Primeiro a meia arrastão rasgada, colocando-a lentamente, perfeitamente ajustadas a minhas pernas finas e longas, depois a bota de couro já desgastado, que dava um toque estiloso desleixado. A saia de veludo cor bordô, e por fim a jaqueta de couro, com manchas douradas. Anéis nos dedos, os brincos, a corrente com as letras ''Gucci'', o batom vermelho que ficava em ótimo contraste com minha pele pálida. Passo o esprey de cabelo nos fios, e os alinho perfeitamente. E por fim o perfume da Kevin Klain.

–Estou pronta - digo para mim mesma, me olhando no espelho - É hoje, o grande dia!

Em cima da minha cama se encontra o envelope com minhas notas. Sento ao lado dele, suspiro profundamente. Ainda não o abri, do que importa abrir... Se eu não vou para a universidade.

Ninguém sabia. Mas não importava o que desse em minhas notas, eu não iria para a universidade, não era o que eu queria o que eu sonhava. Eu simplesmente não conseguia ter a mesma vida que os outros, uma vida simples, comum... Eu não queria ir para a universidade, estudar durante anos, conseguir um emprego chato, ganhar pouco, casar ter filhos... Isso nunca foi o que eu quis. Sendo assim eu seguiria o meu sonho, mesmo sabendo que quando meus pais descobrissem iriam ficar irados comigo.

Há duas semanas, eu havia me inscrito em uma seleção de jovens modelos, havia 160 candidatas, apenas 12 seriam selecionadas pela agência, e se mudariam para Londres para lá trabalhar na agência. Suspirei fundo. Eu estava pronta, agora era só ir até lá, e dar o melhor de mim. Aquela seleção traçaria o meu destino. Se eu passasse eu teria a vida que sonhei, sobre os holofotes, com admiradores, fãs, com poder, riqueza, e superioridade. Agora se eu fracassasse e não passasse na seleção, eu teria o mesmo destino dos demais. Uma vida chata, monótona, normal, sem glamour. Balancei a cabeça para afastar os pensamentos ruins.

Meu celular vibrou, era um sms de Carl.

''Já recebeu suas notas, amor? Recebi as minhas! A,B,C, Iremos para Warwick juntos!''

Carl e eu tínhamos decidimos ir para a mesma universidade, bem... na verdade foi um veredito dele. Eu gostava muito dele... Era quase amor, mas era a minha vida, o meu sonho, eu estava disposta a passar por cima de qualquer obstáculo para conseguir o que eu queria.

A velha Lea, determinada, manipuladora, tinha ficado adormecida por muito tempo. Tempo demais. Agora ela estava de volta.

***

–Seus joelhos são horríveis garota!

–Que par de seios enormes!

–Gorda demais!

–Precisa de uma cirurgia no nariz.

Essa, entre outras foram às frases ditas pelo o selecionador, seguidas de uma eliminação, para cada garota. O selecionador era um homem de meia idade, alto e grisalho, obviamente gay, era rígido, sem coração e apontava os defeitos das 160 garotas sem 'tato' nenhum. Eu era a garota número 11, sim fui uma das primeiras a chegar na fila. Quando ele chegou na minha frente, primeiro me analisou friamente, eu já temia que ele me desse um defeito e me descartasse. Das outras 149 garotas que ele havia escolhido apenas 23 para a próxima fase.

–Número onze, levante seu cabelo para cima... - ele não pediu, ele ordenou, ele também não nós chamava pelo nome e sim pelo número.

Fiz o que ele mandou, sem expressar o meu nervosismo, sempre consegui ser muito bem contida. Ele me olhou fixamente nos olhos.

–Você tem algo que eu gosto nos seus olhos, número 11, você tem sede de ganância... Não é medrosa feito a metade dessas adolescentezinhas inseguras que eu descartei.

Um sorriso discreto percorreu o meu rosto. Ele tinha razão.

–Você está aprovada para a próxima etapa.

Minha vontade, era gritar, chorar e abraçar ele. O que seria um comportamento ridículo, eu apenas sorri novamente e fui para sala que as garotas aprovadas tinham ido, agi naturalmente como se nada tivesse acontecido. Na outra sala estavam as minhas 23 concorrentes, das quais eu teria que destruir 11. Todas me olharam com superioridade, todas ali estavam por conta própria nenhuma se aproximava da outra, ou tentava fazer amizade, todas pareciam querer derrotar uma as outras. Afinal a derrota de uma significaria a vitória de outra.

Eu estava radiante, cheia de mim entre 160 garotas eu estava entre as 24 melhores. Alguns minutos depois o selecionador Alexander Rose, entrou na sala. O que parecia era que nenhuma garota tinha sido selecionada depois de mim.

Todas ficaram quietas e focaram nele.

–Primeiramente, queria dar os parabéns, a todas as que chegaram aqui, você são as melhores dentre as outras, vocês são as top's, já as outras são apenas as outras...

Alexander, foi interrompido por um celular que tocou quando ele falava.

–Desculpe - disse uma ruiva, a dona do celular, visivelmente constrangida.

–Qual é o seu nome querida?

–Marie, senhor.

–Pode pegar suas coisas e dar o fora daqui.

–Mas...

–Sem mais garota. Odeio ser interrompido.

A ruiva pegou suas coisas com os olhos marejados em lágrimas, e saiu da sala. Alexander era cruel.

–Continuando... Darei á vocês, esses envelopes, neles estão algumas coisas que vocês precisarão fazer, dentro de uma semana vocês voltaram e eu escolherei, as 12 que irão para Londres para trabalhar comigo e minha agência.

Ele passou distribuindo os envelopes, cada um com o número da candidata. No caminho para casa eu olhava atentamente para o envelope, resolvi abrir.

Nele tinha apenas dois asteriscos.

–Emagrecer quatro quilos, deixar o cabelo crescer... - eu li, fiquei pensativa sobre o cabelo já que ele não iria crescer muito em uma semana, e porra como eu emagreceria 4 quilos em uma semana?!

Meu celular vibrou, era Carl, durante a manhã toda ele tinha me ligado umas seis vezes, e eu apenas recusava.

–Ei Carl - eu disse desanimada, atendendo o celular.

–Oi meu amor! Onde esteve a manhã toda? Você não respondeu meu sms...

–Fazendo compras.

–E suas notas chegaram?

–Não - menti.

–Nossa, que estranho a de todos já chegaram menos a sua.

Revirei os olhos, estava ocupada demais para dar atenção ao Carl.

–Carl, estou ocupada mais tarde te ligo beijos - antes que ele respondesse desliguei o celular, e segui o caminho de casa determinada a ganhar.

***

Eu corria na esteira, na velocidade máxima, os músculos das minhas pernas queimavam. Meu celular tocou, meio irritada o atendi, estava faminta não comia nada sólido há algumas horas, meu humor não era o dos melhores.

–Hey, Lea? - era a voz de Will.

Uma situação meio inusitada, todos sabiam que eu e Will não tínhamos a melhor das amizades, e tínhamos um passado de desentendimento, mas nós falávamos, saímos juntos, acho que com o decorrer do tempo ele aprendeu a me aturar e eu aprendi aturá-lo.

–Eae Will, tudo de boa? - perguntei, sem parar de correr na esteira.

–Sim, e você?

–Bem.

–Então, Paul pediu para te avisar da festa de despedida, que acontecerá sexta, sabe unindo toda a galera, para festejarmos juntos...Cada um vai para um lugar e tal, acho que demoraremos para nós vermos todos novamente, você vai não é?

–Claro, conte comigo.

–Será nos ginásio da escola, toda a escola vai, vai ser foda pra caralho! E suas notas como foram?

Revirei os olhos não aguentava mais ouvir aquela pergunta.

–Não sei o que está acontecendo, acredita que a carta não chegou ainda? - respondi fazendo o que sei fazer de melhor, mentir - E as suas Will?

–Eu consigo o suficiente para entrar na Royal College of Art, sempre foi meu sonho estudar artes, qualquer tipo...

''Sonhos, o que seriamos de nós sem eles...'' pensei.

Quando acabei de falar no telefone com Will, ouvi minha mãe gritar da cozinha.

–Lea! Desça aqui agora menina!

Meu coração congelou minha mãe geralmente só me chamava de ''Lea'', quando algo muito sério tinha acontecido, ela me chamava sempre de filha.

–Não posso! Estou fazendo corrida venha você aqui! Caralho!

Não dei ouvidos a minha mãe, e continue a correr na esteira. De repente a vejo entrar no quarto, com uma carta em mãos.

''Merda! Esqueci minha bolsa na sala!'' penso, certamente minha mãe revirou ela e achou minha carta, a qual nem eu tinha aberto ainda.

Não parei de correr na esteira.

–Lea, pare de correr nesta esteira, você está ai há quase duas horas, sente-se e vamos conversar.

–Espere, mais um pouco mãe.

Minha mãe irritada tirou o cabo da tomada, desligando a esteira.

–Mais que caralho mãe! - gritei.

–Por que você anda mentindo que não recebeu a carta da escola com suas notas Lea?!

Tomei a carta da mão dela.

–Porque você anda revirando minha bolsa mãe?!

–Eu queria um gloss... Não mude de assunto mocinha, não temos segredos nessa casa!

Sentei-me ofegante na cama. ''Vamos lá Lea, pense em uma desculpa convincente... ''.

–Eu estava esperando o momento certo mãe... Com todos nós juntos, você, papai, Carlie e o bebê... - comecei fazendo biquinho.

Minha mãe me olhou, parecia estar convencida da minha desculpa.

–Então vamos abrir agora, e a noite iremos falar para os outros.

–Mas mãe... - antes que eu tentasse convencê-la, minha mãe tomou a carta de mim e abriu-a.

Os olhos dela correram pela carta. Eu não queria saber minhas notas, do que adiantaria? Eu não iria para a universidade mesmo.

–B,B,A! - gritou minha mãe, me abraçando - Querida você conseguiu você irá para a faculdade!

Dei meu sorriso forçado, sem nenhum entusiasmo. Esperei minha mãe sair do quarto para dar um suspiro longo, eu estava tão estressada. Meu celular tocou era Carl, eu o havia ignorado desde a seleção. Com raiva joguei o celular contra a parede.

–Droga! Ninguém me deixa em paz! - peguei meu travesseiro e o pressionei contra meu rosto, para abafar o meu grito de frustação.

–Se recomponha caralho... Você é Lea, a fodástica Lea.

Levantei-me e segui para a esteira, eu tinha que perder os meus quatro quilos, tinha que seguir em frente com meu objetivo, com meu sonho.

***

No meio da semana resolvi ir ver Carlie na casa de Paul, aproveitando que ele e a mãe não estavam em casa (os dois estavam arrumando a matrícula de Paul na universidade), eu e Carlie resolvemos fazer uma noite só de garotas, olhando filmes, ouvindo músicas.

–Cristo! Você está com uma aparência horrível Lea, tá branca feito uma chinesa... - dizia Carlie, pegando uma punhado de batata frita e enfiando tudo na boca.

Era o meu quarto dia de exercícios, e sem comer quase nada, eu já havia perdido 2,8 kilos. Carlie me ofereceu o pote com batatas fritas.

–Não, obrigada - recusei, sentindo minha boca salivar, minha vontade era de devorar todas aquelas batatas fritas.

–Porque não? Come você está com uma aparência de zumbi...

Passei a mão pelos meus cabelos nervosa, e acendi um cigarro o tragando.

–Preciso emagrecer.

Carlie riu debochadamente e balançou a cabeça.

–Você é louca garota... Come, logo.

Suspirei irritada.

–Cale a boca e me escute Carlie... Preciso contar para alguém o que está acontecendo ou irei ficar louca, posso confiar em você?

Carlie pegou em minha mão, carinhosamente. Eu e minha irmã tínhamos nos aproximado muito nos últimos meses, ficando unidas, muito diferente da nossa relação no passado, que éramos afastadas vivíamos brigando e competindo.

–Claro, sempre, você sabe disso Lea, vamos fale.

–Você lembra de quando erámos crianças, o que eu queria ''ser quando crescer''?

Carlie riu.

–Uma princesa?

Traguei o cigarro irritada e dei um tapa no braço de Lea.

–Estou falando sério vadia, qual é Carlie?!

–Ok! Calma... Hum... Nós duas brincávamos de modelos, fingíamos que desfilávamos, que erámos famosas, que tínhamos fãs, que erámos importantes e tal... - Carlie narrava tudo aquilo com um sorriso, acho que ela como eu lembrava nitidamente das nossas brincadeiras de infância.

–Então... Eu estou seguindo o meu sonho, já passei na primeira fase de uma seleção de modelos, se eu passar na outra eu irei embora para Londres, para trabalhar como modelo lá.

Carlie me olhava boquiaberta com os olhos esbugalhados.

–Puta merda... Você já contou para mamãe e o papai? Sabe que eles irão surtar quando souberem que você não vai para a faculdade!

–Não ainda não... Irei contar se eu for mesmo, se eu conseguir a vaga.

–Lea... Isso será uma bomba, você sabe que os dois sempre quiserem que nós duas fizéssemos faculdade, eles tem até uma poupança.

Suspirei, Carlie estava fazendo com que eu me sentisse mais culpada.

–Eu sei... Mas é o meu futuro, minha vida, eu que tenho que decidir o que é melhor para mim.

–Você tem razão irmã, eu irei te apoiar... - Carlie me abraçou - E para o Carl você já contou? Como será as coisas entre vocês agora? Já que não vão para a faculdade juntos.

–Eu vou romper com ele... Sabe eu acho que nunca amei o Carl, acho que ele foi uma válvula de escape, eu estava tão sozinha na época, tão vulnerável, ele apenas preencheu esse vazio, eu não sinto mais nada por ele.

–Entendo... Lea você devia comer pelo menos, sei que você quer muito isso, mas ficar sem comer não faz bem.

–Irei comer quando chegar em casa, agora tenho que ir... E esclarecer tudo com o Carl também.

Dei um beijo em Carlie e sai apressada, antes que ela tentasse me fazer comer.

***

Não seria fácil acabar com Carl, mas eu teria que fazer. Eu iria para Londres a todo custo, e ele para Warwick. Estava parada na frente da casa de Carl, meio tonta, ficar sem comer e me exercitando muito, aquilo estava me matando aos poucos, mas no fim da semana valeria a pena. Tinha que valer. Bati na porta. Ninguém atendeu, me lembrei que os pais de Carl estavam visitando os avôs de Carl, ele certamente estaria sozinho. Bati novamente, ouvi ruídos, vozes, vozes conhecidas...

–Carl? Porra quem ta ai?!

Ouvi alguém descendo as escadas. Logo a porta se abriu, Carl me olhou, um olhar um tanto assustado, ele suava também.

–Ei amor... - ele gaguejou - Porque não avisou que viria?

Aquela pergunta me irritou.

–E eu por um acaso tenho que avisar? Mas que caralho!

Tirei Carl da frente e entrei dentro de casa.

–Ouvi vozes...

–Era a tv...

Eu sentia que Carl estava mentindo.

–Quem esta ai Carl? Fala logo, esta me irritando - meu humor estava péssimo, com comida eu já era mal humorada, imagina sem.

Ouvi outro barulho, vindo do armário abaixo da escada. Logo depois ele se abriu, e despejou bolas de beisebol, cabides, mochilas e o pior de tudo... Sarah.

–Merda! Caralho! - ela disse, visivelmente envergonhada Sarah se levantou.

–O que ela está fazendo aqui?! - gritei indignada - E porque está escondendo ela, dentro da porra do armário?!

–Lea, por favor se acalme, só escondi porque eu sabia que você ficaria braba!

–E como você quer que eu fique?! Você trouxe a porra da sua ex pra sua casa!

Sarah revirou os olhos, ela parecia não se importar mais.

–Superei o Carl já Lea, há muito tempo... - Sarah disse tentando me acalmar.

–Sério?! - respondi ironicamente.

–Eu só vim pedir uns conselhos, sobre umas coisas.

–Jura? Assim do nada você e Carl voltam a se falar? - olhei para Sarah depois Carl, eu estava muito irritada, sentia o sangue correr por minhas veias - Porque não conta pra ela Carl... - eu disse me virando para ele.

–Lea, não faça isso... – ele pediu, balançando a cabeça negativamente várias vezes, bem rápido.

–Eu e ele fodemos Sarah! Fodemos quando vocês dois ainda estavam juntos! - cuspi as palavras.

Sarah ficou boquiaberta me olhando, logo sua expressão transformou-se, ela estava com nojo.

–Só tenho uma coisa para te dizer Lea, eu vim aqui apenas para conversar com o Carl... Ao contrario de você eu não trairia uma amiga.

–É? Já conversou... Pode ir embora agora - com um sorriso sínico rebati.

–Eu vou, mas antes eu quero fazer uma coisa... - Sarah olhou para o chão suspirou, levantou o rosto e me atingiu com uma bofetada no rosto. Seguido de um olhar de dar arrepios.

–Você consegue alguém melhor que essa vadia Carl! E obrigada pelos conselhos... -Sarah já estava dando as costas, mas voltou -E Carl, eu não sinto raiva de você, não te odeio, não te amo, não sinto nada mais por ti, e por essa garota ai.

Dizendo isso, Sarah saiu batendo a porta.

Fiquei parada boquiaberta, não acreditando naquilo tudo que tinha acabado de acontecer.

–Lea? Você está bem? Esta tão branca...

Comecei a enxergar bolinhas pretas, que foram consumindo minha visão, fui ficando tonta, minhas pernas bambearam e tudo ficou escuro.

***

Vi Carl me olhando assustado. Com minha visão ainda turva, e com o rosto ardendo, acordei. Tirei Carl da minha frente e me sentei. Passei a mão pelos cabelos e respirei fundo ''Recomponha-se Lea''– pensei. Eu estava há muitas horas sem comer, isso devia ter causado o desmaio.

–Lea, você está bem? Quer que eu te leve no hospital?

–Não! Claro que não... Peguei minha bolsa e me levantei.

–Quanto tempo fiquei desmaiada?

–Quinze ou vinte minutos.

Respirei fundo novamente, eu tinha que falar logo, acabar com aquilo tudo.

–Carl... - comecei, olhei para ele, apesar de tudo eu gostava dele, mas não tinha jeito, então continuei: - Eu não vou para Warwick com você, eu vou para Londres.

–Mas... E os nossos planos e a gente?

–Acabou Carl.

–Mas Lea... - os olhos dele começavam a ficar marejados - Eu te amo, quero ficar com você, construir uma vida.

–Carl... Não fale bobagem, nós dois sabíamos que nós não duraríamos muito tempo juntos... Foi só um lance.

–Pra mim foi muito mais que isso caralho! - ele gritou limpando as lágrimas do rosto.

–Carl...

–Vai embora Lea! Eu quero ficar sozinho! - friamente ele disse, virando de costas para mim.

Com um nó na garganta, e o peito apertado eu virei às costas também e deixei Carl sozinho.

***

Sexta-feira tinha chegado. O grande dia tinha chegado. De manhã, antes de me arrumar subi com medo em cima da balança, que marcou 50,00 quilos, eu havia conseguido perder os meus quatro quilos. Radiante eu fui direto até a agência, sem comer, sem beber nada, eu não podia arriscar.

Lá eles me pesaram me mediram, tiraram medidas. E depois passaram eu e as 23 meninas para outra sala, lá cada uma de nós fomos designadas a um modelo, que iria nós instruir, a nos vestir. Eu fui uma das poucas que fui designada para um modelo homem. O nome dele era Adam. Adam era incrivelmente lindo, com cabelos encaracolados, pele morena, e olhos esverdeados.

Ao ficar sozinhos no camarim me senti mais a vontade para falar com ele, eu fazia uma série de perguntas enquanto me trocava na frente dele.

–Você conhece bem o Alexander? Ele é uma bicha chata não acha?! - brinquei.

Adam riu.

–Sim, um pouco, graças a Deus não puxei esse lado dele.

Parei de me vestir e encarei-o.

–O que você quer dizer com isso?

–Ele é meu pai.

Meu queixo caiu, fiquei apavorada, eu tinha acabado de cavar minha própia cova, chamando Alexander de ‘'bicha chata'’, para o filho dele.

–Hey garota não fique me olhando desse jeito assustada, sei que ele é chato... Relaxa. Eu sou de boa.

Suspirei aliviada. Resolvi mudar de assunto.

–E você tem namorado?

Ele arqueou a sobrancelha.

–Oi? Lea... Eu nunca disse que era gay.

Eu tinha suposto na verdade, mas isso era uma coisa boa... Boa demais.

–Moda é uma profissão bem gay... - me defendi.

–Eu não sou um clichê - retrucou ele sorrindo.

Já vestida me olhei no espelho para passar um batom.

–Lea você está magnifica! - Adam disse, eufórico - Você com certeza será uma das 12 selecionadas!

''Sim... Eu tenho que ser uma das doze, perdi muita coisa por causa disso, e tem muita coisa em jogo...''–pensei.

Alexander nos examinou atentamente, vendo se eu tinha ou não comprido seus requisitos. Sempre anotando tudo em uma caderneta.

Quando chegou minha vez ele me olhou.

–Conseguiu perder o peso... Parabéns, perdeu muito em pouco tempo... - ele disse sorrindo - Entretanto...

Ao ouvir o ''entretanto'', senti um frio na barriga.

–Seu cabelo não cresceu muito....

''Como ele cresceria em uma semana? Sua bicha velha, mal comida!''– eu pensei com raiva, mas sem demonstrar.

''Não pode tudo estar perdido, só por causa de uma merda de cabelo...''

Após examinar as demais garotas, e alguns minutos refletindo, e conversando com a sua equipe, Alexander finalmente se pronunciou.

–Bem, sem mais rodeios as doze que irão para Londres.

''Esperei tanto por esse momento... É tudo ou nada agora...''.

–Andrea, Lori, Carol, Sofia...

''A próxima tem que ser eu, eu tenho que conseguir''

Ele virou a folha. Lágrimas teimavam em querer sair dos meus olhos.

–Michelle, Anne, Rose, Blair...

''Meu nome! Caralho ele ainda não disse o meu nome, eu não consegui está tudo acabado...''

–Alexia, Samantha...

Eu senti o ar me faltar. ''Acabou...''

–Lea, e Penny.

Eu tinha certeza que nunca mais esqueceria daquela sensação, jamais, de longe foi a melhor sensação que eu senti na vida. Eu tinha conseguido. As lágrimas rolaram do meu rosto, e quando eu vi Adam abracei ele com todas as minha forças.

Era apenas o começo de uma vida de sucesso que eu teria. Todos no mundo um dia ouviriam falar no meu nome, todos ouviriam falar de Lea.