Silent Twins

Como tudo começou


As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo. Benjamin Franklin

Como tudo começou

Imagine que estamos a alguns anos atrás, no verão, entre o oitavo e o nono ano. Você esta completamente viciada naquela cantora indie que conheceu a algumas semanas atrás e esta usando a sua blusa cavada nas costas (lembra de quando todo mundo tinha uma?). Enfim, você esta tomando o seu suco de laranja preferido e então vê a cena logo a sua frente, sua visão esta embaçada por causa daquela fumaça que eles espalham em festas. Você estreita seus olhos por cima dos óculos de grau e vê duas garotas loiras discutindo sobre alguma coisa. Elas são bonitinhas - provavelmente mais que você - e então uma delas exalta a voz por cima da música e derruba sua bebida contra a blusa da outra. Você fica surpresa. Você achava que apenas irmãs com grandes diferenças de idades brigavam tanto assim.
Bem pense melhor.
Annabeth Chase segurou o copo, agora vazio, entre os dedos enquanto sorria para a garota loura a sua frente com a blusa branca manchada de vermelho.
— Você ficou maluca? - April Chase obviamente não estava nem um pouco feliz com sua roupa completamente encharcada.
A música que tocava alto estava um pouco mais baixa e agora, a maioria dos olhares se voltaram para as duas garotas encarando-se no centro.
— So estou dizendo que ate amanhã de manhã a mamãe vai saber de tudo, e você não pode fazer nada a não ser contar tudo pra ela primeiro.
— Se você contar alguma coisa, eu enterro você.
Annabeth apertou os dedos contra o copo de vidro ainda em suas mãos. Seus olhos viraram-se para a saída e seus pés a guiaram para lá passando pelo guarda nada discreto.
— Ai! - April estava logo atrás dela. Os cabelos loiros voavam para trás conforme ela andava e algumas mechas rosa faziam contraste com a blusa branca. - Nossa conversa ainda não acabou!
Annabeth revirou os olhos diminuindo os passos passando pela casa vizinha e logo depois avistando a sua, com a varanda branca iluminada indicando que Atena esperava acordada pelas filhas.
Acabou sim April! - a garota virou-se para a irmã exaltando a voz. Seus olhos se encontraram apenas por um breve segundo antes de April se abaixar pegando uma pedra em meio aos arbustos.
Annabeth revirou os olhos virando-se de volta a varanda. Como era de se esperar Atena a esperava com a expressão ameaçadora de sempre o que fez com que seus braço estremecessem.
— Annabeth não dê as costas para mim desse jeito! - a garota deu mais alguns passos mantendo os olhos no rosto de sua mãe, que de repente transmitiu certo sinal de horror. - Droga Annie, eu disse pra parar!
Annabeth sentiu a pancada bater contra alguma parte de sua cabeça fazendo-a parar de respirar por um breve segundo antes de suas pernas perderem o equilíbrio fazendo com que seu corpo batesse contra o chão.
A pedra manchada de sangue caiu ao lado do corpo de Annabeth e um breve sinal de remorso abaixou-se no rosto de April ainda que ela estivesse satisfeita com o resultado. Atena correu desesperada para fora, com o intuito de saber qual de suas filhas matara a outra. Annabeth não estava morta. April sabia muito bem o que fazia. Mas sua irmã não.

Silent Twins

Era uma vez duas irmãs. Uma era a cópia espelhada da outra.
Era uma vez uma troca.
Era uma vez...
Annabeth Chase olhou para todos tentando não vomitar. Ao seu redor pessoas dançavam, bebiam e se drogavam como se fosse a melhor coisa que pudessem fazer durante toda a sua vida.
— Toma isso. Não precisa beber é só segurar. - Clarisse La Rue colocou um copo de cerveja nas mãos de Annabeth e se afastou.
Dividindo o espaço pequeno da sala dos La Rue's com pelo menos mais quarenta pessoas, Annabeth segurou firme o copo com a cerveja gelada. A campainha tocou novamente. Com certeza era uma das "reuniões" mais quentes da noite e a garota não parecia estar nem um pouco contente com todos os olhares sobre si novamente.
Vinte minutos depois, Clarisse, a qual também respondia pelo nome de "quase melhor amiga", não tinha voltado. As pessoas estavam dançando ainda mais com a musica explodindo pelos ouvidos e saindo pelas janelas. Pena que Annabeth não estava nem um pouco animada. Olhou com desagrado para o copo -ainda intacto -nas mãos. Algum pervertido esbarrou nela fazendo com que a cerveja espirrasse em seu peito e descesse pelo decote da blusa branca.
— Droga!
— Posso limpar? - o garoto perguntou um pouco entusiasmado fazendo Annabeth virar o rosto em sinal de desprezo. Era Jonh amigo de Will.
— Vai se ferrar - ela respondeu levantando-se do balcão onde estava sentada.
A campainha tocou de novo, fazendo Annabeth virar a cabeça para poder ver de um ângulo melhor. Mais especificamente Will entrando pela porta. Ao seu lado, uma nova garota.
Olhou ao redor pensando em como seria bom se nunca tivesse saido de casa e pudesse estar debaixo de um bom cobertor essa noite. Pela janela de trás, viu Clarisse no quintal e correu para se juntar a ela.
— O que aconteceu? - a garota perguntou vendo a amiga ofegante parada a seu lado.
— Will esta aqui. Com uma garota.
Clarisse revirou os olhos.
— E daí? Devia estar morrendo de felicidade quando terminaram!
— Não quero ter que ver ele se esfregando em outra pessoa.
— Ele já estava se esfregando?
— Ainda não...
— Então relaxa Annie. Gary trouxe margaritas. Tome uma e vai falar com algum cara legal.
Annabeth olhou para Clarisse percebendo que as coisas entre elas tinham mudado muito nos últimos seis meses. Não porque Clarisse -ao contrário dela- adorasse festas e tivesse perdido a virgindade. Ou talvez tivesse sido por justamente isso.
— Ei - Clarisse chamou. - Sei que esta triste por causa de Will, mas não vai ficar triste para sempre. Por isso, precisa relaxar. Vou te trazer uma margarita.
Annabeth observou a amiga ir ate o balcão buscar um copo com uma bebida. Ela fez menção de acompanhá-la mas acabou batendo de frente com alguém fazendo mais um copo virar dentro de sua blusa.
— Ótimo!
— Sinto muito.
Ela reconheceu a voz rouca e baixa de Will mesmo antes de olhar para seu rosto. Seu perfume ainda era o mesmo e Annabeth sentiu falta disso.
— Não foi nada. John já fez isso antes.
Ela viu Will cerrar os punhos.
— Vocês estão juntos?
Annabeth pensou em mentir. Vê-lo sofrer era um ótimo passatempo.
— Não estou com ninguém. - ela disse e começou a se afastar. Ela a segurou pelo cotovelo.
— Você sabe que eu não queria isso.
Annabeth o olhou por alguns segundos antes de se soltar indo ate onde Clarisse estava.
— Tome - ela disse empurrando a margarita contra Annabeth.
Talvez se ela não estivesse no lugar errado e na hora errada nada daquilo teria acontecido.
Duas horas mais tarde quando três policiais entraram no quintal e puseram todos em uma fila ate o portão, Annabeth ainda tinha a mesma margarita nas mãos.
— Vamos lá pessoal - disse um dos guardas - Quando mais cedo andarem mais rapido seus pais aparecerão para buscá-los.
A vida de Annabeth havia se tornado uma merda.


— O que você esta fazendo aqui? - Annabeth perguntou quando seus olhos encontrarão com os da mulher, assim que ela entrou na delegacia - Onde esta o meu pai? Eu chamei o meu pai.
— Seu pai me pediu para vir. E agora vamos para casa.
Annabeth seguiu a mulher para fora para so depois entender o que ela dizia.
— Espera, ir para casa?
— Annie, temos um problema.
— Que tipo de problema?
— Um grande problema.
A vida de Annabeth havia se tornado de fato uma merda. E alguém havia dado a descarga.

Quatro semanas atrás - San Francisco

Reyna Avilla tomou mais um gole de sua cerveja. O relógio ao seu lado marcava 00:09.
— Piper ouviu o que estão dizendo sobre você e o irmão de Thalia Grace? - Rachel E'Dare apontou sua camera para a garota deitada no carpete branco.
Clic.
— Nós não tivemos nada. - Piper Mclean revirou os olhos tentando desviar a atenção para algo menos contrangedor. - Reyna conseguiu entrar para o time de futebol?
— Ainda não.
Clic.
Alguns galhos balançaram lá fora fazendo um barulho assustador.
— Ouviram isso? - Bianca Di Ãngelo perguntou abraçando a si mesma enquanto seus olhos rodeavam por todo o local.
— Meu pais reformaram a casa a alguns meses. Não tem nada de errado - Piper garantiu segura de si depois de olhar para baixo. A casa de árvore dos McLean's era a melhor de San Francisco. Grande, espaçosa e aquecida era como estar em uma mansão pequena e luxuosa.
— Foram so alguns galhos, Bi. - Reyna completou - A unica coisa que pode acontecer é a casa desabar la embaixo e termos uma morte lenta e dolorosa.
— Reyna! - Piper repreendeu segurando a risada.
Clic.
Alguém subiu as escadas batendo na porta com força. As meninas se assustaram, mas Reyna levantou-se abrindo a entrada para que a garota passasse.
— Acho que nos atrasamos um pouco - Silena Beauregard retirou o capuz preto de seus cabelos antes de passar sobre Reyna e cair sobre o carpete ao lado de Piper.
Talvez você tenha se atrasado um pouco— a voz vinha de fora e Reyna estreitou os olhos conseguindo distinguir os cabelos loiros de April na escuridão.
— O que aconteceu? - Bianca perguntou ainda abraçando-se.
Nada aconteceu - April respondeu dando destaque ao nada.
Naquela noite seus cabelos loiros estavam amarrados em um longo rabo de cavalo caindo sobre suas costas. Os olhos azuis estavam envoltos por uma sombra preta e ela usava uma blusa amarela comum. Mas nada ficava comum em April.
Clic.
— Então meninas - April saltou-se sobre o sofá de couro onde Rachel estava sentada. - Eu sei exatamente o que podemos fazer.
Piper levantou-se do lado de Silena pegando pegando algo em sua bolsa.
— Aprendi como hipnotizar as pessoas. Posso hipnotizar todas vocês de uma vez só.
— A hipnose não faz você querer dizer coisas que não quer?
— Isso é bobagem - April revirou os olhos. - Existe alguma coisa que você não queira contar pra gente? - retrucou April - E por que ainda usa essa blusa?
— Meu pai comprou essa blusa para mim. Ela me da sorte. - Piper sorriu constrangida.
— Ela é ridícula! - April gritou - E por que você quer usar algo que o seu pai te deu?
Clic.
Piper olhou para April tentando entender o que ela disse.
— Não é engraçado - Foi Silena quem disse e depois de alguns segundos em silêncio ela levantou-se pegando uma bebida na bolsa de Piper.
— Hipnose?.. - Reyna quebrou o silêncio - Parece entediante.
— Você não sabe nada sobre isso.
O silêncio se instalou novamente. Geralmente vinha acontecendo isso. April dizia alguma coisa e todas elas se calavam fazendo com que o silêncio reinasse por alguns segundos.
— O que disse? - Reyna encarou a garota loira com olhos furiosos. - Por que eu não acho que ninguém queira fazer mais isso.
— Qual é Reyna? Bianca você quer fazer isso certo?
Elas olharam para a garota aconhegada entre as almofadas azuis.
— Na verdade estou morrendo de sono. - ela respondeu desviando o olhar dos olhos tempestuosos de April.
— Tudo bem então. - a garota soltou os cabelos do rabo de cavalo. - Vocês são umas idiotas.
Clic.

Blam!
Reyna acordou com o barulho de chuva batendo contra o teto da casa. Ao seu lado ela viu Piper dormir calmamente.
— Piper - ela chamou se levantando. Seus pés estavam doloridos e sua cabeça doía por conta da cerveja.
— O que esta fazendo? - Piper perguntou olhando ao redor.
— Meninas? - Bianca apertou os olhos focando-os na escuridão. Apenas algumas velas estavam acesas iluminando os rostos ali presentes.
— Onde esta April? - Rachel franziu a testa - E Silena?
— Não sabemos - Reyna respondeu.
Bem nesse momento Silena abriu a porta com violência e entrou de volta na casa. Todas as meninas deram um pulo.
— O que foi? - perguntou ela.
— Onde esta April? - sussurrou Reyna.
Eu não sei. Procurei ela lá fora. Acho que ela foi para casa.
As meninas ficaram em silêncio. Tudo que ouviam eram os galhos de árvores se movendo por trás da janela. Parecia o som de alguém raspando as unhas contra um prato.
— Acho que quero ir pra casa - Bianca falou finalmente.
As meninas saíram. Uma por uma. Bianca primeiro. Seguida por Reyna e Rachel. Piper foi logo atrás e Silena depois de alguns segundos. Estavam abaladas, irritadas. Elas caminharam pelo quintal de Piper e Silena sem saber das coisas horríveis que viriam a acontecer.
Tudo estava posto em movimento.
O que estava prestes a acontecer já tinha começado. Poucas horas depois, uma gêmea desapareceria.