Sin Dolor

Caminé sobre el fuego


Duas semanas depois de ter terminado o meu namoro com Rodrigo, quer dizer, ele terminou comigo por razões justas como vimos antes. Como eu imaginava, ele me deletou da sua vida como se eu não existisse, isso ia além de me bloquear é como se eu não tivesse aparecido na vida dele, tipo uma amnésia forçada ou algo assim. Eu pensei sobre tudo isso. Se sentiria muito sobre. Mas, não! Apesar de ter gostado muito dele, eu já estava ficando cansada daquele relacionamento revelar a verdade ele acabaria uma hora.

Então obrigada Rodrigo, onde quer que você esteja, esqueçam o tom mórbido da frase. Afinal ele não morreu. Eu acho! Mas, como estou morta para ele e a minha vida segue, não é mesmo?

Peguei minha xícara com café, presente da minha avó, era preta com um símbolo do arqueiro do signo de sagitário. Minha avó não era por acaso um das pessoas que mais amo nesse mundo, ela me conhecia bem e sabia me presentear. Era minha xícara favorita e eu sou viciada em café.

Fazia dois dias que eu acabei o meu trabalho o que me trouxe ao vilarejo, era uma sessão de fotos que promovia o turismo para Lagoa Azul, sairia na edição próxima edição de outubro da revista Destinos. Foi um trabalho gostoso de fazer, eu andei por muitos lugares que há muitos anos não voltava, revi muitas pessoas. O boato do meu término de namoro não foi muito interessante para os fofoqueiros, porque poucos falaram sobre e muitos já me consideram a nova namorada de Paco. Algo que me dá incomodo, pelas proporções que se pode tomar.

Todavia, Paco não é alguém em que eu quero pensar agora, estamos saindo curtindo e apesar da insistência dele de fazer programas mais família. Como jantar na casa de seus pais, estamos nos curtindo. Ele não é o foco da minha preocupação.

Na verdade, existe algo aqui dentro, que me angustia e me faz querer fugir, dá para entender? Vocês já sentiram isso? Tudo isso parti de quando eu penso no que quero fazer da minha vida, quando me vejo sem rumo ou muito estabilizada, eu mudo. E é isso, vou pulando de galho em galho até encontrar o meu lugar. E qual o meu lugar agora? Não sei.

É sobre isso que ando pensando, talvez seja hora de fazer minha trouxa e cair na estrada com a minha preta. Talvez! Por que isso não me dá alívio? O que será que preciso fazer para ficar bem? Esses questionamentos me acompanhavam tinha algum tempo.

:- Como está linda, minha neta! – Vi minha vó entrando na cozinha e tratei de mudar de expressão para algo mais leve.

:- Obrigada, a senhora também está linda. – Olhei o seu vestido florido e vi ela deixando sacolas de compras na mesa. Tinha acabado de chegar e eu nem percebi sua entrada.

Dolores Maria Concepción, era uma das minhas referências de como ser mulher, de feminilidade especialmente desde quando minha mãe morreu há dez anos atrás ela que cuidou de mim. Minha maior incentivadora, fonte de amor estragado, era isso que ela fazia comigo, estragar.

Lembro de quando eu entrei na fase da adolescência e o rock começou a influenciar minha vida, especialmente em minhas roupas. Apesar do estilo largado ás vezes como ela considerava, me apoiou e começou a ler mais sobre o estilo rocker, concordava que preto invés de triste era elegante diversas vezes. Era divertido sair com ela para comprar roupas e lhe explicar sobre as tendências de moda.

Vi o seu sorriso ao ver que eu usava uma bota de salto alto fino, não tinha como só usar coturno, na minha pequena extensão de um metro e cinquenta e sete precisava de saltos altos. Vestia também uma calça legg preta e uma camisa grande de Janis Joplin customizada usava como vestido. Mais uma vez usei minha bandana vermelha para amarrar meu cabelo, estava maquiada então Dolores estava explodindo de felicidade ao me ver assim.

Vi ela guardando as compras de mercado em seu armário e bebi meu café quieta. De repente ela parou e ficou me encarando.

:- Por que está preocupada? – Ela me perguntou repentinamente e eu fiquei assustada. Estava escrito na minha testa? Parei até de beber meu café.

Ela é sensitiva ou tem alguma paranormalidade envolvida, quando eu era uma pequena criança acreditava fielmente que era uma bruxa. O que para completar minha fantasia ela nunca negou. Talvez seja amizade dela com uma senhora de origem indígena que por acaso mora do outro lado da rua, o grande fato era que minha avó sabia quando havia algo errado comigo.

Eu entendo que a convivência pode influenciar muito nessa questão, mas nem sempre pessoas que nos amam vão saber quando estamos mentindo ou não, Toni, por exemplo, não tem tato para isso. Ou eu aprendi a mentir bem, porém a dona Dolores eu nunca consegui enganar, ela parece ler minha alma.

:- Pensei que gostaria de um pouco mais de café. – Falei saindo dos meus devaneios olhando o pequeno bule.

Olhei então para ela que agora preparava numa xícara vazia a sua bebida quente. Ela colocou água para esquentar e meio a tudo dei um sorriso de lado, porque ela detestava café, faz parte do time que toma chá, mas ela mantinha o café em casa por saber que eu gosto. Ah, eu amo tanto essa senhorinha aqui, por mais que me assuste com o sexto sentido dela.

:- Ás vezes ainda acredito que você é uma bruxa, assim como quando eu era uma criança. – Eu coloquei na minha xícara um pouco de açúcar e não consegui deixar de implicar com ela para disfarçar um pouco, momentaneamente.

Ela soltou um riso e levantou a sobrancelha deixando esse mistério no ar, como sempre era isso o que me assombrava na infância o fato dela não negar e sequer admitir.

:- Não precisa ser bruxa para pensar que você tomando café essa hora antes do almoço e ficar no seu quarto escutando Janis e não no estúdio trabalhando em algo, é porque algo está te preocupando. Esta difícil encontrar um novo rumo?

:- Depois de acabar meu último trabalho fotográfico eu não tenho outro projeto e preciso de algo, vó. Tenho que me reorganizar e pensar em um novo, não consigo ter uma ideia boa do que fazer. – Admiti parte dos meus pensamentos.

:- Não vai ter uma boa ideia, escondida aqui dentro. Precisa ver a luz do dia, até mesmo moças como você precisam. - Ela colocou o saquinho do seu chá na sua xícara e colocou a água quente, dava para ver a fumaça saindo, do jeito que ela gostava.

:- Moças como eu? – Perguntei curiosa.

:- Que usam preto! – Ela sorriu e me fez rir.

Nesse momento vi meu celular acender indicando uma notificação, o peguei e tinha uma mensagem de Paco perguntando o que eu faria hoje. Parei para pensar que o vejo quase todos os dias era mais do que acontecia com Rodrigo. Deixei o celular de lado e esse ato não passou despercebido por Dona Dolores que agora bebia o seu chá calada. Voltei a pegar meu celular.

:- Não sei, dependo dos planos maquiavélicos de Dona Dolores! - Eu apertei o botão para lhe responder por áudio mesmo.

:- Temos hoje o jantar em família. Você pode me ajudar a preparar tudo mais tarde e sair com seu namoradinho depois. - Ela comentou me vendo andar pela cozinha para ir me sentar em frente ao balcão americano, na sua frente, eu olhei para ela para confirmar a expressão de provocação, quando ela usava o diminuitivo especialmente quanto aos meus relacionamentos, era um sinal de alerta.

Dona Dolores não gostava da minha relação com Paco, para ela começou de um jeito errado, por ser ter sido uma traição, sendo assim terminaria errado, é uma teoria sua. O que ela poderia fazer para me provocar, ela faria. Mas, em vez de pensar nisso, lembrei que tinha esquecido o jantar em família marcado desde semana passada, o lado bom disso é que teríamos boa comida e farta e bem eu não sei vocês, mas eu adoro comer! O lado ruim é que meu pai estaria presente e não me dou bem com ele desde que deixei de ser a criança que o obedecia fielmente e passei a me rebelar. Coisas de adolescente!

:- Hoje é o dia do jantar que comentei com você, marcamos algo depois. – Respondi Paco por áudio olhando para o chão. Depois disso deixei o Wi-Fi desligado e o celular em modo avião, não queria conversar com mais ninguém on-line. Nem dar a chance dele auto se convidar para o jantar, sabia que não seria uma boa ideia.

:- Estou pronta para que me use, Dona Dolores! – Eu também provoquei fazendo um gesto de ser rendida, arrancando dela um sorriso.

:- Eu começo a preparar o jantar no fim da tarde, sabe como seu pai é rígido com horários. Além do mais Antônio só chega depois das cinco da tarde.

:- Já que só mais tarde vou ser sua ajudante, tenho uma condição! – Terminei o meu café e deixei a xícara no balcão de lado.

:- Qual seria?

:- Vamos ouvir Janis Joplin enquanto cozinhamos. – Sugeri para ver como ela reagiria. – Como uma garrafa de vinho português do Porto, um de seus favoritos que trouxe para a minha chegada aqui.

:- Eu aceito. – Ela sorriu para mim. E foi correspondida talvez tenha ganhado pontos por conta do vinho. – Dul o que acha de ficar mais tempo aqui? – Ela perguntou mudando de assunto.

:- Como assim vó?

:- Eu não quero que vá embora, quando você parte para essas viagens suas, demora muito para voltar a me ver. Fica mais um tempo aqui comigo, com Toni, com a família. Eu tenho uma proposta para você!

Ela tocou num dos meus pontos fracos, que era a falta que eles me faziam quando eu viajava.

:- Me ajudar com a vindima que vai acontecer daqui alguns dias, vamos cedo para a fazenda, onde estão os vinhedos e fazemos a colheita das uvas. – Minha avó falava como viticultora, com a minha carreira de guitarrista consegui dar um dos maiores presentes a minha vó, o dinheiro para financiar o seu sonho de produzir vinhos. – Dul, sei que está num momento instável, mas precisa fincar raízes para depois poder voar, minha menina.

Como é que eu posso negar um pedido desses? Havia um brilho estranho no olhar dela, ela poderia ser sensitiva, só que eu também era.

:- O que passa, vó? – Perguntei olhando diretamente nos olhos dela.

:- Nada. Só quero realmente que fique mais conosco, eu já te vi partir em tantas viagens pelo mundo tentando buscar a si mesma e quantas vezes você me disse que se encontrou? Várias. Mas, eu tenho o pressentimento que dessa vez tem que ser diferente. – Suas palavras foram direto para o fundo do meu coração e me fez lembrar das vezes em que nos despedimos em muitos aeroportos. – Além do mais, não sei quanto tempo mais tenho aqui.

:- Dolores! – Eu a repreendi. – Não comece com esse papo de morte, ok!

:- Se não quer me ouvir, tudo bem, mas vamos encarar uma realidade minha neta. Eu já tenho mais de oitenta anos, meus ossos e vista já não são como antes estou mais perto do fim da minha vida, ainda que eu tenha um corpo de dar inveja a muitas moças jovens por aí. – Ela colocou uma mão na cintura e me fez rir apesar do assunto desconfortável. – Não comece a ficar paranoica, eu não estou doente nem nada do tipo, mas posso morrer e por mais que tenhamos uma vida inteira juntas de lembranças lindas, quero cultivar lembranças novas. Algo aqui dentro do meu coração me diz que tem que ficar mais tempo aqui. – Ela fechou os olhos e percebi que ela falava tão sério agora porque estava sendo muito sincera comigo.

Eu sai da cadeira que eu estava e fui até ela para tocar seu rosto com minhas duas mãos e sorrir ao dizer que ficaria.

:- Eu vou ficar, não porque está fazendo esse drama todo.- Zombei dela o que fez ela sorrir. – E sim porque eu te amo tanto que não sei como cabe tanto sentimento aqui dentro. – E lhe beijei o rosto.

:- Eu também te amo! E quem faz drama é a senhora sua vó. – Ela riu me dando língua. E eu ri ao me afastar dela. – Agora vá para o seu quarto só quero te ver quando fomos preparar o jantar.

E eu fiz o que ela pediu apesar de que iríamos almoçarmos juntas, incrível como ela sabia o que me dizer quando eu realmente merecia escutar. As horas passaram muito rápido quando me dei conta estava terminando de arrumar a mesa e vó Dolores estava terminando de fazer a sobremesa.

Vi da entrada da cozinha ela cantarolando alguma música da Amy Winehouse de quem ela gostava muito e eu sorri por lembrar que tivemos um final de tarde delicioso cozinhando juntas e fofocando, vez o outra parávamos para tomar vinho ou cantarolar juntas as músicas que ambientavam a cozinha. Ela tinha razão, eu tinha que aproveitar mais o tempo que essa mulher tinha por aqui em vida.

:- Queridas, cheguei! – Escutamos Toni gritar o bordão como o Dino, da família dinossauro.

:- Meu amor, que bom que você chegou, vá tomar banho e se aprontar que logo mais vamos jantar. – Dolores falou para ele que chegava na cozinha.

:- Fez minha lasanha vegetariana, vó? Eu venho pensando nela desde quando acordei. – Ele mordeu o lábio e eu dei risada.

:- Eu fiz. – Respondi a ele assim que ele se aproximou e me deu um beijo de cumprimento. Toni era um menino carinhoso, mas comigo e com nossa vó, ele era em dobro. Dolores por ser quem ela é, e eu por viver longe por muito tempo, então quando estou junto a ele, costuma me encher de muito carinho e isso é algo que eu não recuso.

:- A sua até que dá para comer. – Ele me olhou desdenhando e eu lhe dei um soco fraco no braço que agora era maior que o meu. Aliás, já foi o tempo em que ele era menor que eu.

Antônio, ou melhor dizendo Toni, era o meu irmão caçula. Depois que nossa mãe morreu e senhor Paolo se casou novamente ele passou a morar com nossa vó, afinal ele era outro que não se dava bem com nosso pai. Lembro dele pequeno tentando me acompanhar, eu o ensinei a andar de bicicleta, a jogar futebol ou tentar já que nem eu e nem ele éramos bons nesse esporte. Ele gostava mesmo era de vôlei, ficou alto o suficiente para ser excelente nisso. Ele esta na faculdade, estudando sobre Administração, é quem ajuda vó Dolores em seu negócio, para falar verdade é ele quem entende de números e controla o dinheiro.

Eu sinto por perder algumas fases importantes dele, depois que fiz dezoito anos e comecei a viajar, apesar de sempre mantermos contato. Eu não estava presente em muitos momentos que foram importantes dele, algo que ele nunca me cobrou, apenas me acolhia e entendia que eu também pertenço ao mundo. Ele me dizia quando pequeno que logo ficaria grande e viveria viajando comigo, algo que realizou diversas vezes, mas Toni precisa de pés no chão. É um homem totalmente família, não se vê longe por muito tempo de Lagoa Azul. Olhei para ele que estava abraçado comigo de lado enquanto conversava com nossa vó e fico admirada com a beleza dele.

Não quero dizer apenas a física como a interior, tinha os olhos castanhos claros e cílios grandes que eu tinha inveja quando mais nova. O seu cabelo era cacheado e grande loiro natural, eu adorava quando ele prendia e fazia um pequeno rabo de cavalo ou um coque, adorava bagunçar eles também. Ele ficou bem mais alto que eu, forte por malhar e também praticar Yôga. Ainda bem que graças a essa pessoa que vos fala, gosta de rock. Ou seja, Toni é maravilhoso, só tinha o defeito de ser capricorniano, mas ninguém é perfeito, se lembram?

:- Bom, eu vou indo tomar o meu banho e me aprontar porque sou a mais rápida da minha família. – Eu comentei alto me desprendendo de Toni e indo para o meu quarto.

Só escutei os risos altos deles zombando de mim. Afinal eu demorava muito para me arrumar para qualquer compromisso, claro que isso dependia de quem eu veria e para que. Contrariando eles, realmente fui a primeira a ficar pronta. Acertei os últimos detalhes do jantar e fui para a janela olhar a movimentação da rua, vi o carro do meu pai estacionar ao lado da minha preta e suspirei.

Aquela poderia ser uma longa noite.

Vó Dolores foi receber os dois convidados, ela sempre fez questão de abrir a porta nessas ocasiões. Ao olhar Toni percebi que tanto eu quanto ele não íamos ser contra isso. Nós tínhamos um código entre nós dois, desde que ele passou a morar com a vó Dolores, seja gentil e deixe Paolo ter a razão assim ficará numa zona segura onde não estragará as reuniões em família. O que acontece é que Toni é muito melhor nisso do que eu, afinal nosso pai pega menos no pé dele por ser homem, por ele viver aqui. Agora eu? O que posso dizer, eu geralmente caio nas provocações do senhor Paolo, vulgo meu pai.

Ele chegou junto a Julia, sua esposa há nove anos, ela era como dizem aqui no vilarejo, uma flor de pessoa, delicada. Gentil, sempre me dei muito bem com ela. Logo ela veio me cumprimentar e eu a recebi com um sorriso largo na boca.

Logo ao seu lado estava meu pai ele veio me cumprimentar com um beijo na bochecha, eu já abri os braços e o abracei forte porque fazia tempo em que não nos víamos. Vi minha vó sorrir pra mim. Feliz por me ver facilitando. Calma, dona Dolores, também não é bem assim, não fico arrumando briga e eu amo meu pai, do meu jeito. Um torto jeito.

Nos sentamos em volta da mesa e começamos a comer, estava um clima agradável, mas eu não conseguia relaxar completamente, ainda mais com meu pai sentado a minha frente comendo calado, participava pouco das conversas que partiam da vó Dolores e de Julia.

:- Eu estava hoje preparando esse jantar com Dulce e andei conversando com ela sobre um assunto importante. – vó Dolores olhou na minha direção e piscou e eu dei um sorriso já sabendo aonde ela chegaria e sorri. – Eu penso sobre isso tem algum tempo e quero comunicar para vocês uma decisão que tomei.

Todos tinham parado de comer para prestar atenção nela.

:- Eu pretendo me mudar para a fazenda e ficar mais perto do meu negócio, das minhas uvas. Então eu decidir dar essa casa para alguém que vai cuidar muito bem dela, senão vou puxar a orelha e dar umas boas palmadas.

Toni riu, mas estava olhando para mim. Eu tive vontade de rir, porque ele estava enganado no que estava concluindo precipitadamente.

:- Vou passar essa casa para o seu nome, Toni. – Ele que estava sorrindo ficou sério repentinamente ao processar o que nossa vó disse e foi a minha vez de rir. Por mais que eu e a vó Dolores tivéssemos uma relação profunda e linda, ela também tinha uma relação linda com Toni, ainda mais ele por viver com ela todos os dias.

:- Mas, não pense que vai se livrar de mim. Maninho, eu continuo morando aqui com você! – Sorri para ele.

:- Não posso acreditar, vó. – Ele abraçou ela e lhe deu um beijo.

:- Você mereceu por me aturar todo esse tempo. Agora é a vez de Dulce me aguentar na fazenda. – Ela sorriu para mim.

:- Que notícia boa, não é, Paolo? – Julia comentou contente e por estar do lado de Toni lhe abraçou.

Vi meu pai, concordar com a cabeça enquanto terminava de comer. Ele colocou o garfo no prato e me encarou diretamente e senti imediatamente meu estômago embrulhar.

:- Nada mais justo, dar essa casa para alguém que sempre esteve do lado da família, nos momentos bons e nos ruins. Você é merecedor, meu filho. – Ele falou para Toni, mas foi me alfinetando.

Poderia ter ficado calada, mas não me aguentei.

:- Realmente ele merece mesmo. – concordei.

:- Ao contrário de você, ele tem estabilidade, só falta ter uma namorada e uma família para ser o meu orgulho completo. – Após ele falar isso o clima mudou na mesa, como se nuvens negras invadissem a casa e despencasse sobre nossas cabeças. Ele conseguiu estragar meu jantar.

:- Então quer dizer que eu não tenho estabilidade? – perguntei para ele. Senti minha vó colocando a mão no meu ombro, mas nem isso seria capaz de me fazer acalmar ou parar.

:- Não, você tem quase trinta anos, não tem marido, não tem filhos, não tem trabalho. Vive viajando por aí, mal vê sua família, vive em festas sabe-se lá o que faz ou usa nesses lugares.

:- O que você está querendo dizer? – Eu bufei antes de perguntar.

:- Não seja injusto, Paolo, não fale assim com ela! – Vó Dolores foi mais rápida que ele. – Ela sempre mandou para nós parte do dinheiro resultado do seu trabalho, ela sempre que pode viajava para nos ver, para estar nos momentos familiares. Quando não vinha, eu e Toni íamos a encontrar. – Meu pai ficou calado mediante ao que sua mãe disse, ela tinha o tom severo, mas isso não o impediu de continuar.

:- Você é irresponsável! – Ele me encarou e eu senti a raiva me dominar. – Não consegue ter um relacionamento estável com nenhum homem, quando estava com Rodrigo que fazia gosto de ver o troca por outro. Você o traiu, meus amigos estavam comentando, você me dá vergonha por não ter a postura de uma mulher direita, está mais que na hora de assumir que é a ovelha negra dessa família.

Eu estava com raiva, muita raiva, ele sempre tinha que estragar momentos como aquele. Eu repensei sobre estar naquele jantar, eu olhei rapidamente para minha vó Dolores e tentei me desculpar com o olhar. Só que voltei a olhar decidida para o meu pai a não ficar quieta e a falar sem filtros o que viesse a minha cabeça para atacá-lo.

:- Você quer falar de irresponsabilidade? Quantas vezes eu tive que largar um show no meio porque você deixou Toni sozinho em casa e ele estava com pesadelos? Quantas vezes você nos deixou sozinhos enquanto morávamos na capital? Quantas vezes eu te vi se metendo em dívidas por que jogava? Você pode ter mudado em muitos aspectos como parar de jogar, ainda bem porque tem uma mulher incrível do seu lado e seria uma pena ela te largar! Ou até mesmo, se converter e se dedicar a sua religião católica. Agora por ter rezado alguns Pais-Nosso e Ave-Marias foi perdoado? Sendo que continua sendo um falso moralista! – Praticamente cuspi todas essas palavras no rosto dele que ficou calado me encarando. – Eu lamento estragar o jantar de vocês, mas vou me retirar porque eu simplesmente perdi a fome.

Vó Dolores nem me questionou sabia que eu não voltaria aquela mesa, fui até onde eu tinha deixado minhas chaves, peguei minha carteira e celular e sai da casa sem que ninguém me impedisse.

Tinha a raiva ainda fervendo em minhas veias isso duraria por muito tempo se não descarregasse, fiz uma ligação que terminou rapidamente e liguei minha moto, coloquei meu capacete e fui dirigindo o mais rápido que podia, precisava descontar toda a minha raiva em algo.

Cheguei aonde eu queria, era uma loja que vendia alguns produtos como CDs e Dvds, Paco era o dono. Vi que ele estava lá dentro fechando o caixa da loja.

:- Oi. – Ele sorriu quando me viu chegando. – Eu já estou terminando, todo mundo foi embora. Me deixa guardar essas caixas lá nos fundos da loja onde fica o estoque que já saímos para fazer algo.

Eu parei no meio do corredor olhei tudo ao redor, batendo repetidas vezes minha bota no chão, não podia esperar. Fui atrás dele nos fundos da loja, tinha uma sala onde deveria ficar o estoque, o vi colocando as caixas em armários. Assim que ele se levantou eu já estava do seu lado. Ele me olhou primeiramente assustado e depois ficou sem entender já que me disse para esperar na entrada da loja. Não tinha que dar explicações. Lhe puxei a camisa e dei um beijo na boca, exigente e rápido, logo ele me correspondeu, apertando duramente minha cintura e me carregando até uma mesa que tinha ali.

Ele deixou de me beijar para tomar ar depois de pouco tempo, eu coloquei minha mão dentro da sua calça enquanto o encarava, comecei a tocá-lo e movimentar minha mão o pressionando na medida em que eu o queria. Duro.

:- Eu preciso de você agora. – Eu disse o fazendo olhar para mim. Tentando se conter mordendo o lábio quando eu acelerei meus movimentos. - Aqui!

Eu tinha que transar loucamente para esquecer todas as ofensas que tinha escutado aquela noite. Eu tinha que sentir prazer na mesma medida que sentia raiva. Vocês me entendem?

Foi quando meu pai me disse

"Filha, você é a Ovelha Negra da família"

Agora é hora de você assumir

Uh! Uh! E sumir!

Ovelha Negra - Rita Lee

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