— Disparem!

Ordenava um soldado Marleyano, e mais uma leva de tiros de canhão voou em direção a força militar eldiana, e mais soldados caíram por terra. Simultaneamente, mais disparos de mosquete era encaminhado aos soldados inimigo, e logo um intervalo para recarregar.

— Não baixem a guarda!

Akira se jogou atrás de uma pedra, recarregando seu armamento. Olhou para frente e fitou o seu alvo: um dos soldados que tinha posse de um dos canhões. Ágil e com munição no armamento, saiu de sua zona defensiva por um único instante, e num tiro certeiro, atingiu o soldado inimigo.

— Avançar! — ordenou o homem, fazendo todos soldados eldianos avançarem juntos.

— Estão correndo direto para a morte! — exclamou um soldado, erguendo sua arma e prestes a atingir Akira.

De repente, um vento quente brotou em suas costas, congelando sua espinha. Olhou para trás trêmulo, dando de cara com uma vista nada agradável.

Os dois grandes olhos do Titã de Ataque brilhavam em um tom azul que cobria toda extensão do globo; os cabelos, negros, eram lisos e não passavam de seus ombros; a boca não tinha lábios, mas sim uma quantidade incontável de dentes ameaçadores, em maioria pontiagudos como canídeos – mas curiosamente simétricos (em relação a cima e baixo, permitindo que a boca fique fechada); o rosto, anteriormente atingido, estava completamente regenerado, embora vapor ainda saísse de seu braço, também quase completamente recomposto. Já o corpo era tomado por um tom ameaçador, embora alguns traços femininos ainda pudessem ser avistados, como os seios levemente avantajados, uma cintura afinada seguida de um quadril um pouco mais largo.

— O TITÃ DE ATA-...

O soldado não pôde finalizar, foi esmagado como uma mosca, com um forte tapa desferido pelo titã. Os detritos do muro se levantaram junto a uma forte ventania, chamando atenção dos soldados para si.

Os canhões e os mosquetes começaram a virar para Ellie, permitindo Akira e o restante avançar pela grande abertura aberta nas barricadas. Sem temor, a titã abriu a grande boca e deu um rugido, onde a voz natural de Ellie parecia se misturar a uma bem mais ameaçadora.

Ligeiramente a Titã de Ataque avançou, com sua palma aberta sobre o muro, arrastando sua mão pela superfície enquanto arrastava armamentos e pessoas consigo. Um tiro de mosquete acertou-lhe o rosto, mas não fez nada senão o equivalente a uma picada de mosquito, logo curando-se. Num tom ameaçador, seus olhos foram em direção a fonte do tiro e ali viu uma das torres de madeira levantadas pela resistência, onde um soldado tremia segurando sua arma.

Sem piedade, a titã foi em direção à torre. O homem, desesperado, pulou dali para o chão, mas o monstro não tinha remorso ou pena. Ao se aproximar, Ellie o esmagou com o pé como se fosse uma formiga, e usando seus braços fortes, segurou a grande estrutura com as mãos e a levantou em suas costas.

Ao longe, avistou mais uma dessas torres, com soldados ainda em ativa disparando contra a força eldiana. A titã deu mais um rugido ameaçador, e sem mais nem menos, projetou a torre que carregava nas costas contra àquela que os soldados estavam, gerando um impacto esmagador que destruiu ambas e levou a vida dos soldados consigo.

Subitamente um tiro de canhão percorreu a direção de Ellie e a atingiu diretamente, por sorte, no braço. Um buraco naquele formato foi aberto em sua pele, que começou a regenerar. Furiosa, olhou em direção a fonte das balas e viu mais uma dessas torres, e mais: com dois canhões, sendo o segundo prestes a disparar novamente.

Ergueu o braço na frente da cabeça afim de defender-se de maiores danos, mas não foi necessário; Akira surgiu dando um chute no canhão com toda força que tinha, e como era suspenso numa plataforma, ele imediatamente inclinou para o outro lado bem na hora que o pavio ia estourar, fazendo o tiro pegar bem longe de Ellie. O soldado, furioso, estava prestes a reagir quando Akira cortou sua garganta agilmente com a espada que carregava. Um segundo soldado tentou defender seu compatriota, mas dessa vez com uma adaga, atravessou sua garganta e o projetou da torre, fazendo-o cair no chão.

Com o rosto cheio de sangue inimigo, Akira assentiu positivamente para o titã de Ellie, que parecia responder com o olhar.

Já o Titã Quadrúpede estava no chão, com o rosto coberto por vapor. A cabeça estava em carne viva, apesar disso, arrastava-se com dificuldade, usando os olhos recém criados para enxergar à frente: um pouco distante, a silhueta de Helos e Emma iam em direção à uma mina, recheada de barris de pólvora.

— Droga... eles pretendem fugir? Isso explica a cidade deserta... todos eles fugiram pela mina. Só os soldados ficaram para trás? — dizia Pietro, no interior do titã. — Eu entendo o resto, mas... Garric não devia estar fazendo algo?! — Um pouco desnorteado, o vibrante tom rubra dos olhos do Quadrúpede era retomado, enquanto as pernas aos poucos se erguiam. — Se eu falhar, então serei substituído. Nosso pai estava certo, irmão... eu não deveria ter sido o escolhido...

O Quadrúpede se ergueu, iniciando uma corrida ágil e célere em direção à dupla.

— Merda!

Emma notou a aproximação em alta velocidade, e ainda carregando Helos, começou a correr como podia. Ao fundo, alguns civis ainda restavam escapar, e a mina se dispersava em dois caminhos paralelos, à direita e à esquerda.

— Você não vai escapar!

Para a surpresa de todos, o Quadrúpede cabia no interior da mina, já que não passava dos três metros de altura, embora estivesse apertado e com os movimentos retardados, arrastando-se nas paredes. Emma tentava acelerar, mas fracassava. Quando finalmente chegaram perto dos civis, Helos a empurrou para a direção deles e deixou que fugissem.

— Ei, espera! — Emma tentou impedir, mas foi segurada por alguns trabalhadores.

Helos ficou inerte, entre os dois caminhos. Com uma tocha em mãos, provocou o Quadrúpede com um sorriso.

— EU VOU TE MATAR! — exclamou Pietro, avançando com fúria contra Helos.

De repente, o loiro jogou a tocha no chão, acendendo uma trilha de óleo que entrou em chamas, atingindo os barris de pólvora e resultando numa grande explosão. Toda mina tremeu, e a entrada desabou. Só um deles sairia dali.

Helos deu uma última olhada em Emma, e com um simpático sorriso, deu os ombros e seguiu o percurso paralelo ao dos civis. Se debatendo nas paredes em fúria, o Titã Quadrúpede foi logo atrás.

O herói de Marley tinha dificuldades, mas corria na velocidade máxima que conseguia alcançar, pegando caminhos cada vez mais estreitos na esperança de pegar Pietro, que para sua infelicidade, não desacelerava.

A distância entre os dois foi diminuindo, diminuindo... até que Helos viu sua última esperança: um estreito canal coberto por tábuas e pilatras de madeira, cobrindo o que havia em frente.

Ágil, o homem se arrastou no chão e passou pela pequena abertura. Pietro, sem hesitar, seguiu em velocidade máxima e atravessou a madeira, passando sua cabeça e a bocarra pelo canal. Abriu bem a boca, e quando estava prestes a devorar Helos, o herói se projetou à frente e foi salvo por pouco.

Com as pilatras e tábuas derrubadas pelo titã, aquela pequena abertura ruiu e sua cabeça ficou presa entre as pedras, o que vez o monstro ficar se debatendo.

— Maldito... maldito... — Quando olhou para frente: uma surpresa. Não só Helos como inúmeros soldados e civis da resistência estavam ali, inclusive Emma. A verdade era que os canais se interligavam, e usando isso, Helos atraiu o Quadrúpede para uma armadilha.

— Vinguem nosso povo massacrado! Vinguem suas esposas, mães e irmãs! Aqui está o rosto de um dos demônios de Eldia. Depositem sua alma neste ataque. — Helos olhou para Pietro, que suava frio no interior do Titã. — FOGO!

— Ei, esperem! — Pietro tentou impedir sua morte eminente, mas era muito tarde.

Uma sequência de disparos de mosquetes, canhões e tudo que Helos havia guardado dentro daquela mina inutilizada foi usado de uma só vez, depredando por completo um titã tão sensível quanto o Quadrúpede. Seu grito de agonia foi ouvido por toda região, até que fosse silenciado de vez.