Sebastian ainda permaneceu longos minutos contra a grade pensando em tudo que havia acontecido.

– Mas o que eles quiseram dizer com Flauros... e deus...? - Sebastian saiu de dentro da tubulação - Achei que... que... que eram expressões daquelas anotações malucas daquele... Ah meu Deus... o culto... o culto é real!

Sebastian precisava achar Emma e Douglas o mais rápido possível, se o culto era real então aquelas anotações sobre rituais e garotas queimadas também eram, e segundo o garoto, os dois corriam perigo. Precisavam sair dali.

Ele abriu o mapa que o garoto lhe dera e viu que se tratava de um mapa dos esgotos e o melhor: havia uma escada a poucos corredores dali.

O rapaz atravessou os corredores com cuidado para não cruzar novamente com os "amigos" que havia feito e em pouco tempo chegou às escadas. Ele as subiu rapidamente e retirou a tampa redonda que fechava os esgotos: estava de volta à superfície, no meio de uma rua qualquer da cidade.

Estava tudo completamente escuro por causa da outra realidade, partes das ruas haviam sido substituídas por imensas grades avermelhadas suspensas sobre o nada e o céu era negro, não como a noite, mas negro como o vazio. Qualquer coisa que parecesse se mover parecia representar uma ameaça. Sebastian saiu e fechou com cuidado a porta do bueiro.

– Não dá pra ver nada... - ele falou passada a lanterna na escuridão profunda.

Ele então passou a vagar sem rumo no meio das ruas objetivando chegar em algum lugar de onde pudesse voltar ao Jacks.Inn para reencontrar-se com Emma. O acontecido nos esgotos ainda perturbava sua mente. "Não digo mesmo de você se continuar nessa cidade.", as palavras do garoto ecoavam em sua cabeça e arrebatavam seu senso de tranquilidade e segurança.

Distraído observando o novo ambiente em que se encontrava, Sebastian por muito pouco não caiu em um grande abismo, localizado no fim de uma grade que substituira a estrada, como se aquela fosse a "borda da cidade".

– Mas o que diabos é esse lugar? - ele olhava para o negro profundo que envolvia a cidade.

Sem saber para onde ir, Sebastian continuava andando, tentando reproduzir nas ruas, o inverso do caminho que havia feito nos esgotos, mas era impossível. Aquela realidade era incoerente com o que deveria ser e por muitas vezes o fez mudar de direção pela presença de buracos ou paredes em lugares indevidos.

Sebastian sabia que não chegaria muito longe daquele jeito, ou talvez até chegasse, muito longe de Emma, e tempo não era algo que se podia dar ao luxo de perder naquela situação. Precisava de um plano, ou melhor, de um mapa. O mapa dado pelo garoto era apenas dos esgotos e não ajudava fora dali.

Seria uma tarefa árdua naquela situação, mas Sebastian decidiu procurar pela cidade uma placa semelhante àquela da qual ele e Emma tiraram o mapa da primeira vez. Várias ruas foram cruzadas, mas nada além de abismos e criaturas, das quais ele esquivou em meio a escuridão. Parecia uma tarefa impossível.

Sebastian correu mais e mais por um longo tempo sem descanso, e não pareceu chegar a lugar algum até virar uma esquina e chegar a uma encruzilhada maior que o nornal. Estranhando, Sebastian adentrou mais e mais a escuridão até o centro da encruzilhada e pôde ver uma estátua do que parecia ser bronze de um homem vestindo roupas do século XVIII, na base da estatua estava escrito: "Às raízes desta cidade." Sebastian olhou novamente para o homem e continuou andando ao centro da encruzilhada, chegando a um lance de escadas de mais ou menos 15 degraus. Essas escadas levavam a um grande prédio que, embora deteriorado pelo outro mundo, aparentava ser muito antigo. Acima da porta, uma placa enferrujada mostrava: "Prefeitura".

– Se não houver um mapa desse lugar aí... não posso esperar encontrar em outro lugar... - ele disse, olhando para a placa.

Sebastian agarrou os dois grandes puxadores de metal da porta e a abriu. Estava ainda mais escuro por dentro do que por fora. Ele fechou as portas atrás de si e andou pelo que parecia uma espécie de hall principal, redondo e imponente, com quatro portas, uma em cada canto do circulo, sendo uma delas a entrada.

Ao lado da porta oposta, Sebastian pegou um pequeno mapa amarelado da prefeitura.

– Não é muito grande...

De fato, assim como a cidade, a prefeitura não era tão grande. Cada porta levava a um ou dois lances de corredores e isso era animador para o rapaz, que não teria de se aventurar em prédios enormes. Após examinar o mapa, Sebastian decidiu aonde deveria ir: a biblioteca geral da prefeitura, que segundo uma pequena descrição na parte de baixo do mapa, continha um acervo de livros enorme sobre a história da cidade.

Nervoso pelo desconhecido, ele dirigiu-se à porta que levava ao corredor onde se encontrava a biblioteca e a abriu sem maiores problemas. O trajeto até a biblioteca também não foi dos piores, com exceção de barulhos e vultos, correu tudo bem. Atravessado o corredor escuro e estranho, lá estava em Sebastian, em frente à porta. Ele respirou fundo e girou a maçaneta cheio de expectativas, que foram derrubadas ao abrir.

Era uma sala redonda e mais nada havia nela senão um piso de grades em forma de argola suspenso sobre um enorme fosso escuro e uma espécie de pilar no centro com um único livro encima, um livro grande e grosso com um título que Sebastian não conseguia ler daquela distância.

– Esse é o enorme acervo? Acho que essa cidade não tem muito pra contar... - olhou decepcionado.

Ele olhou para o mapa duvidoso de que estivesse no lugar certo, mas não havia para onde correr, aquela era a biblioteca. Sebastian deu de ombros e, hesitante, preparou-se para pular o fosso em direção ao pilar.

Era um buraco de pouco mais de quatro metros que o separava do livro. A chance de cair era considerável, ele poderia morrer caso acontecesse ou pior, cair de volta nos esgotos, dar de cara com os malucos do culto, ser torturado e depois morto, as possibilidades de resultado eram totalmente desfavoráveis à decisão de pular, mas não apagavam a esperança de que ali houvesse alguma informação de valor.

Ele preparou-se, contou até três e impulsionando-se com um dos pés saltou em direção ao pilar.

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A ponta do seu pé tocou o outro lado, mas não foi suficiente para dar-lhe equilíbrio e Sebastian caiu, agarrando-se com as pontas dos dedos na beira do pilar.