— "Estamos sendo vitoriosos mais uma vez, mas... a que custo?"

Garric estava mergulhado na escuridão, afundando em águas negras como a noite. Em suas memórias, imagens de uma pilha de corpos, corpos de crianças, mulheres, idosos... todos esses cadáveres para sustentar uma única coisa: a haste de uma bandeira, a bandeira do império de Eldia.

— "Quando eu era criança, meu pai me escolheu como seu herdeiro. Ele me doutrinou, me ensinou a tomar terras e a por a vida do rei Fritz acima da minha própria."

Enquanto afundava, Garric parecia prestes a ser devorado pela escuridão eterna quando uma... não... inúmeras mãos o seguraram, o empurrando para cima novamente.

— Meu pai... agora eu tenho o senhor dentro de mim, e vejo que como eu... — Começou a acelerar, rumo a única fonte de luz em meio ao negro eterno. — o senhor não vê razão nisso tudo.

Quando finalmente alcançou a luz, tudo ficou preto novamente.

— Gary! Acorda, Gary! — A voz de Emma o chamava, mas parecia tão distante — Gary!

Dessa vez o acordou de uma vez, no susto. Estava ofegante, não lembrava o que estava acontecendo, era como se tivesse perdido a consciência por dias, mas poucos minutos se passaram.

— Você está bem?! — Emma, que há pouco o ameaçava com uma arma, o carregava no colo. Garric estava completamente molhado por um líquido estranho e viscoso.

— O quê...? — indagou o jovem Tybur, ainda perdido com a situação.

Piscou algumas vezes, e finalmente compreendeu a situação. Debaixo dele, havia um verdadeiro casulo de carne, escondido dentro de um grande buraco do chão. Um fio ligava o casulo aberto, que ia diretamente até um corpo estranho: a carcaça de um titã.

Os ossos e a carne eram de um ser titânico de 10 metros, aparentemente incompleto. Não tinha pernas, apenas o resto de uma coluna fincada no chão que sustentava o corpo. O tronco estava magro, em carne viva; os braços estavam inteiros, cobertos por uma rígida camada de endurecimento branco. Já o rosto, macabro, era meio a meio, metade também era coberta por aquele endurecimento, que parecia revestir seu rosto quase inteiro, do queixo à testa, com exceção aos olhos expostos e fundos, deixando-o similar a uma pintura de caveira, uma verdadeira máscara que cobria sua boca, nariz e bochechas. O outro lado do rosto, no entanto, estava completamente destruído, com os ossos do maxilar expostos e o restante em carne viva, com um dos olhos para fora, caído na altura do queixo. Também tinha fios de cabelo negros e longos completamente jogados para o lado que a cabeça pendia enquanto o pescoço era evaporado junto ao resto do corpo.

Atrás da carcaça do Titã Martelo de Guerra, uma formação daquele mesmo endurecimento branco que o revestia, muito similar a um tipo de "teia", atravessava cada centímetro e prendia o titã que outrora desabava em direção à dupla, suspenso no ar. Não representava mais uma ameaça.

— Me desculpa. — disse o Tybur, subitamente. — Deve ter sido nojento.

— Foi... seu idiota. — Emma não tinha palavras pra agradecer Tybur, apesar de tudo. Justo quando seria esmagada, ele quem a empurrou e suspendeu o titã no ar. — Mas... por que alguém como você está junto aos demônios de Ymir?

Garric não respondeu, apenas abaixou a cabeça e respirou fundo. Com um olhar determinado, levantou o rosto mais uma vez e respondeu:

— Porque eu sou como eles... eu sou um demônio e súdito de Ymir — Ela continuou em silêncio — e por isso, você deve se afastar. Fuja, Emma. Fuja!

Garric gritou subitamente, enquanto Emma tínha os olhos preenchidos por lágrimas. Era como se Garric soubesse que, para mantê-la segura, era necessário mantê-la longe, e Emma entendeu isso. Hesitou por um instante, mas não demorou e correu daquele beco, deixando para trás um Shifter confuso. O que diabos Garric estava fazendo? Veio para lá sabendo de seu objetivo, mas mesmo com tão pouco tempo de convivência... se apegou àquelas pessoas, ajudou na cozinha e nas barricadas.

O jovem Titã Martelo de Guerra foi o primeiro a notar: Eldianos e Marleyanos eram exatamente iguais.