Skins: Time Changes Everyone

Time Changes Everyone: Will ll


Meus dedos percorriam as teclas do piano. Eles doíam, mas eu não parava afinal era a minha última apresentação...

Eu quase não via a plateia, graças a luz baixa, a única luz era concentrada direto á mim. Minha voz não era das melhores, mas os versos de ''When I Look At You'', saiam delicadamente e lentamente de minha boca. As lágrimas caiam sobre minhas bochechas, eu não tenta esconde-las.

You appear just like a dream to me...– foi a última frase cantada, seguido dos aplausos da plateia.

A luzes voltaram, fazendo eu enxergar a plateia que me aplaudia, muitos estavam como eu, com lágrimas em seus olhos.

Esperei os aplausos sessarem e me levantei. Para o agradecimento, e também para dizer minhas últimas palavras no The G World.

–Obrigado! Muito obrigado pelo carinho! -Fiz uma pausa entanto respirar com normalidade, o que era meio difícil em minha condição. -Então gente, hoje é minha última apresentação no The G World, a mais ou menos sete anos eu fui acolhido por essa família...-fiz outra pequena pausa e pude ver Debs e Savannah abraçadas, me observando discursar, dei um rápido sorriso destinado á elas. -Consegui esse emprego graças a minha melhor amiga e colega de quarto Debs, comecei como barman...E dei muito prejuízo ao Jason quebrando uma dúzia de copos por dia...

Todos na plateia riram, até eu me lembrando. Sempre fui muito desastrado. Continuei:

–Logo depois teve uma audição, para cantores e dançarinos, e eu me inscrevi, sempre amei cantar, mas era algo que guardava para mim... Bem mesmo tremendo eu cantei ''Wrecking Ball'' para Jason, e ele me aceitou no show...

Fiz outra pausa e tratei de limpar minhas bochechas que estavam molhadas de lágrimas.

–Todos no show sabem o quanto rigoroso Jason é... Mas isso faz dele o melhor, faz dele o dono do show, faz dele um mestre, tenho muito o que agradecer á ele, aprendi muito com ele aqui nesses sete anos... Na verdade eu aprendi muito com cada pessoa que faz parte do The G World, só queria deixar registrado que eu nunca vou esquece-los, que eu amo demais vocês...

Eu tinha entrado no The G World como um adolescente bobo, recém chegado de Bristol em Londres, e estava saindo como um homem, um homem que tinha aprendido lições da vida da pior forma possível.

Todos no The G World sabiam, que eu estava deixando o show por apenas uma razão: Eu estava morrendo, tive que sair tinha muitas coisas a fazer antes de partir...Eu não conseguiria dar atenção ao show e as minhas coisas inacabadas.

No meu camarim recebi Sav e Debs, que depois de um jantar nunca mais se desgrudaram uma da outra. Debs sentou em uma cadeira na minha frente e Sav sentou em seu colo.

–Sabe que todos estão morrendo de medo não sabe? -começou Sav.

–Medo de que? -dei uma risadinha.-Eu que devia estar com medo...Vou morrer a qualquer momento.

Debs fechou a cara, ela não gostava de quando eu ironizava sobre o assunto.

–O show sem você irá ficar incompleto...Nunca acharemos alguém como você...

Me virei para o espelho para tirar minha maquiagem. Tirei alguns quilos de maquiagem do meu pescoço, que tapavam manchas roxas, que apareceram ali, na verdade eu tinha várias manchas rochas, como se fossem hematomas pelo corpo, era um dos sintomas da leucemia que começaram a aparecer, aparecer tarde demais aliás.

–Não seja boba Sav...Vocês tem o Jeff, e agora o Arthur...Mesmo ele sendo uma vadia Arthur tem talento...Muito. -continuei.

Após tirar toda a maquiagem me levantei, e logo sentia um enjoo incontrolável, fui correndo até o lixo e vomitei, um vômito verde.

–Desculpe garotas...Isso já é normal para mim...Tenho muitos enjoos.

Debs correu para me alcançar água.

–Você devia ir no médico Will! Pedir algum remédio... Isso não está certo não fazer nada contra...

–Debs já tivemos essa conversa, eu não quero a porra de remédio nenhum. -respondi tomando um gole de água. Me sentei, e troquei de assunto.

–Eu irei para Bristol amanhã...Ver minha mãe, não a vejo desde o Natal...

Isso era algo que eu me arrependia, depois que sai de casa não dei mais a devida atenção á minha mãe, o que agora me matava por dentro, pois eu sabia que ela me amava mais do que tudo. Ela sempre teve no meu lado nos momentos mais obscuros de minha vida.

–Você tem que contar para ela o que esta acontecendo Will... -pediu Debs.

–Não...Claro que não, pra quê fazer isso? Para fazer ela sofrer com antecedência? Lógico que não, minha mãe já sofreu muito por mim...Não farei isso denovo com ela.

Alguém bateu na porta do camarim. Uma fresta abriu-se e o rosto de Arthur apareceu.

–Hey... -começou ele visivelmente constrangido. -Será que posso falar com você?

Sav e Debs entenderam o recado, se despedindo de mim e me deixando á sós com Arthur.

Aquela cena era no mínimo constrangedora, estranha.

–Então, o que você queria Arthur? -perguntei, quebrando o silêncio.

–Nosso último encontro não foi dos melhores...Eu só queria pedir desculpas, sei que fui com muita sede ao pote e falei coisas horríveis... E...

–Arthur, me escute. -interrompi, eu queria que aquele assunto não se prolonga-se. -É simples, você é ambicioso isso é bom, tem talento, tem tudo de necessário, só para de ser uma vadia louca, pare de tentar passar por cima dos outros e tudo ficará bem ok?

–Ok... -disse ele sem jeito, ele já ia saindo quando perguntou. -E você como esta lindando...Você sabe...

–Tentando lidar da melhor forma possível... -respondi calmo, sorrindo. Eu não sentia mais ódio por Arthur, na verdade eu não sentia nada por ele.

Arthur me disse um quase inescutavel adeus, e fechou a porta me deixando sozinho no camarim. O resto da noite foi dedicada a despedidas de todos.

Jason me comprou um bolo, e me deu um pingente de presente. Foi uma noite tão feliz porque estávamos todos juntos, e tão triste porque eu estava deixando-os.

No fim da noite fui o último a sair do The G World. Fiz isso de propósito, queria ficar um tempo sozinho, só eu e o clube.

Sentado no palco vazio, com as luzes apagadas, e as cadeiras vazias, o bar silencioso, me lembrava dos momentos meus ali vividos. Pensei em fumar, mas me lembrei que Debs tinha jogado todos os meus cigarros foras.

Suspirei sozinho na escuridão.

''Eu irei sentir falta...Muita falta de tudo isso.''.

***

Desci do ônibus. Meus dois pés estavam em minha cidade natal Bristol. Peguei minhas malas e tratei de chamar um táxi. No caminho para casa eu pensava em quantos momentos inesquecíveis, loucos, e tristes eu tinha passado naquela cidade principalmente em minha adolescência

Minha mãe não sabia que eu estava prestes á reencontra-la depois de quatro meses sem ve-lâ. Seria uma grande surpresa. Já tinha planejado como seria meu fim de semana com ela, olharíamos nossos filmes favoritos, comeríamos muitas bobagens, seriam coisas simples mas que me fariam feliz, na verdade as coisas mais simples da vida são as que mais nos fazem felizes.

Meu celular vibrou, era um sms de Debs.

''Já chegou em Bristol? Como você está? E me diz uma coisa, qual o seu animal favorito?''.

Franzi a testa, não entendendo a pergunta sobre o meu animal favorito. Deu de ombros e respondi o sms.

''Estou bem, cheguei agora a pouco, meu animal favorito é gato...Porque diabos está me perguntando isso?''.

Fiquei com o celular na mão, esperando a resposta de Debs que não chegava. Desisti de esperar uma resposta quando o táxi parou em frente á casa de minha mãe. O taxista era um porto riquinho velho, simpático, que possuía horríveis dentes amarelados.

–Você está bem garoto? Está branco feito papel... -perguntou ele pegando o pagamento da viagem.

Sorri, eu podia contar toda minha história para ele mas isso faria com que depois eu tivesse que lidar com um olhar de pena, e um ''sinto muito'', e se tinha algo que eu não aguentava mais era ver as pessoas com pena de mim.

–Estou bem senhor...Só um pouco cansado. -menti pegando minhas malas, e me despedindo do porto-riquenho de dentes amarelos.

Vi o táxi se afastando me deixando em frente a minha antiga casa. Respirei fundo me dirigindo lentamente até a porta de casa. Tentando imaginar como seria a reação de minha mãe ao me ver após tanto tempo.

Estava frio, o vento cortava minha pele, me fazendo me sentir vivo. Minha estação favorita sempre foi o inverno, não sei porque mas eu amava tudo no inverno, os dias cinzentos, os dias nublados, os dias de chuva, o frio, as folhas secas.

Tomei coragem a apertei a campainha. Não demorou muito tempo e a porta abriu-se, mostrando minha já velha e cansada mãe.

–Oi mãe! - disse timidamente abrindo um sorriso.

A expressão de surpresa da minha mãe transformou-se em alegria.

–Seu bastardo filho da mãe! -disse ela me abraçando com força. - Finalmente tomou vergonha na cara e veio visitar sua velha mãe!

Minha mãe me puxou para dentro de casa e fechou a porta

–Se tivesse me avisado eu teria feito uma lasanha filho!

Lasanha era meu prato favorito.

–Quis te fazer uma surpresa mãe...

Minha mãe acariciou meu rosto, e uma expressão preocupada surgiu em seu rosto.

–Você está tão pálido filho... Tão magrinho, parece jesus cristo na cruz! Vou preparar um jantar bem reforçado, você precisa engordar um pouquinho.

Era típico de minha mãe, acho que na verdade de todas as mães, acharem que os filhos estavam magros demais.

–Mãe, enquanto a senhora prepara o jantar... Eu vou subir e dormir um pouco, a viagem foi longa.

–Claro filho, eu te chamo quando o jantar estiver pronto. - minha mãe continuava com uma expressão preocupada o que me deixava desconfiado, será que ela estaria desconfiando de minha doença?

Subi as escadas rumo ao meu velho quarto. Que permanecia igual ao que estava sete anos atrás quando deixei Bristol.

Abri a porta, e vendo minhas coisas uma chuva de flashbacks me invadiram a mente, junto com a nostalgia. Me atirei em cima da cama, e encarei o teto por alguns minutos. No bidê ao lado da cama tinha meu velho despertador e um porta retrato, o peguei.

Ali naquela foto havia três jovens abraçados, com os olhos brilhando cheios de vida, de esperança, de sonhos. Mal sabiam os três que a vida os separaria, e trataria de dar rumos diferentes para cada um. Ali naquela foto, que para mim parecia ter sido tirada em uma vida passada, se encontrava Frank( a único cara que eu havia amado na vida, que agora estava morto), eu no meio( eu quase não me reconhecia mais me olhando naquela foto), e Sarah a minha melhor amiga no ensino médio.

Eu sorri tristemente, o ensino médio havia acabado e junto com ele minha amizade com Sarah, nossas vidas tomaram rumos diferente e acabamos perdendo o contato, o que era uma pena, as pessoas não deviam deixar isso acontecer nunca mas infelizmente sempre deixavam. Pousei a foto no meu peito me perguntando que paradeiro Sarah teria levado.

Com o corpo dolorido, e com um enjoo insuportável adormeci, relembrando os melhores momentos de minha vida, que aconteceram na minha adolescência, e que jamais voltariam. ''Lembre-se, eu sempre irei te amar''. – a voz de Frank veio á minha mente junto com uma grossa lágrima.

O fim de semana com minha mãe foi tudo o que eu planejei, passamos horas e horas olhando filmes juntos, comemos muito besteira. Foi um dos finais de semanas mais feliz da minha vida. Mesmo tendo que lidar crises intermináveis de dores de cabeças, e os enjoos, e as tonturas. Tentei fazer o máximo para que minha mãe não percebesse nada.

Ela havia me flagrado duas vezes vomitando no banheiro, dei um desculpa simples dizendo que devia ter sido algo que eu tinha comido na viagem, sei que ela ficou desconfiada, mas tudo ficou sobre controle.

A segunda-feira havia chegado, e minha hora de partir também. Minha mãe me ajudou a levar minha mala até a frente de casa, o táxi já me espera. Eu odiava despedidas como odiava... Ainda mais aquela, que poderia ser a última, a última vez que eu veria minha mãe.

Abracei minha mãe por um grande tempo mais do que o normal.

–Eu te amo, te amo mais do que tudo mãe.

–Eu também te amo filho...

Depois que nos separamos minha mãe passou suas delicadas mãos em volta do meu rosto.

–Está tudo bem não está meu filho? - interrogou minha mãe olhando no fundo dos meus olhos, acho que no fundo ela sabia que algo não estava certo.

Eu sofri para conter as lágrimas, sofri por ter que mentir para minha mãe, mas eu não suportaria vê-la sofrer.

–Claro que está mãe... - minha voz saiu rouca, fina, uma voz típica de início de choro

O taxista buzinou me apressando. Forcei um sorriso para não deixar minha mãe preocupada.

–Até mais mãe.

–Vá com Deus filho... E não demore para voltar...

Me virei, sem olhar para trás, porque partir daquele momentos não consegui conter minha lágrimas, que caiam sem parar. Entrei dentro do táxi, chorando.

Durante a viagem fiquei com a cabeça encostada no vidro do carro observando o céu cinzento e sem vida de Bristol, era minha última visita á Bristol, então antes de partir para sempre eu tinha que fazer algumas coisas.

Pedi ao motorista que parasse em um floricultura. Na qual comprei um buquê de lírios, logo pedi que me levasse até o cemitério de Bristol, e me esperasse.

Com o buquê de lírios percorri o velho cemitério de Bristol. Demorei alguns minutos até conseguir me localizar, e encontrar o tumulo de Frank. Me ajoelhei em frente a lápide, que tinha um vaso com flores já murchas. Tirei as flores velhas e depositei as minhas flores no vaso.

Fiquei algum tempo ali ajoelhado, sem fazer nada, só olhando a sepultura. Com uma dor no peito, aquelas dores que parecem dilacerar o interior da gente.

–Will é você? - me chamaram.

Me virei rapidamente meio assustado. Na minha frente vi um garoto, de quatorze, talvez quinze anos. Com pele pálida, olhos escuros, e cabelos castanhos, o garoto usava uma camisa da banda ''Metálica'', o garoto tinha em mãos algumas margaridas.

Eu conheci aquele rosto de algum lugar, mas não lembrava da onde. Vendo que eu o encarava curioso o garoto falou:

–Não se lembra de mim não é?

Me levantei, meio sem jeito.

–Desculpe, você me parece muito familiar, mas não lembro não... - admiti.

O garoto sorriu e ajoelhou-se, botando suas margaridas ao lado de meus lírios.

–Eu venho aqui quase todo mês... Eu cuido da sepultura do Frank... -começou ele. -Eu sou o Eric, irmão do Frank.

Quando o garoto identificou-se me senti um idiota por não tê-lo reconhecido.

–Eric! Nossa! Desculpe não ter te reconhecido, mas a última vez que te vi você era uma criança.

Eric levantou-se. Ele tinha alguns traços do rosto que lembrava muito a Frank.

–Não tem problemas Will.

Eric e eu fomos andando até a saída do cemitério enquanto conversamos.

–E o seu pai como está? - indaguei, curioso para saber como estava Robert.

–Bem, na verdade muito bem, ele casou de novo, a mulher não é como minha mãe, mas ela é de boa.

–Isso é ótimo Eric. - falei sentindo uma paz no coração ao saber que tudo corria bem com Eric e sua família.

–E meu pai teve uma filha com ela... Tenho uma irmã agora, ela tem quatro anos... Frank amaria ela.

–Tenho certeza que sim.

Quando chegamos na frente do meu táxi meio sem jeito tem um abraço em Eric, me senti na obrigação de fazer aquilo.

–Fique bem Eric, e mande um 'oi'', meu para o seu pai, ok?

–Claro Will, você também fique bem cara.

Com um sorriso meio triste me despedi de Eric. Surpreso ao vê-lo tão grande, me lembrava dele como um garoto sapeca e respondão, vê-lo quase um homem era no mínimo surreal.

Logo o táxi me deixou na rodoviária, comprei minha passagem, era hora de partir. Antes de entrar no ônibus parei por alguns segundos dando uma última olhada para ''Bristol'', o meu antigo lar, suspirei sabendo que seria a última vez que veria minha cidade natal.

Durante toda minha viagem de volta a Londres tentei não pensar no meu passado, em Frank, mas era impossível, ter voltado a Bristol havia me trazido tantas lembranças.

Imaginei como seria minha vida se Frank não tivesse morrido. Talvez ainda estivéssemos juntos morando em Londres, construindo uma vida, uma história, quem sabe até uma família juntos... Se Frank não tivesse morrido talvez eu não tivesse feito tantas merdas na vida(pois ele estaria lá para me impedir), talvez eu não tivesse causado tantos danos á mim mesmo, talvez eu não tivesse fudido tanto com minha saúde ao ponto de ter leucemia.

Mas minha vida não teve o talvez tudo aconteceu.

Fechei os olhos tentando impedir que minhas lágrimas caíssem. Encostei minha cabeça na janela do ônibus, tentado me reanimar, logo eu estaria em Londres, veria Debs e ela me reanimaria, ela tinha esse dom.

Feliz por ter chegado em casa, fui recebido por Debs e Sav(que passava mais tempo com Debs do que na casa dela).

Abri a porta de casa. Debs e Sav estavam sentadas no sofá, com um balde de pipocas olhando tv.

–Espero que vocês duas não tenham colado velcro em cima do sofá! - disse me atirando em cima das duas, as abraçando.

Debs me abraçou forte. Nem ligando para o fato da pipoca ter caído no chão fazendo a maior bagunça.

–Seu inconveniente que amo! - dizia ela me abraçando e me beijando na bochecha.

–Senti tanta de vocês garotas!

–Nós também sentimos falta de você Will! - Sav disse retribuindo meu abraço.

Depois de narrar meu fim de semana para as meninas, me levantei do sofá.

–Então garotas, vou deixar vocês e o filme, to cansado vou dormir um pouco...

Debs levantou-se rapidamente.

–De jeito nenhum! Nós quatro iremos olhar filme! -disse ela.

Franzi a testa.

–Como assim nós quatro? - perguntei curioso.

A campainha tocou.

–Vá atender Will... - mandou Debs com um sorriso muito suspeito no rosto.

Fui até a porta tentando imaginar quem diabos seria. Ao abrir a porta dei de cara com Aaron, o maior surpresa não foi vê-lo, mas foi ver o que ele tinha em braços, um gato siamês.

Abri um sorriso forçado mais por dentro eu queria matar Debs.

–Aaron! Que surpresa... O que faz aqui? - tentei não parecer rude, acho que falhei.

–Vim te ver Will... E te trouxe um presente, fiquei sabendo que gosta de gatos... -com um sorrisso meio envergonhado Aaron me alcançou o bichano peludo e gordinho. O agarrei nos braços eu tinha uma queda por gatos.

Olhei para Debs.

–Sim tenho certeza que ficou sabendo... - aquilo explicava o porque de Debs me mandar um sms dias atrás perguntando qual meu animal favorito.

–Você não vai convidar o Aaron para entrar seu mal educado?

Revirei os olhos falando em pensamento para mim mesmo ''Seja legal, Aaron é um bom cara''.

–Entre Aaron...

Aaron entrou dentro do apartamento fechando a porta.

–Eu trouxe isso para você também... - disse ele tirando de dentro de sua maleta uma caixa de chocolates.

Debs começou a rir descontroladamente. Aaron e Sav a encanraram com curiosidade.

–Não tem graça Debs! - falei bravo.

Debs continuava rindo.

–Desculpem... É que... É que... - ela respirou fundo tentando conter o riso. -Will é alérgico a chocolate.

Aaron ficou meio constrangido.

–Desculpe eu não sabia...

Peguei a caixa de chocolates.

–Não tem problema Aaron... Debs irá comer toda a caixa, ficar cheia de espinhas e gorda - retruquei debochadamente. -Sente -se Aaron com Sav, eu e Debs vamos fazer mais pipocas... - me dirigi a Aaron.

Deixei meu novo amigo siamês no colo de Sav e fui até a cozinha com Debs.

–Você está louca não esta? Porque convidou ele? -sussurrei abrindo um pacote de pipocas e despejando em uma panela.

–Qual é o problema Will? Ele é bonito, legal e gosta de você não seja idiota!

–E ele sabe que eu estou morrendo?! - disparei.

Debs encostou-se na piá da cozinha suspirando, eu sabia que ela odiava tocar nesse assunto, sabia que era algo difícil de ela lidar.

–Sim, eu falei tudo... E ele quer passar esses dias com você...

Acendi o fogão e tampei a panela, me virei para Debs olhando nos olhos dele.

–Acho que me apaixonar quando estou com dias contados além de ser clichê é perigoso demais!

–Qual é Will você nunca se apaixonou? Ou amou alguém? É uma sensação maravilhosa!

–Sim é uma sensação maravilhosa, mas o que vem depois te deixa no chão! - minha voz já ficava elevada, me controlei.

–Não haja feito um idiota! Ele é legal e gosta de você não foda com tudo como você sempre faz!

Debs saiu da cozinha visivelmente irritada.

Me encostei na piá da cozinham, dando um soco na beirada dela. O que mais tinha me deixado com raiva daquela situação era que Debs tinha razão, na verda ela sempre tinha.

''Foda-se! O que eu tenho a perder? O pior vai acontecer... Melhor já esta'' –pensei.

Tirei as pipocas já prontas da panela e despejei em uma bacia, coloquei a manteiga derretida peguei um grande punhado e enfiei na boca, mastigando com raiva.

''Eu irei para sala, olharei o filme quando acabar irei convidar Aaron para posar aqui, vou trepar com ele a noite toda e bem alto para não deixar a Debs dormir'' - ri do meu próprio pensamento. Já mais leve fui até a sala.p

E foi isso que aconteceu olhamos o tal filme. Debs e Sav foram o quarto delas e eu e Aaron para o meu, transamos não pela noite toda. Mas gemi o mais alto que pude, foi bom me senti livre, vivo.

No fim ficamos eu e ele em minha cama um nos braços dos outros. Fazia muito tempo que não me sentia daquele jeito, amado, protegido.

–Acho que fizemos barulho demais... - riu-se Aaron.

–Debs mereceu ouvir!

Aaron me deu um beijo na testa.

–Você já saiu da Inglaterra? - perguntou Aaron.

–Não... Uma vez havia uma excursão da escola para Paris, mas eu não quis ir... Os franceses são muito gays. - brinquei.

–Estou indo viajar de férias amanhã.

–Para onde?

–Miami. Quer ir comigo?

Olhei para ele sorrindo, achando que era uma brincadeira, quando ele não sorriu de volta vi que ele falava sério.

–Eu não tenho dinheiro Aaron.

–Eu pago tudo.

–Claro que eu não iria aceitar isso.

–Não faça disso uma grande coisa, ir com você seria um presente para mim.

–Não acho que seja uma boa ideia...

–O que farei com sua passagem?

–Você já comprou? - me surpreendi.

–Claro que já, acredito no meu poder de persuasão. - Aaron sorriu, mostrando dentes brancos e alinhados, muito bonitos.

–Vamos dormir Aaron, prometo que pensarei com carinho...

–Ok, boa noite.

–Boa noite.

Dei um selinho em Aaron e desliguei o abajur. Adormeci com não adormecia a muito tempo, nos braços de alguém especial.

***

No dia seguinte resolvi me jogar de cabeça no convite que Aaron havia me feito. Ele havia saído naquela amanhã muito feliz que eu havia aceitado, e eu também já estava animado, feliz. Minhas malas já estavam prontas na sala.

–Promete que vai me ligar todo o dia?

–Começou a rainha do drama. - disse abraçando Debs fortemente. -Eu prometo que irei.

Ao me separar de Debs, percebi que no ombro dela havia uma mancha vermelha em sua camiseta branca, algo que parecia sangue.

–Will... O seu nariz...

Levei meus dedos até o meu nariz. O sangue tinha vindo de mim, nos últimos dias era constante o sangramento no me nariz e gengiva, era os efeitos da leucemia.

Fui até o banheiro correndo limpar meu nariz, e ao olhar no espelho levei um um susto, o sangramento havia piorado. Tentei para-lo com uma toalha, que logo foi ficando encharcada de sangue, o sangue simplesmente começou a jorrar de meu nariz feito uma vertente.

–Debs! - gritei.

Debs veio correndo, e ao me ver totalmente ensanguentado ficou parada, estática, branca, assustada.

–Eu acho que estou tendo uma hemorragia... - já sentia minhas forças indo embora, tantos momentos para aquilo acontecer e estava acontecendo na hora de minha viagem.

Com uma mão Debs tentou me ajudar a parar o sangramento e com outra ligou para uma ambulância, a única coisa que lembro partir dai foi ver a camisa branca de Debs transformar-se em vermelha com a ajuda de meu sangue, partir dai eu apaguei.

Minha viagem para Miami teve que ser adiada por um dia. Tive que fazer uma cauterização no nariz para parar a hemorragia. O médico me explicou que essas hemorragias poderiam acontecer cada vez mais frequente. Eu fiquei o resto da noite no hospital, no outro dia já melhor tratei de pedir para Debs me levar até o aeroporto, eu não perderia mais nem um dia em um hospital.

–Isso é um erro Will! Você devia ficar em Londres, comigo eu cuidaria de você, você devia tomar os malditos remédios que te mandam, e fazer o tratamento correto. - dizia ela estressada enquanto dirigia.

–Eu vou morrer de qualquer jeito Debs.

–Santo Cristo Will! Isso que você está fazendo não é certo... E sua mãe como fica na história.

–Quando acontecer ela ficara sabendo...

–Você não percebe que isso é totalmente errado?

Suspirei fundo.

–Não quero mais discutir sobre isso, minha decisão está tomada.

Ao chegarmos no estacionamento do aeroporto Debs parou o carro.

–Debs... Eu não irei voltar, você sabe o que estou dizendo não sabe?

Debs balançou a cabeça positivamente e suas lágrimas começaram a cair, e os soluços começavam a surgir, eu a abracei forte.

–Eu te amo muito. Obrigado por ter feito parte da minha vida.

–Eu te amo mais idiota!

–Eu quero que você e Sav sejam muito felizes... E que cuidem bem do meu gato!

Em meio a choros nós dois rimos. Desci do carro pegando minhas malas, e antes de ir rumo ao aeroporto meti minha cabeça dentro do carro e disse á Debs:

–Adeus... E lembre-se que sempre vou te amar...

***

4 meses depois:

Acho que ter ido a Miami foi uma das melhores coisas que aconteceu em minha vida. Os quatro meses que passei com Aaron me fez ficar apaixonado por ele. Debs tinha razão apaixonar-se é algo maravilhoso.

O primeiro mês em Miami foi basicamente resumido em passar as tarde nas praias, e como eu amava as praias de Miami, com muitas pessoas bonitas, simpáticas, um povo que tinha um jeito bem ''latino de viver''.

Aaron também compartilhava um amor igual ao meu um amor pelo teatro pelo cinema, em nossos dias em Miami passamos também grande parte do tempo indo a esses lugares.

As coisas começaram a ficar ruins no terceiro mês em Miami. Os enjoos eram mais frequentes, juntamente com os ataques de vomito. Eu já não sentia vontade de comer, fui perdendo peso. Tive mais duas hemorragias nasais.

Aaron começava a se preocupar insistindo que voltássemos para Londres, mas eu não suportaria que Debs me vesse daquele jeito, morrendo.

Em duas ocasiões perdi completamente os sentidos desmaiando por sorte Aaron estava junto. Ele insistiu também que eu fosse para um hospital, eu não quis, porém quando meus ossos começaram a doer ele me obrigou a consultar... O câncer já havia se espalhado por todo o meu corpo, a única coisa que o médico fez foi me dar um medicamento para aliviar a dor.

Em nossa última semana em Miami, eu praticamente só dormia, e não tinha mais forças para caminhar. Mais o que mais me matava era ter que fazer Aaron sofrer junto comigo, pois ele sofria ao me ver daquele jeito.

Eu estava morrendo.

Um dia antes de voltar a Londres eu estava sentado em frente a tv, enrolado em um cobertor. Mesmo estando calor eu sentia muito frio, afinal eu quase já tinha sangue correndo em minhas veias. Aaron estava do meu lado segurando minha mão, olhando tv comigo.

–Aaron... Eu quero ir a praia uma última vez, antes de ir embora... - minha voz saiu rouca de minha garganta, falar já era algo doloroso.

–Mas querido... Você está muito fraco, não acha melhor... - ele parou no meio da frase, levantou-se e me pegou nos braços.

–O que você esta fazendo?

–Irei te levar no colo até a praia.

Sorri fracamente.

–Não seja bobo Aaron, peça para alguém da recepção do hotel arranjar alguma cadeira de rodas ou algo do tipo.

–E perder a oportunidade de levar o meu príncipe no colo até a praia? De jeito nenhum.

Aaron me levou nos braços do hotel até a praia. Sem se preocupar com os comentários ou os olhares das pessoas.

Ficamos sentados de frente para o mar. Era final de uma tarde o sol já estava quase se pondo, deixando o céu com uma cor laranja e rosa ao mesmo tempo.

A praia estava mais ou menos cheia. Com algumas crianças brincando com seus país de fazer castelos de areia. Com casais andando de mãos dadas na beira do mar.

–Obrigado por tudo Aaron, obrigado mesmo... Nesses quatro meses você me fez uma das pessoas mais felizes... - minha frase foi cortada por um acesso de tosse.

–Não precisa falar Will...Não se esforce meu amor... - Aaron me abraçou e beijou minha testa.

Esperei o acesso de tosse passar e continuei mesmo assim:

–Sabe Aaron, o médico me deu cinco meses de vida... Já faz quase seis meses que ainda estou vivo... - sorri, novamente a tosse me atrapalhou, mas continuei: -Quem sabe eu viva mais alguns meses, ao seu lado... Quem sabe tudo fique bem...

Olhei para Aaron e vi lágrimas caindo silenciosamente de seu rosto.

–Tudo irá ficar bem Will...

Com um sorriso no rosto encostei minha cabeça nos ombros de Aaron, e ouvindo o mar e as gaivotas fechei meus olhos.

***

1 ano depois.

Debs:

Eu observava Sav dormindo tranquilamente ao meu lado na cama, junto dela estava o ''Kirk'', o gato de Will, que dormia tranquilamente também.

Desde a morte de Will eu não conseguia mais dormir como dormia antes, eu apenas deitava e dormia a noite inteira acordando só de manhã.

Depois da morte de Will toda noite eu acordava duas ou três vezes no meio da madrugada, ás vezes simplesmente não conseguia voltar a dormir mais.

Fui até a cozinha preparar um café. Enquanto a água esquentava, eu ficava perdida em pensamentos. Dentro de uma semana faria um ano que Will tinha morrido, ás vezes por alguns minutos eu esquecia que ele havia morrido, chegava em casa chamando pelo nome dele, até me dar conta de que ele não estava mais lá.

Will tinha morrido nos braços de Aaron em uma praia em Miami, um dia antes de retornar a Londres. Como ele mesmo tinha me dito ''Eu não irei voltar...''.

Quando eu recebi a notícia por telefone Aaron me contou que Will tinha esperanças de viver mais ainda, e que ao acabar de dizer aquilo ele havia encostado no ombro de Aaron e morrido... Lembro também que quando Aaron me falou aquilo eu joguei o celular longe, e quebrei metade da sala, depois cai sobre o carpete ficando lá deitada chorando por horas até Sav me achar.

A água do meu café estava pronta, o preparei. Logo na cozinha surgiu Sav com sua enorme barriga. Ela estava grávida de 6 meses. Nós simplesmente tomamos a decisão de ter uma criança juntas, de cria-la, de sermos mães. O doador tinha sido um primo muito próximo de Sav, que alías era gay, mas também queria ter um filho então doou o esperma para a inseminação artificial.

–O que você faz acordada a essa hora meu amor? - perguntei.

–Eu e sua filha queremos você com nós na cama, dormindo. - respondeu ela, acariciando a barriga.

Fui até Sav e a beijei. Voltamos para a cama dormindo as duas abraçadas. Naquela noite eu sonhei com Will. Só lembro dele me dizer no sonho que estava muito feliz por mim e Sav e que nós amava.

A vida não era fácil desde a morte dele. Afinal Will tinha sido uma das pessoas que passaram por minha vida que eu mais amei. Mas como ele sempre dizia ''Tudo ficará bem''. E eu acreditava nisso, eu tinha Sav, tinha nossa filha que nasceria em alguns meses, e sempre teria Will no meu coração.