Naquele luxuoso salão, uma família reunia-se para o almoço. Garric estava bem vestido, mas aparentemente cabisbaixo. Sua mãe, uma senhora loira e sofisticada, também parecia tristonha, assim como o também loiro garoto no canto da mesa. Duas crianças divertiam-se entre si, e praticamente se recusavam a comer.

Não precisava de uma análise fria para saber que a família Tybur estava diferente, e Garric sabia muitíssimo bem de quem era a culpa: dele mesmo. Respirou fundo e se levantou, limpando a boca com um guardanapo.

— Até mais, eu preciso ir.

De repente, a mão de sua mãe agarrou seu pulso fortemente. Ela tremia.

— Por favor... não nos deixe de novo.

Garric ficou em um longo silêncio, inexpressivo. Após, livrou o pulso das garras da matriarca e deu os ombros, seguindo seu rumo:

— Eu realmente preciso ir.

Subitamente um estalo ecoou pela sala. Era o copo de vidro se partindo nas mãos da senhora, movida pela raiva e o ódio.

— Você... está apaixonado por aquela marleyana nojenta? Isso é sério? — indagou a senhora, deixando Garric furioso. — Você ousa trocar nossa amada pátria por um demônio?!

— Eu estou indo, mãe.

— Eu tenho vergonha de você!

— Cala a boca! — gritou Garric, pela primeira vez com sua mãe. Estava nitidamente raivoso, com os punhos cerrados e os dentes rangidos. — Eu. Preciso. Ir.

A mulher tremia de ódio, uma reação natural para a matriarca da família Tybur. Para qualquer um, o relacionamento entre um eldiano e uma pessoa de nacionalidade "inferior" era um crime, por menos que fosse; agora, imagina só para um membro de uma das nove casas?

Garric caminhava vagarosamente em direção à porta, quando foi surpreendido com ela abrindo-se sozinha. Deu de cara com dois homens exatamente iguais se não fosse pela roupa: ambos ruivos, cabelo espetado, olhos verdes e mosquetes apontados diretamente para o Tybur, que recuou brevemente no susto.

Entre eles, Lisa Manifield passava, com um olhar frio e determinado. A matriarca da família Tybur se ergueu, o irmão de Garric, Aldrich, também. As crianças começaram a chorar.

— O que está acontecendo aqui? — indagou a matriarca Tybur, reconhecendo os Manifield imediatamente.

— Peço perdão pelo incômodo, Orla Tybur — Lisa fez uma breve reverência — O seu filho é suspeito do pior entre os crimes: trair a nação de Eldia. — O irmão arregalou os olhos, mas a mãe não ficou surpresa, apenas tristonha. — Se ele for pacificamente, não teremos problemas e talvez ele possa arranjar uma boa explicação para seus atos, embora seja improvável.

Garric ficou imóvel, e imediatamente suor frio deslizou de sua testa. Lisa estava diferente, seus olhos azuis estavam pegando fogo e eram mais determinados do que nunca, estava disposta a fazer o que deve ser feito. Rangeu os dentes mais uma vez, e ágil, apanhou um dos cacos de vidro na mesa.

Os bebês choravam, Aldrich se jogou contra a parede, os gêmeos Manifield seguraram firme o gatilho e a mãe de Garric agiu: mais uma vez, segurou o pulso de seu filho com força, impedindo que ele se cortasse.

— Por favor, meu filho... — Seus olhos estavam em lágrimas. — Não levante-se contra Eldia... por favor... se entregue...

Garric paralisou. Sua mãe, sempre tão fria e insensível, lá estava, com olhos mergulhados em lágrimas. Os bebês Tybur choravam, e até mesmo a expressão de Aldrich era de medo, medo de seu próprio irmão.

Finalmente acordou. Tentando ser o herói, Garric se tornou o vilão na ótica de seu próprio povo. A verdade é que não existe lado certo e lado errado, apenas dois pólos lutando infinitamente sem razão alguma.

Mas ele já escolheu o seu.

Célere cortou a própria palma, arrancando um grito de sua mãe, que caiu sentada. Mas nada aconteceu.

Lisa estava atenta, com o indicador perto da boca e muito próxima de se transformar.

— Afastem-se, ou eu saio pacificamente, ou todos aqui morrem. — disse o de cabelos escuros, para surpresa de sua família — Nós dois vamos sobreviver, Lisa. Mas nossas famílias não.

Garric estava insensível, distante, confirmando as suspeitas de sua mãe, aos prantos no chão. Lisa, mesmo preocupada, não entrava em desespero; estava tão fria e determinada a fazer o certo quanto ele.

— Não me subestime, Garric.

Antes do duelo físico, o psicológico. A vida da família Tybur e da família Manifield está na mão daqueles dois. Não... muito mais que isso, o destino de Eldia e da rainha depende completamente de quem sairá dali com vida.