Siren

Cap. 2 : Transformação


Catarina :




Aumentei a velocidade do carro ainda mais. Não planejava voltar pra casa tão cedo. Aliás nem queria mais voltar. Como Serena podia ser tão mesquinha ? Quem ela pensava que era? eu lá querendo ajudá-la pagando uma de otária e ela grita comigo daquele jeito. Mais quer saber ? Eu cansei,cansei de tentar ajudar,cansei de tentar fazer ela entender as coisas,que tudo poderia ficar mais fácil se ela não se isolasse tanto e confiasse mais em mim.

_Droga....- Suspirei socando o volante com força.

Virei na primeira curva que eu havia visto e só então percebi que alguém me seguira. Espera,eu já havia visto aquele carro preto em algum lugar,só não conseguia me lembrar de onde. Tentei firmar mais um pouco a visão sobre o retrovísor mais os vidros negros do carro impediam de enchergar o que quer que fosse. Ou eu estava entendendo errado,ou quem estava me seguindo não queria ser reconhecido.

Acelerei um pouco mais o carro,já com um pouco de medo. Passei um sínal vermelho e entrei por uma rua deserta que eu conhecia e continuei,parando um pouco depois que percebi que o carro tinha parado de me seguir.Encostei na beirada da estrada de poeira,e respirei fundo algumas vezes antes de olhar no relógio,e perceber que já estava anoitecendo,e o pior,hoje era lua cheia. Ou seja,Serena iria se transformar e eu não estava perto pra ajudá-la.Voltei a ligar o carro e voltei pra estrada.

Serena :



Já eram 11 e meia e nada de Catarina,lentamente começei a me desesperar e minha agonia surgiu. Andando de um lado pro outro,já conseguia sentir minha mutação se manifestar. Os pêlos de meu braço sumiram dando lugar a áspereza de escamas,comecei a sentir a necessidade de me jogar na água. Minhas pernas começaram a cosçar,e percebi os dedos dos pés se juntarem uns aos outros. Corri pra porta e a fechei sem me importar em trancar. Saí correndo feito uma louca,atravessando a avenida vazia,chegando na areia. Minhas lágrimas quentes pareciam queimar meu rosto. Quanto mais me aproxímava do mar,sentia que necessitava dele,ouvia vozes lá no fundo me chamarem. Fui me aproxímando mais,assim que a ponta das ondas bateram em meus dedos,senti-me alíviada.

Devagar fui caminhando pra dentro do mar,tirando meu vestido e o jogando na água. Um frio muito forte tomou conta de cada pedaço de meu corpo,o mar estava revolto e o vento assoviava alto. Fechei os olhos e fui caminhando mais pra dentro. A água já estava chegando na altura da cíntura,foi então que começou....De meu braço saíram grandes escâmas,eu já nem me importava com a dor. Minhas unhas ficaram num tom acinzentado e mais compridas,meus punhos se cerraram ligeiramente e senti minhas costas se enrijecer. Minhas pernas se juntaram com força,fazendo com que meus calcanhares se chocassem com violência e em volta delas a grande calda começou a se definir. A correnteza me puxava de uma forma sedutora,minhas roupas íntimas se rasgaram como se fossem meros pedaços de papel se diluindo na água. Meus dentes cerrados,por conta de eu não querer gritar,mais a dor que eu estava sentindo era muito forte,quase insuportável. Minha visão embassou,e passei a enchergar por dentro da água.Me joguei pra dentro d'água indo mar a dentro. Eu nadava com destreza e rápidamente.

Catarina :



Cheguei na república,e corri quase pulando do carro antes mesmo de desligá-lo. Caminhei até a porta vendo que ela estava escancarada,surtei rapidamente,olhei pra avenida mais a frente,onde pude ver o mar bravo,as ondas pareciam rugir e sugar tudo o que estava a sua frente. Atravessei a avenida que estava deserta e cheguei até a praia,de longe pude notar o vestido simples de algodão que Serena vestira. Por um momento fechei os olhos e desejeique tudo aquilo sumisse e não fosse real. Me sentei na calçada vazia e esperei. Não iría sair dalí até ter certeza de que ela retornaria bem.

Serena :




Acordei na praia,com o corpo coberto por alguns grãos da areia molhada,meu corpo estava muito dolorido,levantei devagar e vi meu corpo que estava completamente nu,sob a luz do sol que estava quase se pondo. Meus olhos doiam e eu tentava mantê-los abertos. Olhei em volta agora de pé,e só então percebi que algumas pessoas já circulavam pela calçada.Corrí com as mãos tapando meus seios,até umas pedras que tinham alí por perto e me agaixei atrás delas. Minha pele estava áspera pelo frio que insistia em ficar mais intenso a cada segundo. Baforei em minhas mãos,as esfregando em meus braços,na tentativa de me aquecer. Olhei pra república por entre uma fresta nas pedras e vi Elliot recostado num dos pilares de madeira,fumando. Ele estava sem camisa e sua pele alva contrastava com as tatuagens que tinham espalhadas pelos braços e peito,ele usava uma calça jeans preta um pouco abaixo da linha da cintura.

Eu não havia percebido no primeiro dia em que o vi,por conta das roupas pesadas que ele usava. As tatuagens dele eram estranhas,nos ombros ele continha frases que estavam escritas numa linguá inteligível. E em seu peito a imagem de uma caveira com espadas entrelaçadas no crânio,me arrepiei mais dessa vez sem ser do frio.Mais voltando a situação,que droga!,ele era a última pessoa a quem eu esperava pedir ajuda,naquele momento tão íntimo. Mais eu não tinha saída,teria que recorrer a um desconhecido que de certa forma me assombrava. Procurei por uma pedra mais próxima e a lançei em direção a ele. Elliot se tocou instantaneamente e voltou seu olhar pras pedras. Levantei a mão e acenei pra ele que lançou o cigarro no chão e o esmagou com a sola de sua bota de motoqueiro.

Ele atravessou a avenida,com as mãos enterradas no bolso da frente dos jeans escuros,eu não queria pensar naquilo mais não pude deixar de notar seu belo porte físico,ombros largos e um abdômen definido. Chegando mais perto de onde eu estava,ele descarregou seu olhar em mim,fazendo com que meu corpo se aquesesse.

_O que faz aqui ? - Perguntou-me ele,mais pude notar que seu tom não expressava surpresa e nem espanto.

_Eu presciso que você me ajude ! - Falei baixo,me escondendo mais e ajeiatndo meus longos cabelos desengrenhados.

_Você está nua ? - Sua expressão mudou pra algo mais sério.Asenti sem jeito.

_Vai me ajudar ou não ? - Retruquei,tentando parecer impaciênte.Ele deu um passo pra trás e ergueu a cabeça.

_Vou buscar algo pra cobri-lá. - Disse já se afastando.


Minutos depois,com a pele já roxa do frio,senti a forte presença de Elliot se aproximar,o cheiro de amadeirado que ele exalava era inconfundível.

_Pronto ! Agora vista isso antes que pegue um resfriado! - Disse ele calmo,me entregando sua jaqueta de couro.

_Obrigado !

Estiquei o braço pra pegar a jaqueta e pedi pra que ele se virasse pra que eu pudesse vestí-lá. Enfiei meus braços pelas longas mangas da jaqueta e a abotoei.

_Você não está com frio ? - Perguntei a Elliot,saindo detrás das pedras.

Ele deu de ombros,e começamos a caminhar até a república.
Quando chegamos na porta,e peguei uma chave reserva que Catarina escondia debaixo de um tijolo e abri a porta.

_Mais uma vez,obrigado eu nem sei o que eu faria se você....

_Não precisa me agradeçer ! - Me cortou ele.

_Vou tomar um banho e me trocar e já devolvo sua jaqueta.

_Tudo bem ! - Completou ele tirando outro cigarro de dentro do bolso.


''Não me agradeça ainda''


Uma voz soou em minha mente,aquilo só acontecia quando alguém estava lendo meus pensamentos. Mais quem poderia fazer isso,Elliot ?

Caminhei pelo corredor descalça e vi Cat dormir em sua cama,a porta do quarto estava aberta então a fechei. Segui pro meu quarto,tranquei a porta e tirei a jaqueta de Elliot,não pude resistir o fato de eu desejar muito aspirar o cheiro dele. Encostei o couro em meu rosto e aspirei suavemente o cheiro delícioso de Elliot. Oh Deus o que eu estava fazendo ?.

Rápidamente coloquei a jaqueta sobre a cama e caminhei até a banheira. Liguei a torneira de água quente,e esperei. Alguns minutos depois a água já estava no ponto,devagar repousei meu corpo que estava nitídamente frágil dentro dela,a sensação da água quente em contato com minha pele gélida era muito reconfortante.

Depois de alguns minutos dentro da banheira,meus dedos já estavam levemente enrrugados,sai de dentro dela,me enrolando na toalha. Caminhei até meu armário,peguei minha roupa íntima,um shorts jeans e uma camiseta lisa amarela. Me vesti e tirei um pouco do excesso de água do cabelo,passando a escova de leve nos fios. Depois de pronta,peguei a jaqueta de Elliot de cima da cama e abri a porta do quarto levando um baita susto. Ele estava parado no corredor,usando um dos pés pra se apoiar na parede,fitando o chão.

_A-qui está sua jaqueta ! - Falei baixo lhe entregando.Ele se aproximou de mim,e a pegou.


Um fato sobre Elliot ainda me intrigava,ele não havia feito qualquer pergunta sobre ter me visto nua na praia. Mais porque ? Tenho certeza de que se fosse qualquer outra pessoa,eu já estaria sendo interrogada.Sem dizer nada Elliot se virou bruscamente e tentou se afastar,mais voltou a me olhar quando chamei por ele.

_Elliot....eu..

Ele ficou me olhando de uma forma que fez com que as palavras sumissem da minha mente.