Minha vida nunca foi fácil, mas isto não é uma reclamação, até porque devemos passar por coisas ruins na vida, para ficarmos fortes. Minha mãe morreu quando eu tinha oito anos, deixando eu e meu irmão Eric. Tive que começar a trabalhar cedo para ajudar o meu pai com as despesas de casa. Trabalho com meu pai na oficina dele, eu e ele concertamos todo o tipo de carros, caminhões, motos, tudo que tenha rodas. Robert o meu pai, é um cara, bem durão, não demonstra muito afeto, tem pavio curto, xinga todo mundo, e é mal educado, mas no fundo é uma boa pessoa, sei que ele me ama e ama meu irmão. Saio de manhã cedo para ir para a escola, já acordo exausto sei que o dia será difícil, porque depois da escola terei que trabalhar por umas cinco horas.

Com meus fones de ouvido e mochila nas costas eu pego meu rumo. E Will, invade meus pensamentos. Nunca imaginei que eu me apegaria tanto ‘’a minha Lady’’, sempre senti um tesão enorme por aquele moleque, mas era só sexo. Agora fico meio assustado, pois sinto que estou começando a sentir algo a mais por ele. O engraçado é que Will foi o único cara que me atraí, eu sempre senti vontade de transar com mulheres e ainda sinto, mas ele me desperta algo novo. Acho que não posso ser chamado de Gay, talvez bissexual, acho que o melhor termo é curioso mesmo. Mas para que a necessidade de rótulos?

Depois da festa na casa de James as coisas ficaram meio estranhas. O grupo se fragmentou. Sarah, simplesmente se afastou de todos, evita todo mundo, não fala com ninguém.

James mesmo não estudando está sempre na escola, junto com Lea, parece que algo sério está rolando entre os dois, que formam o casal mais insuportável de todos os tempos, não sei qual o que se acha mais.

Carl ficou meio estranho comigo, por eu não ter contado sobre o Will, ele ficou surpreso nunca imaginou que eu ficaria com um cara. Mas eu expliquei para ele que nossa amizade continuaria a mesma, e que eu nunca tentaria nada com ele, que eu o respeitaria então ele continuou me tratando igual. Na verdade todo mundo continuou, até porque só nosso grupo tinha visto eu e Will ficando.

Estou prestes a entrar para a sala, mas Doug o supervisor da escola, me chama.

–Frank meu jovem! - começa ele, com aquela animação de sempre - O diretor Blood, quer ter uma conversinha com você.

Ao ouvir isso sinto um arrepio me percorrer a espinha, sei que vêm problemas por ai.

–Merda. Sabe sobre o que é? - digo suspirando.

–Vá lá e descobrirá!

Faço cara de desanimado, vendo minha expressão Doug passa o braço em volta dos meus ombros e tenta me animar.

–Se anima! Não deve ser nada de mais! - ele me dá um tapinha nas costas e grita - OGGY, OGGY, OGGY RAPAZ!

Reviro os olhos, Doug não cansa de falar esse tal de ''oggy, oggy, oggy'', só ele acha legal. Dirijo-me até a sala do diretor Blood e entro sem bater na porta. Deparo-me com ele entregando um papel a uma moça, alta com pernas finas e belas, com o rosto redondo com sardas, ao seu lado está um cara bem alto também com cabelos cor de fogo, coitado não era muito bonito não. Ele segurava uma criança de mais ou menos um ano nos braços.

–Frank, devia ter batido... - disse o senhor Blood sério - Eu estava ocupado.

O diretor Blood, era um cara muito bravo e ranzinza há algum tempo atrás, tratava todo mundo com um pouco de rispidez, mas desde a morte da filha dele uma tal de ''Grace'', ele mudou muito, não demonstrava mais raiva, porém tinha sempre uma expressão de cansaço ou tristeza em seu rosto.

–Bem... Nós deixaremos o senhor trabalhar, muito obrigado por tudo... - disse a moça alta.

O cara que estava ao lado dela apertou mão do diretor. O casal com o bebê estava saindo da sala, quando o diretor disse a eles:

–Ei! Mini e Alô - ele chamou antes que eles saíssem, eles se viraram para o diretor - Boa sorte em New York... Vocês merecem...

O casal sorriu e saiu da sala.

O diretor fez um sinal para que eu sentasse na cadeira à frente de sua mesa. Eu sentei e olhei para ele.

–Esse dois que saíram daqui eram meus alunos á dois anos atrás... - ele parou e olhou para um porta retrato, percebi que a foto era de uma moça negra, com um largo sorriso - E imaginar que agora eles tem um filho, e que vão para New York, começar uma vida... O tempo voa não é mesmo?

–Sim - respondo secamente, aquela conversa estava me deixando irritado, eu só queria ir para sala de aula.

–Bem eu o chamei aqui, para falar sobre suas notas.

–O que têm elas senhor?

–Bem, você anda com notas muito baixas, estamos com medo que o senhor... Reprove de ano.

Assusto-me ao ouvir isso.

–O que?! Não! Não posso repetir o ano! - digo protestante.

–Acalme-se meu jovem... Não deixaremos que isso aconteça por isso você receberá alguns trabalhos extras para recuperar suas notas.

–Tudo para não repetir! - eu digo.

–Bem, mas esses trabalhos tem um prazo curto, você terá que entrega-los daqui uma semana, ou não adiantará nada.

–Ok, sem problemas.

O diretor vai até uma gaveta e tira uma pilha de papéis e joga sobre a mesa.

–Aqui está.

Arregalo os olhos ao ver aquilo monte de papel.

–Quantos trabalhos tem ai? Você está de gozação né?

–São treze trabalhos, cinco de matemática, um de português, dois de história, três de física, dois de química.

–Mas se o senhor prefere repetir...

Faço cara de raiva e enfio os trabalhos em minha mochila.

–Eu entregarei tudo em sete dias! - saio da sala batendo a porta.

E sinto uma vontade boba de chorar. Como eu iria fazer treze trabalhos da escola em uma semana?! E ainda trabalhar?!

Direciono-me até a sala. Já atrasado como sempre. Bato na porta e peço licença, e me dirijo a um lugar vazio, lá no fundo vejo Sarah, eu olho para ela e sorrio. Ela finge que não vê, e abaixa a cabeça. ''Essa idiota mesquinha, tem que fuder com tudo'', eu penso. Essa atitude de Sarah de parar de falar comigo e com Will, por não termos contato sobre nosso ''sexo casual'' é muito idiota, e mais ainda, é parar de falar com Carl, afinal ela havia ‘’dado’’ para ele porque quis, e depois ficava daquele jeito toda revoltadinha.

Na hora do lanche me sento com Carl como de costume. Ele fica falando sem parar, sobre Sarah falando que ela ainda gosta dele. Eu nem o escuto, estou cansado já dessa história de vai e volta de Carl e Sarah.

Enquanto ele fala, eu penso nos trabalhos da escola, e já me sinto exausto. Olho para a mesa em frente e vejo Will com uma maça em mãos, ele leva a maça até a boca e da uma grande mordida, mastiga lentamente. Aquilo me excitou muito. Ele está sentado com Carlie, normalmente ele estaria sentado com Sarah, mas como ela está afastada de todos.

Eu olho para ele e sinto algo estranho. Algo que nunca senti antes. Sinto que quando olho para ele eu vejo o quanto ele é puro, transparente, bonito, verdadeiro. E me pergunto se ele sabe que é lindo.

–FRANK! -grita Carl.

Assusto-me e olho apavorado para ele.

–O que foi porra?!

–Estou falando com você e tu não responde!

–Desculpa estava distraído.

Carl olha para onde eu estava olhando, e percebe que eu estava observando Wil.

–Sério cara?

–Sério o que Carl? - pergunto irritado.

–Achei que era só curiosidade... Sexo, por favor, não me diga que está gostando do Will.

Olho indignado para ele.

–Não quero falar sobre isso!

–Olha, não é por nada, Will é um cara legal e tal, mas é meio estranho, pois você sempre gostou de garotas e tal...

–Já disse que não quero falar sobre isso! - me levanto, e saio.

–Ei aonde vai?

–Biblioteca, irei começar com meus trabalhos.

***
O dia na escola, não foi os dos melhores. Na oficina com meu pai muito menos, tivemos muitos carros para concertar. Quando chego em casa tenho uma pilha de trabalhos para fazer. Consigo concluir um de matemática. Antes de dormir, fumo um cigarro, e sinto meu celular vibrar.

''Na pracinha abandonada, as onze. ''. É um sms de Will, um sorriso me vem ao rosto, mesmo cansado decido ir, afinal estou com saudade da minha Lady. Desço as escadas, devagarzinho, e sem fazer barulho. Já estou na porta.

–Ei idiota aonde vai?

Olho para trás, é meu irmãozinho de oito anos, que esta na minha frente com pijamas e com uma mamadeira com suco em mãos.

–Ei, cara era pra você estar dormindo...

–Você também! - acusa ele - Se não me dar grana irei gritar até o papai acordar.

Fecho a cara. Que moleque safado. Tiro do bolso da minha calça uma nota e entrego a ele.

–Foi um prazer negociar com você - diz ele saindo com um sorriso na cara, o sorriso dele é igual o da mamãe.

Tendo ficar brabo com aquele moleque. Mas simplesmente não consigo.

Já a alguns metros da pracinha abandona, vejo Will, se balançando levemente em um balanço, com um cigarro na boca. Já é tarde da noite, não tem ninguém na rua. Está meio frio, e com algumas estrelas no céu. Aproximo-me dele e sento em um balanço ao lado. Ele olha para mim e sorri, percebo que as pupilas dele estão dilatadas demais.

–Oi Frank.

–Porque me chamou aqui? Na casa do James você disse que nunca mais queria me ver, ou transar comigo - deixo o meu melhor sorriso safado surgir em meus lábios. Will me da um soco no ombro.

–Cala boca! - ele traga o cigarro - Só senti falta de você, eu ando meio sozinho desde que a Sarah começou a surtar. Pego o cigarro da mão dele e trago.

–Você usou o que?

–Tá falando do que Frank?

Olho sério para ele, com uma expressão de quem diz '' Você acha que eu sou idiota?''.

–Coca, fiz uma linha, não quero dormir hoje.

Ele olha para baixo. E vejo uma fina lágrima correr pelo rosto dele.

–Porque está chorando?

–Porque está tudo fudido, tudo errado, tudo separado - ele pega o cigarro na minha mão e traga - Sarah afastada de todos, Lea com aquele idiota do James, e eu e você... É errado, sei que essa nossa relação não acabará bem.

No fundo eu concordo com Will, mas quero continuar mesmo assim.

–Se você quiser nós paramos por aqui - digo, morrendo de medo que ele concorde.

–Esse é o problema, eu não quero parar.

Quando ouço isso, chego perto dele, agarro a nuca, e o beijo, sentindo suas bochechas molhadas por lágrimas. Quando nos separamos, eu olho para aquele par de olhos marejados.

–Todo vai dar certo. Eu irei falar com Sarah.

–Vai?

–Sim, eu vou - me levanto do balanço - Mas agora eu tenho que ir é tarde, temos escola amanhã.

–Não! Fique aqui comigo! Eu tenho isso... - ele tira do bolso da calça um saquinho com cocaína.

Não é uma má ideia, afinal seria uma ótima ideia, cheirar um pouco e fazer meus trabalhos de madrugada.

–Will, se eu usar com você, você me ajuda?

–Com o que?

–Tenho muitos trabalhos da escola para fazer, você pode ir lá para casa.

–Mas seu pai?

–De manhã antes de ele acordar eu te levo para casa.

–Ok.

Preparamos mais duas linhas, em cima do balanço, e cheiramos. Eu nunca tinha consumido tanto pó de uma vez só, meu coração parecia que iria saltar pela boca. Eu e ele correndo pela rua, como dois loucos. Antes de entrarmos em casa eu o prensei contra a porta, e o beijei. Senti sua boca macia, molhada, seu coração elétrico pelo efeito da cocaína. Parei de beijar ele, mas continuei com minha testa encostada na dele.

–Eu acho que te amo - sussurrei.

Ele sorriu.

–Eu também acho que te amo.

Entramos dentro de casa, tentando não fazer muito barulho, mas era difícil, nós dois estávamos muito elétricos, eu já rangia meus dentes.

Will resolveu começar a fazer os meus dois trabalhos de história, ele se revezava entre pesquisar na internet e livros. Era muito bom ficar o vendo estudando. Eu tentava fazer trabalho de química, mas era difícil, já que me distrai olhando para o Will.

–Eu amo história, acho que farei isso... Sabe estudar, fazer universidade de história... - falou ele, que escrevia rápido, e com os pés inquietos.

–Legal, eu não sei o que farei ainda - tive que me levantar e andar um pouco eu não conseguia ficar parado, havia usado muita cocaína - Esse pó é forte, não consigo parar de me mexer.

–Pega alguma bebida para gente se acalmar.

Desci até a sala, meu pai guardava suas bebidas lá em uma adega, ele só bebia coisas fortes, uísques, conhaques. Peguei um Jack Daniel’s que já estava aberto, eu sabia que ele não daria falta. Subi de volta para meu quarto. E alcancei a garrafa para Will, que no bico mesmo tomou uma pequena quantidade. Ele fez cara feia.

–Porra isso queima!

–Sim é muito forte, quero só ver como iremos para a escola amanhã.

–A cocaína não vai deixar a gente dormir, vamos virar a noite.

Depois de já bêbados, resolvemos dar mais uma cheirada, só para garantir que não íamos dormir, demos uns amassos, que logo levaram ao sexo. Mas tivemos que nós controlar, para não fazer barulho. As quatro da madrugada resolvi, levar Will para casa, pois logo meu pai acordaria. Eu sentia o efeito da cocaína ir embora, e dar lugar a tontura do álcool. Eu e Will andávamos de mãos dadas, na rua, que estava deserta e escura. Ele já estava quieto há algum tempo, olhando para o céu.

–Will?

–Sim... - ele olhou para mim, ele estava muito branco, suando, com manchas vermelhas em volta dos olhos.

–Meu deus, você está bem?!

–Sim, não se preocupe eu sempre fico assim, o que você queria me dizer?

Fiquei meio desconfortável em ver ele daquele jeito, mas resolvi prosseguir.

–Eu quero... quero... - comecei a gaguejar estava muito nervoso.

–Quer o que? - ele parou de andar e me encarou.

–Namorar com você.

Os olhos dele brilharam, ele sorriu. Mas o sorriso desapareceu, e uma expressão de dor surgiu em seu rosto. Ele deixou-se cair no chão. Foi tão rápido. Ajoelhei-me ao seu lado. Ele começou a ter dificuldades para respirar.

–Merda! O que está acontecendo?! Wil?! Will?! - eu estava desesperado, aquela situação era irreal, e tudo pirou mais ainda, quando ele fechou os olhos.

***

Desde que perdi minha mãe, nunca achei que me sentiria assim de novo, com tanto medo, tanta dor, tristeza. Will tinha tido uma overdose. Desde que chegamos ao pronto-socorro ninguém tinha me dado noticias de nada, se ele estava bem, se estava vivo. E o pior de tudo era que eu me sentia, culpado, eu que tinha o chamado para ir lá para casa, eu que pedi ajuda. Naquele momento eu jurei por tudo o que era mais sagrado que eu nunca mais usaria cocaína e nem deixaria Will fazer o mesmo. Eu estava ali, há três horas no corredor do pronto socorro. O pronto socorro avisou a mãe de Will que ele estava ali. Em poucos minutos ela estava lá desesperada. Quando me viu, me xingou e gritou, disse que era culpa minha e me bateu, me mandando embora diversas vezes, mas eu não fui.

–Frank? - ouço alguém me chamar.

Olho para frente e vejo Carl e Sarah.

Levanto-me rapidamente e abraço meu amigo Carl, e sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

–Cara foi horrível... - falei abraçando Carl como se o mundo fosse acabar.

–Calma parceiro, calma.... - ele batia em minhas costas.

Parei de abraçar Carl e olhei para Sarah, ela parecia muito preocupada, mas estava séria.

–Oi Sarah.

–Oi Frank - ela olhou para o chão mordendo o lábio com força, ela parecia nitidamente irritada.

Percebendo isso eu falei:

–Tem algo que você queira falar?

O rosto dela começou a ficar vermelho.

–Sim tem! Você devia ter cuidado dele! Você sabe que o Will é irresponsável, cabeça de vento, não devia ter o deixado ter usado tanto! - falou ela ríspida.

Senti uma indignação sem fim me possuir, empurrei Sarah, que quase caiu no chão sentada.

–Cale essa boca de merda garota!

Carl segurou meu braço.

–Foi você que fudeu com tudo Sarah! Sua hipócrita foi você que parou de falar com todos nós por um motivo idiota! Foi você que nós levou para a casa do James, e ficou doidona e deu para o Carl! - parei para respirar, todos no pronto socorro nos olhavam - Ninguém tem culpa se você ama o Carl e não admite isso! Lide com isso sua vaca! Enquanto você estava revoltadinha com o mundo, Will estava sozinho, foi por isso que ele usou coca!

Sai, sem olhar para Carl ou Sarah. Quando eu estava quase na porta de saída uma enfermeira me chamou.

–Ei rapaz! Seu amigo acordou, ele quer te ver! - gritou ela.

Rapidamente segui a enfermeira até o quarto do Will, lá estava ele já acordado deitado na cama, com sua mãe do lado.

A mãe de Will levantou-se e abriu a boca para me atacar.

–Mãe já chega. Já disse que se tem alguém culpado, esse alguém sou eu - a voz de Will era meio fraca, cansada - Agora nos deixe sozinhos.

Ela saiu do quarto com um olhar cheio de raiva para mim. Aproximei-me da cama de Will, me abaixei e o beijei na bochecha.

–Você esta bem?

–Sim, e respondendo sua pergunta, eu quero namorar com você! - respondeu ele, ignorando minha pergunta.

Sei que lembrarei daquele momento para sempre.

***

Will saiu do hospital dois dias depois, eu consegui entregar meus trabalhos a tempo e recuperar minhas notas.

Apenas duas coisas me incomodavam agora. Uma viagem que Lea estava organizando com James, uma viagem só de ''amigos''. Eu achei uma ideia horrível nosso grupo estava tão fragmentado, mas Will me implorou para ir, ele queria muito que todos se acertassem nesta viagem. O que seria difícil. E a outra coisa, era contar para meu pai, sobre Will, será que ele entenderia? Ele era tão estourado, raivoso, mas eu teria que fazer isso. E o dia tinha chegado.

Era sexta-feira, um dia antes da tal viagem. Meu pai arrumava um motor de um fusca. Ele me pedia as ferramentas e eu alcançava.

–Pai?

–Que foi garoto? - perguntou ele, com o mesmo tom ríspido dele, o que era normal já.

–O que você acha do Will?

Ele olhou para mim curioso, como se já desconfiasse de algo.

–O seu amigo veadinho? Não tenho nada contra ele, ele parece ser um garoto legal.

–Hum... E se eu dissesse que eu e ele... - eu não consegui terminar a frase.

Meu pai soltou as ferramentas no chão e me olhou sério.

–Frank você é veado?

–Não pai! Bem... Eu acho que sou bissexual, gosto de garotas também.

Meu pai deu uma gargalhada debochada, e começou a tossir descontroladamente, efeito dos cigarros que ele tanto fumava.

–Olha garoto, eu já desconfiava que tu andava fudendo com esse garoto ai, eu não tenho nada a ver com sua vida, quer ser veado, ou gilete que corta pelos dois lados que seja.

Ele me abraçou e eu me senti surpreso, não imaginava uma reação tão estranha;

–Você é um bom garoto, bom filho, faz da tua vida o que quiser desde que não ande se agarrando com Will na frente do teu irmão está tudo bem.

Ele parou de me abraçar e voltou a trabalhar. Eu fiquei surpreso, boquiaberto. Não imagina uma reação assim.

–Ei seu lerdo, me alcance à chave de fenda! - gritou ele.

Alcancei a chave de fenada com um sorriso no rosto. Esse era o jeito do meu pai, durão, boca suja, mas um bom cara, com um caráter impecável.

As coisas pareciam estar bem, pelo menos por enquanto.