Siren

Cap. 1 : Desconhecido


Serena :

Voltei pra república correndo com minhas sandálias nas mãos e os cabelos dançando no rítmo do vento,o barulho das ondas era quase ensurdecedor. Cheguei na república que ficava apenas a alguns metros da praia,cheguei na porta que estava entre aberta e toquei a maçaneta a empurrando. Lá dentro tudo se mantinha no mais perfeito silêncio. Caminhei até Catarina que estava na recepção. Ela estava mantendo os olhos pregados na revista de moda,até que notou minha presença.

_Garota ! que diabos se passa com você ? - Gritou ela socando a revista contra o balcão violentamente.- Eu liguei no seu celular várias vezes,e nada ! - Seu tom continuava alto.

_Catarina calma ! Assim vai acabar me deixando surda ! - Falei no mesmo tom que o dela.

Ela deu a volta no balcão e me abraçou protetoramente.

_Tem noção de como eu fiquei preoculpada com você,sua cabeça dura ?! - Disse ela ainda com os braços envoltos no meu pescoço.

Devo dizer que desde que contei a ela sobre meu terrível segredo,ela me trata como se fosse minha mãe,mesmo sendo apenas dois anos mais velha que eu. Sem saber que me arrependo todos os dias que acordo,ao pensar que além da minha vida ter se transformado nesse inferno,acabei fazendo com que a vida de Cat virasse do avesso junto com a minha,junto com tudo isso ainda vinham as dores de cabeça constantes,por conta da minha telepatia,adquirida junto com meus poderes de sereia,sem contar que eu corría um sério risco de ser pega ou flagrada nadando semi nua pela praia.

Como se já não bastasse acabei a deixando complexada com isso. Mais tento ser o mais sutíl possível,nas minhas saídas a meia noite,em que toda lua cheia tenho que correr pra praia e me jogar no mar. Voltando apenas no dia seguinte,por incrível que possa parecer não lembro de nada do que faço quando estou em minha fase sereia.Enfím,não tem sido fácil pra mim conviver com esse lado humana e peixe. Já me acostumei com o fato de ter uma calda e escamas nos braços e nas costas,toda lua cheia. Mais o que me aflinge não é isso,e sim o fato de que toda sereia assim como nos contos e lendas tem seu lado mal,será ? será que eu também tinha esse lado macabro,e ele não tivesse se manifestado ?. Não sei mais espero que nunca apareça. Que continue oculto.

Cat se afastou e voltou pro balcão.

_Vê se da próxima vez me avisa e leva esse museu que você chama de celular ! - Ordenou ela.

_Ok ! - Levantei as mãos num sinal de rendição._Alguma novidade ?

_Sua mãe ligou ! - Disse ela com descaso.

_O que ela quer ? - Bufei com ar de frustração.

_Como sempre te enfernizar a vida ! - Cat se encomodou com aquilo,voltando a se levantar.

_Porra,será que ela só se lembra de você quando quer dinheiro ?

Outro fato de minha vida desestruturada,minha mãe,ou pior meu problema maternal. Eu nunca me dei com minha mãe desde que meu pai morreu misteriosamente,ela nunca se importou comigo ou com ele,sempre vivia no shopping torrando o dinheiro que ele suava pra conquistar,até o maldito dia em que descobrímos de uma maneira nada conveniente que ela tinha um amante,e o pior,estava o sustentando com o dinheiro do meu pai. Foi nesse dia que meu pai desapareceu e dias depois o encontraram morto numa floresta,ninguém sabe até hoje o que aconteceu direito naquela noite,os peritos disseram que seu corpo foi encontado num estado de composição em que o corpo já não pode mais ser indentíficado. Só sei que minha vida com minha mãe passou de insuportável pra infernal,ela passou a beber e eu quase entrei numa profunda depressão. Graças a Cat que era minha amiga já naquela época,e que me acolheu na república que ela havia herdado de seus pais.Enquanto eu me perdia em meus pensamentos,não percebi que alguém batia na porta do lado de fora,enquanto Cat estalava os dedos pra me tirar do transe.

_Já vai...- Falei correndo até a porta,que só estava com a rede de proteção.

Eu abri a porta e me assustei dando um passo pra trás. Um lindo rapaz se escondia por detrás da porta,sua pele pálida contrastava com os raios do sol que batiam em suas roupas escuras,ele aparentava ter lá os 20 anos. Seu cabelo negro que caia perfeitamente no contorno do rosto e seus olhos azuis,igual ao mar que se escondia por detrás de suas costas. Mais o que me chamou mais atenção além de tudo isso,foi o fato de eu não conseguir ler sua mente,normalmente eu conseguiria descrever a vida de uma pessoa apenas só de respirar perto dela,mais com ele estava sendo diferente,o que me deu uma certa paz.

_Olá...- O traço fino de sua boca se abriu.

_O-lá...- Falei tão baixo que foi quase inperceptível.

Ele esticou a mão até mim,e devagar encostei a minha na dele.

_Eu sou Elliot Carter e...

_Prescisa de um quarto ?! - Presumi.

Ele riu,mais um riso sem humor e assentiu em seguida.

_Vai me convidar pra entrar ? - Perguntou ele.

_Ah sim,entre por favor...- Falei meio desajeitada.

Ele seguiu pra dentro da república e olhou em volta,de uma forma estranha,como se estivesse procurando por algo.

_Quem é Serena ? - Perguntou Cat se levantando e vindo em nossa direção.

Quando seus olhos bateram no belo rapaz de preto,foi como se o caçador acabara de encontar sua presa vulnerável.

_Olá..- Disse ela com certa malícia.O rapaz percorreu os olhos por toda a sala,até voltá-los para Catarina.

_Você é dona daqui ? - Seu tom era frio e direto.

_Sim !

Ele enfiou a mão no bolso da grande jaqueta de couro preto que vestira,e retirou dela um grande maço de dinheiro o entregando para Cat,que olhou com surpresa.

_Isso paga minha estadía ? - Perguntou o belo rapaz.

_Pro resto da vida....- Suspirou Cat olhando o grande bolo de dinheiro em suas mãos.

_Ótimo ! Ele voltou seus lindos olhos á mim e me encarou por alguns segundos,não sei porque mais todos os pêlos de meu corpo se eriçaram de uma forma assustadora. Quem era aquele rapaz ? O que ele queria ? E porque eu não conseguia ler seus pensamentos ?. Essas perguntas martelavam minha mente.

_Serena,mostre o quarto a nosso mais novo hóspede ! - Ordenou Cat á mim.Assenti sem graça.

_É por aqui ! - Falei apontado o braço pro longo corredor em nossa frente.

Ele seguiu corredor a dentro e eu o segui,dando uma última olhada em Cat,que mais babava sobre a grana.Caminhamos por alguns segundos até ele parar em frente a porta de um quarto.

_Vou querer esse aqui ! - Completou.

_Bom acho que não tem ninguém ai...- Falei esticando o braço pra abrir a porta.

Entrei no quarto e ele logo seguiu atrás de mim. Dando uma longa vistoriada no local. Abri as cortinas espantando a poeira e abri as janelas. Lá fora o sol já estava se pondo.

_Bom pelo menos aqui você vai ter uma ótima vista. - Falei me virando e sorrindo. Afínal um pouco de gentíleza não mata ninguém.

Ele levantou os olhos por sobre meus ombros e sorriu.

_É realmente muito lindo aqui ! - Seu olhar voltou ao meu me fazendo corar ligeiramente.

_Então eu vou indo,se prescisar de alguma coisa é só nos chamar! - Falei rápido demais me apressando pra sair do quarto.

Mais ele me segurou pelo braço me impedindo de fugir. Sua mão pesou sobre meu braço,fazendo com que aquele pequeno pedaço de pele fumegasse.

_Obrigado ! - Seu hálito frio rosçou meu rosto,ele tinha um leve cheiro de lírios com um toque amadeirado. Deus como podia cheirar tão bem ?.

Assenti e sai do quarto fechando a porta.Andei rápidamente pelo corredor,olhando pra trás. Meu coração acelerava a cada passo que eu dava,aquele garoto estava fazendo com que eu me sentisse estranha,como eu nunca havia me sentido antes,o jeito como me olhava me fazia querer fugir. Além de tudo isso eu não conseguia ler seus pensamentos,de uma coisa eu estava certa ele não parecia o que era,será que estava ali pra me fazer algum mal ?,até porque ele não havia trazido malas,apenas a roupa do corpo. Bem,de qualquer froma eu vou ficar atenta.


Cheguei na recepção onde Catarina falava com alguém alterada no celular.

_Já disse pra senhora deixá-la em paz! - Sua voz foi autoritária e fria.

_Mãe ?! - Suspirei correndo pra arrancar o celular das mãos de Cat.

Mais antes que eu pudesse agarrá-lo,Cat percebeu minha aproximação brusca,e desligou o celular o arremessando com toda a força na parede.

_CATARINA ! - Gritei. - Porque você fez isso ?! - Corri pra catar os pedaços de meu celular destroçado no chão.

_Quer saber Serena ?! Foda-se a sua mãe ! - Gritou ela descontrolada. - Ela nunca vai se importar com você,só te procura quando quer dinheiro.

_Você não tem o direito de se meter na minha vida,eu já sou maior de idade e sei cuidar de mim sózinha,entendeu ? - Falei com tanta raiva que achei que sairia espuma pela boca.

Catarina me olhou assustada e se calou instantanêamente.

_Me desculpa..eu não quis gritar com você ! - Falei mais baixo.

Ela saiu batendo a porta com força por trás de si,entrou no carro e saiu em alta velocidade. Bufei com raiva,e me joguei sobre o sofá.

Fechei os olhos e tentei pensar,mais me assustei com a forte presença de alguém.Abrí os olhos e vi Elliot recostado sobre a porta,sem nenhuma expressão no rosto.

_Ah..me desculpe eu não sabia que você estava ai ! - Falei me levantando,passando as mãos sobre o rosto.

_Será ? - Disse ele.

_Como é ?

_Será que não sabia mesmo que eu estava aqui ? - Completou ele com firmeza na voz.

_O quê ? Do que está falando ?

_Esqueça ! - Suspirou ele rindo meio forçado.

De que diabos ele estaria falando ? Será que sabia de meus poderes ? Mais eu nem ao menos o conhecia,ou pelo menos acho que não o conhecia. Ele caminhou até a porta,colocando óculos escuros e saiu. Segui com os olhos ele caminhar até seu carro,um Corvette preto que reluzia sobre a luz do sol.

Rápidamente corrí até o balcão,pegando o telefone e discando o número do celular de Catarina. O porque de eu estar fazendo aquilo ?,e se o cara que pediu um quarto aqui fosse um psícopata e estivesse nos vigiando e depois estivesse indo atrás de Cat pra lhe fazer alguma coisa ruim.eu tremia tanto que mal conseguia discar o número,esperei na linha e nada. Estava desligado,comecei a me preoculpar. Não sei porque mais algo fez com que eu olhasse pro caledário e me lembrasse que aquela noite seria lua cheia,e que dalí a poucas horas eu iria me transformar.