Silent

Back to Chicago


Gotta GO, gotta get out of this town.

(Tenho que ir, tenho que sair dessa cidade.).

Pensar nos acontecimentos de semana passada ainda me faz chorar. Ainda me faz sentir saudade. Mas não posso. Não posso sentir falta de algo que não é mais meu. Na verdade, que nunca foi.

Até alguns segundos atrás imaginei hoje como um dia igual aos anteriores: Jogada no sofá ainda com meu pijama de abelha. Mas, quando menos imagino, minha porta é aberta.

— Beatrice? – a voz que pertence a Lia ecoa pelo recinto.

— Ela está em casa. – Tiffany fala com convicção. Depois completa. – O porteiro diz que ela não sai há dias.

— Estou aqui. No sofá. – Grito. Elas se aproximam me encontrando deitada no sofá com os cabelos desgrenhados. Ao ver meu estado deplorável, Lia e Tiffany fazem uma careta que quase me faz rir. Disse quase.

— Você sumiu, pensei que estivesse na Ilha Fishers com seus pais. – Lia diz.

Tudo se encaixa perfeitamente. Logo depois que chutei Peter do meu apartamento, tentei ligar para minha mãe, mas não consegui. Agora sei por quê.

— Eles foram para Ilha Fishers? – pergunto estarrecida.

— Você não sabia? – Tiffany pergunta enquanto se senta ao meu lado e Lia faz o mesmo. Apoio à cabeça no colo de Lia enquanto balaço a cabeça levemente e sussurro um "não". Sinto-me decepcionada.

— Não sabíamos, mas como você está? – Encaro os olhos verdes de Tiffany. Seus cabelos loiros presos em um coque estão bagunçados, mas de uma forma bonita. Brinco com a ponta de sua blusa. – Diga Beatrice, estou te achando tão quieta.

Decido contar. Só Caleb sabe.

Começo pelas traições, depois falo das brigas, meu encontro com Mary e por fim como terminamos. Elas escutam tudo, muito atentas. Espero paciente elas falarem que me avisaram que isso ia acontecer e que eu merecia tudo oque eu estava passando, mas isso não acontece.

— Ele é um completo idiota, se eu o encontrasse na rua... – Lia é a primeira a se pronunciar.

— Nunca gostei dele, só não o matei quando ele fez aquele papelão na casa da Lia por causa de você. – Tiffany confessa. – Agora eu posso realizar meu desejo. – Ela ri maleficamente fazendo eu e Lia rir junto. – Pelo menos te fiz rir. – Me sento e sou surpreendida por um abraço.

— Ai meninas... Não sei oque eu seria sem vocês. – Digo já com a voz embargada.

Lia revira seus olhos azuis e balança os cabelos castanhos de forma provocativa. – Eu sei que precisa de mim, minha querida.

— Eu não sou sua querida. – Revido de forma divertida. Caímos na risada. – Agora voltando a falar sério. Eu vou embora hoje. Caleb já sabe de tudo, falei com ele ontem. Meus amigos de Chicago estão preocupados.

— E o Lago Michigan? – Tiffany pergunta.

— Não vou. Caleb disse que também não vai e como meus pais estão na Ilha Fishers... Acho que a casa vai ficar vazia nesse feriado.

— Entendi. Mas só vamos te perdoar se for almoçar com a gente. Não aceitamos recusa. – Tiffany fala e Lia concorda.

— Meu Deus, quando é que vocês começaram a falar tudo pelas duas? Estão terríveis. - Elas me encaram e percebo, não tenho saída. - Okay, okay.

— EEEEE – Elas gritam.

— Mas... Vão fazer algo comigo. Separem roupas que não usam mais, preciso ir a um lugar.

***

— Oi Caleb. - Ligo para meu irmão antes de sair. As malas já se encontram na sala. Algumas contêm livros e objetos pessoais. Não penso em voltar em NY tão cedo.

— Irmãzinha, como você está? - Ele pergunta, percebe-se preocupação em sua voz.

— Solteira. - Digo por fim. - Sobrevivendo. E você?

— Preocupado.

— Bêbado. - Uma voz grita. Logo reconheço ser Zeke.

— Está aproveitando que não estou em casa e está fazendo festinhas todas as noites não é mesmo?

— Talvez. - Ele fala como se a resposta fosse óbvia. - Tem falado com Chris e Uriah?

— Troco mensagens com eles de vez em quando. Não se preocupa. - Respondo. - Só liguei para dizer que estou indo embora hoje mesmo.

— Trocou a passagem?

— Não. Eu vou de carro. - Ouço um suspiro do outro lado da linha.

— Bea... - Eu o interrompo.

— Caleb, eu vou ficar bem. Por favor.

— Tá, okay. - Ele fala, vencido. - Me ligue.

Então desligo. Olho para o meu reflexo no espelho. Meus cabelos castanhos estão presos em um coque. O vestido florido é curto, com mangas longas caindo nos ombros. Gosto do que vejo, pareço feliz.

***

Puxo a mala com as roupas para doação e coloco na mala do carro, enquanto Lia e Tiffany trazem as que estão com meus pertences. Lia está com um vestido rendado branco e Tiffany, com uma calça jeans e blusa de estampa animal.

Elas entram em meu carro e eu vou dirigindo. 2hrs de viagem e chegamos ao destino.

— Onde estamos? - Como sempre, Lia é a primeira a se pronunciar.

— Estamos em um abrigo municipal. Milhares de mulheres e crianças passam por aqui todos os dias.

No total, todas nós trouxemos cinco malas cheias de roupas esquecidas. Chegamos a recepcionista e ela libera a passagem para entrarmos. Passamos pelo hall de entrada e nos deparamos com um longo corredor. A sala de doações é a primeira à direita.

Bato levemente e uma mulher de cabelos castanhos claros atende. Seu rosto leva um breve sorriso.

— Ah, oi. - Ela fala com um tom gentil.

— Doações. - Digo apontando para as malas.

— Meu Deus quanta coisa. - Seu rosto se ilumina. - Pai, ajude as meninas com as bagagens. - Ela pede e logo um homem aparece. Ninguém menos que Roberto.

— Beatrice. - Ele parece surpreso.

— Oi Roberto. - Lia e Tiffany me olham espantadas. - Meninas, esse é meu amigo brasileiro. Oque veio no avião comigo. - Apresento-o a elas.

— Oi. - As duas dizem em uníssono, um pouco tímidas.

Roberto nos ajuda com as bagagens. Percebo nos olhos de Clara seu entusiasmo. Ela conta que decidiu ficar em NY e fazer algo de diferente, fala das pessoas que conheceu e das novas experiências. A cada peça de roupa que ela tira da mala, seus olhos ganham um novo brilho.

— São todas incríveis. Ótimo estado. - Clara sorri enquanto tira a última peça. Meu vestido vermelho. A roupa que usava quando conheci Peter. Ele é curto, decote em "U", bem simples.

Penso bem e não resisto. - Oque esse vestido está fazendo aí? - As meninas me encaram, elas sabem quando foi à única vez que o usei. - Estava o procurando por toda parte, é o meu favorito.

— Ah, tudo bem. Com as roupas que vocês doaram, não tem problema querer esse de volta. - Clara esboça um olhar sincero. Pego o vestido de sua mão.

— Obrigada Clara. Meninas, precisamos ir.

— Mas já? - Roberto pergunta.

— Sim. Volto hoje para Chicago. Tchau.

— Tchau. Obrigada. - Clara acena.

— Tchau, espero vê-la novamente. - Roberto sorri e retribuo, deixando a sala de doações.

***

O almoço foi ótimo. Um bom momento para me despedir das meninas. Mas agora é hora de partir. Hora de deixar as terríveis férias de lado. Piso no acelerador e vejo o verão ficar para trás. É hora de voltar à realidade.

A viagem segue tranquila. Músicas deprimentes tocam na rádio que está ligada simplesmente para me manter acordada. Mantenho-me atenta às placas, que indicam que não estou longe. Só mais umas três horas.

Penso bem. Estou perto do chalé do Lago Michigan. Porque não? Pego a última saída e acelero. Não tem como voltar atrás.

São 5hrs10min quando chego ao chalé. Estaciono o carro e entro pela porta principal. Tudo está muito arrumado. Subo pelas escadas e me deparo com o corredor principal. A porta do meu quarto é a terceira à esquerda.

Ao entrar vou ao closet. Troco meu vestido fino por um moletom leve e uma regata branca. Desço até a sala e saio levando somente um mp3. Logo estou caminhando as beiras do lago.

As 6hrs, eu sento em um banco. O sol ainda está tímido. Fico sozinha pelo que me parece poucos minutos até um rapaz se sentar ao meu lado. Ele é um pouco mais alto que eu, sua pele é clara e seus olhos são de um castanho brilhante.

— Oi. Vem sempre aqui? - Ele pergunta

— Sim... Possuímos umas propriedades aqui. - Respondo rapidamente. – Digo, eu minha família.

— Acabamos de comprar uma casa pela região. Parece ser bem agradável. - Ele tenta puxar assunto.

— Essa região é ótima. - Falo e esboço um pequeno sorriso.

— Desculpe não me apresentar antes, Sou James. - Ele me encara com um sorriso brincando nos lábios.

— Beatrice. - Sorrio.

— Beatrice é um nome muito sério. Não tem um apelido?

— Não. Mas gosto da ideia, que apelido me daria? - Fico curiosa. Nenhum dos meus amigos me deu um apelido.

— Hm... Que tal, Tris.

— Tris? Gostei.

— Que bom Tris. Porque só te chamarei assim agora.

— Você também precisa de um apelido. - Começo a pensar e descubro que sou péssima para isso. - Vou te chamar de ursinho.

— Sério? Ursinho. - Ele dá uma gargalhada.

— Sim. Quando olho para você penso em ursos. Não tenho culpa.

— Isso vai ter volta Tris. - Ele faz uma pausa. - Vai ficar para comemorar o feriado?

— Não. Já estou indo para Chicago. Até ficaria, mas não estou para comemorações esse ano.

Sua expressão revela que está curioso. Então decido contar rapidamente.

— Fui traída, ursinho. Meu ex me traía descaradamente. Só descobri agora. - Falo com um tom de voz melancólico.

— Que idiota. Como alguém poderia machucar uma pessoa como você? - Ele parece mesmo chateado.

— Não sei... - Encaro meu relógio. Esta na hora de ir. - Preciso seguir viagem.

— Vou te ver novamente Tris?

— Com certeza, ursinho. - puxo o celular de sua mão e salvo meu número. - Até mais. - Levanto-me e ele faz o mesmo.

— Até...

Passo rapidamente no chalé, pego alguns pertences e sigo viagem. Acelero, indo a velocidade máxima. Aumento o volume do rádio, a música não era ruim.

Vejo a placa indicando Chicago e sorrio. De volta ao lar

***

Descer com três malas se torna um desafio. Peço ajuda ao porteiro, que me ajuda a colocar as malas no elevador. O dispenso, falando que de lá pediria ajuda ao meu irmão. Chego ao meu andar e com esforço, retiro as malas do elevador e as coloco em frente a minha porta. Toco a campainha e espero. Quem me atende é um homem sem camisa.

— Acho que estou no apartamento errado. - Brinco.

— Beatrice? - Ele pergunta.

— Sim. E você quem é?

— Tobias. Amigo do seu irmão. Quer ajuda com as malas. - Faço que sim com a cabeça.

Observo Tobias enquanto ele carrega as malas para dentro. Seus olhos são de azul escuro, seu corpo é definido e ele tem cabelos castanhos. É forte. E está me encarando.

— Não vai entrar? - Ele pergunta. Pela sua expressão parece que percebeu que eu estava o analisando.

— Ah sim, estava distraída. - Entro e ouço ele dá uma breve risada. É claro que ele percebeu Beatrice. - Obrigada pela ajuda Tobias. Sabe onde está meu irmão?

— Dormindo.

— Claro. Eu vou subir então.

Faço o caminho para o meu quarto em silêncio. Ao abrir a porta vejo uma pequena bagunça. Cama desfeita, roupas espalhadas e livros fora do lugar. Claro que alguém esteve aqui. Vou ao banheiro e ao abrir a porta dou de cara com Chris.

— Ai meu Deus, você voltou sua louca. - Ela pula em cima de mim, literalmente.

— Saudade menina. Mas... Oque a senhorita está fazendo no meu quarto?

— Pensei que estivesse com saudade. - Ela faz careta. - Pensei que fôssemos irmãs.

— E somos. - Desvencilho-me dela. - Mas olha a bagunça que você fez irmãzinha.

Ela ri. Saio do banheiro e sento em minha cama. - Você viu o novo amigo do seu irmão?

— Eu vi. Oque era aquilo? - Dou uma risada.

— Desde que você viajou, Caleb trouxe os amigos dele e transformou isso em uma república.

— Imaginei. Só tem o Tobias aqui?

— Por enquanto sim. Mas Zeke e o tal Eric chegam mais tarde para a última festa, já que não tem Lago Michigan.

— E você esta fazendo oque aqui?

— Esperando você chegar. Desde que Will e Al viajaram eu só tenho você e Uriah.

— Saudade deles. Quando voltam mesmo?

— Em duas semanas. - Ela suspira. Nunca ficou tanto tempo longe do namorado. - Chega de falar de mim e de Chicago. Como foi em NY?

Incomodo-me com o assunto. Não quero pensar nisso agora. - Lia e Tiffany salvaram a viagem. Meus pais sumiram e eu não preciso falar de Peter.

— Ai que saudade daquelas tapadas. Nem falo sobre Peter, ainda vou arrancar a cabeça dele e dar aos tubarões.

— Não gaste seu tempo. - Termino de falar w minha porta é aberta abruptamente. É Caleb.

— Irmãzinha. - Ele corre desengonçado até a mim e o abraço.

— Eu não quero chorar.

— Então vai rir. - Caleb começa a distribuir cócegas pelo meu pescoço e barriga. Quase caio no chão de tanto rir.

— Chega Caleb... Por... Favor. - Falo com dificuldade.

— Okay. - Ele me encara e sorri. Um largo e encantador sorriso. - Vamos comer alguma coisa.

***

Meu estômago reclama. Dizem que não somos nós quando estamos com fome e posso dizer, é a mais pura verdade.

Tobias (Que infelizmente colocou uma camisa) faz panquecas enquanto espremo laranjas para o suco. Caleb cuida das torradas e Chris, cuida de comer tudo que vai ficando pronto.

— Se você encostar o dedo em mais uma torrada eu torro a sua mão. - Caleb ameaça. Christina simplesmente pega a torrada que acabou do ficar pronta e sai em disparada sendo seguida por Caleb.

— Está sendo assim desde que você viajou. - Tobias comenta enquanto coloca a última panqueca no prato.

— Imagino. Como tem aguentado?

— Não aguento. Só dormi aqui ontem porque estava cansado de mais para dirigir. - Ele faz uma pausa. - E seu irmão trancou a porta e escondeu a chave. - Eu dou uma pequena risada. Caleb não sabe perder.

— Me ajude com essas torradas. - Peço e ele assente. Em pouco tempo preparamos tudo e a mesa do café fica pronta.

Sento-me e começo a comer as panquecas. Escolho as de gotas de chocolate. Tobias prefere o bolo de chocolate que ele mesmo fez. Seus olhos parecem brilhar com uma intensidade impressionante ao ver o bolo.

— Parece gostoso. - Comento.

— Deve estar mesmo. Fiz um pouco antes de você chegar. Quer um pedaço?

— Não vou perder a chance de comer um bolo feito por um amigo do meu irmão.

— Oque quer dizer com isso? - Ele não parece irritado.

— A única coisa que os amigos do Caleb costumam fazer aqui em casa é bagunça. Quero ver se o senhor é diferente. - Falo, divertida.

Chris e Caleb voltam. Christina está vermelha, parece ter rido muito. Caleb está com marcas de unha pelo braço. Deve ter sido uma briga interessante.

— Acabou casal? - Pergunto.

— Casal? - Chris me pergunta com a sobrancelha arqueada. Penso que ela fará alguma brincadeira comigo e Tobias, mas erro. - "Oi 'Tris'” - Ela lê em meu celular dando uma incrível ênfase a "Tris". – “Salve meu número e ligue quando estiver no Lago Michigan. Espero te ver logo.” – Chris faz uma pausa dramática e grita: “BEIJOS” – “James.” – Foi ao Lago Michigan né "Tris"?!