Era final de tarde, perto do pôr do sol. Apesar disso, a enorme sombra da Garganta do Mundo se erguia imponentemente sobre Riverwood, anoitecendo a pequena vila mais cedo que outros lugares. Alvor batia os últimos pedaços de ferro antes de entrar em casa. Gerdur, junta de seu marido, cortava os últimos troncos de madeira. As crianças brincavam com um cachorro pelas duas ruas da vila, aproveitando os últimos momentos do sol antes de suas mães os chamarem.

Da entrada norte da vila, um pé recoberto por uma bota feita de ferro, ébano, e ossos de dragão. Era o primeiro passo que Nur dava na vila desde a última vez. Nada mudou tanto quanto da última vez, o que era esperado visto que não fazia tanto tempo assim. Haviam marcas de combate contra dragões nas casas, mas nada muito destruído. Os guardas deviam estar dando bastante conta deles.

E por falar em guardas, essa foi a primeira coisa que o argoniano havia percebido: a vila agora possuía mais guardas de tocaia nos arredores. Balgruuf provavelmente ordenou um destacamento para a vila desde o ataque contra a torre noroeste. O que era bom, pois poderia ser de ajuda caso Sven e Faendal viessem atrás de encrenca.

Da última vez que esteve ali, o nordico e o elfo queriam a cabeça dele. Então ele teria que tomar mais cuidado para não ser reconhecido. Felizmente, se antes ele temia contar para Lydia sobre sua infâmia na vila e fazer ela pensar que ele fosse um encrenqueiro, agora seu grupo não só estava maior, como também mais entrosados, então ele pôde explicar sua situação e concordaram em ajudá-lo. Para isso, a nórdica lhe emprestou seu elmo Dwemer, que cobria totalmente o rosto. Era meio difícil pelo tamanho, que machucava o focinho do saxhleel de penas, mas ainda era usável.

— Okay, Nurr. Onde fica a tal estalagem?

— Deixa eu ver. Ssse eu me lembro bem, fica… - Ele movia a cabeça desengonçadamente, tentando enxergar com a cabeça puxada para baixo pelo capacete, o forçando a olhar “para cima”. - Ali!

O dragonborn apontou para a construção ao lado deles: uma estrutura não tão grande, de frente para a estrada. Havia um cavalo pastando no pequeno terreno a frente dela.

— Bem, então o que estamos esperando? Vamos entrar.

Eles então se aproximam da porta e a abrem, adentrando o lugar.

A taverna não estava muito movimentada. Talvez a quantidade limitada de pessoas na vila não a tornasse muito movimentada. Alguns rostos familiares a Nur, como a mulher de Alvor e o marido de Gerdur, comiam e bebiam juntos a outros moradores da vila, com um bardo no meio de todos. O bardo era um rosto conhecido do dragonborn, mas não muito amigável. Um humano loiro de cabelo relativamente comprido. Era Sven. Se não fosse pelo capacete dos Anões, o nórdico provavelmente já teria o reconhecido.

— Aquele é um dosss homensss que vosscê? - Cochicha Derkeethus.

Sssim, é ele. Vamosss resolver o que viemosss fazer de uma vezzz e sssair o quanto antesss.

O grupo então se direciona até o balcão. O estaleiro então olha para a figura a frente do grupo e pergunta.

— Posso ajudar, er…Senhora?

O final da pergunta causa estranhesa ao reptil, mas que logo se toca e diz.

— Na verdade ssseriasssenhormesssmo. É que esssse é o único capasscete que tenho disssponivel.

O dono do lugar olha para o lado da figura a frente dele, reparando que a nórdica com um Elmo Talhado Nórdico. Mas decide não contestar e responde.

— Tudo bem. Então… posso ajudar, senhor?

— Bem, nósss gossstariamosss de alugar um quarto.

— Quartos são com a Delphine. - ele diz apontando para uma mulher no meio do salão da taverna. Ela era loira, com rugas no rosto denunciando a idade, aparentava ser uma bretã, vestindo roupas bastante simples, e limpava o lugar com uma vassoura. - Desde que ela chegou aqui ela que administra essa parte.

— Entendido. Obrigado.

O grupo então se distancia do balcão e se aproxima dela, que estava de costas varrendo o chão. Ao se virar, ela não demonstrou susto ou surpresa, mesmo com quatro pessoas de armaduras aparecendo do nada atrás dela.

— Er… Com lisscensssa. Gossstaríamosss de alugar um quarto.

— Só um quarto? - ela diz, olhando para os outros membros do grupo.

Sssim. hehe. Maisss essspesscificamente um… - Nur então tira do bolso a carta que achou em Ustengrav - “quarto no porão.

Aquele pedido surpreende a mulher mais velha, que em resposta diz, tentando disfarçar.

— Sinto muito. Não temos um porão. Mas acho que tenho algo para vocês. Por favor, sigam-me.

Obedecendo a bretã, o grupo a segue até a porta da direita da taverna, próxima ao balcão. Do outro lado, se encontrava um quarto, relativamente grande em comparação aos outros, com uma cama encostada na parede do outro lado, uma mesa em outro canto, próxima da porta, e do lado dessa mesa, um armário grande. Assim que a mulher entra, ela diz.

— Muito bem, o ultimo a entrar fecha a porta.

Dito isso, o grupo começa a olhar para trás, até que os olhares chegam em Barbas. Ao entender o “recado”, ele foi para trás da porta, se custando um pouco, e a empurrou, fechando eles naquele quarto.

— Perfeito - Ela afirmou.

Como a humana apenas ouviu a porta se fechando, e não viu quem a fechou, ela não viu quem fechou a porta e não questionou o “adestramento” do cão que os seguia. Ao invés disso, ela apenas foi até o armário e começou a revirar ele, levantando dúvida entre os membros da caravana, que se olhavam se perguntando onde isso os levaria.

De repente, um som de ranger é ouvido de trás da parede, assustando de leve o grupo. E então, do fundo do armário, uma passagem é aberta, revelando um lance de escadas que seguia reto para baixo. Ela então desceu o lance de escadas, sendo logo seguida pelos cinco.

As escadas terminavam bem em frente a uma sala, a qual eles agora se encontravam. A sala não era muito grande, mas tinha uma largura próxima da largura do salão. Haviam alguns sacos e blocos de feno nos lados, sugerindo que provavelmente aquele lugar era um depósito antes, ou então que aquele lugar era usado de depósito, ainda que não fosse só isso. Tinha também uma prateleira na parede ao fundo com alguns ingredientes, ao lado de uma bancada de alquimia em um canto. Um porta armas na parede à direita da entrada, com alguns arcos e uma espada longa e fina, muito semelhante a arma de Nur. À esquerda da entrada, havia apenas um baú comum. E ao centro do cômodo uma mesa, com um mapa de Skyrim, uma cópia de “O Livro do Dragonborn” e uma tábua de pedra estranha.

Enquanto o argoniano trocava de capacete novamente com Lydia, se aliviando do aperto, Delphine dá a volta na mesa, indo até o outro lado, próxima ao mapa, e diz.

— Eu estava no aguardo de você e do seu grupo, “Dragonborn”. Se é que você é o que dizem ser.

— Então… Vosscê é a pessssoa que pegou o chifre?

— Surpresos? Acho que estou pegando jeito nesse disfarce de administradora de taberna.

— A proposito, sssobre o chifre…

— Oh, claro. Está aqui.

A mulher mais velha então põe a mão entre sua saia longa, atrás de sí, e a tira com o tal chifre, o colocando em cima da mesa e o empurrando pro lado de Nur. O objeto era relativamente pequeno e até bem simples. Um chifre serrilhado pelos lados, cujo qual “descia” de sua base e apontava para frente no final, com uma ponta arredondada. Devia ser um chifre de carneiro ou algo assim, que foi adaptado para encaixar em um elmo.

Ao pegar o objeto, o argoniano pergunta para anciã.

— Masss então, porque tudo isssso? Porque pegar o chifre?

— Bem, eu imaginei que os Gray-Bearbs te mandariam para lá. Eles são bem previsíveis. E eu precisava entrar em contato com você. Por mais que eu não tenha cem por cento de certeza de que você seja de fato um dragonborn, os rumores indicam que sim. E se sim, então preciso de seu auxilio. - Ela respira fundo, com as mãos na mesa - Eu faço parte de um grupo que vem procurando há muito tempo por você. Ou melhor, por alguém COMO você. Isso é, se você de fato for o Dragonborn. Mas preciso saber se posso confiar em vocês. Tenho que ter certeza se isso não é uma armadilha dos Thalmors.

— OIha - interrompeu Derkeethus - não sssei ssse vosscê persscebeu, masss essstá em desssvantagem numérica. Sssomoss scinco e vosscê é sssó uma. Ou ssseja: ssse issso fosssse uma armadilha dosss thalmorsss, já teriamosss erguido nossssasss armasss.

— Sem falarr que, olhe parra nós. - falou Inigo, abrindo os braços, como se estivesse destacando o grupo - Não somos exatamente o tipo de gente que os Thalmorrs gostam.

Mais uma vez, ela suspirou, agora tentando se aliviar.

— Estão certos. Acho que posso confiar um pouco em vocês. Ao menos… Por enquanto.

— Porque de todo esse medo dos Thalmors? - questionou Lydia - Quer dizer, eles se fizeram presentes aqui nos últimos anos, mas não tanto. Sem falar que as Ilhas Summerset estão muito longe para eles mandarem muitos agentes de qualquer jeito.

— Bem, digamos que meu grupo e eu somos velhos inimigos. Estiveram me caçando por anos. E se minhas suspeitas estiverem corretas, eles estão por trás da volta dos dragões.

— E vosscê queria me encontrar por causa disssso, sscerto?

— Exatamente. Meu grupo e eu lembramos de algo que muitos esqueceram a muito tempo: Os Dragonborns são os caçadores de dragões perfeitos. Eles são os únicos capazes de matar de vez um dragão absorvendo as almas deles. Você pode fazer isso?

— Bem, sssim! Claro! Na verdade, foi assssim que eu dessscobri que eu era um: eu matei o dragão que atacou a torre noroeste de Whiterun e acabei absorvendo a alma dele.

— Bem, bem. E você se lembra de algo mais? Talvez de uma figura no castelo de whiterun?

O saxhleel então se põe a pensar, tentando lembrar do que ela falava. Ele então repara no pedaço de pedra em cima da mesa, ao lado do mapa de Skyrim. Ao olhar para a superficie dela, ele fica pasmo ao reconhecer o outro mapa de skyrim gravado nela junto de runas nórdicas antigas: era a runa que ele recuperou nas Cataratas Lúgubres.

Essspera, ERA VOSSCÊ QUE ESSSTAVA COM FARENGAR NAQUELE DIA??!!

— Exatamente. Eu já tinha noção, devido a informações privilegiadas de meu grupo, da localização da runa e do tipo de informação que ela possui. Indiquei a Farengar a localização, e ele fez você recuperá-la por nós.

— E que tipo de informassção ela tinha?

A bretã então vira o mapa para o guerreiro, que ao olhar percebe várias marcações em locais diferentes da província.

— Vê essas marcações? São túmulos. Túmulos de dragões mortos durante a guerra contra os dragões.

— Hum. Entendi. E o que é que tem?

— O que tem é que eu visitei alguns desses túmulos…- Ela então fez uma pausa dramática, e então completou - Estavam vazios e abertos.

Quando ela disse isso, todos a encararam, assustados. Alguns até diminuíram a frequência da própria respiração.

Essspera, vosscê não essstá sssugerindo que…

— Sim, os dragões não estão voltando, pois eles nunca foram embora: Eles estão ressucitando. Voltando dos mortos.

— Eles não podem apenas estarrem se rreprroduzindo?

A mais velha então ri com aquela pergunta, os deixando confusos.

— Não seja tolo. Dragões não se reproduzem. Todas as estorias sobre ninhos e ovos de dragões se mostraram um engano ou mentira. Qualquer noção sequer de sexualidade que possa haver entre eles é uma mera formalidade.

Masss então como elesss se mantêm como essspésscie? - Questionou Derkeethus.

— Eles são imortais.Um dragão pode viver pra sempre senão morto em combate. Sem falar que aparentemente eles têm uma forma de voltar. Só precisamos descobrir como.

— Você parece saber muito sobre dragões. - afirmou Lydia.

— Pode-se dizer que sim. Afinal, matar dragões é uma das especialidades do meu grupo. Vocês vão entender uma hora. Provavelmente, pelo menos.

Masss então, e agora? - indagou Nur.

— Bem, eu venho analisando as tumbas que encontrei vazias, e elas parecem começar do sudeste, em Riften, e avançam lentamente ao Noroeste. Todos os dragões que apareceram até agora vieram de lá. Então me baseando pelos meus estudos, o próximo dragão vai ressuscitar… - ela então passa o dedo pelo mapa, parando em uma área ao sul de uma capital marcada pela cabeça de um urso - Aqui!

— Isso é Kynesgrove, próximo a Windhelm! - afirmou a nórdica.

— Windhelm?? - O khajiit parecia surpreso e desconfortável com a cidade citada.

— Bem, então o que essstamosss esssperando. Vamosss para lá!

— Eu tenho que me preparar antes. Podem ir na frente. Encontro vocês por lá.

O grupo então sai da sala secreta, voltando para o quarto da estalagem. Assim que abrem a porta e voltam para o salão, o argoniano de penas se lembra que estava com seu elmo, deixando exposto seu rosto. Mas antes que ele pudesse pedir para trocar de novo com Lydia, ele ouve uma voz vinda do salão.

— Nur!

— Ferrou.

Sven, do outro lado da taberna, saca uma adaga, e vai contra ele, com raiva.

VAMOSS SSAIR DAQUI, PESSSSOAL!!

O grupo então corre para a saída. O bardo até tenta apertar o passo, mas não consegue alcançá-los. Eles saem correndo de Riverwood, deixando para trás um nórdico enfurecido com um alaúde nas costas, e uma adaga de ferro na mão.

— VOCÊ NÃO PODE FUGIR PARA SEMPRE, SEU LAGARTO DESGRAÇADO!!

Gritou o cantor, jogando no chão a arma, frustrado.