Silent

Life Change


— Foi ao Lago Michigan né "Tris"?!

Meu rosto cora. Caleb está me olhando com cara de poucos amigos.

— Eu não falei? - pergunto tentando soar entediada.

— Não. - Caleb fala com um tom de voz nada amigável.

— Só fiz uma caminhada pelo lago. Quando parei para descansar conheci James. Conversamos um pouco e vim embora. Nada demais.

— E esse tal James já tem seu número? - Caleb pergunta.

— Qual é o problema?

— Ai Caleb você não vê? Ela está seguindo a vida. - Christina se aproxima de mim e coloca seus braços em volta do meu pescoço, jogando o corpo para frente.

— Sai para lá criatura. Não quero saber de homem nem tão cedo.

— Prefere mulheres agora né? - Chris indaga.

— Claro. Mulheres são maravilhosas. - Brinco. - E Chris não precisa disfarçar, meu irmão pode saber sobre nós.

— Pode? - ela ri. - Que bom. Se for ver bem, nosso relacionamento é melhor que de muito homem com mulher por aí, não é cabritinha?

— É mesmo minha esquila. - Tobias e Caleb dão uma gargalhada. Ponto para mim.

***

Estou sozinha. Tia Stephanie, a mãe de Christina, estava precisando de ajuda com o almoço da família então ela precisou ir. Caleb está preparando a última festa junto de Tobias. Não que eu me importe de estar fazendo nada deitada na cama, mas quero uma companhia. Pego meu celular e dígito o número de Uriah. Toca três vezes até ele atender.

— Uriah. Eu sei que você vai vim aqui para casa com o Zeke, mas tem como vim agora?

— Ai Beatrice. Estou com taaaanta preguiça. - Ele brinca.

— Você tem 20min. - Falo e desligo o telefone. Não estou para brincadeiras.

Levanto e faço meu caminho para o banheiro. Dispo-me e tomo um banho que não dura mais que cinco minutos, nem chego a molhar o cabelo. No closet, escolho um pijama, dessa vez de joaninha. Coloco e me jogo na cama. Sinto minhas pálpebras pesadas, como se tivessem quilos de areia. Elas vão se fechando aos poucos e quando estou a ponto de dormir alguém me interrompe.

— Ei acorda Tris. - Uriah me cutuca.

— Tris? - Pergunto. Ele ri. - É só o James que pode te chamar assim?

— Oh céus. - Faço uma expressão surpresa. - Como peixes de Poseidon você sabe dessa história?

— Primeiro decide: Céus, mar...

— Uriah Pedrad. - Tento soar séria, mas claramente falho.

— Todo mundo sabe pelo simples fato de que Christina sabe.

— Quem é todo mundo? - Pergunto um pouco temerosa com a resposta.

— Eu, Tobias, Zeke, Eric, Lia, Tiffany. Ninguém demais.

— Lia e Tiffany já sabem? Meu Deus por quanto tempo eu dormi?

— São 16 horas.

— Eu te liguei as 14hrs25min e você chegou agora? - Bato de leve na sua cabeça.

— Ai - Uriah reclama. - Não. Cheguei 15hrs, mas fiquei com pena de acordar você. - Uriah se deita do meu lado. - Agora diga, oque quer?

— Só não quero ficar sozinha.

— Então tem minha companhia.

— Obrigada Uri. - Falo cabisbaixa.

— Como você está?

— Cansada das pessoas me perguntarem como eu estou. Não está óbvio que estou mal?

— Desculpe Tris. - Dou um leve sorriso ao ouvir o apelido que James me deu. Parece que pegou na boca de todos.

— Sou uma trouxa por ainda sentir falta dele, não é?

— Não, é normal sentir saudade das pessoas que fizeram parte da sua vida. – Ele me encara como se ponderasse me fazer uma pergunta. – Hey Tris... Se ele te pedisse perdão, você voltaria com ele?

— Não. Ainda não sou trouxa a esse ponto. – Dou uma risada baixa. Uriah sorri satisfeito.

Ambos estamos deitados de barriga para cima, encarando o teto. Fecho os olhos, imaginando se por um momento nada tivesse acontecido. E se eu não tivesse ido a NY naquele ano? E se eu tivesse faltado à festa como Lia tinha proposto? E se. Abro os olhos e os direciono para o lado. Uriah não está. No lugar está um pequeno pedaço de papel. O pego e leio cuidadosamente.

Você dormiu, fica tão fofa roncando Haha. Estou aproveitando o último dia de paz e se eu fosse você faria o mesmo.

Ouço a música alta. A tal festa começou. Eu poderia descer e curtir. Peter já estragou minhas férias, eu poderia tentar refazer a vida agora. Mas tudo parece cansativo. Decido continuar deitada. Dessa vez lendo um livro.

As horas sem passam rasteiras e a música alta me irrita. As letras se embolam em minha mente, perdendo o significado. Estresso-me e fecho o livro, o deixando no criado-mudo. Meu estômago reclama. Parece que a história de que sono alimenta não funciona bem comigo. Vou ao canto do quarto, onde está meu computador e pego meu roupão. O quarto está uma completa bagunça ao tirar pelos livros, que estão perfeitamente ordenados. Coloco o roupão por cima do pijama e abro a porta do quarto. A música se torna mais audível.

Desço ruidosamente pelas escadas. Desnecessário. Estão tão distraídos que não notam minha mísera presença. Chego à cozinha e encontro casais se beijando exageradamente e outras pessoas que nunca vi, atacando minha geladeira. Uma mulher de cabelos ruivos me encara. Ela está apoiada na mesa da cozinha e em suas mãos a um copo com um líquido transparente.

— Não sabia que podia fazer "certas coisas" aqui. - Ela lança um sorriso malicioso.

— Certas coisas? Do que você está falando criatura?

— Você sabe. - Oque? - Entendo do que ela está falando.

— Eu estava dormindo. - Sei. - Ela diz incrédula.

— Você sabe quem eu sou? - Ela nega com a cabeça. - Beatrice Prior.

— Você... É irmã do Leb - Sua voz é de deboche. Reviro os olhos.

— Sou irmã do Caleb, sim. - Digo dando ênfase em Caleb e me viro.

Toda aquela festa me incomoda. As pessoas, a bebida, a música alta. Abro a geladeira e encontro uma última lata de refrigerante. Pego junto de uma lata de suco e outra de energético. No armário, pego pacotes de biscoitos e algumas outras besteiras. Saio da cozinha, com uma carranca. Chegando a escada, encaro meus amigos. Uriah dança com uma morena de estatura mediana. Ela não parece muito à vontade. Chris cochicha algo no ouvido de Caleb, ambos encaram um casal. Zeke e Shaunna estão se beijando (para não dizer se comendo no meio da sala). Por fim meus olhos param em Tobias. Ele está conversando com um homem, provavelmente o tal Eric. Tobias está rindo de algo que o amigo disse. Seu corpo se contorce enquanto ri. Parece que soube de algo muito engraçado. Ou está bêbado. Ou os dois. Fito seus olhos mesmo de longe e ele me vê. Disfarço e subo as escadas.

***

Minhas guloseimas estão espalhadas pela cama. Acho que alguma das bebidas estava batizada, pois estou uma pilha de nervos. Há alguns minutos, estava passando um programa de comédia que quase matou de tanto rir e agora estou chorando compulsivamente por causa de um filme triste. Sinceramente eu queria me entender. Quando o filme está pela metade ouço uma batida na porta. Simplesmente mando entrar. A pessoa o faz. É Tobias.

— Oi. - Ele sorri. Sua blusa preta é justa e é notável seu abdômen definido. Perco-me em pensamentos até ser acordada por sua voz rouca. - Ei.

— Desculpa. - Dou uma risada nervosa. - Entre. - Ele o faz. Faço sinal para que ele se sente em minha cama e Tobias obedece.

— Que pijama legal.

— Ah, obrigada... Eu acho. - Sussurro a última parte. - Diga-me oque faz aqui.

— Vi você subindo, queria saber por que não ficou na festa.

— Não estava afim, só isso.

— Pensei que tivesse passando mal. Por causa do bolo de mais cedo, por exemplo. - Rimos em uníssono. Nego com a cabeça lembrando-me do divino bolo de chocolate de Tobias Eaton.

Ele se recosta na minha cama e faço o mesmo. Parece olhar o local. Seus olhos vão da janela à direita a porta do banheiro. Então ele continua analisando e é como se gravasse cada centímetro. Depois ele me encara com um sorriso. Retribuo.

Tobias se levanta e vai até a estante onde estão alguns jogos de tabuleiros antigos. De lá ele puxa um tabuleiro de dama. Ele coloca em cima da cama e ajeita as peças.

— Se quiser pode começar. Vou ganhar de qualquer jeito.

— Essa nós vamos ver.

Começo. Minhas peças vão avançando o terreno inimigo. Logo faço uma dama. Perdi somente duas peças. Tobias, três. Lanço a ele um sorriso convencido. Tudo está indo bem até que Tobias faz oque ele chama de jogada de Mestre e ganha de uma hora para outra. Ele graceja, com um sorriso vencedor.

Ele inicia a próxima e nem sua jogada me para. Venço em quatro minutos. Ele finge se irritar, mas em seu rosto a um olhar zombeteiro. Caio na gargalhada com as caretas que ele me lança.

— É melhor você começar. Para me dar sorte.

Faço que sim com a cabeça. Inicio o jogo e o venço novamente, dessa vez com um pouco mais de trabalho. Ficamos nessa por horas. Ao dar 1hr da manhã estou me sentindo cansada. Tobias está na frente por um ponto, digo por experiência própria que é sorte. Nunca perco esses jogos.

— Parece cansada. - Tobias me analisa. - Quer dormir?

— Querer, eu não quero, mas preciso. Tenho aula ama... - Encaro o relógio. - Hoje.

— Então continuamos outro dia. Bom eu já sabia que ia ganhar. 8x7.

— Se continuássemos ia perder. - Bato levemente em seu ombro. Tobias se levanta e guarda o tabuleiro.

— Eaton. - O chamo. Ele se vira e me encara

— Pode ficar mais um pouco?

— Claro que sim. - Ele volta a se deitar comigo. Aconchego-me em seu peito. No início, ele parece desconfortável, mas logo se acostuma. Caio no sono minutos depois.

***

Acordo com o despertador. Minha cabeça parece que vai explodir. Nem acredito que a festa foi até tarde. Viro-me de lado e há um pequeno papel dobrado. É de Tobias.

Dormiu como um anjo ��. Espero ganhar de você mais vezes.

— T

Sorrio. Ele é mesmo louco. Afasto meus pensamentos de Tobias e me levanto da cama. A preguiça invade, a última coisa que eu queria fazer era ir para a faculdade. Vou até o banheiro e tomo um banho, retirando qualquer resquício de sono. Penteio os cabelos desgrenhados e os prendo em um coque. Ele fica bagunçado com algumas mechas soltas. Não tão ruim. Logo me visto. Uma calça boyfriend jeans e um cropped cinza com mangas. Por fim, coloco o primeiro tênis que vejo. Um all star preto. Puxo a mochila de cima da cadeira do computador e desço as escadas, me arrastando. Caleb está fazendo o café da manhã. Ele para e me encara.

— Está pronta? - Ele pergunta um tanto assustado.

— Sim. - Faço uma pausa. - Ah perdão, ainda não. - Pego um cordão em cima da mesa, é um triângulo. Depois ponho óculos de sol no rosto. - Agora sim.

— Que roupas são essas? Você sempre se vestiu tão...

— Menininha? - completo com um sorriso.

— É...

— Mudanças "Leb" - Digo lembrando-me da ruiva chata de ontem.

Ele ri e então pego as chaves do carro e saio. Estou sem fome.

— Até...

— Até. Cuide-se. Saio com o carro da garagem e acelero. Está na hora de voltar à rotina.

***

Entro com o carro na vaga de sempre e meus olhos encontram Marlene. Ela vê o meu carro e para.

— Mar

— Oi... Tris. - Dou um sorriso. Chris é impossível.

— Posso te fazer uma pergunta? Além dessa que eu já fiz, é claro. - Assinto. - Você acha que Uriah gosta de mim?

— Claro que gosta.

— Não Tris, não amizade. De... Outra forma. - Ela sussurra. Parece aguardar com expectativa. Seguro suas mãos e encaro seus olhos.

— Olha Marlene, Uriah gosta de você de outra forma. Isso está bem óbvio. Dê um tempo a ele, parece que homens demoram em perceber coisas óbvias. - Damos uma risada.

— Obrigada. - Ela sai em direção ao seu carro com um sorriso enorme. Ai que fofo.

Atravesso as portas principais e só consigo pensar em uma coisa. A senha que é tão óbvia vez ou outra escapa da mente. Chego ao meu corredor e paro de frente para o meu armário, ao lado da máquina de refrigerante. Uns segundos depois a combinação vem. Meu número favorito, a idade que deu meu primeiro beijo, quantos cães eu tive e o dia em que conheci Peter. 61135 O cadeado abre, como esperado. Mas é aí que percebo algo errado. Meus olhos ficam inundados de raiva quando percebo. Meu armário foi depredado.

***

Quando coisas do tipo acontecem, é necessário abrir ocorrência. Com isso eu consigo um novo armário e se der sorte, descubro quem foi o idiota que mexeu nas minhas coisas. Ninguém nunca dá essa sorte. Pego o papel que consegui na sala de registros e coloco no bolso da calça. Estou carregando pelo menos oito livros e uma resma de folhas. Ok, não são 500 folhas, mas não deve estar longe. Carrego todo esse peso por andares e mais andares até esbarrar com Uriah.

— Ei? Esvaziou o armário da sorte bonitinha? - Ele pergunta com um sorriso no rosto.

— O armário da sorte já era.

— Oque? - Uriah pergunta assustado. - Você perdeu alguma coisa?

— 20 dólares. - Faço uma pausa. - E meus chicletes.

— Qual chiclete?

— Black Black. - Pode parecer estranho, mas vi uma pequena lágrima escapar dos olhos de Uriah.

Black Black é nosso chiclete favorito. É uma goma de cafeína, niacin e menta. Veio do Japão, em uma viagem do meu irmão.

— E agora? - Uriah pergunta. - É o melhor de todo o mundo.

— Vou dar um jeito. Tenho gummy bacon. - Ele sorri.

— Eeeee... - Uri grita. - Só por isso vou guardar suas coisas no meu armário. Vem

Descemos todas as escadas até o corredor de Uriah. Sua senha é fácil. 12789. Ele disse ser falta de criatividade. Colocamos os livros e na hora que eu ia fechar a porta ele me impede.

— Tem Black Black aí?

— Oque? Não, já disse que roubaram.

— Ah qual é. Você acha que eu não te conheço? - Reviro os olhos pegando o último chiclete de dentro da bolsa. Uriah abre o chiclete e leva a boca com um sorriso Largo.

— Seu idiota.

— Te amo.