— Ao norte do forte erguido no distrito de Thalber, existe uma floresta densa que o separa de Boiscol. As árvores são um bom fator de camuflagem para nossas tropas até que o sinal seja erguido. A cada duas horas iremos soltar corvos, para termos certeza de que sabe que estamos na proximidade. O horário ideal será a tarde, e o dia definiremos com base nas cartas de Tybur. — dizia Gestova, de frente a um quadro negro, onde o mapa do atual Império Eldiano estava localizado. Em azul, estava toda imensidão do império, que abrangia praticamente todo continente com exceção de pequenas bolhas vermelhas, que representavam os fortes da resistência marleyana. — Só preciso que tenha em mente, Garric, de que você poderá enviar um número limitado de cartas pelo pombo correio, e nós não podemos arriscar respondê-lo.

Garric, assentado na mesa, assentiu positivamente com a cabeça, com um olhar determinado e confiante.

Um homem mais velho estava ao lado de Gestova, com trajes militares semelhantes ao dela. Era grisalho, com um cabelo bem penteado, uma grande barba e óculos de grau.

Era seu pai, William Gestova.

— Evitaremos o uso de muitas tropas, embora eu conte com o apoio terrestre de Hizuru para deter os Marleyanos. — diz o homem, olhando para o centro da mesa. Lá o sofisticado líder oriental de Hizuru, Kurono Azumabito, estava assentado; um sofisticado homem, com fios de cabelo negros e olhos levemente puxados. — O império Eldiano vai prevalecer!

— Gary... o que você...? — indagou Emma, trêmula.

O olhar surpreso começava a lacrimejar, e imediatamente foi substituído por uma expressão de puro ódio. De seu cinto, tirou um tipo de mosquete, só que menor e um pouco mais avançado.

— Diga, quem é você?! — exclamou, fazendo outra pergunta. Ergueu a arma e apontou para Garric, que levantou as mãos defensivamente.

— Meu nome... é Garric Tybur. E eu sou o Titã Martelo de Guerra. — respondeu, sem orgulho em suas palavras. Não conseguia olhar nos olhos da loira. — Nós precisamos sair daqui, agora.

Garric tentou se aproximar, em passos calmos e suaves, tentando acompanhar sua parceira. A loira segurou firme no gatilho do armamento, ameaçando-o mais uma vez.

— Eu vou te matar... e acabar com essa guerra de uma vez! — exclamou, determinada.

Na floresta, os soldados orientais junto aos Eldianos aguardavam pacientemente até que o sinal verde foi avistado. Os soldados da resistência se entreolhavam com dúvida e desespero, mas antes que dissessem algo...

Um raio amarelado caiu dos céus, direto para o centro da densa floresta. Um corpo esquelético surgiu, com dois olhos profundamente escarlate. As fibras musculares e os nervos foram formando o esqueleto, logo após, a epiderme, e em seguida, os pelos negros. O Titã desdobrava os joelhos, assumindo toda sua imensidade de dezessete metros; três largos passos foram dados e aqueles soldados espantados agarregalaram os olhos, em completo desespero.

Os pelos cobriam-no desde a cabeça até o peitoral, junto aos ombros e os largos braços. O peitoral e os membros superiores eram tomados por músculos, a pele era levemente acinzentada e o monstro tinha uma aparência animalesca: o rosto não era coberto por pelos, deixando amostra um focinho similar a de um porco, levemente para frente. A mandíbula, igualmente similar, deixava escapar os dois dentes caninos inferiores, e de sua cabeça, dois curtos chifres escapavam.

As mãos, entre-abertas, revelaram um intenso brilho dourado, muito similar àquele que surgiu quando o Titã se transformou. Carregava consigo um punhado de seres humanos, amarrados um contra o outro enquanto soluçavam e tentavam gritar, mesmo com a boca coberta. Eram Eldianos impuros; assassinos, ladrões e indignos.

O Titã pôs um pé de frente ao outro, dobrou a coluna e, usando seus fortes braços, projetou o agrupamento de pessoas para cima, em direção ao forte.

— CUIDADO! — exclamou Erick.

Mas era tarde demais.

O brilho aumentou, as cordas romperam e uma verdadeira chuva de titãs teve início: um de cinco metros bateu fortemente contra a torre dos soldados, que desabou. Um de dez e um de sete cairam sobre residências, e um de três afundou dois pais contra o chão. As crianças, que brincavam humildemente com pedaços de madeira, ficaram imobilizadas quando o ser titânico ficou ali, caido, de frente à elas, as fitando com aquele olhar sem expressão enquanto babava.

Onde Emma e Garric estavam, uma sombra cobriu todo o beco. A garota estava paralisada, prestes a atirar no Shifter quando...

— Cuidado!

Gritou o Tybur, correndo em direção a ela. A garota olhou ligeiramente para trás e, quando viu, era tarde: o titã de quatorze metros caia em direção a dupla, com poucos metros para o impacto. Consigo, tinha um sorriso macabro que ia de orelha a orelha, e um olhar sem vida de tom azul.