Skins: Time Changes Everyone

Time Changes Everyone: Sarah


Sexo com culpa é uma das piores sensações da vida em minha opinião. Lá estava eu mais uma vez sentindo a mesma culpa. Sentada na beirada da cama sem coragem de encarar o homem nu que estava ao meu lado.

–Quer que eu te leve para casa Sarah? - perguntou Brian tocando no meu ombro.

Me levantei para não sentir o toque dele. Peguei minha calça no chão e a vesti, logo botei meu sutiã e vesti meu moletom, fiz o meu tradicional rabo de cavalo e respondi.

–Não, irei aproveitar e fazer minha corrida...

Peguei minha mochila, lá estavam minhas coisas do trabalho, meu uniforme, minha arma, meu distintivo e cassetete. Me virei tomando coragem e encarando Brian, o homem que eu via em cima da cama era Brian Scott, meu parceiro de viatura, trinta e poucos anos, cabelos castanhos, olhos cor de mel, e um corpo de dar inveja.

–É a última vez que isso acontece Brian... - disse suspirando e olhando para baixo. - Isso não é correto, não é certo, eu tenho esposa vivo a anos com Juliet, eu não posso fazer isso com ela.

Brian se apoiou com o cotovelo na cama e deu um sorriso cheio de maldade.

–Foi o que você disse da última vez Sarah...

Fingi não ouvir aquilo, apenas dei as costas para Brian, deixando sua casa.

O dia amanhecia em Bristol, o sol invadia a fria cidade, secando o sereno das calçadas, prédios, das gramas molhadas. Olhei para o sol deixando ele acariciar meu rosto, era bom sentir o calor, que era tão raro em Bristol.

Respirei fundo e comecei minha corrida, tinha que manter minha forma, afinal ser uma policial não era fácil, e o físico era essencial. Enquanto corria pelas ruas de Bristol eu imaginava uma forma de encarar mais uma vez Juliet e mentir. Eu amava minha namorada, porém nossa relação não era a mesma do que a sete anos atrás quando nos conhecemos, o amor existia, mas a paixão já estava desgastada a muitos anos.

Juliet e eu não éramos mais as mesmas garotas que haviam deixado Bristol entrado dentro de um carro e saído mundo afora, sem medo de viver, sem medo de se arriscar.

Fiquei para um tempo na frente do prédio que eu e Juliet morávamos, recuperando meu folego e me preparando para possíveis questionamentos.

Ao chegar no apartamento vi uma das mulheres mais lindas do mundo tomando café enquanto foliava uma revista da ''Vogue'', Juliet continuava com a mesma aparecia da menina que eu tinha conhecido a alguns anos atrás. Sua pele rosada, olhos verdes, e cabelos castanhos a diferença era que seus cabelos eram muito mais longos agora.

–Bom dia senhora policial? Como foi seu turno noturno? - perguntou ela abrindo um sorrisso meigo, ao ver aquele sorriso me senti a pessoa mais má e suja do mundo, como eu conseguia fazer aquilo com Juliet?

–Cansativo amor... - falei indo até ela e lhe dando um beijo.

–Fiz seu café...

Me sentei ao lado de Juliet, pegando a xícara de café e um tomando, deixado aquele líquido forte e quente me invadir por dentro.

–Agora tenho que ir! Tenho muito trabalho na agencia... Nos vemos no almoço? - perguntou Juliet levantando-se pegando sua bolsa, e inúmeras revistas e álbuns com fotos do seu trabalho.

–Não amor, peguei o turno da tarde e noite... - desviei o olhar ao falar.

–Como assim? Você já pegou o turno da noite, vai ter que trabalhar á noite de novo? - questionou Juliet intrigada.

–Infelizmente sim... - menti.

–Essa gente só te explora.

Juliet saiu apresada do apartamento rumo ao seu trabalho, me deixando com um beijo de despedida e com a culpa.

Juliet era bem sucedida em seu trabalho. A cinco anos ela tinha conseguido um estagio em uma grande agencia de modelos, começou imprimindo fotos, ajudando as modelos com suas roupas, fazendo café. Cinco anos depois era Juliet quem descobria os novos rostos de modelos, ela que encaminhava as garotas para os trabalhos mais importantes da indústria da moda, e quando sobrava tempo Juliet ainda desenhava suas próprias roupas, e muito em breve teria sua própia linha de roupas, tudo isso com apenas 26 anos de idade.

Quem era eu perto de Juliet? Apenas uma policial que fazia rondas na cidade, prendia drogados, ou espantava adolescentes encrenqueiros das ruas, e não ganhava nem a metade do salário dela. No fundo eu sentia uma inveja branca de Juliet.

Cansada da noite de sexo com Brian e de minha corrida fui até o banheiro tomar um rápido banho quente. Ao acabar o banho e me olhar no espelho do banheiro, encarei minha própria imagem.

–Você é uma traidora fudida Sarah... Você não merece ela... Não merece Juliet. - disse para mim mesma.

Após me secar e vestir meu pijama me deitei exausta em minha cama e de Juliet. Deitada do meu lado da cama vi um porta retrato com uma foto minha e de Juliet, em nossa aventura á sete anos atrás, quando eu fugi de casa logo que acabei o ensino médio e nunca mais voltei.

Eu não sabia noticias de minha mãe adotiva a anos, muito menos de minha irmã Karen. Podia aparecer uma crueldade ter abandonado minha família que me adotou, mas para mim nunca foi, já que eu nunca me senti amada por nenhum deles.

Fechei meus olhos cansados. Esperando meu sono chegar, e só de lembrar que eu dormiria apenas quatro horas antes de trabalhar já senti o cansaço tomar conta de mim novamente.

***

Era para ser mais uma ronda tranquila, normal. As mesmas de sempre com Brian, mas não foi aquela seria uma das piores noites de minha vida, acho que aquela noite só perderia para a noite que me acidentei de carro com dois amigos, perdendo um deles para sempre...

Brian dirigia a viatura pelas ruas escuras e frias de Bristol, enquanto tomava seu café expresso. Mesmo que eu e Brian tivéssemos ido para cama algumas vezes continuávamos a ser amigos, melhores, pelo menos pela minha parte eu considerava. Eu o observava enquanto dirigia a viatura tão seguro de sí.

–O que você tanto olha para mim Sarah? - perguntou ele abrindo um sorriso, e mostrando seus perfeitos e alinhados dentes.

–Nada... - sussurrei, tirando meus olhos dele e olhando para rua.

O sorriso de Brian me lembrava ao sorriso do meu primeiro amor de Carl do qual eu não tinha noticia a anos, a última vez que soube dele, tinha sido a uns cinco anos atrás, quando fui fazer uma ocorrência de assalto na casa da mãe dele, perguntei por ele e ela tinha me dito que Carl havia se formado em advocacia, trabalha em um escritório, estava noivo, e sua noiva esperava um menino. Se a sete anos atrás me falassem que a vida de Carl tinha tomado esse rumo eu certamente teria rido na cara do sujeito.

A primeira ocorrência da noite foi as 22:00, horas algo relativamente fácil, separar a briga de um casal em um subúrbio de Bristol, eu dei conta sozinha da situação, a mulher estava visivelmente machucada, tinha sido agredida pelo marido, mas mesmo eu insistindo ela não quis denunciar o marido(como na maioria dos casos), sendo assim nada mias pudemos fazer do que apenas separar a briga e ir embora.

Faltavam apenas duas horas para o meu turno e o de Brian acabar, flexionei minha pernas doloridas e suspirei, meu corpo todo implorava por um banho quente e uma cama.

–Se você ir para minha casa novamente eu faço uma massagem... -tentou mais uma vez Brian, vendo meu desconforto.

–Já disse Brian, o que aconteceu entre nós acabou... Eu amo Juliet e...

–Tem certeza? - interrompeu Brian.

–Sim Brian! - exclamei. - E outra você deve ter milhares de garotas correndo atrás desse abdômen lapidado.

–Sarah você não entende... - começou ele sério. - Eu tenho quedas é por mulheres desleixadas e meio sapatonas como você... - terminou Brian gargalhando.

Dei um soco no braço de Brian, ele era uma boa companhia, me fazia rir. Nosso momento de descontração foi por água abaixo quando recebemos uma chamada do rádio, sobre um assalto em um posto de gasolina a duas quadras de onde estávamos.

Eu já tinha visto a morte na frente pelo menos cinco vezes na minha vida, e acreditem nunca mudava o sentimento de pavor, de medo, de tudo acabando de uma hora para outra, de sentir o estomago revirar-se e o coração saltear pela boca.

Chegamos no posto de gasolina tentando acalmar o assaltante, mas não conseguimos trocar meia dúzia de palavras. O assaltante era uma garoto jovem de no máximo dezoito anos, quando Brian tentou chegar perto do garoto para conversar, o garoto começou a disparar inúmeros tiros contra Brian e em mim. Me lembro que os dois primeiros tiros acertaram Brian em cheio, ele caiu no meio do posto.

O garoto e eu continuamos a trocar tiros. Senti algo rasgando meu ombro, perfurando, dilacerando, tudo ao mesmo tempo, a dor era horrível.

–Bastardo maldito! - gritei ao sentir o bala entrando dentro do meu ombro.

O garoto correu, mas aquilo não ficaria daquele jeito, a não ficaria mesmo. Juntando minhas última forças corri atrás do garoto, disparando a maior quantidade de tiros possíveis. Só parei quando o garoto caiu no chão.

Voltei correndo até a viatura, pedi uma ambulância e reforço via rádio. Rapidamente fui correndo de volta ao posto. Me atirei ao lado de Brian, que jazia deitado em uma poça de sangue, os dois tiros haviam atingido o abdômen e o peito de Brian.

Tirei minha jaqueta tentando estancar o sangue. Brian parecia estar já sem sangue em seu corpo que estava muito pálido.

–Qual é Brian! Fale comigo! - eu tentava reanima-lo, podia sentir a respiração de meu companheiro por um fio.

A garota que cuidava do posto apenas gritava coisas como socorro, histérica.

–Cale a maldita boca garota! Gritar não vai adiantar! - gritei para a garota.

As lágrimas caiam de meus olhos, e eu tremia ao ver Brian morrendo nos meus braços. Será que eu perderia mais um amigo para a morte?

***

No corredor do hospital eu tremia com o cigarro entre os dedos, com meu uniforme pintado de vermelho pelo sangue de Brian, com o barulho dos tiros, sirenes de ambulância, e os gritos da atendente do posto, tudo isso em minha cabeça.

–Desculpe senhora... - uma jovem enfermeira foi até mim, tirando delicadamente o cigarro dos meus dedos. - É proibido fumar aqui... E garanto que a senhora não quer parar aqui com câncer de garganta, pulmão, ou laringe...

A enfermeira apagou o cigarro com um guardanapo e jogou dentro de um lixo, tentou me dar o seu sorriso mais confortador, mas não me ajudou.

–Seu parceiro policial irá ficar bem. - disse ela.

–Como pode ter tanta certeza? - afrontei.

–Não sei... Só acho que vocês dois ainda tem muito delinquentes para prenderem em Bristol... Acredite ele irá ficar bem.

A enfermeira me deixou com suas palavras e retirou-se me deixando sozinha com meu nervosismo. Brian tinha sido levado pela equipe médica a 45 minutos, e ainda não tinham me dado noticias do estado dele.

–Sarah! - ouvi meu nome ser chamado.

Era Justin um dos meus colegas de trabalho que vinha correndo ofegante pelo corredor do hospital, corri ao encontro dele abraçando-o com força.

–Vim o mais de pressa que pude quando fiquei sabendo! - dizia ele retribuindo meu abraço.

Ele me afastou e arregalou os olhos ao ver um curativo sobre um ferimento no meu ombro.

–Santo Deus Sarah você foi atingida?

–Fui mas eu pedi para eles removerem a bala na ambulância mesmo... Eu não suportaria ter que ficar em um desses quartos sem saber noticias de Brian...

–Eles não falaram nada ainda?

–Não.... Eu estou apavorada para caralho Justin, estou com medo de que algo aconteça e... - desabei no braços de Justin em meio a soluços e choro.

–Nada irá acontecer Sarah...

–Justin... O bastardo do assaltante o que aconteceu com ele?

Justin ficou em silêncio ao ouvir minha pergunta, parei de abraça-lo e o encarei.

–O que houve Justin?

–Sarah acho que não é o melhor momento para falar sobre isso...

–Fale logo Justin.

–Melhor não...

–Fale Justin! - gritei irritada limpando as lágrimas do meu rosto.

–Ele não resistiu aos tiros que você deu Sarah... Ele morreu na vinda para cá...

Me deixei cair na cadeira em estado de choque. Justin continuava a falar sobre o fato, dizendo que não aconteceria nada comigo, que havia sido em legitima defesa. Eu não me importava com o que aconteceria comigo, eu havia matado alguém, havia tirado o direito de alguém viver, e pior de alguém jovem, de um jovem garoto.

Esta certo que o menino era um marginal. Mas eu não sabia da história dele, não sabia como ele tinha sido criado, não sabia em que ambiente ele havia vivido.

–Sarah você está bem?

Apenas ergui a mão para Justin, e logo depois levei as mãos até minha cabeça, apoiando meus cotovelos em minhas pernas, e fitei o chão por alguns minutos, refletindo sobre o que eu tinha feito.

Os minutos passavam-se no hospital. Logo o médico disse que era melhor eu ir para casa descansar, já que Brian já estava medicado, ele ficaria em observação, só com o tempo saberiam do destino dele.

A policia de Bristol havia avisado a família de Brian, que morava em outro estado, no interior, eles demorariam para chegar devido as dificuldades.

Tentei bater o pé, pedindo para ficar, mas Justin praticamente me arrastou para casa, me deixando na porta do meu apartamento. Havia chegado uma das horas mais difíceis, explicar para Juliet o que havia acontecido.

Ficar no hospital certamente teria sido menos estressante e doloroso. Sendo que quando narrei os fatos de tudo o que tinha acontecido Juliet teve um surto. Começando a gritar que eu podia ter morrido, gritava desesperadamente como se eu tivesse tido culpa de algo. Ela tentou me arrastar de volta ao hospital, ela não confiava que tudo estava certo com meu ombro.

Depois do surto de gritos Juliet me abraçou e desabou a chorar, a soluçar.

–Querida eu sinto muito... Mas é que você não imagina o quão horrível foi para mim ouvir da sua boca que você levou um tiro... Algo muito pior podia ter acontecido...

–E aconteceu, só que com Brian... - sussurrei.

Juliet me abraçou mais forte, e em seguida beijou meus lábios ternamente.

–Ele irá ficar bem, tudo irá...

Tentando acreditar nas palavras de Juliet me dirigi até o banheiro, tomando um longo banho quente, tirando do meu corpo a sujeira, o sangue de Brian. Infelizmente a água não podia levar para o ralo também minha dor, minhas culpas, meu medo...

Naquela noite eu e Juliet dormimos agarradas uma na outra, sentir a respiração quente dela em meu rosto, enquanto ela dormir, nunca tinha sido tão bom, tão confortante. Adormeci exausta, mal sábia eu, que o meu mundo ainda teria muito o que desabar na manhã seguinte.

Na manhã seguinte recebi o café da manhã na cama, Juliet preparou tudo o que eu mais gostava, mesmo apreciando o carinhoso gesto de minha namorada eu tratei de comer o mais rápido possível, eu ansiava em ir até o hospital para saber como estava o ''estado'' de Brian.

Me arrumando em um tempo recorde de no máximo 20 minutos, já estava pronta para seguir até o hospital quando Juliet me entregou o telefone dizendo:

–Querida é da assistência social eles querem falar com você...

–Assistência social? - repeti intrigada e curiosa ao mesmo tempo o que diabos a assist~encia social iria querer comigo.

Levei o telefone até meu ouvido.

–Sim?

–É a senhora Sara Wesley? - perguntou uma voz feminina do outro lado da linha.

–Ela mesma.

–Srª Wesley, precisamos que a senhora compareça...

–Desculpe, mas pode falar sobre o que se trata logo? Tenho muitos problemas para resolver, sou policial e tenho um amigo entre a vida e a morte no hospital, por favor sem rodeios. - interrompi ríspida.

–Bem senhora... Como preferir, encontramos hoje morta Rose Black.

Confusa, irritada, revirei os meus olhos.

–Desculpe mas eu não conheço nenhuma Rose Black. - eu já estava desligando telefone quando...

–Senhora Wesley, Rose Black é sua mãe biológica. -respondeu a mulher cautelosamente.

Senti como seu um balde de água gelada tivesse sido jogado diretamente em meu rosto. Levei um choque, minha boca foi abrindo-se lentamente, eu queria falar mas as palavras não saiam de minha boca.

Eu nunca soube do paradeiro da minha verdadeira mãe, nem mesmo sabia o nome dela, só sabia que ela era uma garota de programa, e que minha guarda tinha sido tirada dela. Sendo assim minha mãe adotiva Lauren havia me adotado na delegacia mesmo. Lauren nunca tocava no assunto.

–Srª Wesley?

A voz vinda do telefone tirou-me do meu transe.

–Sim... -fiz uma pausa, escolhendo minhas palavras e tentando me recompor do choque que eu tinha acabado de levar. - Escute... Eu não sei porque estão me ligando, eu nunca tive contado com essa mulher, eu não me importo com o que vocês irão fazer, apenas a enterrem e se precisarem de dinheiro me avisem...

–Senhora a situação é mais complicada do que isso. - interrompeu a mulher.

–O que pode ser mais complicado?

–Senhora, sua mãe deixou um garoto de 12 anos de idade, ninguém sabe quem é o pai, o garoto não tem ninguém, apenas você... E você como irmã fica responsável...

O telefone foi escorregando lentamente de minhas mãos, caindo no chão. Fui ficando tonta, respirar começou a ficar complicado, senti minhas pernas perderem as forças, cai sentada no chão. Juliet correu até mim me segurando.

–Sarah! O que houve amor?! Você está branca feito papel!

Olhei para Juliet, eu não podia estar vivendo tudo aquilo, o meu mundo todo havia desabado em menos de dois dias, tudo estava indo pelo ralo... Tudo estava mudando rápido demais.

–Juliet... Eu tenho... Tenho um irmão... - gaguejei não acreditando nas palavras que saiam de dentro da minha boca.