Repousei a caneta ao lado da minha prova, a última prova do ano, ''A prova'', a que decidiria o meu futuro, o resto da minha vida. Era tão irônico, mas aquela folha, cheia de palavras era o que decidiria se eu seria um vencedor com um futuro ou um perdedor.

Reli a prova, estava feito. Levantei-me e fui até a classe da professora deixando a prova. Olhei para a sala e vi Sarah no fundo concentrada em sua prova. Deixei a sala, e andei pensativo pelo corredor, eu precisava de boas notas para entrar na Iorque, a faculdade que eu sonhava, eu tinha um sonho, por isso nunca vacilei na escola, pois queria ter boas notas para ingressar na universidade, ter um futuro brilhante, uma carreira boa, conseguir dar uma vida melhor para minha mãe, e Carlie.

Ao lembrar de Carlie me lembrei também o quanto estava sendo difícil aquele mês, o mês final, que decidiria que rumo tomaria cada um de nós, eu, e meus amigos, infelizmente Carlie ficaria para trás cursando o segundo ano.

Eu e Carlie tínhamos decidido o que fazer a alguns dias, se eu ingressasse em Iorque eu e minha mãe teríamos que nós mudar, para casa da irmã dela, e Carlie ficaria mais um ano em Bristol com a família dela, nós veríamos nos fins de semana, feriados, seria difícil, mas não nós separaríamos, no ano seguinte ela conseguira uma vaga em Iorque também e ficaríamos juntos novamente, tudo daria certo, tinha que dar.

–Hey Paul! - me chamaram.

Virei para trás e vi Sarah correndo atrás, de mim ao me alcançar me deu um abraço e um beijo no rosto, nos últimos meses, Sarah tinha melhorado de atitude, não estava sendo tão explosiva e brigona como era antes, ou rabugenta, revoltada, aos poucos ela estava se acalmando.

–Eae garota, acha que foi bem na prova?

–Acho que sim... Consigo um ''b'' ou ''c'' - respondeu, ela dando um sorriso sapeca.

Olhei para Sarah, e lembrei-me do que tinha acontecido a alguns dias atrás, o sorriso que eu tinha desapareceu lentamente.

–Você tem notícias do Will Sarah? - perguntei cautelosamente, era um assunto complicado.

Há alguns dias Will tinha tentando o suicídio cortando os dois pulsos, ele quase tinha obtido sucesso, mas a mãe dele o achou desmaiado no banheiro, conseguindo ajuda á tempo.

–Não muitas... Ele está internado em um hospital psiquiátrico, fazendo terapia e tal, sei que ele esta bem... Mas não pode receber visitas e tal... - respondeu ela olhando para o chão.

–E os exames finais como ele vai fazer?

–Quando ele receber alta... A escola vai dar outra chance para ele.

Olhei para Sarah, e um pensamento me veio à cabeça. Aquele último ano tinha sido difícil para todos nós, muitas coisas tinham acontecido, na verdade muitas ''merdas'', principalmente para Will. As coisas não tinham sido fáceis para ninguém desde a morte de Frank, todos nos de alguma forma tínhamos sido afetados.

Eu e Sarah andávamos pelo corredor da escola.

–Sabe antes da formatura, devemos fazer uma festa, todos nós... Juntos novamente para nos despedir, Eu, Carlie, você, Lea, Carl, Will, todos nós! - disse animado.

Sarah olhou para o chão percebi ela meio tensa.

–Você acha uma boa ideia mesmo? Sabe... Eu mal falo direito com Carl e Lea, desde que eles ficaram juntos ficou um clima meio estranho... E Will, bem... Nosso último encontro não foi muito bom.

–Que isso Sarah! É nosso último ano juntos, temos que aproveitar, festejar, depois disso cada um vai para um lado e demoraremos bastante tempo para nos reencontrarmos...

–É você tem razão, acho que temos que esquecer de tudo... Temos pouco tempo juntos, temos que aproveitar festejar!

–Isso mesmo garota! – me animei - Que acha de fazermos isso hoje mesmo? Irmos para um bar encher a cara, depois ir para uma festa, é sexta-feira temos que curtir, vamos todos juntos.

–Por mim, de boa, pena que não poderemos levar o Will.

–Quem disse que não?! Vamos lá de noite, nesse hospital! Ajudamos ele a fugir!

–Você é louco Paul! - riu-se Sarah, não crendo muito em mim.

–Estou falando sério! Qual é, topa?!

Sarah ficou me olhando por algum tempo para ter certeza se eu estava ou não falando sério, após alguns segundos, ela percebeu que eu não estava brincando.

–Bem... Ah foda-se! Eu topo se os outros toparem!

***

Dito e feito convidei todos, Carlie no inicio relutou, porém a convenci, Carl topou na hora e convenceu Lea. Às dez horas da noite estávamos todos na frente do hospital psiquiátrico, antigo, com um ar de ''Hospício Assombrado''.

–Credo... Esse lugar me dá arrepios... Quer horror - sussurrou Carlie no meu ouvido.

O vento frio típico de Bristol batia no meu rosto, fazendo eu tremer.

–E agora? O que faremos? Não sabemos qual o quarto dele, onde fica... - disse, não tínhamos pensado nisso antes.

–Isso não foi uma boa ideia, eu disse que era perca de tempo vir até aqui... – resmungava Lea, mal humorada que tremia abraçada em Carl.

Sarah revirou os olhos, ela tinha em mãos uma garrafa de vinho, abriu e tomou um longo golo da bebida fazendo uma careta.

–Amadores, vou mostrar como se faz... – falou Sarah desdenhando, e indo em direção até a portaria do hospital.

–Ei Sarah o que você vai fazer?! - interroguei tenso, estava começando a ficar com um pouco de medo daquela situação.

Ao se afastar Lea, começou a suspirar, quase que pedindo que alguém perguntasse o que estava acontecendo, com ela.

–Quer dizer alguma coisa Lea? – perguntou Carlie matando a vontade de Lea.

–Sim! Sarah vai foder com tudo, vocês sabem que ela é turrona e não pensa nas consequências... E ela nem fala comigo, não me escuta, porra! Conheço ela desde criança - desabafou.

Não dei atenção a Lea, e pensei ''Motivos você deu não é...''

–Sarah sabe o que faz... Ela vai dar um jeito de entrarmos, pegarmos o Will e festejar para caralho! - defendi, minha cunhada Lea ás vezes só sabia encher o saco.

Alguns minutos depois Sarah voltou meio cambaleando, com a metade da garrafa de vinho vazia. Carlie tomou a garrafa das mãos dela.

–Chega sua alcoólatra, os outros também querem beber! - Carlie bebeu e passou para mim.

–Tá e ai? O que foi fazer lá? - perguntei.

Sarah levantou a mão, ela segurava uma chave.

–Isso meus queridos, é a chave da cozinha do hospital, que é nos fundos , o número do quarto do Will é o 56, no primeiro andar, temos que pular o muro entrar pelas cozinha e seguir reto até o final do corredor, sem fazer barulho e com tocas, pois tem câmeras, vamos lá pegamos o Will e saímos. Todos ficaram boquiabertos olhando para Sarah.

–Como diabos você conseguiu essa chave e essas informações?! -perguntei incrédulo.

–Nada que uma masturbação no segurança não resolva.

–Vadia! -disse Carlie rindo.

–O que alguém tem que fazer o sacrifício! - Sarah riu e acendeu um cigarro, tragando profundamente.

Fizemos a volta, fomos até os fundos do hospital, o tal guarda nos daria cobertura, pulamos uma enorme cerca, e depois um muro altíssimo com ajuda de duas latas de lixo e de Carl que era o mais alto de nós, Lea acabou rasgando a saia ao pular o muro.

–Puta que pariu que merda! - rosnou ela - Minha saia, a que eu roubei no shopping semana passada!

Sarah riu debochadamente.

–Sou uma pessoa mais feliz depois disso.

–Vá se foder Sarah, não tenho culpa se você é uma infeliz.

Vi que uma briga ia começar, então interrompi.

–Vamos fazer toucas com as nossas camisas, para não gravarem nossos rostos.

Carlie vou a primeira a tirar a camisa e fazer uma espécie de burca deixando a mostra seus belos par de seios, tentei não ficar excitado, depois foi Lea, mostrando seios não muito grandes e um sutiã de rosa, com uma pele branca e costelas a mostra, depois foi Sarah que usava um nada sensual top, por último eu, seguido de Carl. Seguimos por um corredor escuro, não tentando fazer barulho e fomos até o quarto n° 56.

–E agora? Ele deve estar dormindo... Não podemos entrar todos, vai você Sarah... - sussurrei.

Sarah fez um sinal positivo com a cabeça, e entrou no quarto, indo lentamente até a cama de Will. Que parecia estar dormindo profundamente com os fones de ouvido. Ela cutucou ele. Não houve resposta. Cutucou mais uma vez mais forte. Will levantou-se com um pulo, dando um soco no rosto de Sarah automaticamente.

–Puto! - gritou Sarah caindo no chão.

–Puta merda! Gritou Will, quem está ai caralho?! - Will, gritava assustado, não podia nos ver estava muito escuro.

–Will, cale a boca! Somos nós viemos te pegar! -sussurrou Carlie tentando acalmar Will.

Will ligou a luz do quarto e olhou incrédulo assustado para todos nós. Ele vestia um pijama branco, em seus pulsos tinham bandagem, cobrindo os cortes nos pulsos.

–Que merda vocês estão fazendo?! - disse ele.

Sarah levantou-se, com as mãos no nariz, sangue escorria dele.

–Você bate bem para um gay... - a descontraiu.

–Viemos te pegar, para festejar! Como nos velhos tempos – animado eu falei.

–Vocês são loucos... Como invadem?! E os seguranças...?!

–Eu dei um jeito nisso! - disse Sarah, limpando o nariz ensanguentado - Agora vamos dar o fora daqui, antes que nos peguem aqui.

Will deu um passo para trás.

–Não sei se é uma boa idéia.

–Ah! Qual é cara?! Viemos até aqui, invadimos o lugar, Lea rasgou a saia dela, Sarah teve que usar as mãos... - disse Carl rindo maliciosamente.

–Cale a boca imbecil! - rosnou Sarah - Por favor Will, nós todos teremos poucos dias juntos... O fim do ano está ai, daqui uns dias cada um irá para um lado...

Will, olhou para seus pulsos, pensou por algum tempo, suspirou e por fim disse.

–Merda.... Foda-se, vamos dar o fora daqui.

***

Estávamos dentro da van que Carl tinha roubado do pai dele, todos prontos para ir a uma boate subterrânea que tinha em um velho prédio de Bristol. Will permanecia com o pijama do hospital e com seus curativos, ele entraria na boate assim mesmo, ninguém se importaria mesmo.

–Como é uma ocasião especial, trouxe um presentinho para cada um... - começou Carl tirando do bolso da calça um saquinho com várias ''balas de LSD''– Todos abrindo as bocas.

A primeira a abrir foi Lea, Carl depositou a bala na língua de Lea, em seguida dando um selinho, depois para mim, Carlie, Sarah(que pegou a bala, não deixando Carl colocar em sua boca).

–E por último, mas não menos importante a Lady Will - disse Carl, depositando a bala na língua de Will.

Acho que ao ouvir a palavra ''Lady'', todos se lembraram de Frank, ''Lady'', era como Frank chamava Will. Will ao ouvir a palavra, fez uma expressão de pura dor, e saiu da van sem dizer nada.

–Ué fiz algo de errado?! - perguntou Carl sem perceber.

–Frank chamava ele de minha ''Lady'', você não lembra imbecil?!– disparou Sarah, dando um beliscão em Carl.

Sarah saiu da van indo atrás de Will.

–Você não teve culpa Carl... - disse, consolando ele, Carl só estava tentando ser legal- Não dê bola para Sarah, todos nós sabemos do pavio curto dela...

–Nós três temos que resolver isso... Já está ficando uma situação chata, ela nos corta o tempo todo... - disse Lea irritada.

Concordei mentalmente, porém não disse nada, não queria me meter no triangulo ''Sarah, Carl, Lea''.

Peguei Carlie pela mão, e saímos da van, para ver o que tinha acontecido com Will. Andamos até a entrada do prédio velho, Sarah e Will encontravam-se, na entrada os dois parados conversando.

Ao nos ver, Will limpou as lágrimas.

–Está tudo bem? - interrogou Carlie, era óbvio que não estava.

–Vai ficar...- respondeu Will, com um sorriso em meio a lágrimas secas - Gente... Queria agradecer, por vocês não desistirem de mim, mesmo quando eu tinha desistido... Por terem feito essa loucura, indo me ''raptar'', para ficarmos juntos mais uma vez...

–Era o que Frank faria -eu disse sem dúvida alguma de que era isso mesmo que ele faria - Ele tinha esse dom, de resolver os problemas dos outros, de nos alegrar quando tudo parecia estar fudido...

Will concordou com um sinal de cabeça.

–Eu prometo que vou parar de fuder com tudo, de foder comigo, com minha vida... Eu queria pedir desculpas, eu sei que eu estava perdendo o controle de tudo, nesses últimos meses... Desculpa gente.

Sarah abraçou Will, em seguida eu abracei os dois trazendo comigo Carlie.

–Agora vamos ficar loucos! - gritou Sarah.

E foi isso o que aconteceu.

O lugar era claustrofóbico, e estava cheio de pessoas, de todos os tipos as mais loucas. As luzes psicodélicas me deixavam tonto. Já havia perdido noção do tempo e do que estava fazendo de onde estava. O efeito do LSD, já tinha me pego. Eu olhava para as coisas, e tudo parecia perder seu formato original, minha visão era turva, com se as imagens tivessem pequenas ondas... Um sorriso bobo invadiu meu rosto. As cores tinham ficado mais fortes, como se tivessem vida própria. A música parecia entrar em minha mente, veias, controlando meu corpo. Um remix, misturando Rihanna, Ke$ha, e Britney tocava me deixando mais louco. Olhei com minha visão turva procurei os outros com os olhos. Will e Sarah dançavam juntos, os dois com garrafas de vodkas nas mãos.

Carl e Lea se agarravam em um canto, Carl apenas de bermuda e sem camisa, e Lea sem a blusa, os dois não pareciam se importar com os outros. Procurei Carlie e não a achei, alguns segundos depois acabei por perceber, que eu estava dançando o tempo todo com ela. Carlie estava suada, com os cabelos grudados na testa, e seios. Ela dançava tremendo, com o mesmo sorriso bobo no rosto, que eu tinha.

–Esta bala é boa pra caralho! - ela gritou no meu ouvido.

–Demais baby!

–Ela me da vontade...

–Vontade de que?

–De foder contigo! - respondeu ela, me agarrando e me beijando com volúpia.

Não sei como, mas rapidamente saímos dali. E antes mesmo que eu percebesse, eu e Carlie estávamos na van de Carl, eu sobre ela, os dois nus. Eu a penetrava com vontade, sentindo suas unhas serem cravadas em minhas costas. Cada vez com mais vontade e ritmo eu a penetrava, até que chegamos ao orgasmo os dois juntos. Cai ao lado dela sem fôlego, e agarrei a mão dela.

–Você não tem noção do quanto eu te amo Carlie... - eu disse com dificuldade pra respirar.

Ela ficou quieta por alguns instantes.

–Eu também te amo... Aprendi a te amar do pior jeito possível... Aprendi a te amar sofrendo com tua ausência, e daqui uns dias tudo estará acabado de novo... Você irá para Iorque, conhecerá outra garota, e eu ficarei aqui em Bristol, sozinha.

Carlie já estava em meio a choros. Olhei para ela, abraçando-a.

–Não seja boba Carlie, eu nunca te deixarei... A gente vai estar longe, mas o que eu sinto por você não irá acabar... Eu não irei e nem quero encontrar outra garota... Eu quero só você.

–Um ano é muito tempo... Tenho medo que você me esqueça.

–Isso jamais irá acontecer Carlie.

Abracei Carlie com todas minhas forças, para provar a ela. Que ela era ''A garota'', da minha vida. E ali na van, adormecemos abraçados.

***

Uma semana havia passado, desde a festa no prédio velho, a festa subterrânea. Naquele dia chegaria os resultados das provas por correio. Naquele dia todos nós saberíamos que rumo tomaria nossas vidas. Estava no meu quarto me vestindo de manhã cedo. Carlie ainda morava comigo e minha mãe, e já havia descido para a cozinha.

–Paul! Sua carta chegou! - gritou Carlie do andar de baixo.

Meu coração disparou a hora da verdade tinha chegado. Desci as escadas de minha casa correndo quase caindo. Carlie estava com minha carta em mãos, já rasgadas. Ela já sabia, o resultado.

–Desculpe... Mas eu tinha que saber... Não me aguentei.

–Então, me diz eu consegui?! - perguntei ansioso, quase pulando em cima dela.

–Parabéns... B, A E A, você conseguiu para Iorque Paul... - ela me respondeu com um sorriso fraco, e com os olhos marejados.

Eu estava feliz, mas ao mesmo tempo acabado, por saber que logo eu e Carlie estaríamos longe um do outro. A única coisa que eu consegui fazer foi abraçá-la.