Era mais ou menos umas seis horas da manhã. Os Grey-bearbs cederam algumas camas improvisadas com feno para eles no salão de banquetes, à direita do salão central. Derkeethus tinha acordado e olhou para a cama de Nur, e percebeu que seu irmão não estava lá.

Ele se levantou e foi a procura dele. Ao passar por uma porta no corredor da direita, ele o achou sentado do lado de fora do sopé da porta que dava ao pátio. Ele olhava para o nascer do sol. Ele parecia estar distraído e bastante contemplativo.

— Nur? Acordou sscedo.

O argoniano mais escuro levou um leve susto, mas logo se recompôs e respondeu.

— Ah, sssim. Pelo jeito vosscê também.

Poisss é, né.

O de chifres então foi até o de plumas e se sentou ao lado dele. Ambos ficaram contemplando o céu por um tempo.

— Ei! - começou o dragonborn - Vosscê lembra do que falavam do meu ovo na nossssa tribo? Antesss dosss nossssosss paisss

— Bem. - Interrompeu o irmão - Eu lembro que osss anssciõesss falavam que vosscê resscebeu pouca ssseiva da Hissst da tribo. E que sssegundo elesss foi por isssso que vosscê sssó desenvolveu a Pele de Hissst com 15 anosss. Diziam até que não era pra vosscê ter nassscido.

— Bem, talvezzz essstivessssem sscertosss.

— O que vosscê quer dizer.

Sssegundo nossssosss paisss, nossso ninho ficava em uma parte limitada da árvore. E alí, meu ovo ficava em uma posissção maisss para longe da árvore em relassção ao ssseu ou dosss nossssosss outrosss irmãosss.

— Nur, onde raiosss vosscê quer chegar?

O Dovahkiin hesitou por um momento, suspirou, e respondeu.

— Quando eu essstava conversssando com osss Grey-Bearbsss, elesss me falaram que eu nassci com a alma de um dragão.

O outro argoniano ficou chocado com aquela frase.

— Eu sssou quase um renegado. - continuou - É por isssso que demorei pra desenvolver a pele de Hissst. É por isssso que não possssuo conexssão com as Hissstsss. Eu nunca voltarei para asss arvoresss de Argonia. Eu vou pro mesmo lugar que osss dragõesss quando morrem, e eu não sssei sssequer ssse tem ou não.

Quando Nur terminou de dizer aquilo, Derkeethus compreendeu a situação de seu irmão: ele estava estava tendo uma crise existencial. A natureza a qual ele achava pertencer agora tinha sido desmascarada pelos próprios poderes. O pior de tudo é que ele poderia enxergar isso como uma barreira entre si próprio e seus irmãos, o que poderia piorar as coisas.

— Ei, Nur. Não ssse preocupe com isssso. Ao que eu li em um dosss livrosss dosss Grey-Bearbsss, osss dragõesss foram criadosss pelo próprio Akatosh, então creio que há sssim algum lugar para vosscê. E depoisss, eu sssei muito bem o quanto vosscê é forte. Ssse depender de vosscê messsmo, não morrerá nunca - Ele então se levanta novamente, se esticou um pouco e continuou. - Além disssso, lembre-ssse: Vosscê sssempre terá a ssseusss irmãosss em algum lugar para quando presscisar.

O mais claro então voltou para dentro e foi novamente para o salão de banquetes, a fim de voltar a dormir mais um pouco. Antes de entrar no salão, o mais escuro lhe chama uma última vez.

— Derky.

Sssim?

O Dovahkiin fez um breve silêncio, e então respondeu.

— Valeu.

Derkeethus não respondeu a nada, apenas acenou de leve com a cabeça, e voltou a andar até a cama. Nur só percebeu que ele já não estava mais lá devido ao som dos passos ecoando pelo interior do Alto Hrothgar. Ele então ficou sentado ali no sopé da porta por mais um tempo, ainda reflexivo.

***

Em frente ao templo, Nur, Lydia e Derkeethus, juntos do quarto grey-Bearb, Einarth, limpavam a bagunça causada pela batalha do dia anterior. Eles estavam catando as rochas que um dia foram a estátua de Talos.

— Lydia, poderia me lembrar de novo por que a gente tá a maisss ou menosss duasss horasss catando osss ressstosss dessssa essstátua? - Questionou Derkeethus, que não tinha pego a explicação por dormir um pouco mais tarde.

— Segundo o senhor Arngeir, precisamos de todos os pedaços da estátua para que o artesão que for a reconstruir tenha uma ideia de como ele deverá fazer. Só será meio difícil conseguir algum artesão que concorde em fazer uma estátua de Talos após o Tratado Ouro Branco. Ainda mais com a Guerra Civil.

— Quer dizer, “ssseria”, né? Eu conhessço um artesão em Riften. Ele disssse que consstruiu uma essstátua de Talosss proxssima ao sscemitério da sscidade. A gente poderia ir até lá e contratá-lo.

Sem falar nada, Mestre Einarth apenas levantou a cabeça, abanou ela e sorriu, em sinal de aprovação da ideia.

— Vosscêsss nórdicosss ssse importam muito com Talosss, não? Praticamente causaram uma guerra por causa disssso. - Disse Nur.

— Bem, isso é meio óbvio, senhor Nur. Ele foi um dos imperadores mais poderosos e conquistou Tamriel inteira. E ele saiu daqui de Skyrim.

— E eu já ouvi isssso vez ou outra. Masss nunca sssouberam me dizer essxatamente o quão poderoso ele era.

— Bem… Ele era extremamente habilidoso em batalha… Era poderoso e… E-ele tinha um enorme dragão vermelho e…

— E ele era como você, Nur Dragiris: um Dragonborn.

Eles se viram para o templo, e viram que quem interrompeu a nórdica foi o Porta Voz Arngeir, que vinha de dentro do templo.

Sssenhor Arngeir?!

— Eu estava vindo aqui para ver como estavam e não pude evitar de me intrometer nessa conversa. - ele então se virou para a borda da montanha, em frente a vista da província. - Tiber Septim, ainda em vida, foi descoberto pelos Grey-Bearbs anteriores a nós e treinado como um dragonborn. ao lhe testarem e descobrirem sua força, ele foi declarado Ysmir e lhe foi profetizado que ele conseguiria grandiosos feitos. E assim a história foi feita. Ele conheceu e se aliou ao dragão Nafaalilargus, remodelou Cyrodill a sua vontade, e conquistou toda Tamriel, subjugando o primeiro Aldmeri Dominium.

Enquanto ouvia tudo aquilo, Nur se maravilhava, como uma criança ouvindo dos pais o Conto Antigo dos Dwemers. Imaginar que ele e aquele antigo herói compartilhavam uma forte característica em comum era surpreendente.

— Quando Tiber Septim morreu, Tamriel inteira ficou por quinze dias coberta de chuva. Como se toda Nirn estivesse chorando. Ele havia ascendido aos céus.

— Ele devia ssser um nórdico exsstremamente forte.- comentou o argoniano de chifres.

— Nórdico não. nede. Uma raça de humanos descendentes de Atmora assim como os nórdicos, mas muito mais fortes e tão raros quanto fortes. Ele não era nem nórdico, nem bretão, imperial ou redguard. Eles eram tudo isso e nada disso ao mesmo tempo.

Interrompendo a conversa, o som de alguma coisa pisando na neve. Eles voltaram suas atenções para aquilo, e se surpreenderam: era a manopla esquerda de osso de dragão de Nur. O dragonborn tinha certeza que ela tinha sido perdida na batalha contra o dragão no dia anterior. Logo depois outra luva surge, pulando de trás de uma rocha. Depois das manoplas, uma pata canina surgiu, e logo ela foi precedida por seu dono canídeo. Era Barbas, e ele não parecia muito bem. Todo surrado de sujeira e sangue, fosse dele ou de outra coisa, ele tremia as patas a cada passo, e piscando um dos olhos em tic nervoso.

Barbasss! Eu sssabia que…

NÃO. Começa. — interrompeu grosseiramente o daedra ao argoniano mais escuro. Ele parecia claramente irritado. - Vocês não sabem os PERRENGUES que eu passei!! Sabem aquele caminho todo que a gente fez de Falkreath até aqui? EU REFIZ AQUELE PERCURSO INTEIRO DE NOVO!!! Com a diferença que meu ponto de partida dessa vez foi uma vila pequena na frente de um rio. Tive de encarar alguns bandidos que ainda restavam em Helgen, quebrei a cara de algumas aranhas gigantes, enfrentei uma família inteira de ursos que habitavam uma caverna próxima da rota depois daquela cabana abandonada, e por falar em ursos, eu matei aquele urso polar que estava no começo da rota. Considere-se com sorte por eu ter tido a hombridade de trazer essas coisas quando eu as encontrei. Eu posso até não morrer, mas eu me canso. E caso não tenha percebido, EU. ESTOU. MUITO. CANSADO!!!!

Todos fizeram certo silêncio de susto. Os dois anciões por verem um cão falante, e os três guerreiros pelo estouro do cão.

— Er… Okay, Barbasss. Muito obrigado messsmo. Acho que você pode dessscansssar dentro do Alto Hrothgar, sscerto, Sssenhor Arnveir?

— Er….. Talvez. Esse cão falou?

— Ah, sssim! Esssse é Barbasss. O cão daedra de Clavicusss Vile.

— Oh, vejo que já tens contatos de grande porte.

— hehe, obrigado, messstre.

***

Depois do meio-dia, os Grey-bearbs chamaram Nur até a torre a nordeste do pátio do templo, enquanto Lydia e Derkeethus treinavam combate corpo-a-corpo no pátio. Lá em cima, os anciões meditavam, de olhos fechados de frentes para o horizonte. Apenas suas respirações profundas podiam ser ouvidas.

— O Caminho da Voz - dizia Arngeir a Nur, que se juntou a eles na meditação - Foi a filosofia criada pelo nosso fundador, Jurgen Windcaller. Segundo essa filosofia, a Voz é um poder extremamente perigoso. Não pode ser usado sem restrição. Ele deve ser usado para glorificar aos deuses, e não aos homens. Mas não se sinta restringido. Como Dovahkiin, você nasceu com uma dádiva dos divinos. Apenas no ato de usar esse poder você já estará honrando aos nove.

— Entendi, messstre. Obrigado. - respondeu o dragonborn. também de olhos fechados - masss me perdoe, poisss eu ainda não entendi porque a gente essstá meditando.

— Isso faz parte do Caminho da Voz. Para que um shout ganhe poder, é necessário que o usuário compreenda o mais profundo significado possível das palavras de seus thu’um. Você tem que tornar sua alma em uma com o Thu’um. Para isso é necessário concentração e silêncio. Meditação, no final das contas. Quando julgar que progrediu, você pode se levantar e gritar ao céu. Você sentirá quando o grito sair mais forte.

Coincidentemente, após dizer isso, Einarth se levantou e sussurrou.

— Zun Haal Viik. (Arma Mão Derrota.)

O “grito” ecoou pelo céu e reverberou pelo horizonte. Após isso o ancião voltou para sua posição e voltou a meditar.

E assim ficaram os cinco por algumas horas. Nesse meio tempo, o argoniano ficou pensando sobre as palavras que ele conhecia, as imagens e ideias passadas pelos Grey-Bearbs. Ele começou a conectar elas a outras coisas que ele conhecia, se aprofundando cada vez mais nelas.

Ele então se levantou, foi em frente à varanda da torre, e gritou

FUSSS!!(FORÇA!!)

O grito reverberou da garganta de Nur, passando pela boca, até o céu em uma onda de choque com a força de um mamute vindo com tudo contra um alvo. No caso, esse alvo era o infinito do horizonte. Mesmo tendo sido com apenas uma única palavra do grito, o argoniano sentiu que dessa vez o grito saiu um pouco mais forte que das vezes anteriores.

— Acho que fizzz progresssso, messstre.

— Isso é esperado de sua natureza. Mas é ótimo acompanhar seu progresso, Nur Dragiris.

O Dovahkiin então voltou a se sentar no chão e a meditar junto dos sábios.

***

Era de noite. Arngeir estava apagando as tochas do templo, a fim de apagar as luzes de noite, quando ele percebeu, ao passar pelo salão de banquetes, que Nur não estava deitado junto de seus aliados.

— Senhorita Lydia. Saberia dizer onde Nur Dragiris se encontra?

— Eu tinha o visto ir lá fora no pátio alguns minutos atrás.

— Obrigado.

Ele então foi até a porta central, a abriu, e a atravessou. Lá fora, ele viu o dragonborn treinando algum Thu’um de lado para o penhasco depois do portão a noroeste. Ele podia ouvir o grito e conseguia distinguir. Era o grito “Forma Fantasma”, que os outros Grey-Bearbs usaram no treinamento da palavra “Ro”.

— Fiik LO SSSAH!!! Fiik LO SSSAH!! Fiik LO SSSAH!!! - Ele repetia as palavras do Thu’um repetidas vezes com ímpeto, mirando para o chão. Porém nada ocorria, não importava quantas vezes ele gritava. Sua garganta até mesmo doía. Cansado de tanto gritar, ele chutou a neve à sua frente e caiu de joelhos no chão, arfando.

O Grey-Bearb se aproximou do rapaz argoniano e pousou sua mão esquerda em seu ombro direito e disse amigavelmente.

— Não achas que já não passou da hora de estudar os shouts?

— Ah… Sssinto muito. É sssó que eu queria muito poder aprender esssse grito. Ele me impressssionou.

— Hum… - O ancião coçou a própria barba grisalha, analisando - Será mesmo?

O dragonborn então suspirou e admitiu.

— A verdade, é que o que o sssenhor disssse ontem sssobre minha natureza me tocou de uma forma não muito agradável. Nósss argonianosss acreditamosss ganhar nossssasss almasss ainda nosss ovosss atravezzz dasss Hissstsss, asss arvoresss sssagradasss que habitam Argonia, além de que ssséria para elass que voltariamosss ao morrer. Sssaber que tenho a tal Dovahzii acaba contradizendo tudo o que eu ouvi desssde crianssça. Então eu dessscidi que ssse minha essssênsscia de vida tem cara de dragão e não de ssseiva, eu quero vê-la.

— E como sabes que esse grito te mostrará a sua alma? E não apenas um espelho de sua aparência física?

— Eu… Eu não sssei! É difísscil de exssplicar, sssabe? Eu sssei o sssignificado de palavrasss que não conhessço. Eu sssenti issso quando vi a palavra “Fusss”, quando vi a palavra “Raan” e acho que sssentirei isssso sssempre que eu for apresentado a uma palavra dovahzul nova.

Um silêncio se prolongou com ambos olhando para o chão, sem dizerem uma palavra sequer.

— Olha, meu rapaz. Se quiser, posso te passar o conhecimento desse Thu’um…

— Não, messstre. Obrigado. Lhe agradessço, masss eu quero aprender esssse grito do zero. Sssem absssorver alma de dragão ou ganhar conhesscimento prévio.

— Você tem certeza disso? Uma pessoa normal leva cinco anos para aprender o significado das palavras de um Thu’um, e mais cinco para dominar o grito. Os outros Grey-Bearbs nada mais são do que os mais proeminentes e prodigiosos aprendizes do Caminho da Voz. Eles levaram apenas dois anos para cada Thu’um que dominam. Você como Dovahkiin em teoria pode aprender em poucos dias o que levamos anos para aprender. Porém não sabemos exatamente quanto tempo consumiria. Tem certeza de que quer tentar?

O thane então para por um momento, pensando, e responde.

Sssim.

— Então tudo bem. Agora vá descansar. Amanhã seu treinamento passará a se concentrar nesse grito.

O velho nórdico então se distanciou e voltou para o interior do templo. Nur ficou para trás por um tempo, olhando, e então o seguiu.

***

No dia seguinte, o treinamento havia começado. O treinamento ocorreria na torre próxima ao portão nordeste, como as meditações normais dos Grey-Bearbs. A primeira palavra que Nur teria que aprender seria “Fiik”, que seria “Espelho”. Segundo Arngeir, o argoniano teria que usar de sua voz com a intenção de recriar uma cópia de sua aparência. Um reflexo perfeito de si próprio.

Por três dias o dragonborn leu diversos livros e refletiu diversas vezes em cima de cada palavra que pudesse ser ligada a “espelho”. Na manhã do terceiro dia, o grito gerou uma pequena chama espiritual, que se manifestou por alguns segundos, e depois desapareceu. Segundo o Mestre Porta-Voz, essa era a reação esperada, assim como a reação da próxima palavra.

Ainda no mesmo dia, o treinamento da segunda palavra começou. Ela era “Lo”, que significaria “Iludir”. Ao aprender essa palavra, o Dovahkiin deveria ter a intenção de criar a uma imagem ilusória, imitando elementos de imagens, como textura e silhueta. Por mais três dias, foi feito um árduo gasto de cordas vocais, páginas de livros e neurônios reptilianos, buscando significados e compreensões sobre a ilusão. Na noite do terceiro dia treinando essa palavra, Nur conseguiu gerar uma série de linhas em ondas que de fato pareciam formar uma silhueta e detalhes, apesar de não se assemelharem com nada em específico. E da mesma forma que a chama espectral, as linhas duraram poucos segundos e então se foram com o ar.

Depois disso, veio o treinamento da última palavra: “Sah”, ou “Fantasma”. Depois de vários dias estudando as outras duas palavras, o argoniano pegou o jeito e já conseguiu estudar e refletir sobre a palavra “fantasma”, que na verdade parecia até bem mais profunda do que as outras duas. O resultado, na manhã do segundo dia, foi uma mancha de cor espectral. Não era uma chama, mas sim algo mais semelhante a um gás.

Ele estava pronto.

***

Na tarde daquele mesmo dia, os Grey-Bearbs e o grupo de Nur se reuniram no pátio. Nur e Arngeir estavam de frente para eles, esperando todos chegarem. Quando todos finalmente estavam ali, o porta-voz deu a deixa.

— Muito bem, Nur. Mostre o resultado dos esforços da última semana.

O argoniano escuro então deu as costas a todos, respirou fundo, e expirou, tentando relaxar. e então ele começou.

— Fiik(Espelho) - com essa primeira palavra, ele puxou todo o ar que podia, e com as outras duas palavras, liberou tudo com furia - LO SSSAH!!! (ILUDIR FANTASMA!!!)

Com o grito, linhas em forma de onda começaram a se mover e desenhar uma forma. Um segundo depois que as linhas se quer surgiram, uma chama se manifestou no meio do “desenho” e queimou para frente e para trás da figura, e conforme queimava, um rastro em forma de uma mancha de espectral. Ao final do processo, a figura manifestada era enorme, sustentado no ar por enormes asas que possuíam apenas um longo dedo cada. Suas patas traseiras eram o mais próximo de “mãos” eram suas patas traseiras. Seu pescoço comprido sustentava uma enorme cabeça, que se afinava um pouco no focinho, e o topo da nuca ostentava cinco chifres que eram conectados entre si por uma membrana de pele, desenhando um escudo com o topo da cabeça. Suas costas possuíam uma pequena vela de couro, como uma terceira asa. Metade de sua cauda longa possuía extensões horizontais nas vértebras que, assim como ocorria com a vela nas costas e os chifres na cabeça, eram conectadas entre si por uma membrana de pele, parecendo a cauda de um girino.

A reação de todos ali não foi outra senão surpresa. Todos ali se impressionaram com aquilo. Sem dúvidas aquela semana ainda em cima do Alto Hrothgar valeu a pena. Mesmo os demais Grey-Bearbs se impressionaram.

— UOU! - Disse Derkeethus, surpreso - Ssse paressce com aquele…

— Sosdovah. - Disse o velho nórdico.

— Desculpa, o que? - questionou Lydia.

— Dentro da espécie dos dragões, existem diversas raças, com aspectos físicos diferentes entre si. Tal como as diferentes raças de élfos e de humanos. Os Sosdovah, ou Dragões de Sangue, são especialmente conhecidos como os mais sanguinários, como o próprio nome sugere. Eles fazem questão de ver o sangue e as tripas de seus rivais antes de os finalizarem.

Nur tentou tocar na figura, porém assim que seu dedo tocou nela, a manifestação simplesmente desapareceu.

— Ei! Como assssim? Ele desaparessceu?!

— Sim. Essas manifestações de espíritos são limitadas. Sensíveis a qualquer toque e seguem os movimentos do conjurador.

— Poxa. Lá ssse vai minha melhor forma de locomossção rapida e meusss planosss de ataque envolvendo dragão fantasssma.

— Quer dizer que essa semana toda aqui foi em vão? - questionou Lydia.

O thane se vira para sua housecarl e a responde.

— Eu não diria isssso. Apesar de que ssseja pouco provável que eu vá usar esssse grito, essssa sssemana foi ótima para eu entender melhor minhasss capacidadesss. Além do que, dessscobrir que minha exssissstensscia não ssse deve pelasss Hissstsss me abalou de uma forma terrível. Masss poder ver a mim messsmo dessssa forma me ajudou a ver minha condissção de uma nova maneira. Até me deu uma erguida na minha auto-essstima. - Ao terminar essa frase ele abre os lábios mostrando os dentes fechados fechando os olhos, tentando imitar um sorriso humano.

***

Mais tarde, no interior do Alto Hrothgar, todos estavam reunidos no salão principal. Mestre Arngeir e os demais Grey-Bearbs haviam chamado o grupo do dragonborn para falar com eles.

— Nur Dragiris. Na última semana você tem demonstrado grande afinidade com suas capacidades como Dovahkiin. Possuímos um último teste para você.

Poisss então diga, messstre. Que tessste é esssse?

— Ao noroeste daqui, nos pântanos de Hjalmarch, ao nordeste de Morthal, há uma tumba chamada Ustengrav, onde se encontra o chifre do elmo de nosso fundador, Jurgen Windcaller. Vá até lá, pegue-o e o traga de volta a nós.

O argoniano fez uma reverencia e respondeu.

— Entendido, messstresss. Eu farei. - Ele então tira seu mapa da bolsa - Ssse não for um problema, poderia marcar em meu mapa?

— Oh, claro. Sem problemas. Senhor Derkeethus, poderia pegar uma pena e um tinteiro para mim?

Sem responder, o argoniano de chifres assentiu com a cabeça, foi até o quarto dos anciões, pegou uma pena e um tinteiro que haviam em uma mesinha, e voltou os entregando para o velho nórdico.

Com a pena e o tinteiro em mão, o ancião a molhou na solução preta, e com cuidado marcou a localização do lugar.

— Obrigado. Agora, ssse nosss derem lisscensssa, temosss que partir. Vamosss pessssoal.

— Aí! Até que enfim as emoções vão voltar. haha! — comemorou Barbas.

Poisss é - Concordou Derkeethus - Até agora, tirando o Troll, osss tigresss e o Dragão, eu não tenho visssto muita emossção.

— De fato! É bom voltar a ação novamente. - complementou Lydia.

O quarteto então foi em direção à porta direita e a abriram, passando por ela. O último deles foi Nur, que parou em frente a porta e disse olhando para trás.

Messstresss… - Ele faz uma pausa e então diz - Muito obrigado. por tudo.

Com isso dito, o Dovahkiin finalmente passou pela porta e a fechou, partindo em fim do Alto Hrothgar.