Descobrindo sua Natureza

O interior do Alto Hrothgar era até que espaçoso. O salão era quadrado, e possuía duas escada, uma de cada lado, que levavam para uma parte mais elevada que dava acesso a uma porta central e um dos dois corredores de cada lado, sendo que o outro se encontrava ligado ao salão central. havia um pilar enorme sustentando uma fogueira, no meio entre um losango riscado no chão e a parede onde davam os corredores das portas, e uma elevação, também com uma fogueira, que dividia as duas escadas. As paredes eram adornadas por relevos que formavam desenhos da cabeça de um dragão. E próximo da porta maior do outro lado do salão haviam alguns banners, com runas dracônicas grafadas.

Assim que o grupo entrou, os Grey-Bearbs se colocaram nas bordas do losango riscado no chão do salão central. Nur então foi para o centro, e Derkeethus e Lydia ficaram na borda do corredor, vendo a conversa que eles teriam, mas sem atrapalhá-la.

— E então, anos após o fim de uma era, um Dovahkiin finalmente aparece. Como eu disse antes, é uma honra para nós recebê-lo.

— bem, eu vim aqui ressspondendo o chamado de vosscêsss. Apesar de que eu não fassço ideia do que sssignifica “Dovahkiin”.

— “Dovahkiin” é a palavra Dovahzul que corresponde ao que os povos mortais se referem a dragonborn.

Enquanto o argoniano mais escuro conversava com os anciões, o mais claro se desescorou da parede e foi em direção ao corredor lateral da esquerda. Lydia, desconfiada, esperou um pouco, e então o seguiu.

— Dovahkiin - continuava Arngeir, sem perceber os dois saindo. - vem das palavras Dovahzul “Dov”, que se refere aos dragões como raça, “Ah” que seria “caçador”, e “Kiin” que significa “Criança” ou “Nascido”. Sendo assim, o “Dovahkiin” é a “Criança caçadora de dragões” ou o “Nascido Caçador de Dragões”.

— E Dovahzul ssseria a língua dosss dragõesss, né?

— Exato. Como um Dovahkiin, você é um nascido com a Dovazii, a alma de um dragão.

Os anciões não puderam ver, mas a expressão de Nur ao ouvir aquilo foi de choque, mas ele balançou a cabeça de leve e voltou sua atenção novamente para eles. E esse balançar chamou a atenção dos homens.

— Algum problema?

— Não. Por favor continue.

— Bem, devido a isso, você como Dovahkiin consegue assimilar com facilidade a Dovahzul e entender suas palavras.

— Engrassçado, poisss até agora eu sssó sssei duasss palavrasss. umas sssete ssse contar asss que aprendi hoje. hehe.

O homem ancião então olha para o outro a seu lado esquerdo e diz.

— Senhor Borri. Lhe ensine o equilíbrio.

O Grey-Bearb então se aproxima do argoniano e cochicha.

— Ro.

Ao ouvir aquela palavra, ela reverberou na cabeça do dragonborn, da mesma forma que a “fus” fez antes.

O mais velho então se distanciou, e o porta-voz disse.

— Não basta conhecer a palavra, é preciso entender sua base. O que ela significa. O que ela pode fazer a você e ao mundo a sua volta. Para a maioria dos mortais, são necessários anos para se dominar apenas três gritos de três palavras. Mas como Dovahkiin, você pode aprender o que levamos anos para aprender com apenas a alma de um dragão. Conforme começar a dominar seus poderes, irá passar a absorver mais da sabedoria das almas dos dragões, e aprenderá palavras que nunca ouvira antes, e já aprenderá seus significados. Mas enquanto isso não acontece, teremos de fazer isso manualmente. Mestre Borri irá lhe passar a base da palavra “Ro”.

O velho nórdico então se aproximou mais uma vez, e mais uma vez cochichou. Dessa vez parecendo um grito completo.

— Onik Mindok Enook. (Sábio Conhecer Tudo.)

Com o “grito” uma energia, parecida com a que carregava as cinzas dos dragões até o corpo de Nur, fez o mesmo movimento, mas agora sem cinzas de dragões para se impregnar em sua pele, e ela partiu diretamente para a cabeça de Nur. Com isso, a cabeça do dragonborn começara a doer um pouco. Um monte de coisas, ideias e imagens vieram a sua cabeça. Imagens até de cunho anatômico, mostrando como as raças mortais mantinham seu equilíbrio nas próprias pernas e como ele poderia usar isso a seu próprio favor.

Mestre Borri então se desaproximou e voltou a sua posição inicial.

— Desenvolvemos esse Thu’um para facilitar a transmissão de sabedoria entre nós. Porém é bastante perigoso. Se a pessoa receptora não estiver preparada e receber muita informação, ela acabará por perder a capacidade de falar a língua tamrielica. Fora o que aconteceu com Grey-Bearbs passados e é o que acomete os que se encontram aqui. Mas agora vamos ao que interessa.

Os Grey-Bearbs tomaram distância do losango, e Arnveir então disse.

— Os Thu’um, ou gritos, são formados por três palavras. Quando usados de forma completa, a primeira passa a ser usada para puxar ar ao usuário, e assim concentrar mais poder para as outras duas. “Ro” é a segunda palavra do Thu’um conhecido como “Força Implacável”. O Thu’um mais básico, mas também o mais poderoso, dependendo do usuário. Nós ouvimos toda sua trajetória até aqui, Dovahkiin. A primeira palavra desse Thu’um foi a primeira que pronunciastes.

— Fus…

— Essa mesma. Agora, por favor, desaproxime do losango no chão.

Assim que Nur saiu de cima do losango, um dos anciões se aproximou do losango e sussurrou.

— Fiik Lo Sah. (Espelho Iludir Fantasma.)

Com o sussurro, um espectro, com a mesma aparência do ancião, se materializou no centro do salão.

Aquilo surpreendeu Nur. Uma cópia idêntica e espectral do usuário. O argoniano começou a maquinar diversas estratégias em que isso poderia ser útil.

— Use seu Thu’um, mais uma vez. - Disse o porta-voz - Agora adicionando "equilíbrio" à “força”, passando a reunir força para alcançar equilíbrio.

Nur então se preparou para usar o grito.

— Fusss (força) - com essa palavra, ele puxou ar para si mesmo, e com a seguinte, soltou tudo - RO!! (EQUILÍBRIO!!)

Com o grito, uma onda de choque avançou contra o fantasma, que desequilibrou e caiu agachado no chão e desapareceu. Como consequência também, os outros Grey-Bearbs, que estavam a frente do thu’um, também foram atingidos e também e também se desequilibraram levemente. Um fogueira que se encontrava na elevação que que dividia as duas escadas também foi atingida, e foi empurrada três sentimentos para trás. O grito não alcançou os banners, que estavam mais ao fundo, então eles acabaram nem se movendo.

Os velhos homens se impressionaram com aquilo. Mesmo depois de anos treinando. Eles demoravam mais tempo apenas para aprender a dominar um grito com tamanha maestria.

— Muito bem. Agora, mais uma vez.

Um dos Grey-Bearbs foi para frente e também sussurrou.

— Fiik Lo Sah. (Espelho Iludir Fantasma.)

Mais uma vez, um espectro com a mesma aparência do ancião surgiu. Em resposta, o argoniano gritou novamente.

— Fusss RO!! (Força EQUILÍBRIO!!)

Mais uma vez, a onda do grito avançou com tudo contra o espectro, o desequilibrando, deixando-o de joelhos e desaparecendo. A onda também atingiu os outros anciões e, novamente, a fogueira é movida por mais quatro centímetros. Dessa vez o grito alcançou os Banners, mas já estava fraco, então eles apenas balançaram um pouco.

A cada grito, Nur parecia dominar cada vez mais o Thu’um da Força Implacável, e os Grey-Bearbs ficavam ainda mais embasbacados com o poder do Dovahkiin.

— Muito bom. Uma última vez.

Dessa vez, foi o Mestre Borri que se aproximou do losango e sussurrou.

— Fiik Lo Sah. (Espelho Iludir Fantasma.)

Dito e feito. O thu’um criou um espectro no centro do salão muito parecido com o ancião.

E então, mais uma vez, o argoniano bradou seu grito.

—Fusss RO!!! (Força EQUILIBRIO!!!)

O grito ecoou pelo salão e a onda de choque novamente avançou contra o espírito. Dessa vez, ele não só foi desequilibrado e agachado, como também foi levemente empurrado para trás. Os Grey-Bearbs também sentiram o mesmo, enquanto a fogueira, dessa vez, foi empurrada cinco centímetros. E dessa vez, os Banners quase foram arrancados do teto de tanto terem sido puxados para trás pela onda.

— Excelente. Qualquer dúvida sobre sua natureza como Dovahkiin que estivesse em nossas mentes agora foram completamente apagadas.

— Ótimo… - Nur disse isso arfando. Ele já estava com a garganta meio dolorida de tanto gritar - E agora?

— Agora venha conosco. E chame seus aliados. Parece que eles ficaram meio curiosos e foram explorar o Alto Hrothgar.

O argoniano olhou para seu lado esquerdo, onde os dois estavam antes e viu que não estavam mais ali. Ele então foi até o corredor lateral esquerdo, que estava alí perto, à procura deles.

***

Enquanto Nur e os Grey-Bearbs tinham uma conversa sobre o lance dele ser um dragonborn e fosse lá mais o quê, Derkeethus acabou tendo outros interesses lá. O lado em que ele foi deu no que devia ser o quarto dos anciões. haviam algumas camas enfileiradas, alguns bidês, algumas mesinhas, e um armário ao fundo. Ele caminhou por entre as camas e mesinhas, olhando atentamente para o que estivesse ali. Tudo o que ele via eram livros e mais livros. A maioria parecia falar dos dragões e da história de Skyrim.

Até que ele chegou no armário. E ele ficou ali, analisando o armário por uns dois minutos. Até que ele diz, lhando para trás sem mover a cabeça.

— Pode vir, eu sssei que vosscê essstá aí, Lydia.

De trás da parede, vinda do mesmo corredor pelo qual ele veio, Lydia aparece, meio irritada. E vai em direção a ele e diz.

— O que você está fazendo aqui?

Ele então vira para ela e responde.

— Ora, o messsmo que vosscê.

Ele então começa a andar em direção a ela.

— Do que você está falando?

— Ora, vosscê sssabe do que. - Ele então a coloca entre ele e a parede e se põe na frente dela, com uma das mãos do lado do rosto dela - Eu e vosscê. Um homem e uma mulher. Sssozinhosss em um quarto vazio. O que me dizzz?

A nórdica se assusta com aquela reação repentina do argoniano de chifres. Apenas uma reação possível lhe veio à mente.

Ela então dá um murro no focinho de Derkeethus, que cambaleou para trás, coçando o nariz dolorido. Não satisfeita, a mulher o pegou pelos chifres e o bateu com tudo no joelho dela. E para finalizar, ela ainda deu com os pés nas costas dele, o derrubando no chão de bruços e começou a puxar sua cauda com força.

— OKAY! OKAY! MOSSÇA, EU JÁ ENTENDI! AGORA POR FAVOR, PARA!! A SSSENHORITA ESSSTÁ EXAGERANDO!!!

Com o argoniano mais claro implorando, ela finalmente largou a cauda dele e lhe deu a chance de se levantar.

Assim que ele se ergueu, agora foi Lydia que o pôs contra a parede, agora usando o antebraço esquerdo inteiro contra o pescoço dele, mostrando os próprios punhos como arma para o ameaçar.

— Agora diga: Qual é a sua. A menos que você seja maluco de nascença, você age de uma maneira um tanto suspeita. Senhor Nur está desconsiderando isso por apreço familiar a você, mas eu não! Então desembuche, idiota!

— Tá bem, eu falo... Pode ficar tranquila, mossça lobisomem.

Ela então o larga, e ele então fica ofegante devido ao bloqueio de ar que o antebraço da mulher criou.

— Pelo jeito não tenho essscolha. Vou ter que abrir o jogo com vosscê.

Enquanto Nur treinava seu grito com a nova palavra no salão central, Derkeethus esclareceu para Lydia quem ele realmente era, porque estava andando com eles, e o porquê dele estar naquele quarto.

— Então você… Só estava usando a gente? - a nórdica ficou indignada.

— Não!... Quer dizer, sssim. Masss não sssó isssso! Fazia tempo que eu não via o Nur, então achei que poderia usar disssso para me reaproxssimar dele depoisss que ele fugiu de casa.

A nórdica olhou para um lado, depois para o outro, revoltada, e respondeu.

— Eu vou contar para o Senhor Nur.

— Não pode contar pra ele.

— E por que eu não poderia?

— porque ssse o fizer, ele pode ficar revoltado e me mandar embora. E ssse eu for embora, não poderei entregar isssso. - Ele diz isso levantando a mão, mostrando algo a lydia que a surpreendeu

De repente, Nur entrou apareceu adentrando no lugar. O irmão dele rapidamente escondeu a mão novamente, e a housecarl voltou sua atenção para seu thane.

— Pessssoal, o que vosscêsss essstão fazendo aqui?

— Nósss sssó essstávamosss conversssando um pouco, afim de nosss entendermosss. Sscerto, Lydia?

Lydia exitou por um leve momento, mas depois virou e respondeu.

— Sim, era isso mesmo.

O argoniano mais escuro olhou para os dois um pouco, pensando, e respondeu.

— Ah, okay. Agora venham. Osss Grey-Bearbsss pediram que vosscêsss nosss acompanhasssem.

Os dois então seguiram-no até a porta central e a atravessaram.

***

O pátio era espaçoso. Havia uma torre mais ao norte, e ao lado dela, uma escada que subia mais o topo da montanha, seguindo para o nordeste. Ao oeste havia um portão fechado que dava em um penhasco, com uma visão da província de tirar o fôlego.

Os Grey-Bearbs aguardavam o dragonborn e seu grupo próximos a um pequeno pilar. Ao se aproximarem, Arngeir foi em direção a Nur e disse.

— Você já mostrou conseguir aprender rápido palavras ligadas a um grito que já saiba. Agora iremos testar sua capacidade de aprender um grito novo. Mestre Wulfgar irá lhe ensinar a primeira palavra do Redemoinho Veloz.

O outro ancião foi até o argoniano e sussurrou.

— Wuld.

Logo após, Wulfgar sussurrou outra vez, dessa vez foi o thu’um de passar conhecimento.

— Onik Mindok Enook. (Sábio Conhecer Tudo.)

Com o thu’um pronunciado, a mesma energia novamente saiu do ancião, e foi em direção ao crânio do dovahkiin. Mais uma vez, uma dor de cabeça atacou a cabeça de Nur por alguns minutos, o fazendo cair de joelhos por alguns por isso.

— SENHOR NUR!! - Lydia se desesperou e correu até ele, preocupada.

— Não se preocupe, garota. - Interrompeu o porta-voz - Ele só está absorvendo o conhecimento básico que ele precisará para aprender o uso do Wuld.

Dentre as imagens, ideias e informações que vieram a sua cabeça, haviam muitas imagens de tornados, vendavais, e redemoinhos, assim como imagens do vento. Mesmo os mais leves que apenas empurram a grama em planícies verdejantes eram bastante rápidos.

Quando as coisas começaram a se organizar em sua cabeça e ela parou de doer, ele se ergueu novamente.

Mestre Borri, junto de outro ancião, foi em direção ao portão, enquanto Mestre Arnveir dizia ao argoniano mais escuro o que seria feito.

— Agora veremos o quão rápido você consegue assimilar o que aprendeu.

Da distância que eles estavam, não puderam ouvir, mas o ancião que fora para o portão sussurrou.

— Bex. (Abra.)

Respondendo ao sussurro, o portão se moveu, abrindo passagem para o penhasco.

— Mestre Wulfgar irá demonstrar o efeito do Redemoinho Veloz.

O ancião que outrora passou seu conhecimento sobre a palavra “Wuld” agora foi até dois metros ao norte de distância. Já distante o suficiente, o velho nórdico sussurrou.

— Wuld. (Redemoinho.)

Com o sussurro, o homem avançou com tudo, indo parar no penhasco do outro lado do portão, “voando” no ar tão rápido quanto a visão normal poderia acompanhar.

— Certo, é a sua vez, Dovahkiin. Antes de você começar, eu gostaria que seus aliados fossem para o outro lado do portão. Por segurança.

Com o pedido feito, Lydia e Derkeethus foram para perto do penhasco. Nur então foi até o lugar da onde partiu Wulfgar e gritou.

— WULD!!(REDEMOINHO!!!)

Com o Thu’um, o dragonborn sentiu seu corpo se desprender do chão. Por apenas dois segundos ele viu o cenário em volta dele e as pessoas nele se moverem para trás tão rápido quanto uma flecha, além de sentir seu corpo ser carregado pelo vento.

Quando ele viu, ele tinha ido parar na borda do penhasco, e estava perto demais da ponta. Se equilibrando na ponta de um dos pés, ele temia pelo pior. A queda parecia enorme, e levar para Riverwood, e se ele caísse, não haveria Pele de Hist que o salvaria dessa. Sua cauda balançava desesperadamente para trás.

Rapidamente, a housecarl e o irmão do thane foram até ele e lhe puxaram pelo rabo, o fazendo cair no chão sentado. Ele então põe as duas mão no chão atrás das costas, e bufou pra cima, aliviado.

— Valeu, galera. Essssa foi por pouco.

Arngeir se juntou aos outros três Grey-Bearbs, e Nur perguntou.

— E agora, o que acontessce?

— Por agora nós descansamos. Já está ficando tarde. Amanhã, lhe introduziremos a filosofia que seguimos, o Caminho da Voz. Mas por enquanto vamos entrar e descansar. Temos gemada com carne como jantar essa noite.

Os três se entreolharam, vendo que deveriam ter tomado mais cuidado com a sacola de suprimentos.

O Dovahkiin se levantou e os três seguiram os sábios, indo em direção às portas do Alto Hrothgar.