Julie precisou piscar algumas vezes para que seus olhos se acostumassem com a luz. Não sabia onde estava e não se lembrava muito bem do que lhe acontecera.

Sua cabeça latejava e o copo doía em alguns lugares: Ombros, joelhos, as costas principalmente.

— Ela está acordando.

Uma voz aveludada e suave Julieta pode ouvir vindo de cima dela. Somente então, seus olhos focalizaram um rosto diferente. Os cabelos loiros com lindos cachos nas pontas, os olhos verdes e lábios cheios pintados de vermelho. Os mesmos, esboçaram um sorriso gentil.

— Olá Julieta. Não se assuste! Sou uma amiga. - A garota que parecia ter uns dezoito anos falou enquanto passava delicadamente um pano molhado pela testa da outra. - Como se sente?

— Confusa. - Julie respondeu, sentando-se com a ajuda da ruiva.

— Eu sei. Deve estar sendo difícil para você. Anne me contou tudo. Sou Charlotte. Mas, pode me chamar de Lotte.

Julieta não confiava em Charlotte. Imagine se você acordasse quase sem lembrar de nada do que aconteceu na noite passada e tivesse uma garota maravilhosa, que você nunca vira na vida falando tudo aquilo? É loucura.

— Onde está Anne? - Ela perguntou observando a loira trocar o pano molhado por um copo com água e um comprimido.

— Em reunião com os outros na biblioteca. Aqui. - Charlotte lhe estendeu o remédio e esperou a garota tomar para continuar. - Você provavelmente quer saber o que houve, não quer?

— Quero. Mas, você não deveria me contar, deveria? - Julie respondeu duvidando muito que Charlotte fosse contar. A garota sorriu e levantou-se da cama.

Julieta sentiu um pouquinho de inveja. Lotte era magra, alta, tinha um gosto maravilhoso para roupas, o cabelo caía pela cintura com ondulações perfeitas e a pele parecia ser lisa e branca como a de uma bebê, sem falar, que ela não tinha poros.

— Depende de quanto você quer saber.

— Como assim? - A garota questionou franzindo a testa?

Charlotte parou de andar pela infernaria do instituto e a olhou, sorrindo docemente de braços cruzados.

— Do que você se lembra? - Lotte respondeu com outra pergunta.

E então, Julie percebeu que não se fizera essa mesma pergunta antes. Do que se lembrava? Dos demônios que a atacaram antes de descobrir todo esse mundo? Dos demônios que mataram seus pais semanas atrás? Não! Não era disso que ela precisava se lembrar.

— Eu me lembro que... Estávamos indo a uma inauguração. A boate do inferno, eu acho... - Ela sentiu a cabeça doer e mais lembranças começaram a voltar. - Me lembro de estar com Jam minutos antes de...

— De o que, Julie? - Charlotte perguntou e sentou-se novamente ao lado da garota. - Tente se lembrar!

— Não consigo! - A garota disse encarando aqueles olhos verdes brilhantes.

— Consegue sim. Sei disso, porque, as memórias não somem de uma hora para outra. Não desse jeito! Ainda está aí Julieta, está dentro de você todas as respostas que você precisa. Procure dentro de sua mente!

Pressão. Julie odiava se sentir pressionada por alguém. Mas, ela precisava saber e por algum motivo, Charlotte não queria lhe contar, mas, queria que ela se lembra-se sozinha.

— Eu me lembro de... Dois garotos. Não. Demônios. Eles... Eles nos acharam. A mim e a Jam e nos atacaram. Eles...

— Isso mesmo. Continue... - Charlotte sussurrou com uma voz doce e gentil, quase hipnotizante.

Mais lembranças. Julieta sentiu um aperto no coração e as lagrimas subirem pela garganta. Ela havia machucado Melissa. Não fazia ideia de como, mas tinha machucado a caçadora de sombras.

A garota abriu os olhos tão rapidamente, que Charlotte recuou para trás alguns centímetros.

— Eles perderam. Eu matei um deles. - Ela disse arfando e suando enquanto sua cabeça latejava ainda mais. - E, machuquei Melissa. Onde ela está? Ela está bem?

— Sinto muito. Foi um choque para você. Mas agora... acalme-se okay? Mel está bem.

— Só não diga que eu tenho que ficar aqui. Por favor, essa cama é horrível! - Julie disse suspirando de alívio por não ter causado algum dano na loira irritada e ambas sorriram.

— Eu ia dizer que se quiser, estou descendo para o jantar. Quer vir comigo?

****

Todos saíram da biblioteca com certa irritação e tensão. Gabriel saíra bufando antes mesmo da mesma terminar fazendo Jam ir atrás dele.

Jordan achava que estava mais do que na hora de ele e Julieta saírem daquele lugar e voltarem a viver como antes. Como humanos normais. Porém, o que a amiga fizeram com Melissa não saía de sua cabeça. Poderes? Desde quando Julie tinha poderes? Desde quanto caçadores de sombras tinham poderes?

— Você está melhor? - Jordan perguntou para Melissa enquanto a acompanhava para o jantar.

— Pareço estar? - A garota retrucou de mal humor.

— Por que odeia tanto ela? - O mundano perguntou e Mel parou de andar para encará-lo.

— Você é idiota? - Ela perguntou com as mãos na cintura. - Sua amiga chega do nada nesse instituto e coisas estranhas começam a acontecer. Ela atrapalha o nosso treinamento, e não temos muito tempo para ficar treinando novatos. E por ultimo ela me joga contra a parede sem nem encostar em mim! Está bom, ou quer mais motivos?

— Ah, Melissa eu... - Jordan começou a retrucar mas, foi impedido pelo dedo indicador da garota erguido no ar.

— Eu esqueci de mais uma coisa! - Ela disse com um sorriso falso. - Ela traz um mundano para o instituto. E ah... Segundo a lei do meu povo, os humanos não ficam em institutos por que não sabem da existência deles! Vocês mundanos não convivem conosco. Não seguem nossas leis, não seguem nossa religião e não sabem nada do nosso mundo então, o melhor para você e para todos nós, inclusive para a sua amiga que infelizmente agora ela é uma de nós, é que você vá embora daqui!

A caçadora de sombras voltou a andar pelo corredor e abriu uma das portas à direita. Assim que entrou, a bateu. Jordan apenas ficou parado feito um idiota naquele corredor enquanto encarava porta do quarto de Melissa.

As palavras da garota causaram um efeito no mundano. E, aquilo que acabara de acontecer, deixava claro que eles não queria sua presença ali.