudoeste, perto da porta do estabelecimento. Inigo roía um osso de galinha, Derkeethus ainda estava na metade do seu pernil de cervo, assim como Barbas, que mordia avulsamente seu pedaço de carne, aproveitando do sabor antes de de fato começar a comer, tudo enquanto Lydia já havia terminado e bebia uma caneca de cerveja.

De repente, a porta do estabelecimento se abre, e dela Nur adentra o local, sentando na mesma mesa do seu grupo.

MOSSÇA, Me vê umasss duasss coxasss de galinha e uma sscerveja de qualquer tipo, que hoje é o dia da frussstrassção.

— Senhor Nur? O que houve?

— Minha casa foi roubada, é o que houve.

Aquela afirmação fez o irmão dele parar de comer por um instante, assustado.

— Co-como assssim? O que houve?

— É o ssseguinte, eu tinha entrado em Breezehome e…

— Com licensa. - interrompe a dona da taberna, carregando o pedido do Dragonborn - Aqui está seu pedido, senhor. - ela então coloca na frente dele o pedido.

— Oh, obrigado - ele então tira seu saco de moedas e diz - Quanto fica?

— 75 Septins, somando as duas coxas e a cerveja.

— Entendido. - ele então tira a quantia necessária e a entrega na mão dela. - Obrigado.

— Aproveite a comida. - a gerente diz, se retirando novamente para seu balcão.

— Bem, onde é que eu essstava messsmo?

— Er… Ainda no começo - responde o khajiit.

— Oh, sssim! Claro! - ele então continua - Bem, é o ssseguinte: Eu tinha entrado em Breezehome, e tava tudo bonitinho lá dentro. Sssó que tinha um problema: um sssem teto invadiu a casa, a tomou para sssi e me essxpulsssou com uma vassssoura assssim que eu entrei, acreditam?

Ao ouvirem aquilo, os quatro caíram na gargalhada, não acreditando no que ouviam. Até mesmo Lydia dava pequenas risadas com a mão na boca, tentando manter respeito a seu superior.

— É ssserio issso? “O grande Dragonborn” Não consssegue lidar com um mero mendigo com uma vassssoura?

— Eu to TENTANDO BANCAR O HERÓI AQUI, TÁ BOM? Herói não usa poder contra mendigosss!!

— Tá bem, Nurr. Mas você tem que rreconhecerr que é algo engrraçado de se ouvirr.

Talvezzz quando ssse essstá de fora. Masss não é nada engrassçado quando ssse essstá com palha na cara. - ele então dá um gole na cerveja, tentando relaxar. E para a surpresa do saxhleel, a bebida era incrivelmente deliciosa. Ele então se vira para a barwoman e pergunta - Ei, qual sscerveja é essssa? Tá delissciosa.

— É Cerveja Argoniana. Recebemos um carregamento novo ontem.

— SSCERVEJA ARGONIANA??? - Os dois irmãos argonianos exclamaram juntos, surpresos.

Eles então pegam suas canecas e colocam rapidamente no balcão, batendo na madeira.

— Me vê uma caneca também, mossça!

— Eu também! põe mais uma, por favor!

— Vocês sabem que vai ficar por 30 Septins ao todo, certo?

— Por um gole de casa, é pouco! - os dois afirmam, em unisono.

O líder então tirou mais dinheiro do saco e o entregou, tendo como resposta o líquido desejado derramado nas duas canecas.

Os dois irmãos bateram as canecas, brindando a bebida deliciosa. Eles então descem as canecas com suas bocas abertas. O líquido descendo garganta a dentro.

O thane então se vira para sua housecarl e seu amigo e pergunta.

— Er… Novamente, onde que eu essstava messsmo?

— Você… Estava falando sobrre terr palha na carra.

— Ah, sssim! Bem, agora, não sssó terei que tirar aquele cara de lá, como também não tenho onde dormir essssa noite. Eu até tenho dinheiro pra nósss todosss dormirmosss aqui na taberna, masss eu queria economizar para… Uma coisa. Queria guardar pelo menosss Quinhentosss Ssseptinsss.

— Er… Senhor. Acho que sei onde o senhor pode dormir. Podemos ir falar com os Companions. Eles podem ajudar.

— Sssério?

Aliasss, eu coletei um pouco de dinheiro enquanto essstavamosss em Ussstengrav. Então acho que posssso bancar pelo menosss o Inigo, Barbasss e eu.

— Bem, ssse é assssim, então essstá tudo bem. - Ele então se volta pra mulher no balcão e diz - Mossça, me vê maisss um pouco dessssa delisscia.

***

Nur e Lydia estavam em frente a Jorrvasks, a sede dos Companions. Já era de noite, e os dois foram recebidos na porta por Farkas, um dos dois irmãos do Ciclo de Sangue.

— Farkas, por favor. É o Dragongorn aqui. E-e eu teoricamente seria a lider agora se não fossem as circunstancias. Tem que ter algum lugar para nós aí.

— Não, não. Eu entendo Lydia. Mas vocês tem que entender: ainda estamos tratando os civis de Rorikstead. O mensageiro não conseguiu chegar a tempo da cidade antes da evacuação do ultimo conflito entre Imperiais e Stormcloaks, então temos muitos feridos e desabrigados aqui.

— Mas é sério que vocês não tem nenhum espaço?

— Foi mal. Você sabe que se fosse a Aela ela daria um jeito. Mas na estrutura hierarquica atual, não posso fazer nada sem ordem ou permissão. - o Nordico então bufa, frustrado por não sentir poder ajudar a amiga. - Sinto muito.

Ele então lentamente fecha a porta, tentando não soar grosseiro.

— Okay, então pelo jeito teremosss que voltar e pagar um quarto na taberna messsmo. - o argoniano então se vira e começa a descer o lance de escada da sede da guilda.

A nórdica ficou meio pensativa, hesitante.

— Na verdade senhor Nur - A housecarl fala se virando para o thane, que para no meio da escada para ver o que ela diria. - E-eu conheço uma alternativa.

— É messsmo?

— O problema, é que eu não sei se está bem para o senhor se expor a essa situação.

— Lydia, não importa. Qual é essssa alternativa?

***

Agora os dois estavam fora dos portões de whiterun, a sudoeste da cidade, na área rural, depois de todas as outras fazendas. A frente deles etava uma casa relativamente simples. Não era muito grande, deveria ter uns 3 cômodos no máximo. As luzes nas janelas indicavam que ainda devia ter gente por lá.

Lydia então bate na porta. Uma voz responde ela perguntando. Parecia ser de uma voz rouca de uma mulher mais velha.

— Quem está aí?

— Sou eu, mãe. Lydia.

Por um instante, um silêncio permeou o ar. A porta então é destrancada e aberta por uma mulher de fato mais velha. Ela parecia ter lá para os seus 45-50 anos. Seu cabelo era escuro como o de Lydia, e tinha a mesma cor dos olhos que ela. Porém outros traços, como o nariz, os lábios e as bochechas eram mais diferentes.

— Oh, Lydia, querida! Há quanto tempo! - a mulher abraça sua filha, emocionada. Ela então se vira para trás - Querido! Nossa filha voltou!

De trás de um balcão dentro da casa se levanta um homem um pouco mais velho que a mãe, mas que também parecia ter seus 50 anos mais ou menos. Seu cabelo e sua barba eram mais claros que o cabelo das duas, mas seu tom de pele era ainda mais parecido com o de Lydia, e os traços de semelhança que faltavam na progenitora se encontravam nele. Suas mãos meio úmidas e sujas de um pouco de escamas sugeriam que ele devia estar mexendo com peixes. Talvez estava os guardando? Não importava. O que importava eram o tamanho delas e dos braços do homem. Mesmo para um nórdico ele era bastante forte, ainda que tivesse um tamanho normal para um humano. Devia ser dele que a housecarl herdou sua força.

— Não se preocupe, mulher. Eu ouvi. - ele responde de forma descontraída. Ele então sai de trás do balcão e vai até as duas - Lydia, minha filha. Sentimos muito sua falta.

O homem se junta às duas no abraço, recepcionando sua filha. Ao olhar pro lado, ele vê uma figura um pouco mais atrás dela. Um argoniano com uma armadura pesada.

— E quem é esse rapaz junto de você? Seria aquele que nos falaram? O Dragonborn?

—Oh, sim! - A guerreira então põe sua mão nas costas do guerreiro e o apresenta a seus progenitores - Mãe, pai, esse é Nur Dragiris. O novo de Thane de Whiterun, e também o Dragonborn. Senhor Nur, esses são meus pais, Anjfina e Hordrir.

— Er… É um prazer conhessce-losss, sssenhoresss.

— O prazer é todo nosso, senhor thane. - diz Alfina.

— Esperamos que Lydia tenha sido de alguma ajuda em sua jornada até o momento.

— Na verdade, senhor, tenho que dizer que ela tem coberto minhasss cossstasss com maisss frequênsscia que eu àsss dela. hehe

— Senhor Nur e eu estamos sem lugar para dormir essa noite. Teria problema se nos abrigarmos aqui?

— Ora, mas é claro que não! - afirma Hordrir - Entrem!

Os dois então entraram na residência. Lá dentro, o saxhleel de penas pôde ver melhor a casa. E de fato sua especulação se mostrou verídica: haviam apenas 3 cômodos. o primeiro, no centro, era uma mistura de cozinha com sala de estar, onde eles estavam. havia alguns armários e cômodas nos lados, um balcão próximo ao canto esquerdo do fundo, uma pequena mesa próxima do outro canto do fundo, o direito. Os outros cômodos, olhando pelas portas abertas, pareciam um quarto de dormir na esquerda e um cômodo de depósito à direita.

O anfitrião se volta para eles e pede, puxando duas cadeiras da mesa.

— Sentem-se, sentem-se.

A dupla então vai até as cadeias e se sentam à mesa.

— Irei preparar algo para comerem. - disse a anfitriã - Enquanto isso, sintam-se à vontade.

Nisso o mais velho se senta a mesa junto deles e lhes faz uma pergunta.

— E então? Como tem sido a jornada de vocês? Vocês têm… Seguido sozinhos?

— Er, na verdade, não, pai.

Temosss amigoss sseguindo caminho com a gente. Como meu irmão e um amigo meu khajiit.

— Oh, isso é bom. Eu lembro de quando eu era um aventureiro como vocês. Nesse tipo de vida, é sempre bom andar com quem se confia.

— O sssenhor foi um aventureiro?

— Quando eu era jovem, sim. Mas isso mudou quando eu fui “acertado por uma flecha no joelho”, se é que me entendem?

A mulher mais velha atrás do balcão cora. Ela adorava toda vez que o marido dela mandava essa brincadeira quando perguntavam do tempo de aventureiro dos dois.

Os dois mais jovens se entre-olham, não entendendo o que ele queria dizer.

— Ah, vocês entenderão quando a hora chegar.

— Não sssei não, sssenhor. Eu mau…

— Ora, por favor, Dragonborn. Não me chame de senhor. Sou velho, isso é fato, mas você é o thane da cidade. Me chame de Hordrir, mesmo.

— Com o tanto que o sssenhor me chame sssó de Nur, tudo bem. Detesssto formalidadess quanto a minha pessssoa.

— Entendido.

Os dois homens apertam as mãos, mostrando o “trato” selado.

— Bem, como eu dizia, Hordrir. Eu mal essstou entendendo a MINHA sssituassção atual, quanto maisss qualquer outra.

— Situação?

— O Senhor Nur comprou uma casa a alguns dias atrás e deixou mobiliarem enquanto faziamos uma missão em Hjaalmarch. Mas quando voltamos, ele foi expulso por um sem-teto.

— E até agora eu não tô entendo como isssso é possssivel. Por onde aquela casa tem passssagem pra alguém invadir? Como um vasssoura machuca maisss que um martelo de guerra? E porque jusssto a MINHA casa?

— Caramba. Parece uma situação… Complicada mesmo.

— A sua nova casa, possuí um nome próprio? - perguntou a nórdica anciã.

— Na verdade sssim: Breezehome.

Ao ouvirem aquele nome, os dois mais velhos se entreolharam, e começaram a encaixar as peças.

— Nur - questionou Anjfina - Por acaso esse sem-teto se chama “Terek”?

— Na verdade sssim. Vosscêsss o conhesscem?

Os dois em resposta suspiram, com um semblante de chateação no rosto.

— Terek era um comerciante de Whiterun. Não era dos de destaque, mas também não era dos piores. Um homem honesto, diga-se de passagem.

— Fazíamos negócios com ele quando ainda tínhamos nossa fazenda.

— E Breezehome era residencia dele nesse tempo.

Aquela informação surpreendeu Nur.

— É messsmo? Ele apenasss tinha dito que tinha achado a casa vazia.

— É evidente. - Respondeu o mais velho - Depois dos negócios dele caírem, ele perdeu tudo e foi expulso. Ele deve ter passado um bom tempo nos arredores da cidade, e quando viu a casa vazia, mas mobiliada novamente, ele deve te-la invadido e a assumido como sua novamente, só que de forma ilegal.

Ao ouvirem o pai nórdico especulando de forma tão precisa, todos o encararam, estranhando.

—... O que foi?

A única resposta que obteve foi o silêncio e mais encaradas dos três.

— Tá bom, talvez eu tenha visto ele invadindo a casa ontem, quando fui comprar comida no Distrito da Colina?

— AAAH!! - exclamaram todos em uníssono, agora esclarecidos.

Masss então, o que fez Terek perder tudo?

— A guerra. Foi o que aconteceu - respondeu a mãe nórdica, se aproximando da mesa e entregando para cada um um peixe assado e logo em seguida se juntando a eles na mesa. - Não me entendam mal. Eu não culpo Ulfric totalmente. Eu entendo os motivos dele…

— Perdoe minha interrupção, querida. Mas eu não. Eu ponho toda a culpa no Stormcloak. Se ele não tivesse literalmente levantado a voz pro Alto Rei, Skyrim não teria a crise que tem agora.

A mulher bufou, irritada pela interrupção.

— Não irei discutir isso com você, querido. Até porque você sabe, eu tenho a mesma opinião que você. Apenas sou mais compreensível quanto a isso.

O homem fungou, não irritado com sua esposa, mas com o nome do Jarl de Windhelm vindo a mesa, e respondeu.

— O que você chama de “compreensão”, eu chamo de “complassencia”.

Ela revira os olhos e continua de onde parou.

— Bem, continuando, eu entendo os motivos de Ulfric. Nós nórdicos somos muito orgulhosos por natureza, e o Acordo Ouro-Branco feriu nosso orgulho. Isso é verdade. Porém há coisas muito mais importantes que um senso cégo de orgulho. A sustentabilidade de seu povo, por exemplo. Posso ser apenas uma camponesa, mas até eu sei que é importante que seu povo consiga o mínimo para viver, e cada desabrigado na rua é fruto da falha de seus governantes.

— Acho que entendo o que quer dizer. Mass sse é assssim, osss desabrigadosss de Whiterun não sssão falhasss do Jarl de Whiterun, no caso, Balgruuf?

— Não é tão simples assim. Quando a guerra começou a estourar, várias cidades-capital começaram a fechar suas fronteiras, mesmo whiterun, que está neutra. Ela teve que fechar justamente para evitar ataques dos dois lados. Mas com isso, o comércio nas capitais ficou muito restrito. Sem o apoio da cidade, as fazendas ao redor foram perdendo forças. Essa cidade e outras já tiveram bem mais fazendas e minas em volta do que tem hoje em dia. Quando a guerra começou, várias delas quebraram com o tempo. E como consequência os mercadores, que já não tinham muitos clientes, acabaram também perdendo suas fontes de produtos.

— Os poucos comerciantes e fazendas que sobraram hoje são apenas os mais engenhosos e sortudos. - completou o cônjuge de Anjfina, suspirando de pena em seguida. - Infelizmente, para Terek, ele não foi dos sortudos. Ele já havia tido problemas quando perdemos nossa fazenda.

Depois de toda essa história, Nur suspira, frustrado.

— Eu sssó queria tirar um invasor da minha nova casa. Porque essssa Guerra Sscivil tinha que complicar até isssso? Agora eu não sssei nem o que eu deveria fazer.

— Deveria pedir ajuda ao administrador da cidade. - a mulher mais velha respondeu - Ele pode ajudar a tirar Terek de lá.

Masss assssim? Sssem maisss nem menosss? Ainda maisss depoisss do que me contaram?

— Não importa se a casa era dele. - disse o homem mais velho - Ela não é mais. Ele agora é um intruso e está errado em permanecer lá.

O dragonborn bufa exaurido.

— Eu não sssei. Eu vou pensssar em algo até amanhã. - Ele então se levanta e diz - Ssse não ssse importam, eu irei deixar a minha armadura nesssse cômodo de depósito. Eu tenho roupasss normaisss debaixo dessssa armadura, então não ssse preocupem, ssserá rápido.

— Tudo bem. - responde a mãe nórdica - Temos duas camas extras no quarto. Vocês podem dormir nelas.

Ele então foi até o outro cômodo e começou a tirar sua armadura. Ele terminou rápido. Como sempre, ele nunca teve problema em se vestir ou despir. Ele estava préstes a abrir a porta. Porém, acabou parando ao ouvir um dialogo do outro lado.

—Bem, eu acho que não preciso me despir. - disse Lydia - Posso dormir de armadura que não tem problema.

— Nada disso, mocinha! - Afirmou a mãe - Tá doida, é? Dormir, só com roupa normal.

— Mas mãe, eu não preciso disso. Não me dói o corpo dormir de armadura.

— Você diz isso - o pai continuou a bronca - mas não dou meio ano pra você ficar com a coluna toda torta. Você vai dormir sem armadura SIM, “senhorita”. Assim que Nur sair dalí de dentro, você é a proxima.

A garota então bufa e responde, com uma expressão um pouco fechada.

— Tá bem… Eu vou fazer isso. - Ela então respira fundo, e rapidamente muda seu semblante para algo mais leve. - Sabem, eu senti falta disso. Essas preocupações de vocês e seus “ puxões de orelha”.

Aquele comentário da filha deixou os progenitores sem jeito. A mulher então diz.

— Você sabe que isso não vai nos fazer mudar de ideia.

— Eu sei - a mais nova responde - estou apenas comentando.

Ela então se move rapidamente e abraça os pais. A força da nórdica espremendo os dois.

— Nós realmente sentimos sua falta, Lydia.

— Obrigada, pai. Eu também senti.

Mesmo não vendo a cena em si, ouvir aquele diálogo comoveu o saxhleel. Aquela família parecia realmente unida, mesmo quando separados.

Ele se perguntava se isso também ocorreria com ele, caso seus pais estivessem vivos. Se perguntava se seus outros irmãos além de Derkeethus sentiam falta dele. Se a avó dele lhe perdoou.