Silent Twins

A mesma história


Garotas fazem de tudo pelos pais.
— Skins

Annabeth Chase fechou os olhos com força assim que avistou a casa. Era maior do que estava acostumada.
— Bem vinda de volta - Atena fingiu entusiasmo. Estava claro que algo tinha acontecido e ela não havia dito o que.
— Por que me trouxe ate aqui? - A garota perguntou ignorando as "boas vindas". Era tudo encenação.
Atena a ignorou. Como sempre fazia quando Annabeth contava uma historia importante. Era uma pratica inteligente quando se tem gêmeos. A mulher estacionou o carro em frente a grande casa de esquina. Annabeth ainda não entendia por que estava ali, e nem o que ela deveria fazer para voltar, pra sua casa.
— Estamos em casa - a mãe falou batendo a porta com força. Annabeth revirou os olhos.
— Você esta em casa. - ela manteve-se no carro. - Não sei por que estou aqui, e se não vai me dizer então acho melhor me levar de volta, Atena.
A mãe virou-se para trás encarando a filha.
— Explicarei, se entrar.

Silent Twins

A casa era ainda mais sofisticada por dentro. Logo que passou pela porta, os olhos de Annabeth se focaram no grande espaço oval que se estendia pelo ambiente. Do lado esquerdo havia um sofá branco e ao seu lado uma pequena mesa de vidro onde estavam colocadas em fileiras fotos de todos os tipos. Annabeth precisou aprimorar a visão para reconhecer a garota loira sorrindo radiante nas fotos. "Uma copia de si mesma" - pensou.
— Onde esta April?
Atena parou um segundo escorando-se no corrimão da enorme escada que dava pra onde Annabeth ainda não sabia.
— Ela já vai chegar.
Annabeth assentiu tentando desviar o contato visual com a mãe.
— Posso me sentar? - ela perguntou indiferente.
— A casa é sua - Atena virou-se novamente subindo a longa escada. Annabeth sentiu-se desconfortável. Aparentemente a expressão "a casa é sua", não servia nessa situação. Seu olhar parou no sofá branco e seus pés institivamente caminharam ate lá.
— Ate que é bom - Havia uma poltrona azul marinho em frente ao sofá. Era a antiga poltrona de sua avó, que tinha certeza que Atena a guardaria como uma regalia.
— Você voltou? - uma voz masculina perguntou atrás dela, obviamente não era a de Atena.
Ela se virou para trás apoiando o braço no sofá. Seus olhos se encontraram com a figura masculina logo a sua frente.
— Quem é você? - perguntou ao garoto. Seus cabelos estavam caindo em seus olhos, encaracolados. Seu físico era o que Annabeth considerava "normal" e de maneira alguma o havia visto em algum outro lugar.
— Esta de brincadeira?! Procuramos você por toda parte! - ele obviamente a ignorou. Annabeth tentou abrir a boca para uma nova pergunta, mas foi interrompida - Faz semanas! E você volta como se nada tivesse acontecido?!
Ele estava exaltado.
— Me desculpa, eu...
— Ah, cala a boca April!
E então tudo ficou nítido. Ela não conhecia o garoto, mas ele a conhecia. Bem, conhecia sua "cópia" mais conhecida como April. Seu olhar desviou do garoto acreditando que se o encarasse demais ele a descobriria.
— Eu fiquei fora algum tempo - tentou disfarçar. April tinha sumido? Ela costumava fazer isso quando mais nova, e Annabeth sempre a encobria. - Faz tanto tempo assim?
— Eu não sei porra! Você não ligou, nem deu notícias e ficamos todos preocupados.
Mas que diabos estava acontecendo? - ela pensou.
— Eu sinto muito - Annabeth levantou-se, virando de costas, observando um porta retrato amarelo.
— Sente muito? - ele gritou - Eu sinto muito! Todos os seus amigos acham que esta com seu pai em San Francisco!
Alguém desceu as escadas batendo os saltos no vidro.
— Que gritaria... - os olhos de Atena gelaram quando ela viu Annabeth e o garoto. De repente, toda a cor de seus lábios secou como um pingo d'água no deserto. - Leo.
— Sabia que ela tinha voltado? - o garoto perguntou - Me diga que não sabia! Droga, mãe!
— Mãe?! - Annabeth perguntou perplexa - Ele te chamou de mãe?!
— O que você tem April?!
Atena recuperou a cor em seus lábios tentando parecer um pouco mais sutil.
— Leo - ela pediu - Pode nos dar um segundo?
— É claro.
Ele sorriu sarcástico como se já estivesse acostumado. Seus olhos passaram por toda a sala antes de passar por Annabeth, tomando o mínimo cuidado de não a tocar.
— O que isso quer dizer?
— Você precisa me escutar, Annie.
Ela usou seu apelido de infância depois de anos sem pronunciá-lo.
— Por que me trouxe aqui? Foi por ela? Ou sentiu saudades?!
Atena balançou a cabeça brevemente.
— April não aparece há dias.
— E daí? - Annabeth cutucou a parede indiferente - Ela some, desde tipo... Sempre. Não tenho nada com isso. Alias não tenho nada com ela desde aquilo.
— Digo que sua irmã que não vê há anos desapareceu e você simplesmente ignora.
— Ainda não entendi porque me trazer aqui. Por acaso sou algum tipo de detetive particular?
— Pode me responder alguma pergunta sem ser sarcástica?
Annabeth revirou os olhos tentando desviar o olhar do de sua mãe.
— Que seja. Onde estávamos mesmo?
Atena se sentou cruzando as pernas esperando que Annabeth fizesse o mesmo.
— Enviei um dos melhores detetives atrás dela. Vão encontrá-la.
A mãe garantiu tentando não transparecer desespero.
— Tudo bem, e onde entro nessa historia?
Atena levantou-se passando por Annabeth ate um arranjo de flores mal arrumado. Ela o ajeitou ate que ficasse simétrico.
— Quero que se passe por ela.
Annabeth se engasgou.
— O que você disse?- Perguntou franzindo a testa. - Você ficou totalmente pirada!
— Annabeth. Sabe que depois que nos mudamos de Nova Jersey tudo se complicou. - Atena não a olhava nos olhos, ao invés disso batia os dedos finos contra a textura de madeira - Quando viemos para cá tudo ficou melhor. Nossa casa, nossa família. Eu me casei Annie - ela sibilou a aliança para a garota - Mas como em qualquer cidade pequena, as pessoas se preocupam com a vida de seus vizinhos e... E quando April desaparecia eu tinha que fazer de tudo para que ninguém descobrisse. Poderiam achar que ela não era feliz, ou que estava metida com outras coisas.
— E então você não a procurava para que não fosse a publico? - Annabeth perguntou encabulada.
— Não ache que eu não me envergonhe disso - Seus olhos estavam marejados embora os óculos de grau disfarçassem um pouco - Mas ela sempre deixava mensagens ou textos dizendo quando voltaria e se voltaria...
— Você sempre a deixou fazer o que quisesse.
— E então ela sumiu. Sem mensagens, ou textos, sem evidências ou pistas de onde ela possa estar.
— E não contou a ninguém? Simplesmente esperou ate que ela não voltasse mais e foi ate onde eu estava para que talvez eu pudesse me passar por ela enquanto April esta em algum lugar do mundo aproveitando qualquer merda?
— Não Annie, não. - A mãe passou as mãos pelos cabelos acobreados. - Eu te trouxe ate aqui por que é a minha ultima esperança e que talvez você pudesse me ajudar como sempre me ajudou.
— Tem razão. Eu sempre te ajudei e isso sempre me matou. Você é mãe dela deveria saber onde ela esta.
Atena concordou.
— Eu só pensei que me ajudaria. Que ainda nutrisse algum tipo de amor por mim, ou pela sua irmã. Eu quero me escrever para o senado e se souberem que uma de minhas filhas esta desaparecida...
— Ela tentou me matar! - Annabeth gritou.
— Só por um mês Annie, prometo que se não a encontrarmos ate lá eu nunca, nunca mais ouso te pedir nada.
Annabeth passou pela mãe tentando ao máximo não encará-la. Deus era tão vergonhoso! A porta por onde entrou seria a mesma por onde sairia.
— Não. Em hipótese alguma.

Silent Twins

O jardim da casa era enorme. Quando moravam em Nova Jersey toda a casa era aberta com enormes paredes de vidro e isso a fazia parecer maior. Mas nem tanto quanto essa. Atena parecia realmente ter subido nos negócios e isso não a deixava surpresa. A casa era branca por fora o que fazia com que parecesse ainda maior.
— Isso tudo é tão desnecessário! - murmurou indo em direção à rua. Por toda a extensão, as casas eram exatamente iguais mudando, talvez, em suas cores. Seus pés estavam doloridos dentro daquele sapato e suas costas doíam como nunca considerando a noite em claro. Annabeth passou a mão pelos bolsos procurando o telefone e discando rapidamente o nome de Clarisse.
Caixa postal.
Finalmente, depois de passar por todas aquelas casas, a rua se desenvolveu em duas outras menores e ela virou na esquerda onde tudo parecia ainda maior.
Alguns garotos corriam de um lado a outro em cima de um skate. Annabeth sentiu seu estômago roncar. Não havia comido nada desde o dia anterior. Ela continuou andando mantendo os olhos fixos nos skatistas embora seus olhos se desviassem de vez em quando para a sacada das grandes casas ao redor. Uma garota estava escorada em um carro casualmente enquanto fumava um cigarro. Seus olhos azuis estavam fixos em Annabeth e embora ela estivesse calma fisicamente, seus olhos revelavam outra coisa, alguma coisa a mais. Annabeth continuou andando com as mãos dentro do bolso traseiro da calça jeans. Sua blusa estava completamente amassada e o decote, um pouco exagerado, parecia ainda maior. Ótimo - pensou. Ela poderia passar por todos aqueles garotos ou dar a volta e voltar para casa onde Atena esperava. É claro que a primeira opção estava completamente acima da segunda, mas ela não aguentaria de maneira alguma piadas machistas sobre si. Não naquele dia. Pensando em voltar Annabeth girou sobre os sapatos, mas algo chamou sua atenção.
Talvez se tivesse continuado andando...
— April! - alguém gritou ao longe.
De primeiro momento Annabeth pensou em procurar pela irmã. Ela girou os olhos e depois se voltou para trás. Os garotos tinham parado de manobrar em seus skates e agora estavam atentos para a garota loira do um lado da rua. Do outro lado, outra garota, estava em pé.
— Você voltou? - ela gritou novamente.
Annabeth ficou sem palavras. Virou-se de novo para ir embora passando pela garota escorada no carro. Ela tinha um sorriso sarcástico no rosto, exatamente igual ao que Leo deu pra ela mais cedo.
— April! - A mesma voz continuou a gritar mesmo quando Annabeth apertou os braços e começou a correr desesperadamente.

Silent Twins

A casa agora parecia vazia. Completamente. A decoração em si era branca como leite e as fotos felizes em família faziam Annabeth querer vomitar. Literalmente. A garota subiu as escadas com o mínimo de barulho possível tentando não sujar nada com seus sapatos imundos. As escadas terminavam em um longo corredor de portas brancas o que fez com que a cabeça de Annabeth girasse ainda mais. O primeiro continha uma placa verde musgo escrita CUIDADO. O segundo estava entreaberto e Annabeth pode ver ser um banheiro. Ela seguiu o olhar pelas outras portas ate que uma chamasse sua atenção: era branca, mas continha certos detalhes nas laterais. Caminhou ate lá, girando a maçaneta e entrando no quarto.
Era de April. Tinha certeza. A cama estava impecável coberta por um lençol branco. O papel de parede florido dava um charme essencial ao quarto e a penteadeira cheia de pincéis e maletas. Havia um baú no canto esquerdo do quarto que chamou sua atenção. Estava aberto e tinha algumas roupas, mas ao ver melhor Annabeth pode pegar um caderninho azul marinho de dentro.
— É o diário dela - murmurou o segredo que descobriu.
Alguém bateu na porta fazendo a garota soltar o pequeno caderno dentro do baú.
— Pode entrar.
— Você nunca me deixou entrar - era o garoto, Leo. Ele estava com a mesma roupa e com a mesma cara, a não ser pela expressão de tédio ao entregar a Annabeth um pequeno embrulho. - Isso chegou pra você enquanto estava fora. Não abri se é o que quer saber.
— Obrigada.
Ele se virou para ir embora, mas parou antes de sair.
— Se eu fosse você tomaria um banho. Contaminou a casa inteira com esse seu cheiro.


Annabeth sentou na cama observando o embrulho. Era uma simples caixinha marrom. Na duvida se abriria ou não pensou em como ela e April não tinham segredos quando menores.
— Que se dane - sussurrou.
O laço foi desatado, o embrulho foi desfeito e apareceu um pequeno boneco, daqueles em que se vê em filmes estranhos de bruxaria.
Annabeth o aproximou do rosto virando o pequeno boneco. Havia um bilhete grudado atrás da cabeça.
“É a minha vez de torturar você".

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.