Skins: Time Changes Everyone

Time Changes Everyone: Will


O vento frio batia no meu rosto, era uma sensação renovadora, ótima. Meu cigarro me esquentava por dentro. As luzes e os barulhos de Londres por incrível que pareça me faziam bem também.

Estava no terraço do prédio em que eu trabalhava, ir lá era o que eu mais gostava de fazer quando queria ficar sozinho.

Ao acabar de fumar o cigarro, voltei a fazer o que estava fazendo. Praticando o meu solo para o para a apresentação que aconteceria sexta feira.

–It's going down, I'm yelling timber...- as palavras saíram da minha boca em forma de música, porém fui interrompido.

–Will acharam o cara!

Me virei assustado com o grito. Era Debs.

Debs tinha a pele rosada, e feições muito delicadas, cabelos ondulados negros, parecia uma boneca de porcelana, porém só suas feições eram delicadas.

–Que cara Debs? -perguntei intrigado deixando de lado meu ensaio.

Ela foi correndo até mim e sentou do meu lado.

–O cara que fará a apresentação de Timber com você... Ele fará a parte do Pitbull.

Fechei a cara.

–Como assim?! O combinado era que a parte do Pitbull seria playback, não gosto de apresentações em dupla! -me levantei irritado.

–Ui diva. -debochou Debs, que tinha um senso de humor afinado.

–Quem diabos decidiu isso sem mim?!

–Chefe.

''Merda!'' pensei. Uma decisão do chefe do Clube nunca podia ser questionada. Jason mandava e desmandava em todo o show que acontecia, em todas as apresentações.

Dentre todos os garotos e garotas que se apresentavam no clube eu era o único que tinha solos, privilégio conquistado depois de quatro anos de trabalho no clube.

Logo que cheguei em Londres com uma mão na frente e outra atrás conheci Debs na universidade, logo nos tornamos grandes amigos. Ela que havia me arranjado um trabalho no clube como barman, porém em uma das audições para bailarinos e cantores resolvi me inscrever e Jason acabou me aceitando.

Aos poucos fui ganhando espaço no Clube, até chegar a ser o membro mais antigo e mais respeitado.

–Você viu o cara Debs?

–Sim! -disse ela dando um sorriso maldoso.

–Porque está rindo deste jeito garota? -afrontei.

–Você não costumava ser tão insegura assim Will... -começou ela, tentei interrompe-la, mas ela não deixou .-Qual é o seu medo?

Revirei os olhos enraivado.

–Nenhum caralho! Só não quero que assim, sem mais sem menos chegue um novato e se iguale a mim...

Percebi que as próximas palavras que Debs falaria, me deixaria mais irritado ainda.

–Bem... Ele é bom, quase tão bom quanto você...

Foi a gota dagua. Me levantei furioso deixando ela lá no terraço.

–Ei?! Will, o que vai fazer?!

–Ver se ele é tão bom assim mesmo caralho!

Desci as escadas que levavam até o clube. E fui direto até o palco, que estava vazio, na frente do palco haviam as mesas onde os clientes se sentavam para beber, e ver as performances, no fundo do clube tinha o bar.

O Clube The G World, era um Clube GLS, mais voltado para o artístico, nunca voltado para coisas com strip, ou prostituição como era a maioria dos casos. Aconteciam inúmeros números musicais durante a noite.

Não vendo ninguém resolvi me sentar no palco para esfriar a cabeça. ''Relaxe...Você sabe que a estrela do show é você Will...'' pensei. E realmente eu era.

–Olá...

Me virei para trás. Um garoto de no máximo 20 anos se encontrava ali no palco. Parecia ingênuo, calmo, tinha feições doces e infantis, mas os olhos... Os olhos dele não me enganavam, os olhos dele tinham um brilho de malícia, de ganância, de sede de poder, os olhos dele me lembravam a uma certa garota gananciosa e egocêntrica que eu tinha conhecido em minha adolescência.

–Olá. -disse me levantando, sem demonstrar raiva, ou algo do tipo. -Você deve ser o novo garoto... O que irá cantar Timber comigo, certo?

–Isso... Prazer me chamo Arthur. -ele estendeu a mão, e eu a apertei.

–Então Arthur... Como veio parar aqui?

–Cheguei a pouco tempo em Londres, precisava de um emprego para pagar o aluguel, queria algo envolvendo música sabe...

O analisei silenciosamente. O menino não demonstrava ser perigoso ou algo do tipo, mas algo nele não me agradava. As pessoas eram traiçoeiras, principalmente no mundo gay.

–Jason te escolheu?

–Isso, tinha mais 6 meninos para a audição e ele me escolheu...

–Me mostre o que sabe... -afrontei, pegando o desprevenido.

–Agora? -ele perguntou, notavelmente nervoso.

–Porque não? Só se você não se sente capacitado. -provoquei.

Ele ergueu uma das sobrancelhas, ele havia percebido a provocação.

Ele se virou de costas e respirou fundo. Logo se virou, cantando os versos do Pitbull. O garoto me deixou boquiaberto encarnando o rapper em questões de segundos, não desafinando e fazendo gestos típicos dele. Quando acabou ele ainda largou uma:

–Foi bom o suficiente para você?

***

No caminho para ir até o apartamento eu e Debs conversávamos, andando pelas ruas lotadas e frias de Londres. Dividíamos um cigarro.

–O que você irá fazer esta noite? -perguntou ela.

–Sair, dançar, beber, transar com alguém...

–Nem sei porque pergunto, se já sei a resposta.

Eu ri.

–E você, vai ficar mofando em casa estudando para alguma prova do seu mestrado?

Ela abriu a boca para responder, porém eu a interrompi.

–Acertei não acertei?

Ela riu debochadamente e balançou a cabeça positivamente.

–Sabe Debs, está mais do que na hora de você arrumar uma garota para namorar, ou vai ficar uma sapatão velha e nerd.

Ela tomou o cigarro da minha mão e o tragou.

–E você tem que parar com esse negocio de ir para alguma festa todo dia, tomar um porre e se drogar, tem que parar também de fazer rodízios de homens... Isso não é vida Will.

Já estávamos na porta do nosso prédio. Eu a ignorei, sabia onde este assunto iria chegar.

–Você fala tanto em namoro...Quer que eu arrume uma namorada, mas porque você nunca se envolve sério com ninguém? Você só trepa com os caras e deu.

Suspirei. Eu nunca tinha falado do meu passado para Debs, do quão dolorosa tinha sido minha vida amorosa, de tão trágica. Para mim o passado estava morto e enterrado, eu não gostava de lembrar ou falar nele.

–Cada vê a vida de uma forma. -respondi finalizando.

Subíamos as escadas do velho prédio, que tinha elevador mas não funcionava.

–E você Debs, nesses anos todo trabalhando do The G World nunca ficou com nenhuma dançarina? Cantora?-voltei no assunto.

–Não.

–Vou arrumar a Savannah para você!

–Cale a boca Will, não preciso que você me arrume ninguém, estou bem, focando nos meus estudos.

Ri debochadamente.

–Você focou quatro anos nos estudos, depois de se formar resolveu fazer mestrado, depois vai querer fazer doutorado, vai focar o que....Uns dez anos nós estudos?

Debs não me respondeu abrindo a porta do nosso pequeno mas nosso apartamento.

Parecia que um furacão havia passado ali na sala, pratos, xícaras, caixas de pizzas cinzeiros cheios de cinzas roupas para tudo que era lado... Eu e Debs nós dávamos muito bem nesse quesito, os dois erámos desorganizados.

–Quer que eu prepare algo para comermos? -perguntou Debs jogando sua bolsa e livros em cima do sofá.

–Não obrigado, vou me arrumar para sair... Como algo na rua.

–Você tem ensaio amanhã cedo...Não devia sair...

Só de me lembrar que eu teria que ensaiar um dueto com um novato, minha raiva voltava.

Deixei Debs falando sozinha e fui me arrumar. Tomando um longo e quente banho. No banho eu pensava em que lugar ir na imensa Londres. Alguma boate gay, ou talvez bar...

Ao acabar de tomar banho me enrrolei em uma toalha e fui fazer a barba. No espelho não pude deixar de perceber minha desbotada tatuagem ''Frank'', nas costelas, e também minha cicatriz do acidente. Debs tinha me questionado já sobre a tattoo eu apenas disse ''Foi o álcool e o um amor adolescente'' sem dar muitos detalhes, du não gostava de voltar para o passado.

Já pronto, fui até a sala. Debs se encontrava lendo um grosso livro, sobre literatura inglesa.

Me ajoelhei na frente da mesa de centro. Preparei duas linhas de cocaína com meu cartão.

–Sabe que eu não gosto que você faça isso na minha frente...

Ignorei e aspirei o pó, com um canudo feito de um cartãozinho.

–Porque você usa essa merda Will?

–É apenas um jeito de parar tudo. De não sentir nada, apenas euforia.

–Sim parar tudo... Inclusive o seu coração se você continuar neste ritmo.

Pulei em cima de Debs a beijando e a mordendo.

–Pare seu idiota! -ela gritava rindo em meio as cocegas que eu fazia nela.

Parei e dei um forte abraço.

–Eu te amo Debs, te conhecer e ser seu amigo foi uma das melhores coisas que aconteceu quando eu vim para Londres...

–Eu também te amo cretino... Ás vezes.

Dei mais uns beijos em minha amiga e fui para fria, barulhenta, cheia de cores e perigosa Londres.

***

Minha boca estava com gosto de cinzeiro com uma pitada de vodka. Mal consegui abrir meus olhos que estavam inchados. Tentei me levantar, porém um braço musculoso que estava sobre mim não deixou, o empurrei para um lado e levantei.

''Merda...Minha cabeça...''. Minha cabeça estava martelando, a dor era horrível. A noite passada tinha sido selvagem...

Olhei para o estranho nú, deitado em uma cama luxuosa. Devia ter uns 35, 40, porém estava em forma e bonito.

Presumi que estava na casa dele. Por instinto fui guiado até o banheiro que havia no quarto, automaticamente abri a boca e expulsei todo o álcool que havia dentro de mim.

–Melhor para fora do que dentro certo?

Me virei para frente. O cara de meia idade com quem eu havia passado a noite estava ali.

–Certo. -eu disse meio sem jeito, levantando me e limpando a boca na pía do banheiro. -Você sabe as horas?

Ele estava completamente nu, apenas com um relógio de outo no pulso.

–Seis e quarenta e cinco.

–Merda... Preciso chegar no meu trabalho as sete e meia.

Sai do banheiro catando minhas roupas pelo quarto.

–Você tem tempo para tomar um café comigo, Will.

O cara sabia o meu nome, já eu não lembrava do dele. ''Santo Deus...Em que ponto eu cheguei.''

Me vesti apressadamente.

–Desculpe... Mas não posso, tenho muito o que fazer.

O homem se sentou na beirada da cama vestindo sua cueca box e logo a calsa.

–Que tal uma carona então?

O cara era simpático, legal, pensei um pouco me questionando se era uma boa ideia, eu já estava atrasado, então pensei ''Que se foda''.

O cara me deu carona, em um carro tão luxuoso que eu nem sabia o modelo, na verdade o homem aparentava ter muito dinheiro.Apartamento no centro de Londres gigantesco e moderno, roupas de grife, relógio de ouro, carro espetacular.

–Desculpe, mas você trabalha no que? -perguntei, eu precisava saber de onde vinha tanto dinheiro.

–Politica. -ele respondeu sorrindo, mostrando belos dentes brancos.

Estava explicado da onde vinha tanto dinheiro.

Depois de alguns minutos chegamos na frente do The G World.

–Você tem coca? -perguntei na cara dura, precisava de alguma energia para o ensaio.

Ele apenas me entregou um pacote com algumas várias gramas.

–Posso ter o seu número Will?

Eu não costumava dar o meu número de celular para algum cara, até porque não passava de uma noite, mas ele era tão gentil...

–Não... Mas você pode vir ver o meu show sexta-feira, e podemos tomar alguma coisa...

–Já é o suficiente por enquanto... -ele me pegou pela nuca, me beijando com ferocidade e vontade, o tipo de beijo que me balanceava.

Ao descer do carro e ir embora senti algo que não sentia a muito tempo: Vontade de me apaixonar por alguém.

***

Corri rapidamente subindo as escadas que levavam até o palco do The G World, estava vinte minutos atrasados, se Jason soubesse de mais um atraso as coisas ficariam feias para o meu lado. Jason jamais brincava com o trabalho.

Cheguei no palco as dançarinas e os dançarinos já faziam a coreografia de Timber.

''Merda!''.

E Arthur cantava seus versos. Ao me ver um sorriso sínico e triunfante surgiu em seu rosto.

–Um pouco atrasado não? -ele disse debochadamente interrompendo seu ensaio.

O ignorei. Vi que entre os dançarinos estava Jeff, um jovem garoto que trabalhava no clube como barman, e dançarino. Nos dávamos muito bem, se um dia alguém me substituise eu recomendaria ele.

–Jeff vem cá! -gritei, chamando -o com a mão.

Ele parou imediatamente de ensaiar os passos e foi até mim. Me abraçando suado e me dando um beijo no rosto.

–Will! Você está parecendo igual a merda cara!

–Cale a boca moleque! -disse rindo. -Me diz uma coisa, Jason já está ai?

–Sim... E ele quer falar com você antes do ensaio...

–Merda...Vou lá então...

Antes que eu saísse Jeff me pegou pelo braço.

–Espere tem algo que tenho que te falar...

–O quê foi?

Jeff olhou para o palco, mais diretamente para Arthur que nos olhava.

–Aqui não. -disse ele me pegando pela mão e me levando até o bar.

Acendi dois cigarros um para mim e outro para ele.

–Will, Arthur está querendo de boicotar...

Revirei os olhos e traguei o cigarro.

–Eu sei disso, desde o primeiro dia que eu o vi.

–Hoje no ensaio ele ficou enchendo a cabeça do Jason, dizendo que você estava fora de controle, que era irresponsável.

Apaguei o cigarro com raiva no cinzeiro.

–O que mais ele disse?

–Ele até se propôs em pegar a sua parte, e a do Pitbull ficar como de playback.

–Filho da mãe!

Meu sangue fervilhou. Minha vontade era de ir até o palco e tirar Arthur lá de cima.

–Jeff obrigado por me contar. -abracei Jeff, eu realmente sentia um carinho muito forte por ele. -Agora eu vou até a sala do Jason, falar com ele...

–Boa sorte. E eu irei voltar para o meu ensaio.

Jeff foi me deixando com minha preocupação e meu medo. Segui até o corredor que dava para o escritório de Jason. Eu como adulto tinha que encarar as consequências dos meus atos.

Fiquei por alguns segundos parado na frente da porta até ter coragem de bater e entrar.

Jason, devia ter 50 ou 55 anos de idade, a qual ele nunca mencionava. Os cabelos já quase ralos, porém ele estava sempre muito bem vestido e arrumado. Usava maquiagem leve.

–Sente-se Will. -ele disse apontando as mãos para a cadeira a frente de sua mesa.

Obedeci.

–Jason, eu sinto muito...

–Apenas me ouça. -ele me interrompeu. -Eu comando os os show's do The G World á quase 30 anos, já ví essa história várias vezes...Você tem tudo, tudo para ter uma vida brilhante e você simplesmente fode contudo...

–Mas Jason.

–Estou falando não me interrompa mais. -ele foi rígido.-Eu já perdi várias vozes, vários dançarinos, dançarinas, vários talentos, para o HIV, drogas, e alcool, sei o quanto é doloroso sofrer uma perda, e você também deve saber, eu sinto.

Ele desencruzou uma perna.

–O que tu faz da sua vida é problema seu...Mas Will, você está parecendo a porra de um zumbi, você está indo para um lugar obscuro que pode não ter volta. Tome cuidado não pote tudo a perder.

Ele tinha razão.

–Ok Jason. -foi a única coisa que consegui dizer.

–Agora vá para casa, descanse até sexta, não beba, não fume, não use nada quero sua voz perfeita para esse show ok?

Balancei a cabeça positivamente. Já estava na porta quando Jason me disse algo que me deixou mais preocupado ainda:

–Mais um erro e você está fora do meu show Will.

***

Algo muito estranho estava acontecendo comigo. Algo estava errado. E isso me deixava com muito medo. Durante a semana toda eu me sentia fraco, sem vontade de sair da cama, com muito sono, sem fome, dores de cabeça e as vezes vômitos.

Deixei o cigarro, as bebidas e as drogas de lado por alguns dias antecedendo minha performance de Timber, para ver se eu recuperava o folego novamente.

O tão esperado dia havia chegado. Lá estava eu em frente ao espelho do meu camarim, me maquiando para o show.

–Hey posso entrar um pouquinho? -pediu Savannah. Savannah era uma das dançarinas que fariam a performance de Timber junto comigo.

–Claro Sav, queria mesmo falar com você...

–Trouxe sua calça. -Savannah me alcançou uma calça desbotada e justa, que faziam parte do figurino, junto com uma camisa xadrez rasgada, e o chapéu, algo bem country. -O clube está cheio!

–Posso fazer uma pergunta Sav?

–Claro. -respondeu ela curiosa.

Sav parecia fazer o tipo de Debs. Magrinha delicada, com olhos verdes, e longos cabelos encaracolados loiros.

–Você é lésbica ou bi? -perguntei. Eu sabia que Debs, não tinha um histórico muito bom com garotas bissexuais.

Ela deu uma gargalhada.

–Totalmente lésbica! Odeio pênis!

Eu também não pude resistir soltando uma gargalhada.

–O que acha então, de jantarmos uma hora? Eu você e Debs, para vocês se conhecerem melhor...

Ela pareceu um pouco pensativa.

–Marcamos uma hora sim.

Olhei para o relógio, faltavam quinze minutos para a performance. Me levantei num pulo pedindo licença para Sav. Eu tinha que ficar pronto.

Depois de estar completamente pronto comecei a tossir, uma tosse seca que ao invés de expelir saliva, expeliu pequenas gotas de sangue.

Limpei-me sem manchar a roupa. Aquilo me deixou apavorado. Não era normal alguém tossir sangue...

–Cinco minutos para a entrada Will! -ouvi alguém me gritando.

Balancei a cabeça para esquecer aquilo. Afinal era hora do show. Foi correndo para trás da cortina. Eu era o primeiro a sair, logo depois as dançarinas atrás de mim, e por fim Arthur.

Minha assistente arrumou meu microfone. A contagem para eu entrar começava... 5...4...3...2...1.

As cortinas se abriram, mostrando uma imensa plateia. Juntamente com as cortinas o meu sorriso se abriu. Era a hora do show.

Fui até a frente do palco cantando Timber, lentamente. Atrás de mim vinham minhas dançarinas; que faziam suas coreografias de dança country. Quando cheguei perto o suficiente da plateia, requebrei rapidamente o quadril e segui para a outra parte do palco para fazer a coreografia. Era a vez de Arthur.

Ele foi passeando pelo palco cantando seus versos. Enquanto os dançarinos masculinos o seguiam. Arthur parou onde antes eu estava enquanto um dos dançarinos fez o típico ''Twerk'', nele. A plateia foi ao êxtase gritando.

Eu continuava fazendo minha coreografia com minhas dançarinas, por dentro sorrindo, mais por fora com ódio da atenção que ele recebia.

Mal deixei ele acabar sua parte, e já entrei ao centro do palco com minhas dançarinas, tentando ser ao máximo afinado possível.

–It's going down! - fui forçando minha voz ao máximo, para conseguir chegar em uma nota maior que a de Arthur. -You won't forget!

Apontando para a plateia consegui dar o melhor de mim, deixando minha garganta em pedaços. Agora chegaria o grande final.

Arthur chegou cantando até mim, agarrando em minha cintura, enquanto eu fazia uma volta cantando em seu ouvido. O ódio me corroía por dentro, mas não deixava transparecer.

No final lado a lado eu e ele cantamos o último verso juntos.

–It's going down,Timber,You won't forget! -acabamos juntos, chegando na nota máxima ao mesmo tempo.

Sem fôlego escutamos os aplausos da plateia. Por alguns segundo minha visão foi ficando turva, e eu achei que iria desmaiar, porém tirei forças do meu interior e me recompus.

Arthur já estava com o microfone em mãos para fazer o agradecimento, quando discretamente peguei das mãos dele e sussurrei rispidamente em seu ouvido:

–Sou eu quem devo fazer o agradecimento, é a minha parte do show!

Ele apenas me fuzilou com os olhos.

Fiz o agradecimento em meu nome e no nome de Arthur na plateia, e fui meio cambaleante para o camarim.

''Deus do céu...Que merda está acontecendo comigo?''. Me sentei exausto na frente do espelho eu estava pálido.

Estava tirando minha maquiagem, quando Arthur entrou porta adentro. Fechando a porta com força.

–Você não tinha o direito de agradecer sozinho! -gritou ele.

Tentei me virar calmamente, mas o sangue já me tinha subido a cabeça.

–Eu tinha sim garoto! Era para ser apenas o meu solo! Até você chegar e se meter em tudo! -gritei de volta rispidamente me levantando.

Arthur chegou perto de mim, me presando contra a mesa do meu camarim, chegando o rosto bem perto do meu.

–Os solos serão todos meus, você vai ver Will! -ele disse provocativamente.

Empurrei ele.

–Você vai ter que remar muito para chegar onde eu cheguei Arthur, você não passa de um adolscentezinho perdido em Londres!

–E você não passa de um velho, drogado e deprimido!

Foi a gota d'agua. Minha mão voou contra o rosto dele. Eu havia esbofeteado.

–Você...Você... -tentei xinga-lo, mas o ar foi escapando dos meus pulmões, minhas pernas bambearam e eu cai no chão.

Ao mesmo tempo que eu tentava respirar comecei a tossir, tossir uma quantidade imensa de sangue.

–Will? Que porra é essa?

Foi a última coisa que eu ouvi de Arthur. Antes de minha visão escurecer e eu perder a consciência.

***

Eu permanecia no quarto frio e branco do hospital. Sem contato com ninguém, sem visitas, sem saber que merda estava acontecendo comigo...Com meu corpo.

O livro repousado sobre meu colo. Suspirei fundo. Eu não tinha certeza se tinha passado a madrugada ali ou um dia. Depois de desmaiar só lembrava de ter acordado sem saber onde estava. Até que a enfermeira me explicou que eu havia passado mal e que estavam fazendo uns exames para saber o que estava acontecendo comigo.

A porta do quarto se abriu e a mesma enfermeira entrou com um sorriso amável no rosto.

–Seus amigos estão ai fora...Vieram te ver querido.

Ouvir aquilo me tranquilizou, e um sorriso nervoso chegou em meus lábios.

–Já sabem o que eu tenho? -perguntei á ele, ansiando por respostas.

–Isso é com os médicos querido...Agora deixarei seus amigos entrarem, um por vez para não ter tumulto.

Primeiro entrou Jeff. Que me contou que todos tinham amado minha performance e a de Arthur, e que também todo o Clube soube da nossa discussão e do meio desmaio. Que Jason estava surtado para saber noticias, que logo ele iria me ver...

Ele me abraçou, me beijou, dizendo que tudo ficaria bem...Porém eu temia que não.

Me surpreendi, ao ver o cara de meia idade, com quem eu tinha saído entrando no quarto logo após Jeff. Ele sentou do meu lado pegando minha mão.

–Olá Will.

Dei um sorriso fraco, tentando imaginar como ele tinha descobridor que eu estava no hospital.

–Olá... Não queria te dizer isto, mas eu não lembro do seu nome... -disse tímido, olhando para baixo.

–É Aaron. -ele não parecia ter ficado bravo com a pergunta. -Vi sua performance, você está incrível, quando fui atrás de você no camarim me falaram que você tinha passado mal e vindo parar aqui...

–Pois é, é uma merda.

–Já sabem o que aconteceu?

–Não, ainda não.

Ele apertou minha mão. Eu não entendia porque daquele quase estranho Aaron, se dar o trabalho de ir me ver no hospital, um cara com qual ele tinha transado uma vez na vida.

–Sabe Will, depois que você sair desse hospital podemos sair, jantar...Nós conhecermos melhor...

–Porque disso Aaron? Nós só trepamos e deu...Foi só isso. -respondi irritado me levantando da cama e indo até a janela do quarto. De lá eu podia ver o jardim morto do hospital, com flores secas e arvores sem folhas, o inverno havia chegado em Londres.

Não me dei o trabalho de me virar para Aaron.

–Eu irei deixar meu número com sua amiga... Eu quero cuidar de você, quero te conhecer, sei que você deve estar meio preocupado agora, mas quando estiver pronto eu estarei te esperando.

–Que seja. -disse friamente.

–Fique bem Will. -foram as últimas palavras dele seguido do barulho da porta se fechando.

Continuei olhando para a rua. Uma fina garoa caia, ao mesmo tempo que uma lágrima caia do meu rosto. ''O que tem de errado comigo...?''

A porta se abriu e automaticamente me virei era Debs. E corri ao encontro dela, abraçando-a forte sem dizer nenhuma palavra.

–Tem algo muito errado acontecendo comigo Debs... -eu disse, deixando minhas lágrimas correm molhando os ombros de minha amiga. -Eu sinto que...Que algo de muito ruim vai acontecer.

–Cale a boca Will! Iremos descobrir o que você tem, você irá se tratar e ficar bem.

–Mas Debs.

–Mas nada, e partir de hoje sem cigarros, sem bebidas, sem essas merdas de drogas ouviu?! -ela parou de me abraçar e disse aquilo me olhando seriamente nos olhos.

–Ok. -respondi secando minhas lágrimas.

–Agora precisamos ligar para Bristol e avisar sua mãe...

–Não! De jeito nenhum Debs, minha mãe só vai piorar as coisas, irá surtar, depois que eu souber de tudo falamos com ela.

–Mas Will...Ela é sua mãe precisa saber que você está no hospital... -insistiu Debs.

–Por favor Debs prometa que não irá ligar para ela!

Ela não respondeu.

–Prometa Debs! -insisti.

–Ok... -disse ela contrariada.

Fiquei alguns dias sobre observação no hospital. Debs vinha me ver todos os dias, Jeff quase todos os dias algumas vezes acompanhado de Savannah ou Jason.

Em uma manhã chuvosa no hospital recebi a visita do meu médico, que veio com meus exames em mãos.

–Bem senhor Wilson, irei direto ao ponto o que tenho para lhe dizer é difícil, não a forma fácil de lhe falar.

Ao ouvir aquela frase do médico, eu soube imediatamente de algo ruim estava por vir, abri minha boca, mas a voz não saiu...

–Está preparado para ouvir? Quer que eu chame alguém? -ele questionou.

–Não! -gritei irritado. -Só me fale que merda está acontecendo comigo!

O médico me olhou com um olhar de piedade o que me deixou mais irritado ainda.

–Wilson, você foi diagnosticado com Leucemia.

Minha boca se formou em uma letra ''o'', que logo foi tapada pela minha mão. As lágrimas quase desceram, mas dai me veio a esperança.

–Mas doutor...Eu posso ficar bem, não posso? Posso fazer quimioterapia...É o que todos fazem não é? Eu irei ficar bem, não irei morrer não é?

Ele pegou em minha mão. A sua expressão e olhar não eram animadoras.

–Infelizmente Wilson...Descobrimos muito tarde, não sabemos por qual razão mas os sintomas da doença demoraram a aparecer...E...

–Eu irei morrer é isso? -perguntei, minhas lágrimas quentes já escorriam pelo meu rosto. -Seja sincero porra! Mereço honestidade, é a porra da minha vida!

O médico suspirou.

–Se você fazer a quimioterapia, poderá ter seis ou oito meses de vida...

Aquilo foi como se me jogassem um balde de água fria na cara.

Eu já havia lido e vistos muitos filmes sobre câncer leucemia, e sabia o quanto um paciente terminal sofria com a quimioterapia com os seus vários efeitos colaterais. Sabia também que a maioria ficava isolado em uma um quarto de u.t.i sem quase não poder contato com ninguém. Eu não queria passar por aquilo.

–Se eu não fizer a quimioterapia...

–A melhor opção é o tratamento Wilson... -o médico havia me interrompido.

–Deixe eu falar! -gritei irritado, porque diabos era tão difícil para aquele homem me ouvir? Afinal que estava morrendo era eu e não ele. -Quanto tempo eu tenho se não fizer?

O médico suspirou fundo, mesmo contrariado ele me disse.

–De acordo com minha experiência de três meses, no máximo cinco...

Ele tentou me convencer a fazer o tratamento, conversou intermináveis minutos comigo. Até que não aguentando mais ouvir a voz dele eu o expulsei do meu quarto.

Minhas lágrimas não caiam mais, eu apenas sentia o meu peito doer de angustia.

Eu não faria o tratamento. Eu tinha apenas três meses de vida. Me levantei da cama e fiz minhas malas. Decidido a fazer tudo o que eu tinha que fazer antes de morrer, decidido a fazer tudo o que eu tinha vontade de fazer e nunca fiz.

Eu tinha três meses para reconstruir minha vida, bota-la nos eixos, e aprender a ser feliz novamente.