Grandes navios de madeira atravessavam o canal que ligava o mar à grande capital de Eldia, a cidade de Lago. Os barcos paravam em fileira, uma ponte de madeira era improvisada e os grandiosos guerreiros eram recepcionados pela população, que gritava eufórica.

Os soldados, em maioria, eram recebidos com palmas, abraços e aplausos, mesmo quando atravessavam a multidão numa maca. Tudo se calou quando Ulrich surgiu, o Blindado de Ferro, conhecido como o mais poderoso escudo de Eldia, saiu com duas muletas e um semblante atípico, cabisbaixo.

De repente, o ruivo deixou as muletas caírem, ergueu a mão e gritou:

— VENCEMOS!

E a gritaria voltou, mais intensa do que nunca. Mesmo naquele estado, Ulrich não abaixava sua cabeça e nem diminuía o tom de voz.

De um dos últimos navios, um agrupamento era recebido com pedras e tomates. Eram os prisioneiros de guerra, soldados e especialmente mulheres, capturados para interrogatório e reprodução de espécie.

Por outro lado, Akira e Ellie saíram vagarosamente, ambos num tom melancólico que não tendia a mudar. Estavam cabisbaixos, mas a multidão estava ocupada demais carregando Ulrich pra lá e pra cá.

Horas mais tarde, quando os nervos da população se acalmaram, Ellie refletia de frente a um riacho, um pouco distante da região urbana. Seus doces olhos refletiam a luz do sol rebatida pela água, que combinava com aquele tom azul-claro dos seus globos. Seus cabelos estavam soltos, e agora usava roupas mais cotidianas: uma blusa social branca e uma saia de couro, junto a botas de cano alto.

Mesmo arrumada, Ellie soava triste, pensativa. Folheava um jornal local, com desprezo, enfurecida. Num surto de raiva, despedaçou-o e jogou o papel na água.

— Você anda bem estressada, em?

Akira surgiu pouco atrás. Distante da guerra, também usava uma blusa social branca, mas desta vez era acompanhado de uma calça preta e sapatos sofisticados de mesmo tom. Com as mãos no bolso, deu alguns passos e se aproximou de Ellie.

— Eles mentiram! Anunciam como uma vitória esmagadora quando na verdade perdemos uma de nossas maiores armas! — Ellie se abria, nitidamente raivosa.

— Eles omitiram. Se as nações inimigas descobrissem como a força marleyana foi capaz de derrotar um original, se sentiriam inspirados e talvez tentassem um novo ataque.

— Sim, mas... — A mulher, estressada, deu um tapa contra o próprio rosto — eles vão simplesmente seguir em frente, como se o Pietro não valesse nada? Como se fosse substituível?! E o Titã Quadrúpede, vamos simplesmente ver que criança herdou os poderes dele e repassar pra um tio ou primo da família Erigon?

Um grande silêncio foi instaurado naquela localidade, até que Akira a respondeu:

— Você tem razão, todos nós somos substituíveis na visão do rei Fritz. No entanto... não temos outra escolha, não é? — Apesar do assunto tenso, deu um sorrisinho de lado — Tente não fazer besteira. Se o rei Fritz ter que substitui-la antes da hora, eu vou acabar tendo que ir junto.

Ellie retribuiu o sorriso, acalmando os nervos. Voltou os olhos para o riacho e se mergulhou nos pensamentos mais uma vez.

— Falando nisso, você precisa ir de encontro com o diabo. O rei Fritz a chama.

— Claro, claro...

Ellie se ergueu, caminhando em direção ao homem. Com carinho, entrelaçou seu braço ao dele e, juntos, foram caminhando para fora dali.